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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sweet Dreams (Are Made Of This)

Os dias de hoje apresentam desafios a quem lida com política no cotidiano que superam as tradicionais , grandes ou pequenas, dissonâncias entre projetos político práticos e vertentes ideológicas. 

O avanço do fascismo aliado a uma nada suspeita burocratização que imobiliza os ditos movimentos e atores de esquerda são elementos super avisados no decorrer dos lindos anos 2000 pelas forças da "esquerda radical" e até por partes da esquerda nem tão radical assim representada pelo saudoso Leonel Brizola, avô do Excelente parlamentar Brizola Neto. 

Apesar de todos estes avisos foi preciso que em um Fórum Social Mundial Temático realizado em Porto alegre, na República do Rio Grande do Sul, o companheiro sociólogo socialista Boaventura de Sousa Santos tascasse um volumoso esporro pra o aviso ser notado pela esquerda que fingia não ver até onde ia seu "pragmatismo" e sua "responsabilidade'. 

Boaventura aproveitou o ensejo de #Pinheirinho para discorrer sobre o avanço do Fascismo social e as consequências disso diante da burocratização e do imobilismo da esquerda em sua maioria, e foi mais além, mencionou enfaticamente a falta de "traquejo" intelectual da esquerda, que fica presa mais do que nunca em uma linha de comando clara, com "procedimentos" claros, respostas rápidas e unitárias, saudosismo da unidade perdida,etc e tal. O companheiro encheu a boca pra dizer "A esquerda esqueceu-se de pensar".

E ai eu achei bacana que a esquerda radical, a partir disso, foi incluída como sócia-atleta da critica  pela esquerda governista.. Agora vai, tamo junto! E eu até concordo que a crítica seja compartilhada porque a  falha é global, mas sugiro que observem com mais calma porque já faz tempo que a esquerda radical avisa aos coleguinhas balouçantes das partes íntimas dos governos sobre os riscos dessa tática de  morde-assopra pro avanço do fascismo, ainda mais pós-carolização em 2010. 

Só que convém também trazer novos sócios pro papo, porque a fascistização social não parte só do tucanato delirante, parte dos aliados cheirosinhos do governo formoso e locomotivicio da Dona tia Dilmônica também curte a tese da borrachada como método de debate político, vide os Governos Deda e Wagner com estudantes  e as remoções no Paesquistão.

Mas não nos percamos acá na troca de dedurismo entre nossa amada e nueva solidariedade no preço a ser pago a partir da omissão bundona diante do coturno andar ensaiando uma volta. Bora fazer uma DR com relação à "A esquerda esqueceu-se de pensar". Até porque não foi só a Milícia progressista Governista que se esqueceu de pensar, há um modus non pensandi na esquerda como um todo que se arrepia com relação ao pragmatismo petemedebista, mas que também de uma aversão ao povo como ele é que chega a ofender meu lado antropólogo moderninho.

Quer  uma prova? o povo religioso pro marxismo ateu proselitista é maluco, esquizofrênico e "iludido" pelos pastores e padres maus. Ou sejam, se o cara não passou na universidade ele late em várias formas e linguagem au au, de pincher raivoso a Rotweiller biba. 

Toda a dimensão de construção de laços, de simbolismo, de honra, de tradição, de estruturação da realidade do cara se resume a um agá, o que a antropologia escreveu a respeito nos mais de cem anos dela é um imenso lixo porque não citou Marx mais de cem vezes.


Outra prova? Música popular é um lixo inventado pela CIA pra destruir a "verdadeira cultura popular" estuprada pela indústria cultural.  Ou seja, "Ai se eu te pego" é lixo, mas "Carolina com K" é genial e só o primeiro é produto da indústria cultural, embora qualquer historiador que lata também Pastor Alemão fluente saiba que Tonico e Tinoco, Gonzagão, era tudo os Teló do primeiros anos do século XX. 

Sem contar que "popular" ai esquece o que o povo ouve, porque, não entende o que tem no ouvir, porque se ouve, e  de novo os transforma em um bando de cãezinhos adestrados para a estupidez. 

O  mais engraçado ai é que por vezes o mesmo cara que bate no peito pelo PRO-UNI, ignora que os alunos do PRO-UNI, inclusive os mais safos e produtivos, fodões na teoria, curtem o bonde do tigrão e o "ai se eu te pego".

Além disso tudo toda a lógica de "Conscientização da classe trabalhadora"  parte do principio de estamentos hierarquicamente definidos, onde , o que não canso de repetir aqui, o povo é uma anta desnuda e nós os "iluminados". 

Não discutimos, não pensamos, não saímos de categorias definidas como pétreas há mais de cem anos, somos mecanicistas no marxismo, ignoramos outras contribuições científicas, somos arrogantemente encastelados em uma grande ordem semi religiosa de repetição ad infinitum de fórmulas pseudo-científicas que não resistem em sua maioria às bancas mais frágeis da academia. 

Somos alienados, alienados eruditos, mas alienados. Somos alienados do real, somos cegos ao mundo, pretendemos sermos líderes de pessoas que estranhamos ao vermos dançando, que tratamos por sem cultura, sem luz, sem alma. E é aí que perdemos pro fascismo social, porque ele não esquece que as pessoas pensam, ele inclusive adora  usar as emoções pra embotar este pensamento e tirar o pior de cada um.

É claro que para que revertamos esta situação temos de escolher entre fingir que não vemos e continuar na ladainha de disputa territorial em nome do aparatismo ou correr atrás de forma humilde e clara, pesquisando, lendo, refazendo nossas formas de ação,etc.

Isso nem atrapalha o âmbito eleitoral em si se for feito de forma decente e clara, é preciso a reflexão para que construamos um projeto de esquerda que queira saber o país para além da construção do Bolsa-Família. é preciso refletir pra resgatar a utopia disputando consciências de gente que conhecemos e não de  um gado amorfo criado por uma erudição elitista.

Doces sonhos são feitos disso.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Limites atravessados e outras histórias #Pinheirinho

Ao mesmo tempo em que Alckmin ultrapassava o rubicão testando os limites da aceleração do fascismo, queimando pontes, ritos, imaginários, símbolos e percebendo ele mesmo que havia algo errado no reino da Dinamarca após o pega pra capar em cima de pobre no caso Pinheirinho, a esquerda se perguntava sobre a ultrapassagem dos limites da omissão de o pragmatismo do Governo Petista, de sua cúpula e dos limites de sua tática do "finge que não viu".

O ato contra Pinheirinho teve mais eco que o esperando e mais eco do que a fórmula de ocultamento das TVs e jornais conseguia conter.  A coisa "fedeu" como se diz no pitoresco lugarejo abaixo do viaduto de Madureira. Juntou-se novamente a esquerda, indignou-se novamente uma classe média que antes aceitava o fascismo à sua porta pela tranquilidade contra os maus elementos, emputeceu-se o populacho habitante dos "Pinheirinhos", irritou-se políticos cujos acordos foram desfeitos pela truculência, enfureceu-se juízes cujas decisões e disputas de competência forma ignoradas, destruíram-se igrejas e centros de macumba.

Há mais coisas rompidas e tratoradas que casas e o lumpem costumeiramente jogado para baixo do tapete no modus operandi urbanista Brasileño. Há silêncios, ritos, símbolos estuprados, cujos resultados são capazes de mudar o eixo da política recente a médio prazo.

Talvez o eixo moral e sensível nos torne fatalistas, tristes e ofendidos pela realidade. A indignação é alimentada disso, mas antes de mais nada precisamos de indignação e calma. Indignação pra construir a resistência e calma para ver, já que há muito para ver.

O Governo Alckmin rompeu limites tratados como cláusula pétrea da tradição politica Brasileira por seus pares, e isso não tem volta.  Também ultrapassou o limite da truculência desmontando símbolos da fé junto com casas e vidas pobres.  Causou um sentimento de raiva nas periferias e rompeu o diálogo com lideranças populares, mesmo as de direita, que por ventura construíram base político eleitoral para o PSDB em SJC, em São Paulo e quiça em todo o estado. Sem falar na relação com o judiciário cujas primas donas devem pensar no que fariam se um mísero governador ao não obedecer à suas decisões e rituais os trata-se como um.. morador de Pinheirinho.

Entre tantos rumos da cagada, Alckmin talvez já esteja pedindo desculpas sutis, que acho que não vão colar.

Por outro lado os limites do pragmatismo da esquerda e da "esquerda" foram postos mais que à prova,o grua de omissão que o Governo Federal assumiu jogou pro terra todo o esforço colocado em prática redução de danos de uma reintegração de posse na base da porrada e que deram na decisão judicial suspendendo a reintegração por 15 dias. Ao recuar no enfrentamento indignado da negligencia do Palácio dos Bandeirantes, o Governo Dilma não só se mostrou fraco como acirrou o tensionamento com a base partidária ligada a Movimentos sociais e ligadas a ideais socialistas. Em suma, Dilma se queimou com a esquerda e a cúpula do PT queimou pontes e acordos com sua base de esquerda e isso terá repercussões.

Os Movimentos Sociais então se sentem vendidos, já começam a se mobilizar com ações bem claras de demarcação disso. E não duvido rompimento definitivo com o Governo Federal ou um acirramento entre cúpula e base ao ponto de novos rachas. Não é pouca coisa a ação conjunta entre CSP- Conlutas e o MTST no Ministério da justiça, essa ação diz muito.

PSOL e PSTU se destacaram na questão toda tanto pelo pronto atendimento das demandas da população quanto pela persistência e equilíbrio na ação, isso ficou marcado ao ponto de analistas moderados os elogiarem.

Enfim a ação no Pinheirinho foi um divisor de águas, no que vai dar isso é cedo pra se dizer, mas existem  nortes aparecendo, e isso pode ser bom, por incrível que pareça para a esquerda. A questão toda apontou para uma união entre forças díspares  do âmbito da esquerda no que deve ocorrer: Na rua, na chuva, na fazenda.

Houve uma coordenação mínima de ação coletiva de forças da esquerda em vários campos, mas que no que devem convergir convergiram e atuaram com força, mesmo que sem poder impedir a crueldade. É preciso ter em mente que esta é a união que interessa e para além do eleitoral, o campo político mais importante, e não sermos tentados a um retorno da idade do ouro da união da esquerda  esta mitologia levada a cabo pelo politburo stalinista com o fim de reduzir a dissidência.

Por fim após mais uma tragédia que muito nos indigna é preciso estarmos atentos e forte, não temos tempo de temer a morte e temos ainda lenha pra queimar.


domingo, 22 de janeiro de 2012

É chegada a hora da reeducação de alguém #Pinheirinho

O que acontece no Pinheirinho em São José dos Campos é a ultrapassagem final do limes do fascismo que São Paulo ensaia fazer já há algum tempo nestes vinte anos de PSDB no poder local.  Além disso, a omissão do Governo Federal concorre para este imenso ato de violência, desrespeito à federação e desumanidade em um ataque direto aos direitos humanos em prol da locomotiva do capital especulativo e da prevaricação tucana. Ao agir com excesso de zelo, o Governo Federal foi cúmplice indireto neste imenso crime tucano.  Se falasse grosso como fala com os movimentos sociais em Belo Monte talvez o massacre tivesse sido evitado.

Mesmo assim é impossível ignorar o tamanho do crime cometido em São José dos Campos. E isso reflete não só sobre o modus operandi Opus Deis proto-fascista do PSDB, mas também o imenso passo dado na direção do desafio ao poder judiciário, do desafio ao poder central, à união e aos direitos civis e humanos da população pobre. Ao ignorar medida judicial do TRF, e se utilizar de um impasse de competências,  o Governo de São Paulo faz chacota dos trâmites democráticos e age como chefete local.

Nomear o Governo como Juca ou Geraldo é personalizar um modus operandi gestado sob as barbas do príncipe dos sociólogos e tomado como eixo político pelo todo do partido, seja em Goiás, seja no Paraná. O Castelo erguido em São Paulo faz deste estado o condutor do pior do país, desde o auge da homofobia, até o auge do ódio aos pobres, da ausência de políticas públicas que não sejam as de gerar lucros aos capitalistas mais vis e da violência opressora contra pobres, negros, estudantes e todo e qualquer ser humano (humano?) visto como marginal.

São Paulo foi longe demais, São Paulo ultrapassou os limites da decência, legalidade e democracia. E queima as caravelas.

Sob a batuta do PSDB o Estado de São Paulo ameaça a democracia em todo o país, é chegada a hora da reeducação de alguém, do pai, do filho, do espírito santo, amém.

PS: Lamentável o uso por quadros da campanha Marinista  do massacre em São José dos Campos como eixo de propaganda político-eleitoral do mais baixo nível. É preciso sim apurar responsabilidades dos governos petistas pela escalada fascista e pelo excesso de zelo e até omissão relativa no que tange á ocupação, mas é igualmente irresponsável ignorar as prioridades na crítica, e mais ainda, que o próprio governo federal buscava acordo pra evitar o caso. Não é preciso para fazer oposição usar de oportunismo para levar a cabo o combate, aprioridade era a defesa dos oprimidos e não o uso de seus infortúnios como combustível para ganhos eleitorais.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

De que me vale ser filho da Santa?

Tem dia que de noite é assim mesmo. Ainda mais em tempos onde a política sem rancor te ameaça de processo em debate político; em que a Fundação Nacional do Índio, herdeira do Serviço de Proteção ao Índio, é cúmplice, mesmo que por omissão, de assassinatos e de exploração ilegal de madeira em terras indígenas; em tempos onde um dos principais partidos de esquerda do país, ou ex-esquerda, faz acordo pra manter arquivos da ditadura que vitimou grande parte de seus quadros dirigentes ocultos nas sombras do tempo e do "pragmatismo" político mais servil; em tempos onde os "cordiais" Brasileiros acham  normal barrar Haitianos porque "vão roubar nossos empregos" e acham que gay e mulher tem de ser castrado e postos em jaulas, oprimidos, esmagados.

Nestes dias turbulentos e tenebrosos a mulher é um alvo fácil da manutenção do conservadorismo e da  opressão sem maiores culpas pelas alas conservadoras, e crescentes, da sociedade. A escalada do conservadorismo atinge primeiro onde a tradição mantém um longo arcabouço de sofismas pra justificar a supremacia do macho adulto branco, sejam eles baseados em versículos bíblicos, teorias "cientificas" ou aspectos legais de interpretação dúbia. 
Primeiro os gays, depois as mulheres e os negros, paulatinamente a política segue a trajetória avant garde do atraso traduzido em Redes cegonhas, incentivos fiscais para o aumento do capital e expansão de igrejas que pregam homofobia e criminalização do aborto e por ai vai. O fim das cotas no país do "Não somos Racistas" não é algo tão improvável, embora custe mais votos do que recuar na questão LGBTT e de gênero.

Neste momento me causa espécie ainda ver no discurso de quem se quer alternativa e resistência o louvor a uma "grande política" ou a um discurso de purificação da luta política como se a questão fosse moral e não de cunho nitidamente de disputa feroz por espaço. 

Como que uma questão política de resistência se prende na  moralidade dos atos de políticos quando o que está em jogo é a democracia e o próprio humanismo atacados cotidianamente por jornais, partidos, governos? Como tratar a questão politica como centralizada na moralidade quando, em suas ações e omissões, os governos atuam na defesa desde cadastro de grávidas que acaba por servir como arma de punição por aborto, até a violenta ação contra dependentes químicos na cracolândia em São Paulo, sem nenhuma estrutura de tratamento ou orientação e às margens de toda a ciência envolvida no estudo do tratamento a dependentes, e que assinam a nível federal medidas que permitem a internação compulsória destes? Como tratar o cerne da ação da alternativa humanista (nem é mais uma questão de Esquerda) como centrada na moralidade pública quando gays e mulheres são hostilizados por amarem, seja pelo epíteto de "putas", seja pelo estupro, agressão ou morte?

A cada dia mais vozes se ouvem louvando com justiça implacável a libertação feminina e o direito e orgulho gays, negros, indígena, mas as vozes que se erguem contra essas conquistas não falam baixo e nem são  poucas e também usam o discurso da moralidade pra desqualificar não só os políticos, mas também a própria democracia. Então focando toda a resistência política no  foco moral acaba-se pro fazer coro indireto ao paulatino desejo de destruição da democracia em prol da destruição em seguida do humanismo e  de suas conquistas que foram sangrentamente levadas a cabo juntamente com o suor dos movimentos de trabalhadores anarquistas e socialistas e não foram dados por algum pai dos povos benevolente.

A cada dia é mais presente a sola do coturno em nossos rostos e principalmente no rosto das mulheres, gays, negros e pobres que morrem e sofrem violências cotidianas, basta de alguma forma saírem do que a opressão designa como seu papel, às vezes nem isso.

A cada dia a PM é mais e mais violenta e não só onde a "direita" tucana reside em seus ninhos de poder. A cada dia uma nova atrocidade é cometida e as vozes que divulgam a luta de direitos são mais atacadas, especialmente, repito, as que lutam pelos direitos LGBTT e das mulheres.

Para parte crescente da sociedade mulheres e gays devem ser como Ângela RoRo critica em sua música "Mônica": "Morreu violentada por que quis!  Saía, falava, dançava. Podia estar quieta e ser feliz Calada, acuada, castrada".

Há uma nova classe média? sim, há, ela consome e vive melhor do que no passado, mas ela absorve e concorda em geral com os mesmos valores conservadores da velha classe média. 

E porque isso? porque abrimos mão de buscar a ampliação dos valores humanistas junto à população, optando por absorver seus votos, alcançar seus votos, dialogar sim, mas como plano de conquista de votos e não como um meio de diálogo aberto político que ousasse enfrentar o arcabouço conservador que é parte intrínseca do pensamento do todo da sociedade, preferimos ignorar isso por medo de perder os malditos votos. Chamamos a população de alienada por ignorar valores que por vezes nunca forma conversados ou mesmo identificados entre nossos "votantes". Optamos por deduzir que o caminho mais fácil era evitar o confronto "ideológico" e conquistar os governos, "Depois a gente vê o resto". Acabou que não vimos o resto e aumentamos um exército que também não tá muito afim de ver. 

A estrada para a busca de um novo mundo ficou mais longa, mais áspera, mais dura, e continuamos perdidos, perdemos o link da mudança, não sabemos que povo mora no país, não o conhecemos, não conhecemos suas experiencias que podem ser a liga p ara que os valores humanistas sejam fertilizados na terra fértil. Preferimos desprezá-los como antas conduzidas a convencê-los de nossos valores os tratamos como o que são: Seres conscientes.

Mas o que esperar de quem mal vê seu próprio machismo, racismo, elitismo e homofobia?

Diante disso precisamos resistir e avançar, precisamos resistir com força ao avanço do conservadorismo e avançar numa busca de diálogo supra partidário e sério com a população que agora atinge o acesso à internet e a bens de consumo, mas não tem ciência de seus direitos e entende por normal o que é o  mais puro preconceito e opressão, como a supremacia do macho que pode bater na mulher e que ser homossexual é ser "sem vergonha".

Diante disso é preciso abandonar o moralismo que mistura o prefeito que desvia verba com o favelado que aceita telha ou cimento em troca de seu voto. É hora de parar de moralismo e ser realmente pragmático e para além do voto, mas pelo diálogo que constrói avanços políticos reais e isso só se dá com povo na rua.
De que me vale ser filho da santa? Nestas horas é preciso ser filho da outra.



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Nada mais civilizado do que o genocídio

Pra escrever este texto primeiro pensei em discutir o Civilizado usando aspas, mas abri mão. Embora o civilizado tenha trazido junto consigo a espada de Cortéz e o poema de Cervantes, o uso de Civilizado com aspas para demonstrar a presença física, patente e incontestável da espada reduziria civilização apenas a seu melhor, faria análise cair por terra.

A discussão sobre o que é civilizado ou não é antiga, ouso dizer, sem o rigor acadêmico necessário, que desde que los Hermanos Gregos Platão e Aristóteles, ou mesmo antes, discutiram o que era ou deixava de ser humano. No século XIX o "Fla x Flu" entre Kultur e Civilización para definir o que era Cultura (Grosso modo uma discussão entre o arcabouço global de mitos, lendas, modos de fazer somado à língua,Kultur, e o aspecto mais focado nos usos e costumes aparentes e patentes era, civilización), também era  uma disputa pela demarcação do que era Civilização, ou do que era Humano.

Em todo este processo a civilização era o limes, era a fronteira entre o humano e o bárbaro, este que não sendo EU meu diferente, meu antípoda e, porque não, meu adverso, meu contrário.

Claro que do mesmo modo a definição do humano, do civilizado criou a definição de humanidade, de variedade, de cultura como um bem universal,  de direito como algo a ser ampliado e estendido universalmente. Dai nasceu desde a luta pela declaração universal dos direitos do homem até a moderna antropologia e a percepção do homem como mais do que o Europeu Branco, o civilizado.

O Civilizado criou desde o trem do progresso que segue em frente continente a continente levando sua marca ao todo como a resistência ao trem. E é neste contexto que novamente a civilização encosta na barbárie, que o limite entre ambos, tido como claro pelas trombetas ufanistas do "progresso", que proclamam em várias línguas a necessidade de "seguir  em frente", fica tão tênue como difuso. A Civilização é a mesma que defende os oprimidos e os queima, como fizeram com a criança indígena no Maranhão . Ao queimar o "bárbaro" , aquele pequeno ser isolado, os civilizados rompem com o que seria a clara diferença entre "nós" e "eles". 

A espada de Cortéz volta a nos lembrar que assim como o poema de Cervantes é parte do processo de avanço de uma cultura sobre as outras na voracidade da conquista, na demonstração que sem vigília o genocídio é parte intrínseca da civilização dos direitos do homem.  A barbárie então deixa de ser o contrário de civilização, sendo apenas seu braço armado.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Admirável ano novo

Depois de mais uma temporada de músicas natalinas, covers de John Lennon e Simone cantando "Então é natal!", finalmente chega 2012 que aos trancos, barrancos e muita chuva se inaugura com a mesma velha esperança quase tão clichê quanto a própria passagem do tempo e seu aviso da inexorável mortalidade.

Confesso que me incomodam os desejos de paz, prosperidade, saúde e outras demonstração de "humanidade bondosa" explícita, nem tanto pelo "teor" dos desejos, mas pelo que ocultam.

A "ditadura da felicidade" e do "bom mocismo" mal escondem o competitivo mundo do qual se originam, mal escondem a "obrigatoridade" da sanção social à felicidade, saúde, paz e outros penduricalhos  que os "bons moços" TEM de trazer em seu pescoço sarado.

Somos obrigados a desejar o melhor, a ter boa postura, a sermos aceitos, a rirmos, a andarmos por ai cheios de uma paz falsificada, de plástico, plenos de desejo do "melhor ao outros", mas um "melhor" que não se furta a rosnar quando o coletivo é posto acima do individual.

Do lado do "Boas Festas" encontramos e-mails que chamam nosso povo de "apático", e louva protestos londrinos e gregos, que por serem longe não "atrapalham o trânsito" e não são feitos por "vagabundos" como os do MST, MAB, Sem teto,etc.

Na Europa ou EUA os ocupadores de praças e prédios vazios são "heróis", os daqui são "monstros", criminosos. Essa atitude é prima-irmã do "Não tenho nada contras homossexuais, mas tenho nojo, tenho até amigos gays", se substituir "gay" por "preto" serve também.

"Então é natal e ano novo também", o que não significa que o tal "espírito natalino" demore muito a ser substituído por espíritos de porco.

A paz dos desejos então se transforma num desejo continuo de uma "paz de condomínio", uma "paz de playstation", que é apenas o que a música do com Rappa diz: Não é paz, é medo!

A "paz de condomínio" e a "prosperidade" podem ser traduzidas como "Não morra assaltado" e "ganhe dinheiro pra caramba", o que, convenhamos, é apenas um desejo apavorado de que a existência vire um dia algo parecido com um mundo onírico e polianesco, irreal,  o contrário do qual todos tem um profundo medo.

A vida de "plástico" é mãe dos corpos de plástico, do cotidiano de plástico, da realidade competitiva de uma juventude eterna, de uma beleza falsa, de uma "sensibilidade" artística que não faz questão de esconder que quer se parecer com uma erudição de revista Caras, cujo corte crítico é facilmente resumível em "Se é branco, é bom" ou "Se a elite aceita, então é arte".

 Então é 2012, mais um ano, mais um ciclo, mais um dia, que como todos é admirável por ser em si concreto, real, palpável, mutável. Mais um ano e mais uma temporada de uma legítima festividade, especialmente pros que não são de plástico, a comemorar um novo inicio do cotidiano. Muitos apenas pedem para que nada mude ou que algo mágico aconteça, outros pedem apenas pra não mais sofrerem. 

Prefiro pedir que o riso continue vivo e presente, sem desprezar a dor  sua importância. Vamos acordar pra uma nova semana de vida, trabalho, realidade,amor e  horror. 

Então é 2012, mais um admirável ano novo que contém pessoas assim.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O mundo tá ficando difícil de ser encarado sóbrio


O mar não tá pra peixe, o mato não tá pra cobra.

Diante da necessidade do "desenvolvimento" ontem se aprovou um Código Florestal que é pior que o votado na câmara. Perdemos essa, Esquerda, my friend!

No dia a dia do mundo Belo Monte é discutida até na padaria agora e "precisamos de energia" é o mote, e a qualquer preso, porque é "besteira essa obsessão indígena pelo espaço sagrado". A Obsessão branca e cristã pela buceta, feto e fígado sagrado é plausível, a "obsessão indígena" é coisa de bugre.

Diante disso o combate pela democratização das comunicações, pela lei de médios ainda é uma pauta,né? Não, não é. Porque além do silencio do Governo a respeito, o que é repetido pela Imprensa governista, simbolizada no movimento dos Blogueiros Progressistas, é só uma propaganda de seminários e discussões extra-oficiais a respeito, onde aparecem aqui e ali membros do Governo pra dissolver em sua baba de lagarto as velhas platitudes nunca concretizadas a respeito dessa necessidade.

Imprensa governista? Existe? sim, claro, é uma imprensa alternativa centrada nos "progressistas' e cuja única função é repelir os ataques da "PIG" que vem a ser o "Partido da Imprensa Golpista" criado pelo mesmo Paulo Henrique Amorim que apoia Belo Monte e chama de mentiroso o movimento Xingu Vivo e a CIMI quando estas se opõem a Belo Monte.

Aliás o silencio dos Blogueiros progressistas em torno de qualquer medida de recuo conservador do Governo do qual dependem é sintomático. Procurem Belo Monte, Código Florestal, Kit-Antihomofobia, PLC 122, alguma coisa dessas nos principais membros do movimento e você vai encontrar um nada absoluto.  Nem pra bater nas inverdades, putarias, canalhagens de Veja a respeito. Aliás, a Veja anda fazendo capas com as quais os "Progressistas" concordam.

Ah, esse admirável mundo novo! "Vamos mudar o país! Rumo ao progresso!" diziam há dez anos., e hoje defendem barragens cujo projeto começa na ditadura e condenadas pela maioria do mundo científico, militâncias indigenista, antropólogos, ambientalistas, ecossocialistas, o escambau! 

Outro dia muitos defenderam a ocupação da USP pela polícia porque o povo estava radical demais. ou porque usavam drogas. Índios viraram nômades e não haverá remoções e nem prejuízos a eles com a  construção da barragem. Pra manter a base parlamentar fecham acordo com Ronaldo Caiado e Kátia, Abreu  além do Blairo Maggi, e votam um Código Florestal que devia se chamar Desflorestal.

Como disse um amigo, o Governo entendeu que nada menos popular na maior parte do Brasil que defender índio e árvore. Etendeu também que defender homossexual é impopular, aborto e mais direitos pras mulheres idem.

 "Quem quer um bando de viadinhos ensinando nossos filhos a serem gays? " ou "Aborto legalizado pra que? pra essas putas darem as bucetas e poderem tirar a qualquer hora?", é assim que pensa o mundo. E o Governo entendeu, seus defensores idem. 

É preciso manter o governo, são muitos os companheiros que precisam dele.

Enquanto isso na oposição de esquerda se busca ampliar a presença neste mesmo estado e talvez começar disputar o governo para seguir este mesmo caminho e se cogita aliança com o PV, se filia egressos do PDT e PPS.

Em Vila Valqueire um morador foi assassinado pela milicia porque não pagou o Gatonet. Um deputado teve de sair do país por ameaças da mesma milicia, uma juíza foi assassinada.

O mundo tá ficando difícil de ser encarado sóbrio, mas podia ser pior, porque no Recife foi aprovada uma lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas em espaço público de 18:00 às 06:00 hs. Lá você só pode encarar o mundo sem ser sóbrio se não sair de casa.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Buscando consensos debaixo das botas

A busca de consensos e de acomodações é uma arte própria de nossa política Brasileña. A própria noção de que propostas radicais tendem a ser inúteis porque jamais serão colocadas em prática é voz corrente na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê. Uma filha dileta desta noção é a idéia de que se você "não participa do 'jogo' você jamais é eleito e nunca pode fazer  nada". E o "jogo" ai é corrupção na dura, mas com a tucanada clássica de Pindorama.

Essas noções percorrem o pensamento dos nossos amigos, irmãos, namoradas, e nas padarias de Vera Cruz se consolidam como uma idéia monolítica de política. O problema delas não é só o determinismo de que política só pode ser feita do jeito clássico desde o pré-império ou então não é política, é também incutir como radicais apenas as idéias e propostas que estão do lado gauche da vida. Ou seja, se naturaliza que "radical" é de esquerda e que passar o rodo em meio país de floresta é "normal' e "de Deus".

Então fica aquela coisa pululando nas colunas de jornais, de Blogs, em twitteres e feiciquibuis: "Politica é acomodar-se como sistema pra poder fazer alguma coisa".  Radicalismos como direitos civis pra homossexuais, legalização do aborto, abrir diálogo com etnias indígenas antes de mandá-las pra pitoresca casa do caralho em nome da construção de mais uma barragem, são impedidos de serem debatidos porque "não  passam" e "temos coisas mais importantes pra fazer pelo país e pelos pobres".

E essas "coisas mais importantes pra fazer pelo país e pelos pobres" em geral compõem radicais transformações na vida dos  pobres "reais" que são atingidos por:  barragens que os removem, assim como a seus companheiros das etnias indígenas; por uma educação que os condena, se gays e mulheres, a uma existência oprimida e por vezes cheias da deliciosa e fofa porrada diária; por estradas e estádios  das cidades sedes da Copa e Olimpíada, nos quais jamais andarão ou entrarão.

Assim se segue no baile de abandonar "radicalismos" humanistas para adotar o radical trator de um capital cujo "desenvolvimento" é em geral construído em cima de cadáveres. E vamos nos "desenvolvendo" sem saber que desenvolvimento é esse, qual o preço a respeito dele e o quão é radical este processo onde abandonamos "radicalismos" que reduziriam opressões para abraçar radicalismos que produzem tragédias no presente e no futuro. 

Tiramos pobres de suas casas e cidades parta "melhorar a vida" dos pobres que perdem suas casas e cidades, sacaram? 

Acomodamos com os ruralistas para pavimentarmos o caminho do desenvolvimento que vai "melhorar a vida" dos pobres que por vezes morrem assassinados pelos ruralistas. Abandonamos propostas "radicais" que ofenderiam a bancada da religião para que possamos avançar no desenvolvimento que vai "melhorar a vida" dos pobres cujas mulheres serão condenadas a terem filhos de estupro, por gravidez indesejada porque a fé do Brasil não permite que mulheres tenham o direito de abortarem.

Acomodamos com todo mundo, dialogamos com todo mundo para "melhorar a vida" dos pobres que são massacrados em um processo de desenvolvimento que esgota todos os avanços humanistas para manter uma máquina que não dialoga e remove, expulsa, mata e alimenta a mesma opressão do sistema que deveríamos derrubar, mas estamos ali "dialogando", porque "politica não se faz sem acomodação e mediação".




E seguimos na busca de consenso e conciliações enquanto morrem Guaranis, Lutadores, Sem Terra, mulheres e gays. Buscamos consenso enquanto se constroem Usinas para alimentar a industria do alumínio, se aprovam leis que legalizarão o desmate, se busca criar uma "bolsa-estupro" e por ai vai... 

Enquanto isso gays e antropólogos são espancados em São Paulo, a serpente pariu o ovo e estamos buscando o diálogo.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O medo estupra a esperança no Governo Dilma

Arnaldo Branco nos idos de 2003 brincava com o Slogan de Lula ao fim da eleição de 2002, "A Esperança venceu o medo", e acho que na nomeação de Henrique Meirelles cunhou o chiste "O medo empata o jogo e sufoca a Esperança".

Oito anos depois Dilma Roussef e seu governo instauram um impasse no diálogo com movimentos sociais, recuam em avanços do Governo Lula e apontam com Belo Monte, o desmonte do Minc e a "Comissão da meia verdade", entre outros atos desgoverrnados, para um avanço cruel do fim de toda a esperança, morta a pauladas por um medo concreto da burocracia não só dominar governo e  Partido, como aliar-se ao pior do ruralismo e do mundo reacionário e realizar o que temíamos que Serra realizasse com requintes irônicos de crueldade. 

Se o Neoliberal carola e neo-fascista foi superado nas urnas o que se vê é um retrato fiel do mais sórdido stalinismo proto-fascista em marcha, tanto no governo quanto no que antes era um partido socialista chamado Partido dos Trabalhadores. 

Em nome do desenvolvimento até a cidadania vira um valor relativo para o governo e seus defensores ferrenhos e plenos em desonestidade, sofismas e truísmos. Cidadania vira algo a reboque de um desenvolvimento que exclui quem se opõe ao avanço do trator do "progresso" seja ele índio, negro, pobre, macho ou fêmea.. opôs-se? passemos por cima.

 "O Brasil precisa crescer", dizem ávidos ministros, apoiadores e milicia progressista que na virtualidade são prenhes dos mais covardes métodos de defesa do indefensável.

A formação de milicias virtuais  para resistirem aos sórdidos ataques feitos à Presidenta nas eleições de 2010 pelos eu adversário e câncer José Serra se mostrou de muita serventia para a resistência ao bombardeio que os movimentos e militantes de esquerda iniciaram quando o governo mostrou-se muito mais conservador que seu predecessor recuando avanços deste e mais ainda, impedindo outros avanços, votando o código florestal que praticamente legaliza o ecocídio, recuando em avanços na educação que seria proporcionado pelo Kit Anti-homofobia, destroçando a comissão verdade ao ponto de impedir que familiares de desaparecidos e presos discursassem em cerimonia e negar qualquer tipo de abertura de arquivos e agora com o recrudescimento da resistência a Belo Monte com uma das mais sórdidas campanhas de desqualificação dos que condenam o apelidado pelos movimentos sociais de "Belo Monstro".

Nos moldes fascistas a tropa de elite Governista chega aos píncaros da Glória de dizer que os indígenas são "nômades" e nem notariam o empreendimento.  Com relação ao massacre dos Guaranis a omissão chega a graus criminosos e nenhuma linha da "nova imprensa" progressista. 

Esta aliás atua ou em bloco insano de defensores a qualquer custo, armados de desqualificação e truísmos sobre Belo Monte ou bastam a si mesmos com um silencio constrangedor, calculado, que torna-se um claro indicio de agirem exatamente da mesma forma que o que chamam de PIG, mas a favor.

O voto que foi arrancado a fórceps de muitos e propagandeado como manutenção de avanços se transformou na abóbora do rodo, do trator, da insensibilidade social, ambiental, de gênero, histórica e anti-homofobia, se transformou no pior pesadelo de qualquer um que olhe pra fora dos antolhos do mais imbecil pragmatismo e se entenda de esquerda, um governo fortemente alinhado ao mais pútrido desenvolvimentismo a  serviço do conservadorismo e nada sensível às causas mais caras dos campos socialistas e de esquerda.

A esperança foi substituída pelo assustador e impotente medo. Um medo que tende a ser duplo, por temer também a alternativa ao estupro cotidiano do mais humanista sentido do que é política.

PT e PSDB  digladiaram por muito tempo para obterem o controle do governo e  hoje capitaneiam a nau de uma sociedade cada vez mais amante de medidas de exceções e do fascismo.

Parabéns a todos os envolvidos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Pequeno Perfil do Cidadão de Bem


Toda vez que alguém menciona "Os políticos" diz claramente que está tirando sua responsabilidade diária da reta e colocando em outro. Ele externaliza que delegou não só seu poder, mas sua honra, sua responsabilidade, sua verdade. Esse sujeito em geral não vê suas corrupções diárias, seus estacionamentos em lugares proibidos, sua opressão sobre a mulher, filhas, alunos, irmãos, mãe, pobres ao redor, negros, gays.

Esse é o cidadão de bem, que elegeu a terceirização do mal como meio de vida, e continua alimentando o mal travestido de "políticos" via voto e no dia a dia via comportamento, mas este ele se nega a ver, já que tem os "políticos" pra receberem a culpa de suas mazelas.



O cidadão de bem nunca vota no que ele classifica como "politico", estes são elencados a deputados, vereadores e governadores pelo além. O Cidadão de Bem, estaciona na esquina, atravanca a passagem de idosos, crianças e doentes porque "é rapidinho!". O Cidadão de bem avança o sinal porque "Está com pressa". Ele anda com cachorro feroz orgulhoso porque "precisa se proteger". Ele apoia a violência da PM, porque "é preciso proteger a cidade e a propriedade". Ele é contra política de redução da miséria porque "estão usando meu dinheiro , não pago impostos para alimentar vagabundo". Ele apoia políticas de  veto a direitos da mulher como o aborto, e a direitos civis de homossexuais, política de cotas porque se "liberar o aborto as vagabundas vão dar e não vão querer a responsabilidade e vai tudo abortar", ou "Vão ensinar nossos filhos a serem gays" ou "Todo mundo tem de estudar pra passar na universidade, não é justo privilégios".

O Cidadão de bem jamais é racista porque "tem muitos amigos negros", nem tampouco homofóbico porque "tem muitos amigos gays", ele só não cita que em geral os amigos gays tem de rir de serem chamados de viadinho a cada dez minutos e os amigos negros em geral serem colegas de trabalho ou empregadas ou filhos das empregadas com os quais ele não teve muita escolha de convivência, mas aqueles amigos do peito mesmo em geral são brancos e heterossexuais.

O Cidadão de bem jamais é machista porque "trata muito bem as mulheres" e é "filho e marido". Ele só faz o possível pro seu filho fazer coisas "De homem", faz pouco pra ajudar a esposa ou mãe nos serviços domésticos porque isso é coisa de mulher, acha que a mulher tem de se esforçar pra ser bela e gostosa pra ele (O inverso nunca).

O Cidadão de bem não é machista, mas acha que mulher é histérica no trabalho porque vive de TPM, que mulher não segura a pressão (Sabe? são os hormônios!), que mulher não é boa chefe porque tem de se preocupar com os filhos, que é "difícil entender as mulheres".

O Cidadão de Bem é alguém muito preocupado com o futuro, ele pensa nisso todo dia andando com seu carro que queima litros de combustível fóssil que ajuda a agravar o efeito estufa, ele discute isso com os amigos no almoço enquanto joga papel no chão ou quando elogia a destruição do código Florestal porque "Esses ambientalistas estão querendo atravancar o progresso do Brasil". O Cidadão de bem tem medo do que as novas gerações farão do futuro enquanto elogia Belo Monte que vai tirar aquele antro incivilizado de índios nômades do caminho pra um Brasil que, finalmente, ocupa seu lugar no mundo.

O Cidadão de  Bem acha que a Argentina é um lixo, que o Uruguai é aquele pais que nos derrotou em 1950, que a Bolívia tinha de ser invadida porque "ousou nos roubar nosso gás natural", que o Paraguai é onde compra muamba, que a Venezuela é governada por um "Ditador Sanguinário com cara de porteiro de boate" e que o Chile sim é um país civilizado porque o Pinochet fez o trabalho dele.




O Cidadão de Bem acha que maconheiro é tudo vagabundo e que tem de tomar porrada da PM, ele não gosta da PM, mas gosta menos ainda dos maconheiros vagabundos e filhinhos de papai que estudam nas universidades, ele só não acha isso quando seu filho passa no vestibular depois de ter cursado um cursinho caro.

O Cidadão de bem se preocupa com a ordem, ele quer que exista muita ordem, a ordem que ele precisa obedecer, senão ele fica perdido. Ele foi ensinado a obedecer a ordem, a  esperar a ordem,  a  pensar sob uma ordem que nunca existe porque muitos atrapalham a constituição e manutenção dessa ordem. A ordem garante um "futuro melhor". 

O Cidadão de bem se preocupa demais com a ordem e com o futuro e faz pouco pra construir essa ordem e esse futuro porque é "muito ocupado", por isso aceita que façam por ele, o problema é que muitas vezes ambos são feitos com coturno.