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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ditadura, DH, Arquivos e outras Histórias

Política, direitos humanos e ditaduras são assuntos cuja relação é pra lá de fundamental a ser debatida pela esquerda. 

Não estou falando aqui só de um posicionamento a respeito,mas da percepção de seu valor como algo que está para além de opções táticas ou estratégicas de ação direta ou de linha de ação político-teórica, está além de eleições, de defesas de postura política ou de superioridade moral ou teórica desta ou aquela escola da esquerda.

São temas transversais, transversais, fundamentais, de determinação valorativa do militante e do grupo ao qual ele faz parte. Sim, estes temas, como as questões de gênero, LGBTT e raciais, são temas de formação  do militante ou grupo, ou seja, se o sujeito coloca estes temas como subalternos a uma tática ou a uma estratégia política sua ou de um grupo ele a meu ver já comete o primeiro pecado capital da burocratização da política: Escolhe entre a ação política e o cálculo de capital político e se apega ao segundo.

São essas transversalidades que a meu ver determinam o "quem é quem" na arena política. Se um grupo ou sujeito entendem que são passíveis de serem colocadas em segundo plano diante de uma possível conquista "superior", como se dissesse "Vamo revolucionar primeiro e depois a gente vê!", ele já denota não ter apego nenhum a questões que nascem do humanismo e que são apropriadas pela esquerda desde seu nascedouro.

A questão de DH, Ditadura e ação política juntas tem em si algo um tanto mais caro que é o apego à memória coletiva de uma esquerda, que triturada pelo estado ainda não tem os corpos de seus mortos para chorar, enlutar e fazer a passagem. Além de toda a questão teórico-política tem o sentido, o sentimento de viver algo e ver diante dos olhos, sob a pele de outros, torturados e mortos, a história jogada pela janela a fora enquanto se "solidificam" governos ou "estratégias revolucionárias".

Nesta questão é preciso termos em mente, e no coração, a ideia do que é a memória, do que é a politica e que a ação ai é político-sentimental sim, é de construção e luta por uma história onde nossos mortos tenham nomes, corpos, datas, causa mortis.

É preciso repetir para que fique claro,é preciso ter nesta luta o coração, um coração grande o suficiente para abarcar todas as dores, senti-las, sabe-las e assim agir.  A "frieza racional" tida por muitos na política como uma qualidade, aqui tem em si o germe também do cálculo, um cálculo que por vezes entrega anéis e dedos e se esquece do companheiro que nunca conheceu que foi esmagado por botas que são hoje engolidas em nome da "conjuntura".

Precisamos do coração, do enorme coração que goteja de sangue ao ouvir, ler, saber dos parentes, dos companheiros trucidados pelo estado hoje ocupado por um partido que deveria ter mais vermelho no coração neste tão delicado assunto e menos o pensamento em eleger o ex-ministro da Educação. 

Precisamos do coração, e talvez da cabeça quente e da rude franqueza, para irmos além do truculento ufanismo de uma "conciliação" pela governabilidade. 

É uma dura batalha,uma dura batalha com quem nunca usou pelicas pra bater. É uma dura batalha que exige mais honestidade e menos educação. Uma batalha pra construir sim uma comissão da verdade comandada pelos grupos de parentes de desaparecidos e cuja vaidade individual ou coletiva tenha de ser abandonada por uma questão maior, muito maior do que a de todos os grupos da esquerda e suas teorias que desprezam por vezes inclusive o próprio povo, chamado de idiota e ignorante por discordar de seus teóricos.

É uma batalha que precisamos lutar para construir uma comissão da verdade da sociedade que possa superar as n traições (E de traição eu entendo) do governo, do estado, da justiça, dos partidos, das pessoas nesta luta para abrir os arquivos da ditadura e punir torturadores, limpando essa nhaca da alma política do país.

É uma batalha para se organizar pontes e não controle. Sejamos catalisadores de uma união entre os grupos que já atuam na sociedade pela abertura de arquivos e punição aos torturadores.

Nesta hora guardemos nossas máscaras, bottons, interesses e oportunismos e entendamos que existem causas que superam nossa individualidade e senso de grupo e para isso precisamos organizar de alma limpa um movimento que ajuda e projetar um país onde a marca da maldade ditatorial, que está no olho da PM, no sorriso do ruralista, não seja repetida por jovens que a cada dia repetem mais o ódio do que a solidariedade e fraternidade libertárias que em algum dia Frei Tito sonhou.

É preciso de coragem, entrega e um profundo senso de dever para isso.

É preciso despir a vaidade.



terça-feira, 17 de abril de 2012

Vamos comer Caetano?

Ouço Caetano desde sempre. Embora  me irrite por vezes suas opiniões, e as ache, em especial as sobre política e cultura, um grande mar de equívocos, suas canções tem uma presença fundamental na minha sensibilidade. O registro vocal, as questões, a própria forma de escrever as  letras, a poética, o barroco, a ironia, o riso, a dor e o lado Logunedé, tudo são elementos de proximidade.

Andava de birra com o sujeito, muita, pelas suas posições escritas em O Globo, muita birra. Ultimamente voltei a ouvi-lo como quem reencontra um velho amigo e sou surpreendido por uma entrevista dada ao jornalista Paulo Werneck, que pode ser lida aqui, onde  entre outras coisas voltamos a concordar em algumas coisas, como: "Hoje sou totalmente pela Comissão da Verdade e não acho que torturadores devam ser perdoados. Os guerrilheiros foram punidos (inclusive com tortura e morte). É enganoso equiparar os dois tipos de crime.". 

Não é preciso dizer que Luis Fernando Veríssimo já havia matado a charada que o leitor só é feliz com o colunista que concorda com ele, e vou continuar discordando do Bardo Baiano em um tanto de coisas, mas muito me deixa feliz que uma voz da qual pouco esperava ouvir coisas como esse saia um apoio explicito a uma prestação de contas pública do país com sua história.

A critica também à esquerda como por vezes comodamente uma fábrica de maniqueísmo montada na fácil ignorada básica quando o autoritarismo veste nossas roupas, que ele cita apontando para o apoio ao imperialismo Chinês no Tibet e questões da Coréia do Norte e eu aproveito para de minha parte apontar o dedão pros apoiadores dos absurdos em Belo Monte, também é outro ponto de fantástica observação, que deve sim ser elogiado.

Caetano não se tornou nenhum Lênin ou Malatesta pra mim, mas em uma ótima entrevista faz excelentes  críticas, constrói excelentes posicionamentos e se discordo dele no louvor a Mangabeira Unger tampouco vou desqualificá-lo por adotar uma vertente ideológica da qual discordo. Há um pouco de arrogância intelectual que despreza o que lhe é díspare, talvez uma versão de "Narciso acha feio o que  não lhe é espelho".



E considero um bom vento quando com toda divergência concordemos, eu e Caetano, tantos e Caetano, que precisamos sim de mais auto-crítica e passar a limpo nossa história, e que com tanta diferença possam se tocar posicionamentos que no fundo abraçam-se no humanismo.

Vamos comer Caetano? Vamos Revelarmo-nos?

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Vou sacudir, eu vou zoar toda a cidade...

Carnaval e Futebol volta e meia sussurram por goelas canhotas, e canhestras, como "ópio do povo". Ficam ali no elitômetro intelectual marxotário tal e qual a namorada pobre do mauriçola, que saca das coisas sem diploma, beija bem, manda bem, é boa de papo, mas não fez Socila.

Deu mole e vem uma longa e estranha conversinha amarrotada em botecos de origem duvidosa a respeito da "alienação" do samba e do futebol, esta conspiração da CIA tão bem feita que começa antes do Império do Mal virar gente.  Aquele jogo maroto, camisa de time, cervejinha antes? Ópio do Povo. Bloco de carnaval, chuva, suor, cerveja, mulatas marotas? Ópio do Povo. 

Já teve pregação querendo trocar o Carnaval por Dostoiévski, e tome baile!

A lógica da redução da cultura a seus filtros estéticos de cunho elitista ganha um adendo marxeteiro nada moleque, mas muito mecânico, que faz que vai e não vai, mas acaba fondo. Primeiro porque a rapaziada pelo jeito anda lendo orelha demais de livro e menos o conteúdo, porque tirar frases de contexto em  geral é obsessão do Ministério do Vai dar Merda, criado pelo Mega Guru Chico Buarque. Segundo porque o conceito estético do Carnaval reduzido a uma mistura de nojinho da desordem com afetação bibliófila em geral é coisa de quem é ruim da cabeça e doente do pé.



Não gostar é direito constitucional! Não gostar de muvuca, calor, samba, mulher, homem, bloco, escola de samba, cerveja, bola, jogo, estádio, é estranho, mas é constitucional e válido. Fingir que não vê o que é, o tamanho disso sob o ponto de vista histórico-cultural e ,porque não, político, é um tanto quanto problema de vista.

Especialmente no país de nosotros, em que três das capitais de estados importantes param completamente para sacudir o esqueleto movimentando economia em tantos níveis que dá até vergonha de citar. Esse fator por si só era coisa de parar de afrescalhamento teórico e tentar entender. Fora isso é de se considerar que nunca teve revolução na nada carnavalesca Suécia, ou seja, o carnaval se não ajuda na revolução também não atrapalha. 

Futebol? Minha nossa! além de mexer com a cultura Brasileña ao ponto de expressões idiomáticas vinculadas ao mesmo, como "embolou o meio de campo", serem de uso correntes até pra não amantes do ludopédio, é parte integrante da vida política a tal ponto de existirem membros em todas as correntes ideológicas amantes do dito cujo, fora a possibilidade levantada pelas organizações de torcedores como parte dos movimentos de libertação da Primavera árabe.

Pra completar, ambas as manifestações são de tal forma entranhada na construção da identidade do país, em sua imensa diversidade, que fica-se pensando se não rola uma vontade inconsciente de importar parte do povo da Áustria e mandar essa plebe ignara alienada e sambante, com camisa de time, pra torrar na Palestina. A súbita ojeriza coletiva ao balacobaco é sempre acompanhada por uma sugestão de leitura, por uma indicação de vinho e por uma busca do Escargot perdido.
É nessa que eu vou na pergunta: A rapaziada quer mesmo mudar o mundo ou só paga de revolução porque as  mina pira?

Sem povo não se chupa nem um Chicabon.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Sub-trabalhador fardado

Desta vez vou ser curto e se possível grosso com muitos palavrões.

Li a rodo setores da esquerda defendendo que "quem apoia o 'motim' das policias está sendo oportunista e equivocado porque a polícia vilipendia os trabalhadores em greve, aterroriza, e depois que terminar o 'motim' voltará a fazê-lo". E não estão errados na segunda parte, mas na primeira demonstram um tal grau de imbecilidade que chega a doer. 

Se dissessem que apoio à greve deveria ser acompanhando de tratativas no sentido de mostrar pros policiais que eles, fudidos e mal pagos, são o braço armado que espancam outros fudidos e mal pagos desarmados, ok. Mas a defesa de uma negativa de apoio a qualquer greve, seja lá com argumentos de rancor ou teorias baseadas no volume das coxas e pouquíssima lógica,cês vão me desculpar, mas são balela. Nego pode ser advogado, jornalista, teórico da literatura, foda-se, tá falando merda.

Se tratarmos a lógica de dominações e ações a serviço do capital e do estado vamos ter uma longa lista aqui de ódios e máculas, porque o policial e a instituição, o médico e a instituição,o professor e a instituição são elementos díspares e em todos os casos existe uma reprodução de violência e opressão em maior ou menor nível, em nível físico ou psicológico.

O PM que mora na favela e toma no rabo diariamente pra defender o seu amor e nossas vidas também nos mete a porrada em manifestações ganhando o mesmo salário fudido. O professor que, coitado, ganha salário de fome pra formar a sociedade  também usa de seu posto pra destilar preconceitos de classe, pra levar a cabo assédio moral, e nas escolas de ensino fundamental, médio e superior. Quantas vezes o professor não usa de seu púlpito e de sua relação de poder  pra destruir auto-estima de nego fudido pra descontar o "excesso de liberdade" pós-ECA? Quantos são os professores que utilizam da auto-crítica para entender seu papel de reprodutores de preconceitos, de dominação intelectual e cultural? poucos, a maioria só usa do sagrado direito à crítica a um sistema que lhes fode, mas a auto-crítica , essa foi jogada na lata do lixo.

E o Médico? o médico é fudido também em hospitais públicos, e tão ou mais essencial que policiais, mas não se furta a lidar com a população como se aqueles "infectos pobres e pretos" fossem um transtorno. Podemos parar por aqui ou preciso citar casos? Porque nessa área é um pouco revoltante pra mim lidar com gente que se recusa a tratar um negro que sangra porque achou que era bandido e  que merecia morrer, quando era um pedreiro que cortou gravemente o braço em uma obra.

Jornalistas? putz, classe hiper explorada pelos fabricantes de realidade, mas que não se furta  repetir senso comum quando interessa a seu fígado, à sua lógica e a seu senso comum particular. E se formos continuar ninguém se salva. Porque todos estão a serviço do capital em suas diferentes atividades e não me venham com "Mas é diferente!" é diferente porrissima nenhuma. O professor que induz à classe popular a se achar imbecil em suas aulas diárias (e acreditem não é minoria!); o professor universitário que trata o aluno como sub-ser não alçado ao olimpo, pede seu apoio em greve, mas o fode se ele se insurge contra as opressões da universidade; o Gerente que orienta seguranças a baterem em pessoas em shoppings; o trabalhador da Supervia que chicoteia passageiros;  O jornalista que defende opressão a qualquer tipo de trabalhador por rancor da forma de ação de uma parte da institucionalidade onde o trabalhador atua; Todos são arma e braço do sistema capitalista e sim estão oprimindo cidadãos e trabalhadores, estão fazendo o serviço do capital.

Não é preciso nos alongar citando todas as áreas, não é mesmo?

É preciso discutir "A" e com a Policia e os Policiais, sua atuação como arma da opressão, sua característica como parte da classe trabalhadora lançada contra a mesma e não conheço melhor momento do que o atual, onde eles estão isolados como agora, isolados pela ausência de parte da esquerda que opta por lembrar das ignomínias que praticam e esquecer  a origem de classe da composição das tropas, isolados pelo aparato de midia criminalizante e pelo estado que obviamente não quer seus cães soltos. E é nessa hora, onde o diálogo e a criação de pontes é uma premissa, pontes essas que demoram anos para serem construídas, que a esquerda deveria se aproximar e de forma critica criá-las, iniciar sua construção. Mas qual o que? parte significativa dela se esconde em seus Lênins, Marx, Trotski e mandam para a volumosa casa do caralho o bom senso remoendo rancores e se portando como embaixadores de uma classe trabalhadora que mal conhecem.


Será que a esquerda entende que é santificação do Policial como trabalhador a simples lógica prática de que é um fudido que pode aprender ali que nós somos parecidos com ele, que há diálogos para serem construidos e a fada da revolução não aparece se gritarmos "pravda" cinco vezes diante do espelho? Como a gente faz com policia e exército, finge que não tá ali? Passa a lutar para que só a elite seja armada e entre pra polícia?

A Esquerda Brasileira vive na dicotomia do gueto intelectual prenhe de idealizações, pouco traquejo intelectual digno do nome e fora das cartilhas marxistas-leninistas repetidas à exaustão com seus rococós e salamaleques e uma realidade que lhe exige esforço teórico com musculatura, ação prática de percepção e movimentação com adendos, com profundidade e com ação que entenda a lógica do dia a dia, do que é feito o real, seja ele dentro de uma farda ou não.

E assim seguimos correndo atrás do nosso próprio rabo, ignorando o que deve ser criticado, o que deve ser apoiado e mais ainda o que deve ser uma chance inigualável de diálogo entre setores da classe trabalhadora, porque sem isso vamos continuar sendo mordidos por cães e esses cães ganham uma certa razão.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sweet Dreams (Are Made Of This)

Os dias de hoje apresentam desafios a quem lida com política no cotidiano que superam as tradicionais , grandes ou pequenas, dissonâncias entre projetos político práticos e vertentes ideológicas. 

O avanço do fascismo aliado a uma nada suspeita burocratização que imobiliza os ditos movimentos e atores de esquerda são elementos super avisados no decorrer dos lindos anos 2000 pelas forças da "esquerda radical" e até por partes da esquerda nem tão radical assim representada pelo saudoso Leonel Brizola, avô do Excelente parlamentar Brizola Neto. 

Apesar de todos estes avisos foi preciso que em um Fórum Social Mundial Temático realizado em Porto alegre, na República do Rio Grande do Sul, o companheiro sociólogo socialista Boaventura de Sousa Santos tascasse um volumoso esporro pra o aviso ser notado pela esquerda que fingia não ver até onde ia seu "pragmatismo" e sua "responsabilidade'. 

Boaventura aproveitou o ensejo de #Pinheirinho para discorrer sobre o avanço do Fascismo social e as consequências disso diante da burocratização e do imobilismo da esquerda em sua maioria, e foi mais além, mencionou enfaticamente a falta de "traquejo" intelectual da esquerda, que fica presa mais do que nunca em uma linha de comando clara, com "procedimentos" claros, respostas rápidas e unitárias, saudosismo da unidade perdida,etc e tal. O companheiro encheu a boca pra dizer "A esquerda esqueceu-se de pensar".

E ai eu achei bacana que a esquerda radical, a partir disso, foi incluída como sócia-atleta da critica  pela esquerda governista.. Agora vai, tamo junto! E eu até concordo que a crítica seja compartilhada porque a  falha é global, mas sugiro que observem com mais calma porque já faz tempo que a esquerda radical avisa aos coleguinhas balouçantes das partes íntimas dos governos sobre os riscos dessa tática de  morde-assopra pro avanço do fascismo, ainda mais pós-carolização em 2010. 

Só que convém também trazer novos sócios pro papo, porque a fascistização social não parte só do tucanato delirante, parte dos aliados cheirosinhos do governo formoso e locomotivicio da Dona tia Dilmônica também curte a tese da borrachada como método de debate político, vide os Governos Deda e Wagner com estudantes  e as remoções no Paesquistão.

Mas não nos percamos acá na troca de dedurismo entre nossa amada e nueva solidariedade no preço a ser pago a partir da omissão bundona diante do coturno andar ensaiando uma volta. Bora fazer uma DR com relação à "A esquerda esqueceu-se de pensar". Até porque não foi só a Milícia progressista Governista que se esqueceu de pensar, há um modus non pensandi na esquerda como um todo que se arrepia com relação ao pragmatismo petemedebista, mas que também de uma aversão ao povo como ele é que chega a ofender meu lado antropólogo moderninho.

Quer  uma prova? o povo religioso pro marxismo ateu proselitista é maluco, esquizofrênico e "iludido" pelos pastores e padres maus. Ou sejam, se o cara não passou na universidade ele late em várias formas e linguagem au au, de pincher raivoso a Rotweiller biba. 

Toda a dimensão de construção de laços, de simbolismo, de honra, de tradição, de estruturação da realidade do cara se resume a um agá, o que a antropologia escreveu a respeito nos mais de cem anos dela é um imenso lixo porque não citou Marx mais de cem vezes.


Outra prova? Música popular é um lixo inventado pela CIA pra destruir a "verdadeira cultura popular" estuprada pela indústria cultural.  Ou seja, "Ai se eu te pego" é lixo, mas "Carolina com K" é genial e só o primeiro é produto da indústria cultural, embora qualquer historiador que lata também Pastor Alemão fluente saiba que Tonico e Tinoco, Gonzagão, era tudo os Teló do primeiros anos do século XX. 

Sem contar que "popular" ai esquece o que o povo ouve, porque, não entende o que tem no ouvir, porque se ouve, e  de novo os transforma em um bando de cãezinhos adestrados para a estupidez. 

O  mais engraçado ai é que por vezes o mesmo cara que bate no peito pelo PRO-UNI, ignora que os alunos do PRO-UNI, inclusive os mais safos e produtivos, fodões na teoria, curtem o bonde do tigrão e o "ai se eu te pego".

Além disso tudo toda a lógica de "Conscientização da classe trabalhadora"  parte do principio de estamentos hierarquicamente definidos, onde , o que não canso de repetir aqui, o povo é uma anta desnuda e nós os "iluminados". 

Não discutimos, não pensamos, não saímos de categorias definidas como pétreas há mais de cem anos, somos mecanicistas no marxismo, ignoramos outras contribuições científicas, somos arrogantemente encastelados em uma grande ordem semi religiosa de repetição ad infinitum de fórmulas pseudo-científicas que não resistem em sua maioria às bancas mais frágeis da academia. 

Somos alienados, alienados eruditos, mas alienados. Somos alienados do real, somos cegos ao mundo, pretendemos sermos líderes de pessoas que estranhamos ao vermos dançando, que tratamos por sem cultura, sem luz, sem alma. E é aí que perdemos pro fascismo social, porque ele não esquece que as pessoas pensam, ele inclusive adora  usar as emoções pra embotar este pensamento e tirar o pior de cada um.

É claro que para que revertamos esta situação temos de escolher entre fingir que não vemos e continuar na ladainha de disputa territorial em nome do aparatismo ou correr atrás de forma humilde e clara, pesquisando, lendo, refazendo nossas formas de ação,etc.

Isso nem atrapalha o âmbito eleitoral em si se for feito de forma decente e clara, é preciso a reflexão para que construamos um projeto de esquerda que queira saber o país para além da construção do Bolsa-Família. é preciso refletir pra resgatar a utopia disputando consciências de gente que conhecemos e não de  um gado amorfo criado por uma erudição elitista.

Doces sonhos são feitos disso.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

De que me vale ser filho da Santa?

Tem dia que de noite é assim mesmo. Ainda mais em tempos onde a política sem rancor te ameaça de processo em debate político; em que a Fundação Nacional do Índio, herdeira do Serviço de Proteção ao Índio, é cúmplice, mesmo que por omissão, de assassinatos e de exploração ilegal de madeira em terras indígenas; em tempos onde um dos principais partidos de esquerda do país, ou ex-esquerda, faz acordo pra manter arquivos da ditadura que vitimou grande parte de seus quadros dirigentes ocultos nas sombras do tempo e do "pragmatismo" político mais servil; em tempos onde os "cordiais" Brasileiros acham  normal barrar Haitianos porque "vão roubar nossos empregos" e acham que gay e mulher tem de ser castrado e postos em jaulas, oprimidos, esmagados.

Nestes dias turbulentos e tenebrosos a mulher é um alvo fácil da manutenção do conservadorismo e da  opressão sem maiores culpas pelas alas conservadoras, e crescentes, da sociedade. A escalada do conservadorismo atinge primeiro onde a tradição mantém um longo arcabouço de sofismas pra justificar a supremacia do macho adulto branco, sejam eles baseados em versículos bíblicos, teorias "cientificas" ou aspectos legais de interpretação dúbia. 
Primeiro os gays, depois as mulheres e os negros, paulatinamente a política segue a trajetória avant garde do atraso traduzido em Redes cegonhas, incentivos fiscais para o aumento do capital e expansão de igrejas que pregam homofobia e criminalização do aborto e por ai vai. O fim das cotas no país do "Não somos Racistas" não é algo tão improvável, embora custe mais votos do que recuar na questão LGBTT e de gênero.

Neste momento me causa espécie ainda ver no discurso de quem se quer alternativa e resistência o louvor a uma "grande política" ou a um discurso de purificação da luta política como se a questão fosse moral e não de cunho nitidamente de disputa feroz por espaço. 

Como que uma questão política de resistência se prende na  moralidade dos atos de políticos quando o que está em jogo é a democracia e o próprio humanismo atacados cotidianamente por jornais, partidos, governos? Como tratar a questão politica como centralizada na moralidade quando, em suas ações e omissões, os governos atuam na defesa desde cadastro de grávidas que acaba por servir como arma de punição por aborto, até a violenta ação contra dependentes químicos na cracolândia em São Paulo, sem nenhuma estrutura de tratamento ou orientação e às margens de toda a ciência envolvida no estudo do tratamento a dependentes, e que assinam a nível federal medidas que permitem a internação compulsória destes? Como tratar o cerne da ação da alternativa humanista (nem é mais uma questão de Esquerda) como centrada na moralidade pública quando gays e mulheres são hostilizados por amarem, seja pelo epíteto de "putas", seja pelo estupro, agressão ou morte?

A cada dia mais vozes se ouvem louvando com justiça implacável a libertação feminina e o direito e orgulho gays, negros, indígena, mas as vozes que se erguem contra essas conquistas não falam baixo e nem são  poucas e também usam o discurso da moralidade pra desqualificar não só os políticos, mas também a própria democracia. Então focando toda a resistência política no  foco moral acaba-se pro fazer coro indireto ao paulatino desejo de destruição da democracia em prol da destruição em seguida do humanismo e  de suas conquistas que foram sangrentamente levadas a cabo juntamente com o suor dos movimentos de trabalhadores anarquistas e socialistas e não foram dados por algum pai dos povos benevolente.

A cada dia é mais presente a sola do coturno em nossos rostos e principalmente no rosto das mulheres, gays, negros e pobres que morrem e sofrem violências cotidianas, basta de alguma forma saírem do que a opressão designa como seu papel, às vezes nem isso.

A cada dia a PM é mais e mais violenta e não só onde a "direita" tucana reside em seus ninhos de poder. A cada dia uma nova atrocidade é cometida e as vozes que divulgam a luta de direitos são mais atacadas, especialmente, repito, as que lutam pelos direitos LGBTT e das mulheres.

Para parte crescente da sociedade mulheres e gays devem ser como Ângela RoRo critica em sua música "Mônica": "Morreu violentada por que quis!  Saía, falava, dançava. Podia estar quieta e ser feliz Calada, acuada, castrada".

Há uma nova classe média? sim, há, ela consome e vive melhor do que no passado, mas ela absorve e concorda em geral com os mesmos valores conservadores da velha classe média. 

E porque isso? porque abrimos mão de buscar a ampliação dos valores humanistas junto à população, optando por absorver seus votos, alcançar seus votos, dialogar sim, mas como plano de conquista de votos e não como um meio de diálogo aberto político que ousasse enfrentar o arcabouço conservador que é parte intrínseca do pensamento do todo da sociedade, preferimos ignorar isso por medo de perder os malditos votos. Chamamos a população de alienada por ignorar valores que por vezes nunca forma conversados ou mesmo identificados entre nossos "votantes". Optamos por deduzir que o caminho mais fácil era evitar o confronto "ideológico" e conquistar os governos, "Depois a gente vê o resto". Acabou que não vimos o resto e aumentamos um exército que também não tá muito afim de ver. 

A estrada para a busca de um novo mundo ficou mais longa, mais áspera, mais dura, e continuamos perdidos, perdemos o link da mudança, não sabemos que povo mora no país, não o conhecemos, não conhecemos suas experiencias que podem ser a liga p ara que os valores humanistas sejam fertilizados na terra fértil. Preferimos desprezá-los como antas conduzidas a convencê-los de nossos valores os tratamos como o que são: Seres conscientes.

Mas o que esperar de quem mal vê seu próprio machismo, racismo, elitismo e homofobia?

Diante disso precisamos resistir e avançar, precisamos resistir com força ao avanço do conservadorismo e avançar numa busca de diálogo supra partidário e sério com a população que agora atinge o acesso à internet e a bens de consumo, mas não tem ciência de seus direitos e entende por normal o que é o  mais puro preconceito e opressão, como a supremacia do macho que pode bater na mulher e que ser homossexual é ser "sem vergonha".

Diante disso é preciso abandonar o moralismo que mistura o prefeito que desvia verba com o favelado que aceita telha ou cimento em troca de seu voto. É hora de parar de moralismo e ser realmente pragmático e para além do voto, mas pelo diálogo que constrói avanços políticos reais e isso só se dá com povo na rua.
De que me vale ser filho da santa? Nestas horas é preciso ser filho da outra.



sábado, 7 de janeiro de 2012

Mulher falando de sexo? Contra-revolucionário!

Eu nem sou leitor assíduo do Biscate Social Club e confesso achar a temática média do Blog "coisa de mulherzinha", eu que ogristicamente acho que tudo fora de Futebol, Política e filme de Zumbi é "coisa de mulherzinha, se é que vocês me entendem. 

Queria no entanto, devido a curtir demais a iniciativa tanto política quanto comportamental de esculhambar o machismo atávico e burrão do Brasileirismo, elogiar em um post, que se iniciou poético, a beleza política, artística, comportamental e sexual de mulheres assumindo-se como livres, livres e donas do seu nariz, cabeça, tronco e membros.

Mas qual o que? é impossível nessa vida não topar com gente que diz fazer "política" e "revolução" sem entender o viés ausente dos manuais práticos das bronhas do gueto e sem cagar a volumosa regra da "inteligentsia" de "vanguarda".

Mulher falar de sexo e de liberdade de pegar, vestir, trepar, beijar? Contra-Revolucionário e não feminista! Social Club? Incapaz de haver discussão de idéias! E pior negozinho acha que isso ai é argumento sem notar a raiz da palavra socialismo, o que é óbvio porque o que mais rola é radical que não olha nada pela raiz.. 

E sigamos o bonde da "esquerda" sem auto-crítica e pĺena de manuais, incapaz de olhar o próprio machismo atávico, o quão é pró-forma a critica ao sexismo, ao machismo da sociedade, ao patriarcalismo. Porque mulher pode denunciar a opressão da sociedade no trabalho, na reprodução, mas falar de sexo? trepar? como assim feminista trepa? Anátema!

Depois do "barata-voa" com epítetos de "mal amada" a quem fez apenas uma singela brincadeira zoando o Hetero Branco, o clássico arquétipo do dominante e opressor, citado até por Caetano em "O Estrangeiro", a "lição" dos Bolcheviques de cursinho, da vanguarda do gueto.

Estamos bem... 

O que interessa é que a beleza do biscatear deve ser louvada, especialmente para quem não curte a cagação de regra da "mulher pra casar" e "mulher pra trepar" e mesmo não lidando muito bem com o fudevu na zona da não-monogamia acha um barato o conceito de "mulher pra amar".

Até porque na singela opinião do Groucho-Marxista Quisifodista aqui presente, não há revolução sem sexo, e nem sexo sem revolução, a não ser que você chame revolução de tomada de poder e aquele papai e mamãe modorrento de trepada.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Para além da Grande Religião Vermelha


Às vezes me parecem os textos da esquerda, especialmente da marxista, de um formalismo analítico que quase segue uma fórmula imutável.

É tipo assim: Se A se deslocar para B, teremos C.. e de boa, nem sempre teremos C, o deslocamento muda diante das realidades, mas as análises por vezes se enrolam numa forma que as identifica como pertencentes ao mesmo corte "Teórico", ou seja, salvo raras exceções, todas propõem uma mesma solução ao fim da análise seja ela falando de tsunami ou falando  da praça Tahir, ou do 11 de Setembro ou da relação sexual dos macacos...

É claro também que as análises vindas da academia sob a perspectiva Marxista não cometem este erro, mas esse rigor acadêmico não se espalha, não vai além das fronteiras da academia, não se tornam parte de um modus operandi analítico que opere uma transformação no olhar da realidade e não no formalismo da análise. Grosseiramente falando: Falta formação pros Marxistas.

Conseguiu-se nas fileiras marxistas um modelo de discurso, mas não um modelo de análise. E pior, produziu-se um modelo de discurso estratificado, existem graus hierárquicos deste modelo, de maior ou menor complexidade, mas em todos eles existe uma linha de raciocínio que acaba igualando-os. Todos eles são quase repetidores de uma fórmula de análise do real que mal compreende a idéia de contexto.

No topo da piramide hierárquica estão os acadêmicos ou assemelhados da burocracia dos partidos que produzem sim análises com riqueza teórica, com profundidade analítica e estes sendo os exemplos de que há uma fuga do monolitismo dogmático no marxismo.

Só que esta fuga é aparente, é até falsa, porque o marxismo militante  não tem acesso a este grau de reflexão e de ensino teórico, ensino mesmo, como se faz nas universidades. Ai você tem no dia a dia o mesmo e velho, modorrento e inútil marxismo de galinheiro cotidiano, que no fundo é a repetição de mantras proto-ideológicos inspirados em Lênin, segundo a interpretação semi-religiosa de algum marxista mecânico qualquer espalhado no vasto mundo da burocracia militante.

A riqueza da teoria em Marx, que propõe muito mais do que os manuais práticos, e por vezes patéticos, do "militante bolchevique" se perde ai,neste ralo e  pirâmide que separam não só o joio do trigo, mas o rei da teoria do mais besta peão da Grande Religião Vermelha.

É por isso que quando aparece o Zizek ele vira tábua de salvação, mesmo que ele no fim da vasta conta não tenha sido muito, digamos, novidadeiro em nada. Zizek saindo do lugar comum do mecanicismo vira gênio. Calinicos, Gonzales, Chris Harman idem.

 E ainda fingem não ver Marcuse, Thompson,etc, que tornam esses ai, na humilde opinião do blogueiro, os Diguinhos do Meio campo do Marxismo, põe eles no banco fácil.

Não citei Trotski, Rosa, porque estes são hoje mais mitologicamente repetidos do que lidos ou alvo de reflexão, salvo pelos sumos sacerdotes do Mosteiro bolchevique.

Não entrei também no universo teórico que vai além da Grande Religião Vermelha porque isso aí é uma discussão mais ampla, muito mais ampla e faz parte da própria revisão do que é a ação da teoria Marxista no mundo pós-moderno ( foi o que me veio,desculpem a má palavra, ok?).



A Esquerda perde terreno a olhos vistos, a esquerda marxista idem. Existem diversas possibilidades de explicação do fenômeno, todas elas a meu ver se cruzam quando analisam a burocratização dos movimentos e a perda do humanismo central à qualquer ideologia de esquerda. Desta forma é fulcral que avancemos na demolição dos muros que nos prendem a um formalismo teórico que gangrena o tal adjetivo "científico" que acompanhava a palavra socialismo.

É mais que hora da Esquerda se rever teoricamente, sob pena de tornar-se cada vez mais uma Grande Religião Vermelha e cada vez menos uma ferramenta de transformação do mundo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Solucionáticas?


No texto abaixo eu meto uns paus, faço umas críticas e reclamo de umas coisas, entendi que estava também incluindo algumas solucionáticas enrustidas no apontamento da problemática. Seguidor das leis de Rei Dadá esperava e entendia que alguns apontamentos incluídos sub repticiamente no texto ficariam claros, mas amigos bem sacadores não sacaram e resolvi escrever as propostas num “Que fazer?” caboclo meia boca.

Primeiramente acho que é bom explicar, embora seja óbvio, que de Lênin eu não tenho nem a careca. Segundamente não tenho experiencia forte em administração pública, ou seja, jamais atuei no poder então meus pitacos são especificamente de fora, cometendo obviamente deslizes no que foge à minha alçada.

As críticas que coloco relativas aos posicionamentos partidários são simples de esclarecer o que proponho: Fortalecimento das instancias internas com nucleação forte, nucleação de base com relações inter núcleos via plenárias regionais frequentes e com isso levantamento de questões à plenárias de direção que encaminhem diretrizes às executivas partidárias. O uso de um falso centralismo democrático travestido de colegiado de correntes e tendencias é golpe imediato na democracia interna de partidos como PT e PSOL.

O PSTU e PCB já partem do centralismo democrático clássico, críticas à parte sobre a existência ou não de burocratização neles, mas partidos como PSOL e PT se colocam como partidos de correntes de de núcleos, se você interrompe o oxigênio partidário com enfraquecimento dos núcleos você amplia a burocratização e mata o partido, ao menso a diversidade e se bobear sua inclinação socialista, ainda mais se a opção pelo eleitoralismo levar à filiação de grupos que nunca foram parte da esquerda, nem mesmo na proximidade pontual.

Pra sair da armadilha de comportamento olímpico com relação ao povo sem uma relação direta de convencimento acredito que o primeiro momento é abandonar a ideia da população não ter consciência e ir no caminho antropológico de “etnografia”, ou seja, viver com a população e dialogar, colocar as ideias no pano, ver qualé, passear pelos locais, discutir, interagir e sim, ser convencido também. Atividades e pesquisa são fundamentais, entender a dimensão das relações sociais e de parentesco nas comunidades idem, entender o que significa honra, palavra, dádiva,etc, mais ainda.

É fundamental desconstruir a ideia de povo como algo dado e cuja definição de Marx é tomada como regra e não o como Marx chegou a esta definição. Nada é menos materialista do que pegar uma ideia construída fora do dia a dia político brasileiro como fundamento para análises nossas. E mesmo em muitas análises feitas por brasileiros a ideia de povo é tomada via “bancada”, ou seja, o povo é visto do alto de uma análise de classe média/alta ou mais ainda mesmo quando vista in loco trabalhada com o arquétipo de povo. Sem contar que devíamos escrever “povo” dada a diversidade do que significa esta categoria.



De que povo estamos falando? Como ele respira, ouve, lê, anda, fala? Tem sotaque? Que sotaque? De onde vem esse sotaque? Como são as relações de gênero deste povo? Como são as relações entre fenótipos diferentes? Como são suas construções? Como eles veem e querem suas casas , ruas, escolas, trabalho, sexo, música? São perguntas abertas, e é óbvio que são feitas também da “bancada”, porque as perguntas mudam de acordo com o campo. É preciso que a “prática como critério da verdade” seja algo além de um discurso e algo além de pesquisas quantitativas e observação abertas, cheias de estereótipos de uma população variada país afora. É preciso abandonar o anti-intelectualismo e o medo da ciência e largar de mão dogmas pseudocientíficos e filosóficos que por vezes travam e são atualizados até mesmo dentro das tradição ideológicas por outras formas de abordagem do real. 


É preciso para nossas relações políticas irmos além do aparato e arcabouço puramente ideológico e acrescentar a ele o que se produz como ciência. Dessa forma talvez tenhamos menos comunistas com elitismo cultura ou machistas. Talvez com isso tenhamos menso comunistas que tem um belo discurso, mas reproduzem os mesmos preconceitos culturais, de gênero e raça que dizem combater.


Não precisamos gostar de funk ou de ruas apertadas ou de pagode ruim, ou de letras de música dizendo que a mulher tem de chupar pirocas pras entender que isso é sim culturas e é tão legítima e válida quanto Chico Buarque. E é preciso menos moralismo cultural, menos rotulação sobre como deve ou nãos e comportar o diferente.

Muitas vezes lemos que o que diz a Tati Quebra Barraco é reforço no machismo, mas é mesmo? Lá no ambiente onde foi construído grito da Tati é reforço ao machismo ou ofende o machismo local? Aposto na segunda opção. A mulher dizer claramente que faz sexo como quer e não é vagabunda é como queimar sutiãs naquele ambiente. Podemos discutir o quanto isso na nossa concepção de comportamento é reprodução e nessa viagem inter grupos sociais como o conceito exposto pela Tati é por nós entendido, mas antes de usar esse entendimento para explicar universalmente o significado da música convém ir lá e ver in loco como essa música funciona na cabeça de quem fez e de quem ouve primeiramente, antes da viagem da favela pras boites da zona sul carioca.

Comunista que chama funk de sub música tá numa redoma, e pior, reproduz um preconceito que diz que música é apenas uma música aprovada pelas classes dominantes, cujo gosto foi assumindo pelas classes médias. No início do século XX essa sub música, também originada fora do país, era o samba. Nas décadas de 1950 a 1970, iniciozinho, essa sub música era o rock.

Da mesma forma é preciso ações de conquista de diálogo horizontal como uma juventude que anda por ai doida por um 15-M tupiniquim. E acredito que do mesmo jeito da relação com o “povo” é preciso entender que rapaziada é essa. É preciso entender que determinadas construções da forma partido cuja horizontalização e trajetória das discussões e processos decisórios é interrompida são o fim da picada pra uma multidão de pessoas que estão expostas à fragmentação da comunicação n cotidiano chamada Internet. E essa fragmentação não é quebra, é diversidade, é polifonia, a ideia de síntese, cujas discussões determinam um ponto de convergência pode estar sendo substituída na prática pela ideia de polifonia, onde todos os grupos e desejos se materializam na ação direta, onde não é preciso esperar a revolução pra discutir o problema de gênero, por exemplo.

Há problemas nas manifestação espontâneas de Madri ao Cairo, na primavera árabe e na rebeldia europeia? Claro, e esses problemas são menso da diversidade e mais da ausência de organicidade. Essa organicidade não significa que todos tem de empunhar a mesma bandeira, mas talvez da organização dessas diversas lutas no sentido de também derrubar o inimigo. Não necessariamente focar numa bandeira única, mas ampliar as lutas diversas, todas nas ruas, todas com solidariedade mútua e todos sufocando o inimigo numa batalha em várias frentes, mas ao mesmo tempo agora.

Para combater a crise da esquerda é preciso antes de mais nada entender o “público alvo”, depois entender que estamos em crise e perder o saudosismo da unidade perdida. A partir desses passos talvez tenhamos muito mais ganho do que estamos tendo e podemos enfrentar a ideia do estado à nossa frente, inimigo ainda, e também do governo que deve sim ser pressionado para a realização dos desejos desse “público”.

Com isso talvez a esquerda possa ir além do que está sendo feito. Um exemplo é a luta pelos 10% do PIB para a educação, fundamental, mas que para na luta por verbas e que pode e deve usar as mais diversas experiencias de esquerda para a educação, da “Escola do Aluno Caminhador” à “Escola Possível” de Miguel Arroyo, iniciativas que partiam da realidade do aluno para construir um processo educacional que minimizasse a violência da “socialização” via educação. Paulo Freire tá aí pra isso.

Será que a escola que queremos é só a escola com 10% do PIB pra educação? Como é o professor na escola que queremos? Como é o aluno? A educação já é um assunto tão periférico, cuja importância merecia aspas, pois fica mais no discurso do que na prática de entendimento crítico de seu papel, porque os profissionais da educação não levam pra rua o papo sobre a escola onde estudam os filhos da sociedade? Porque nós os lutadores não vamos pra rua pressionando a sociedade a entender o que ela está fazendo apoiando bravamente a luta de bombeiros e ignorando a luta dos professores de seus filhos, que são tão massacrados e proletarizados quanto os vermelhinhos e tão vítimas quanto os alunos de uma escola que deforma, que humilha, que entedia e que destrói o indivíduo o tornando em geral um mero repetidor? Qual o medo e ir além do econômico e também repensar publicamente e em conjunto com a sociedade o próprio sistema de educação? Será que enfrentar o pai da criança, que foi aluno da mesma escola deformadora e por isso também tem uma péssima ideia do professor como inútil é tão difícil?

Além disso, que governo queremos para nós? É apenas um governo bacaninha que faz o “bem pro povo” ou é um governo que amplie a imersão do “povo” nos processos decisórios? Cadê a ideia do Orçamento participativo e sua adaptação para meios de interferência popular direta e embate político constante na sociedade que seja federal? E que estado queremos? É esse ai adaptado ou outro? O Outro mundo possível é um mundo velho com Botox?

Enfim, na busca pela solucionática acabei criando outras problemáticas e nem paro no ar que nem beija-flor.

Algumas sugestões estão ai e podemos sim avançar a partir delas, indo além do discurso, colocando o assunto à baila e na prática. Talvez com isso comecemos a disputar a hegemonia das consciências coma direita, sem levar luz, sem tentar pagar de “orientador”, mas debatendo e discutindo, colocando soluções práticas, debatendo soluções práticas, de baixo pra cima, à esquerda de quem entra.