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domingo, 2 de dezembro de 2012

Da vanguarda no ensaio sobre a cegueira

A vanguarda quer dirigir e para tal convence-se que forma quadros.

À vanguarda cabe ao menos a ilusão de que o todo é composto de uma inteligível realidade facilmente reduzida a um modelo explicativo imutável e à ela também cabe a direção de um povo. 

Povo é uma categoria cuja explicação precisa do que é demanda tempo para que o amontoado de simplificações seja compreensível como uma tese. Povo é uma espécie de amálgama do outro simbolizado por um espantalho simplório que por sua vez pouco reflete algo além do nada.

À vanguarda cabe os líderes que por sua vez tem em si o carisma e a capacidade também imutável da infalibilidade e da antevisão quase profética do todo; O todo é aquele mesmo real que tem de ser inteligível e simplificado em sua também imutabilidade para uma explicação que coordene-se como uma tese clara e uma ação convincente.

O líder e a vanguarda não mudam, não erram, não cegam, agem com correção, mesmo que sua ação traga o DEM para uma aliança em um estado longínquo ou uma liderança condenada por todo um imenso grupo da sociedade que apoia o partido ao qual pertence esta vanguarda ganhe o espaço deste partido para defender-se de acusações que, pasmem, são feitas pelo partido que cede o espaço.

O líder e a vanguarda sabem o que fazem, mesmo quando apresentam em um programa eleitoral o ministro da educação que seu partido combateu por meses em uma das mais longas greves do funcionalismo público da educação federal. 

O estatuto da pureza revolucionária da vanguarda dá às suas lideranças o estatuto da pureza atávica, mesmo que assassinem programas, rasguem resoluções, estuprem movimentos. O estatuto da pureza revolucionária marca-se pela necessidade de criação de "musculatura" partidária, e pelo jeito esta deve se construir mesmo que usando anabolizantes.

Com as lideranças ungidas da pureza atávica que merecem mais que votos de confiança, mas verdadeiros cheques em branco que saem de contas mais amplas do que a composição da vanguarda dá conta, a vanguarda torna-se um bloco sensacional de explicação do todo como uma espécie de mantra metafísico que embute mais que filosofia política, mas verdadeiras revelações do real como uma espécie de shangri-lá, um mundo novo cujas leis da física podem ser alteradas pelo verbo.

À Vanguarda sabe a revolução, mas esta deve seguir as leis imutáveis do mecanicismo historicizante, nada de mudanças de paradigmas explicativos e percepção de que o planeta não gira seu tempo de forma linear e que a licença poética da repetição como farsa não cabe como explicação em um mundo que deve pensar para além do manual.

À Vanguarda cabe o papel principal do filme da política cotidiana, pena que este se assemelhe ao "Ensaio sobre a cegueira".

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O medo, o neoliberalismo, a utopia e os amantes

Brecht dizia que nada parecia mais com um fascista que um burguês em pânico. 

Dizia isso explicando de forma sucinta a situação pretíssima da Alemanha dos anos 30 caminhando a passos largos em direção ao nazismo.

Essa frase, essa colocação, me fez pensar em quanto a lógica da proteção, da ordem, do medo que sustenta o clima político em nossas plagas em pleno século XXI é parente próximo do aumento galopante do pensamento conservador que assusta a quem tem um pingo de humanismo na alma.

Quase que automaticamente surgiu a dúvida se essa lógica do medo não seria filha da naturalização da adequação como prioridade máxima e esta como germinada no coração do pensamento neoliberal que a partir do fim dos anos 80 e do ocaso dos governos socialistas reais se tornou hegemônico nas sociedades capitalistas.

Porque é impressionante como todo e qualquer discurso de radicalidade transformadora, dos mais inocentes aos mais beligerantes, assustam demasiadamente uma juventude que está mais preocupada em ver política como a arte da adequação mediada, educada, comportada, mesmo que propondo mudanças do que vê-la como porta-bandeira da dimensão da utopia e da transformação radical do status quo.

E é impressionante como o ethos do cabelo curto, gravata, sorriso sem feijão no dente, sapato engraxado foi além do closet e penetrou na mente das pessoas.

 E é impressionante como esse ethos comporta em si o medo, o medo de tudo, o medo do confronto, do embate, do enfrentamento e da lógica de derrubar muros que ocultam a luz da cidadania, com medo de "desagradar" a parcelas da população x ou y.

O medo do desagrado, do emitir uma opinião polêmica e que cruze as fronteiras do dito "normal", atitude que deveria ser obrigação de todo socialista, toma campanhas eleitorais até que partem da lógica de enfrentamento radical cidadão, não abraçando nada que não seja do domínio da cidadania e da administração reformista do estado.

Imagina se a discussão fosse para questões onde não dá pra ficar fazendo mediaçãozinha como  a lógica da desapropriação da propriedade privada ou a própria lógica revolucionária?

Esse ethos do medo irracional, essa lógica de entender a sociedade como um bibelô de poliana, essa ideia de que o mundo não está preparado para o contraditório e precisa da mãozinha "ilustrada" para ser conduzido à reflexão é o fundamento de uma forma de comportamento que ganhou mentes e corações com a hegemonia político-ideológica neoliberal. 

E esta forma de pensamento hegemônico é baseado na necessidade de não tocar de forma radical o estado, de não mudar o status quo, de ir devagar no enfrentamento de vespeiros. Só que esse é o modus operandi que não muda nada e acaba sendo absorvido pelo status que  se transforma no que hoje pode ser chamado de "síndrome do PT" uma versão da síndrome, de Estocolmo para crianças.

Na campanha eleitoral de 2012 no Rio isso fica claro com o medo de uma minoria de partidários de Marcelo Freixo das polêmicas levantadas por ele que vão desde os alimentos orgânicos a citar a Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro em uma entrevista para a rede Globo. 

O medo da inadequação do enfrentamento diante dos vespeiros, o medo de "pegar mal" acaba travando fóruns de debates e organização de ação diante das óbvia mensagem da campanha: "Estamos comprando uma briga, esta campanha é pra mexer em vespeiros e ser pedagógica!". Não foi um equívoco, não foi um ataque, foi uma colocação com política, esteio no programa e disposição pra enfrentar o debate.

E o debate é doloroso para o pensamento único neo-liberal diluído nas mentes e corações, porque o debate contém em si o germe da ruptura transformadora. Todo debate permite a transformação pelo embate, pelo choque entre ideias, pelo amálgama e pela derrubada de muros e pré-conceitos teórico-intelectuais.

E ai o debate é barrado pelo surgimento do medo e o medo faz aparecer velhos preconceitos, como o da "natural imbecilidade" (atenção nas aspas) dos com baixa escolaridade, como se um homem sem escola não tivesse inventado a roda.

Além disso uma observação óbvia para quem está em campanha: A polêmica alçou o nome Freixo a todos os jornais e emissoras. Para quem precisava ser conhecido nada mais interessante.


Brecht dizia que nada parecia mais com um fascista que um burguês em pânico. E é impressionante como a  cultura conservadora que nos assola deixa a burguesia acesa em um medo que pode se transformar em pânico ao primeiro sinal de transformação. é preciso estar atento e ir demolindo o medo para que a primavera e sua utopia o transforme em coragem.






domingo, 12 de agosto de 2012

A Política e a Esquerda que a direita Gosta

O que é política? Como definimos política? Ao que nos referimos ao falarmos de política?

Parecem perguntas com resposta óbvia, imediata, pode a própria indagação ser vista como um ato de ausência de pés no chão e noção de concretude e/ou uma busca de dogmatizar a percepção do que é política. Porém a pergunta é mais uma aporia, questão sem uma resposta única ou um problema interminável, que outra coisa.

A política é uma gama tão grande de percepções que seria simplório e reducionista defini-la sob conceito A ou B. A própria ideia de uma grande ou pequena política, conceito muito caro ao companheiro Deputado Chico Alencar, é de certa forma uma imposição de categoria, uma imposição de um conceito construído e aceitado como "normal" por uma parcela da população e não por outra.

Não quero dizer com isso que a noção x ou y de política seja superior às outras ou o inverso, mas sim que temos de entender a extensão do problema da nomenclatura da política, inclusive para que o diálogo, esse saudável conviver entre diferenças, não seja substituído pelo dogma.

A política é tanto eleitoral quanto de movimento, é tanto trocar voto por cimento quanto a busca do convencimento pelo diálogo, é tanto o raciocínio dialógico quanto o fanatismo babador de gravata. Provavelmente a noção de consenso em política tenda a ser também o atestado de óbito da sociedade, dado que a diversidade da sociedade é imensamente mais dinâmica e poderosa que modelos de convivência, formatos teóricos e lógicas de comportamento ao ponto de um consenso político levar quase que de forma causal à um certo autoritarismo da substituição de uma forma de ver o cotidiano por outros ou outro. 

O consenso tende a eliminar a discordância e salvo raras exceções tende a ser mais uma conquista de hegemonia com vítimas e um presente cheiro de autoritarismo.

Há quem entende política como um somatório de elementos que incluem o eleitoral, o movimento social, o cotidiano de lutas menores que constroem mudanças de forma paulatina e o conjunto de pequenas ações que tornam possível um ideal de estado baseado em isonomia, ou seja, a tão falada democracia, neste campo se enquadra a ideia de Chico Alencar da "Grande Política".

Há outros no entanto que entendem política como a conquista de hegemonia pura e simples, dentro de uma ação brutal de eliminação das oposições, seja pelo voto ou pela prática "pragmática" de aparatismo do estado, de organizações ou entidades, seja pela via de um processo "revolucionário" burocratizados, seja pela conquista de governos e alianças que mantenham postos de controle nestes governos.

Há a população também que lida com a  política com uma mistura ampla de pragmatismo com organização, que pode ao mesmo tempo aceitar o tijolo em troca de voto como organizar movimentos de resistências a remoções.

A direita entende o poder como algo vinculado à política e ao controle do estado, assim como parte da esquerda e tende a concordar em partilhar o estado com adversários se isso for útil a seus interesses imediatos.

Todas as definições de política são legítimas, mesmo que ilegais, são lógicas de prática, de defesa de ideais, de luta política. A questão é que tipo de estratégia abraçamos e para que entendemos a política. 

Se for pra garantir a sobrevivência cotidiana, manter o pouco que se tem coberto não vejo porque um surto moralista para condenar o morador de comunidade carente, onde o estado jamais vai, por vender seu voto por telha e tijolo. Cada um sabe onde o calo aperta.

Se for pra garantir um rigor de ação que possibilite avanços e quiça um processo revolucionário que altere o estado, que amplie a formação política da população via luta política, a mais perfeita escola, entendo até as limitações de dividir a política entre Pequena e Grande, entendo até determinados surtos autoritários do cotidiano político de entidades, organizações e partidos maiores ou menores. Entendo e posso até defender, mesmo discordando aqui e ali e achando moralista ou sectário aqui ou ali.

O problema é quando a lógica de política, a ideia de política vira parecida, irmã até, da ideia de manutenção de um estado e de interesses idênticos ao da direita que se diz combater, e chega ao ponto de emular, imitar, mimetizar comportamentos desta para manter sob controle uma massa de votos que garante a ocupação do estado, organização ou entidade. 

Quando a eleição vira a medida de todas as coisas, úncia forma de fazer política, única ideia possívle de intervenção para a transformação do mundo,quando o eleitor vira o amior juiz da ação política, maior e único, o que nos separada mais velha, cruel e  tacanha direita? Talvez nada, como o govenro Dilma gosta de nos provar diariamente em suas práticas que vão desde o abandono da questão LGBT até ao tratamento de grevistas como criminosos com uma inflexibilidade em negociar só comparável a FHC.

Quando a "popularidade" vira o único valor e o "Transformar o país" se parece cada vez mais com apenas ampliar o abismo de direitos e desigualdade que já temos, mascarado por "benesses" que não mudam estruturalmente nada e são só um choque de capitalismo, podemos definir este governo e partido como de esquerda? Podemos entender esta politica como diferente da política de direita?

Talvez parte da esquerda só consiga a prefeitura das redes sociais, mas a obtenção de prefeituras, governos de estado e governo federal para agir como ferramenta de opressão de movimentos sociais, de remoção de pobres, de tratamento da educação como sub-nitrato de excremento, de tratamento de professores como imbecis, serve exatamente para que no sentido estratégico? Serve pra que tipo de melhora qualitativa no sentido político com relação à direita mais obscurantista e tosca?

A política é também reputação, é também símbolo, é também signo e quando os signos servem para confundir Esquerda e Direita, Amarelo e Vermelho, tucano e Estrela a política entre em um obscuro véu onde no fim o fascista e o progressista acabam parecendo o mesmo, e o desserviço desta política tende a corroborar com a "Pequena política" a que o companheiro Chico Alencar se refere como principal alvo de nosso combate, porque torna a política uma mistura de elementos que não permitem que se enxergue nenhum tipo de luz no fim do túnel que não seja um trem.

Quando Lula abraça Collor e Maluf, um muro de referências erguido com lutas cai e o norte que ele significava torna um fluido elemento de confusão para quem o observava.

Quando o governo  do partido dos trabalhadores trata trabalhadores como a direita tucana tratava esta confusão se torna maior e mais grave, porque confunde referências e práticas e acaba por igualar Bolsonaro a Suplicy.

E à população que por vezes entende que nada muda, pois a opressão só se renova, a lógica da imutabilidade o endossa a continuar na prática do benefício imediato, se apegando a toda e qualquer mudança de curto prazo, que seja a da venda do voto, dado que no horizonte turvo da política institucional as diferenças tênues não permitem uma construção de caminhar claro e decidido diante da própria consciência da realidade obscurecida pela igualdade entre "diferentes".

Aos "diferentes", a quem se constrói de outra forma, a própria dificuldade de se diferenciar é uma perda de tempo e de espaço que acaba por levar à luta política de convencimento à parâmetros novos, especialmente a partir da perda de identificação clara do que é esquerda.

A quem busca uma política de convencimento, conscientização ( no sentido de depurar a informação, a formação e de auxiliar à auto-organização para a auto-consciência), o véu que se ergue pelo "pragmatismo" institucional se torna também um problema imperativo, pois a cultura que se constrói,a  tradição que se reforça é a da legitimidade pelo cargo e não pela construção ideológica me torno de programas e projetos políticos.

A política que se busca "grande política", ainda no sentido defendido por Chico Alencar, como uma política republicana e ética, tem de dobrar os esforços para se legitimar primeiro como política para depois se tornar "grande" em comparação com a política do imediatismo e do curto prazo mantida pela relação entre as necessidades da população e a política de manutenção de cargos e aparatos.

Quando esta política é tida pelo principal partido da república, atualmente governando o país, tratando servidores como bandidos e conduzido por um partido originado na esquerda e que hoje atua como seu principal inimigo na direita, como um "desserviço", como uma "ilusão", o caminho que se entende é que se abandonou totalmente qualquer traço de busca de mudanças em nome de apenas conquistas de mais e mais espaços para a burocracia que se mantém internamente e de uma massa de idólatras que trocaria a mãe pela vitória de seu time, ops, partido na competição chamada eleição que rola a cada dois anos.

A política tem muitos nomes, muitos conceitos, todos legítimos, porém optar pela confusão política em prol da manutenção de aparato burocráticos ao invés de bancar ampliação de direitos e redução real, estrutural, da desigualdade, o Partido dos Trabalhadores e seus apoiadores, a despeito dos slogans, confundem só se são a esquerda que a direita gosta ou já não são apenas intermediários.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

De perto, ninguém é normal

Uma velha discussão política no Brasil é a da nossa singularidade. Ela aparece em vários espectros da ideologia, seja no aspecto de esquerda onde se coloca que "temos nossa maneira de lidar com alianças e com o estado" seja pela direita que a usa para colocar que a política aqui deve ser mais dura com manifestações para tentar "educar nosso povo para a civilização política".

Em ambos os casos existem outros exemplos claros. Temos a defesa por parte da esquerda que "A população latino-americana entende um governante forte e carismático como fundamental e por isso as relações clássicas 'republicanas' talvez não se apliquem por aqui" e pela direita de que "O Brasil tem um atraso fundamental civilizatório e precisa de um 'choque' de xxxxxx" onde está o xxx preencha com "capitalismo", "ordem", "civilização" ou outro termo que se lembrem.

A singularidade Brasileira em ambos os casos, ou para destacar diferenças qualitativas e/ou de excepcionalidade ou  para desqualificar métodos democráticos de relação entre classes e de disputa de poder ou mesmo ainda desqualificar a luta do povo como "desordem", serve para adequar ações políticas de forças x ou y à uma realidade que só existe aqui e que por isso torna necessárias medidas de exceção, sejam elas morais,  de política de alianças ou de força.

A questão básica é que a defesa da singularidade parte de uma premissa óbvia para a sustentação de  falácias.

É óbvio que o Brasil é singular! Como o é a Argentina, o Peru, o Japão, o Chipre, os Estados Unidos, Pernambuco, Amazônia, Pelotas ou Madureira, assim como toda a unidade geográfico-populacional existente nesse mundo de meu deus e que se organizam socialmente em um espaço e com uma determinada ação política que mistura a organização institucional, questões culturais, tradições, língua,etc.

Essas singularidades no entanto não estão isoladas de questões que se consagraram com os modelos de estado ditos "burguesas" que se tornaram hegemônicos no planetinha especialmente a partir do imperialismo punk rock do fim do século XIX onde o capitalismo se espalhou fortemente no planeta se tornando hegemônico e derrubando formas de organização políticas diferentes das Europeias e tornando o modelo de estado baseado em três poderes e constituição quase que presente em todo o mundo.

Na América por exemplo, isso é muito, mas muito anterior, sendo por baixo um modelo que já é estabelecido no início do Século XIX quando dos movimentos de independência, sendo porém possível falar que a lógica de estado europeia já é presente desde antes, dado que a América era colonia de estados europeus e reproduziam em menor escala estes estados aqui.

Tradições foram inventadas e reinventadas, desde a autoritária caudilhesca centralizadora até a republicana, que se organizaram em torno das singularidades e construíram repostas próprias diante dos modelos de estado e se construíram entre oposições e situações com sua relação entre singularidades espaciais e culturais e o estado que foi se organizando entre essas pressões até hoje.

Se temos a singularidade de buscar líderes autoritários e centralizadores carismáticos, ele é tão singular quanto o sebastianismo luso, a forte presença fascista e carismática italiana ou o franquismo espanhol.

Há algo tão caudilhesco quanto o culto ao presidente dos EUA e a tradição de eleição para este cargo de membros da elite estadunidense, seja ela rural ou não, com raras exceções? Há algo tão republicano quanto a política chilena na maior parte de sua história? A construção de partidos comunistas no Brasil e Argentina e relações tão similares em sua repressão como a que ocorreu nos EUA e na Europa às forças socialistas não são exemplo de nossa tradição comum republicana?

A própria construção histórica das lutas da classe trabalhadores de imensa semelhança com as lutas ocorridas na Europa e EUA é uma singularidade? Ou talvez a singularidade seja menos exceções relacionadas a uma "impossibilidade" de construção de ações políticas que sejam pautadas em uma tradição democrática, de esquerda, republicana e ideológica e mais nossa forma particular, como a  de todos, de lidar com nossas tradições e contradições, línguas, carinhos, amores e debates, ou seja, nossa cultura dentro da tradição republicana?

A busca de nossa singularidade não pode ter em mente que nossa singularidade traz naturalizações políticas ou morais ou nos torne portadores únicos dela, enquanto cada cultura é singular diante das outras e isso também serve para a política.

É preciso sim saber a singularidade de cada local, de nosso país, língua e povo, sem no entanto esquecer que construímos um estado a partir delas, com elas e que este estado é também palco de disputas, de questões ideológicas e que é sim um estado que se encaixa em um modelo de estado burguês que não é nada singular e cujas relações internas e externas a ele se tratam também em tradições importadas e mantidas no cotidiano político transformadas sim pelas nossas singularidades, sem no entanto terem sido apagadas.

Não temos os políticos mais ladrões e nem o estado mais perdulário, não somos os singulares ineptos para a prática democrática e nem os únicos a terem parte da população amante de líderes carismáticos de esquerda ou direita, não somos os únicos que compramos ou vendemos votos e nem tampouco os poucos e parcos enfrentadores de crime organizado enfiado em política ou que possuímos escândalos de corrupção e nem precisamos mais ou menos de ditadores de esquerda ou direita para resolver todos os nossos problemas.

Uma pesquisa básica na história dos países do mundo, e eu fiz recentemente uma boa leitura da história dos EUA, aliada ao acompanhamento das notícias internacionais nos dão uma dimensão de imensa solidariedade nossa com problemas e dilemas da maioria dos países do mundo, ao menos os ocidentais. E ai nossa singularidade cai, para o drama dos ufanistas do mal e do bem e para o alívio de quem não se acha tão marciano assim.

É preciso entender que nossas particularidades e singularidades não nos mudam de planeta e que a defesa delas para além do razoável também serve a ideologias, a interesses políticos imediatos, a lógicas partidárias que no fundo são só a velha e boa puxada de brasa para sua sardinha.

É preciso estar atento a isso para não incorrermos em uma lógica atávica de nossa inadequação para a democracia, para as transformações. É preciso entendermos que nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.

Até porque de perto, ninguém é normal.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O Tempo da Política

A política no brasil, é notório, é definida popularmente como detentora de um tempo próprio, de um período onde é dado a ela o papel fundamental na vida das pessoas e onde a discussão política ganha um espaço privilegiado. 

Este tempo é, óbvio, o tempo das eleições, onde inclusive há a lenda do aparecimento, do avistamento, dos políticos, que são entidades disciplinadas pela periodicidade de quatro anos e pela oferenda da representatividade de do prestígio local no "fazer", também conhecido como "construir".

Os políticos são também tidos como entidades limiares, ou seja, cuja ética e moral não obedece ao padrão coletivo ou "superior" e cuja manifestação tem uma cara e um cheiro específico que relembra o lado negro da força.

Ironias à parte, essa visão é tanto uma construção de uma tradição baseada na experiencia cotidiana, empírica, pela população como resultado da redução da política ao voto e à participação nas eleições como atores, cabos eleitorais, elementos de prestigio nas comunidades pelas relações com quem "traz benefícios" para a comunidade,etc. Essa redução é uma carona que parte do aparato midiático pega na tradição da política anti-democrática tradicional no Brasil (diria que no mundo) para reduzir a participação popular ao ato de votar e inibir ações concretas de transformação via ativismo.

A ação que transforma a política em ação restrita dos políticos e afastada do cotidiano da ação popular direta é também vista na noticia das greves como privilégios, das manifestações como atrapalhadores do trânsito, de reajustes salariais como "Bônus" e não como direitos e que comparam salários como se um trabalhador melhor remunerado fosse  um "marajá nomeado" e não um trabalhador que vende sua força de trabalho em troca de salário como o gari, o guarda, o balconista, todos com direito à greve.

O tempo da política da sabedoria popular é uma análise da sazonalidade da presença do estado via poder legislativo e executivo nas comunidade, mas também é usado como referência da política como algo afastado do cotidiano e com trânsito impossível pro popular, especialmente nas grandes cidades onde a circulação do poder nas ruas é restrita.

Esse afastamento da vinculação de greves, manifestações e ativismo do que é chamado de política e que leva às pessoas  entenderem a política em espaços "de relaxamento" como uma afronta, dado que para muitos existem espaços "alheios e independentes da política", e por isso aparecem nas redes sociais, festas e praças reclamações sobre a presença de manifestantes e militantes como invasores, dado que para a maioria da população o militante não é um defensor de um ideal, mas um cabo eleitoral pago para a propaganda política e ou diretamente interessado pro razões pecuniárias ou de influência na eleição de x ou y, como s1e a política fosse apenas a apropriação do aparato do estado para fins privados.

A visão sobre a apropriação do estado pelas forças políticas em disputa não é nada contrária à realidade cotidiana, inclusive fortalecida pela ação inclusive de forças de esquerda neste aspecto, só que restringe a política à reprodução da privatização do estado pelas forças hegemônicas da política cotidiana que vive em nossa história desde sempre, mantendo a tradição monárquica que sustentou a  formação do estado nacional brasileiro. 

Este estado, formado a partir da lógica de laços sanguíneos como fundadores da tradição política nacional, foi mantida inclusive pelo estado republicano que ampliou o caráter liberal do estado brasileiro redesenhando a correlação de forças interna a ele apenas quanto à redivisão do poder no seio da oligarquia e não ampliando democraticamente o controle do poder para o todo da população. 

Caia o imperador, mas não se alterava significativamente em que mãos se assentava o poder, tampouco se alterava a lógica de tutelação da população e de identidade deste como um mero observador do cenário político. Dá pra perceber que a ideia do povo como protagonista da história ainda permanece como anátema nas colocações deste como um mero bestializado cotidiano, especialmente e infelizmente nos círculos da elite que se pretende esclarecida, lógica de bestialização que ainda considera a população como distante do esclarecimento necessário para a ação política.

A construção desta lógica é feita tanto pelo trabalho cotidiano do aparato ideológico de manutenção da dominação de uma elite por sobre a população e que constrói a história ocultando as lutas cotidianas que levaram pela pressão grevista ou pelas revoltas contra remoções à conquistas de direitos pela população ( como a CLT, a construção de movimentos sociais de resistência às remoções, partidos e sindicatos) quanto pela opção tradicional de formação da memória brasileira que preferiu a personalização da história à crítica que incluísse democraticamente todos os atores da formação do Brasil no cenário da Grande História. 

O resultado desse processo é o Tempo da Politica, ser um tempo institucional, dado externamente ao cotidiano popular e onde se entende o espaço popular de obtenção junto aos políticos  do que não conseguirão ao fim deste tempo.

À Esquerda cabe não só a ação cotidiana e o redefinir da participação política neste período e também à ampliação do circulo de ação política para além da demarcação eleitoral, mas também a redefinição de seu papel "educacional", não como um tutelador de um povo bestializado que precisa de "consciência", mas como um reprodutor do que se entende por História, como um ampliador das discussões que revelam ao povo sua tradição de lutas e que lhe permitirá a construção de sua consciência pela consciência de seu próprio passado. Esta consciência sendo não a "doação de luz", mas um retirar dos véus que a história tradicional usa para ocultar o DNA do povo na formação de um país cujo DNA é mais seu do que da elite que se apresenta como "proprietária" do Brasil, quando no máximo parasita um país formado pela força popular, pela força da cultura popular.

O Tempo da Política é o tradicional período de eleições, mas cabe nele a ampliação que só pode ser feita pelo trabalho cotidiano de quem entende este tempo como o respirar cotidiano, também chamado Vida.




quinta-feira, 12 de julho de 2012

Bondade, leveza e política

Eu não sou uma pessoa boa, estou longe disso. Não sou leve, não sou macio, não sou light, não tenho pendores gregários  ou suavidade no discurso. Isso muitas vezes é uma trave para a ação política, isso muitas vezes é entrave para construção de redes que sustentem posições e percepções que tenho do real, do real político e da ação, isso muitas vezes é até anátema diante da necessidade política cotidiana "socialmente aceita" de mediação. 

Não nego que já pensei em alterar minha forma de ver as coisas, minha forma de entender o mundo, minha forma e fome de ler o mundo, muitas vezes pensei em mudar a mim mesmo para adequar o que sou às exigências de uma práxis política que levasse a meu entorno o acréscimo de gente de acordo com o manual prático de convivência da sociedade.

Só que das tantas coisas que tenho como características pessoais, talvez esta raiva e esta forma nada leve de ação, convívio e pensar seja a mais minha, a característica mais construída que tenho em mim, mais fomentada, formada, estruturada por uma opção de resistência. 

Nunca fui rico, tampouco paupérrimo, tive mais chances que muitos dos meus amigos mais próximos, alguns que chegaram mais longe do que jamais fui nos parâmetros de crescimento pessoal sócio econômico socialmente aceito. Não sou negro, mulher, gay ou transsexual, não moro em situação precária, vivo em uma confortável residência de classe média baixa em um bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, filho de funcionário público estadual policial (falecido) e de funcionária pública municipal merendeira de escola. Nunca passei fome, mas não fiz SOCILA também (escola de boas maneiras famosa no subúrbio).

 Se carrego privilégio, e os carrego muito, também carrego uma situação social que tardiamente percebi que não era adequada à lógica competitiva, hierarquizante e opressora da sociedade carioca (na minha opinião mais que carioca). 

Desde cedo entendi que branco e hétero tinha uma enorme carga de privilégios, mas também que um branco hétero da Zona Sul do Rio de Janeiro (desde Pereira Passos o locus privilegiado da elite e de seus serviçais que moram nos morros) valia mais que brancos héteros do subúrbio. E isso vale para todas as demais "categorias" (Mulher, negra, gay, trans) que recebiam por sobre suas características pessoais, conceitos e preconceitos inclusos, a pesada laje da condição de classe.

Esse perceber não veio com beijos, afagos e abraços, veio com a dura lição que se aprende cedo nas quebradas  onde vive quem demora de uma a três horas para chegar no centro da cidade: Na porrada. E isso valia desde a ser rejeitado na festa pela gatinha quando pronunciava "Guadalupe" ao dizer onde moro até ver um amigo negro tomando tapa na cara porque eu estava dormindo no ônibus voltando do bar de ele a meu lado "estava me assaltando" na visão do policial, só por ser negro, só por estar a meu lado. Não podemos esquecer também do clássico esfregar da superioridade de meios de subsídio de vontades e desvontades de primos, colegas de colégio e amigos ou da defesa de assassinato de bandidos (pobres em sua maioria) como meio de "manter a segurança" sendo que ao chegar em casa um dos "bandidos" era uma migo que estava estudando um pré-vestibular comunitário na favela e por ser negro foi morto e automaticamente identificado como traficante.

Já adulto o ser expulso de casa de namorada ou ver seu pai (uma das pessoas mais brilhantes que já tive a honra de conhecer) sendo olhado como um verme e cumprimentado como uma mistura de condescendência e nojo por um imbecil trajando titulo de gala e cérebro de ameba, adornaram a ideia bem clara de que neste mundo de meu Deus a minha alma tá armada e apontada para a cara do sossego (Valeu Rappa!).

Muitas outras histórias cabiam neste texto, muitas, e não só no Rio e não só vendo de fora já que em Minas Gerais sofri boa parte dos dramas que uma família muito pobre do Rio sofre, mas tive a opção de deixar de vivê-los. Muitas outras história reforçariam o cerne do que quero dizer neste post: Viver é muito perigoso e a política nem sempre é mediação.

Mediar é uma arte e uma arte que tem em seu cerne a ideia de que o caminho do meio, do não-conflito, do não-rompimento é a forma mais perfeita de caminhar pra frente diante de uma conquista qualquer, só que este mediar exige muito mais que abolir os conflitos, ele exige um romper com a história que orna esses conflitos, ele exige uma posição de ignorar a lógica que circunda os conflitos, ele exige uma opção pela omissão diante do concreto formar de pessoas, classes e cultura mediante os conflitos.

Mediar é relevar, mediar é manter, mediar não supera nada.

Política a meu ver nos coloca em situações onde a opção é necessária, precisa, fundamental e uma decisão exige que a marca delas fique em nossas mentes, corações e corpos. 

Não sei ser leve, bom ou "educado" diante de situações onde a opção que se apresenta é o combate. Não sei omitir racismo, homofobia, machismo como opção de manutenção de laços políticos ou pessoais, se isso é cruel, paciência, é um dos preços que admito pagar e faz tempo. 

Tudo tem seu preço exato, ninguém vai pagar barato como já dizia Sérgio Sampaio. Eu pago os meus.

A leveza na política pressupõe acordo, a bondade na política não pode ser confundida com ser bonzinho ou  pressupõe acordo. A bondade na política pressupõe oferecer a outra face e a única outra face que tenho pra oferecer não é exatamente para tomar outro tapa.

Política pra mim é uma ferramenta de superação da estrutura de classes, é o agir dentro da luta de classes, é agir pra transformar. Política não é boa ou leve, é luta.

"A raiva dá pra parar, pra interromper, a fome não dá pra interromper, a raiva e a fome é coisa dos homi!" Aldir Blanc

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A novidade veio dar à praia

Nos últimos dez anos (ao menos) as mudanças tecnológicas e as novas formas de economia que surgem a partir destas novas tecnologias ganharam adeptos e ideólogos que identificam nas mudanças a ocorrência da superação do sistema.

A novidade como o mote da superação da política "obsoleta" é encontrada tanto nos adventistas da "política sem rancor" como nos entusiastas do compartilhamento de arquivos como método revolucionário.

Ironias à parte sobre os movimentos, o que surpreende neles é menos a arrogância de destituírem a política cotidiana de sua importância, e inclusive de fazer parte do eixo de transformações levadas a cabo pela utilização das novas tecnologias, e mais a reprodução do evolucionismo tão caro à modernidade em seu discurso aparentemente diretamente vinculado à pós-modernidade.

A ideia do partir do slogan e  da análise do real construída por sobre a impressão superficial do concreto é tentadora inclusive pela popularidade de conceitos Drops lançados em discursos afirmativos, "conscientes" e convictos  e pela imagem de transformação que isso dá, baseado que está na fragmentação do concreto e do discurso como forma de facilitação da "comunicação". 

A imagem do Slogan e ele próprio são considerados a própria mensagem, o todo dela, e também da ação política. É como se o "Sempre Coca-Cola" fosse o próprio ato de beber Coca-Cola. Então a política fica reduzida à superfície dela mesma, a aparência da política é para a "nova política" um fim em si.

E é aí que vemos surgir uma longa fila de teóricos que se empenham em construir uma nova economia pós-mais valia, de teóricos "open source" que partem do compartilhamento de arquivos como um ato revolucionário, como se novo também, e tomando a lógica de relacionamento com direitos autorais como um fim em si mesmo e não como uma nova variedade de capitalismo que não só não abole a mais valia como a amplia.

A transformação da política cotidiana como "velha" como se o mundo fosse transformado em um novo modelo de exploração automaticamente a partir do advento da internet é também uma redução do trabalho político cotidiano a um pastiche onde a premissa da "novidade" é superior à premissa da sustentação de uma nova discussão a partir das mudanças do mundo. O mundo precisa de um "novo" que supere o "velho" segundo a nova retórica.

A questão é que primeiro o próprio "velho" é desconsiderado, a maior parte da novilíngua da "novidade" se sustenta em uma percepção que mal esconde o nojo da politica cotidiana, seus problemas e acertos, suas rusgas e disputas, e com isso o ignora como necessidade de entender o objeto da crítica para sustentar essa mesma crítica. Então é mais fácil rotular todos os partidos, um a um, do que discutir seus programas, métodos, discussões, formas de abordar o que incomoda ao sustentador do "novo". 

Notadamente a maioria dos partidários do "novo" iniciam sua argumentação como fim da dicotomia entre direita e esquerda retomando o dito por ideólogos do neo-liberalismo no inicio dos anos 1990 logo após a queda do muro de Berlim e dos países do bloco chamado "socialismo realmente existente".

Do discurso que remonta o "fim da história" de Fukuyama, passamos quase que automaticamente a uma leitura pálida da história dos partidos políticos e a redução destes a um pastiche de seu discurso, praticamente montado em torno de uma colcha de retalhos de críticas mantidas por jornalistas conservadores nos jornais diários misturadas à "Deduções" a respeito de como discutem estes mesmos partidos. O PV por exemplo tem sua história resumida a seu estado recente, o PSOL aparentemente é ainda o discurso de Heloísa Helena e o Socialismo, cumpádi, é uma tolice do século XX. 

O PT e demais partidos, todos eles, são ignorados, de onde se tira que a nova política  entenda que a luta política cotidiana é tolice e que inventando um novo mundo onírico tenhamos sucesso na superação da luta de classes ou seja lá o que interessa a estes superarem.

Ai temos um novo que no fundo é uma requentada no discurso liberal de superação da história somado a um profundo desprezo pela política cotidiana, quase que todo ele sustentado pela percepção desqualificatória da política como "suja" feita pelos jornais liberais. O interessante é que isso aparece em propostas que se pretendem novas, seja a da biopolítica dos partidários da "política sem rancor", seja dos entusiastas do Partido Pirata e seu libertarianismo open source.

A necessidade de "superação" das formas de organização partidárias presentes no discurso acabam por sustentar de forma indireta estas mesmas formas, inclusive pela opção  de participação em partidos já formados (Para a superação do velho "por dentro") ou pela formação de novos partidos totalmente "puros e sem defeitos", feitos pro gente nova e que não está contaminada pela obsoleta forma de ver o mundo (contém ironia). 

Com isso quase que se omite a discussão sobre a própria forma-partido e suas limitações, não se discute a propriedade da forma-partido como catalisadora das lutas modernas e do combate ao "velho" na política, se opta, contraditoriamente, pela formação de novos partidos, sob o ponto de vista da constituição de uma democracia burguesa e quase sempre estruturados para disputar a política sob o escopo da eleição de parlamentares para atuar no estado que ai está. 

Onde está o novo? Onde se aplica um novo se este se forma enquanto mais um peão no tabuleiro político estabelecido pelas revoluções Burguesas dos séculos XVII e XIX? Onde se aplica o novo se nem a confirmação de uma nova estrutura de organização política interna destes partidos  que sejam um reflexo de "novas políticas" é dada nestas novas organizações?

As criticas do "novo" portanto em geral caem em si mesmas como apenas a aparência de criticas. O desconforto que o cotidiano causa pelas formas de ação política limitadas pela cruel realidade nos formuladores do novo acaba por gerar um movimento de transformação que se mata na reprodução do que condena enquanto fac-símile.

Sob este ponto de vista os movimentos que reorganizaram a forma-partido nos anos 1980 no PT (sim no PT) ainda são a mais moderna forma de organização partidária da história recente, que mesmo que tenha se transformado na burocratização  completa atual, e no PSOL em uma burocratização em menor escala, ainda são o que contém as sementes do entendimento de uma democracia popular e partidária ampla.

O próprio "deformado" PV, nasce como uma critica muito mais sustentada e contundente às organizações presentes à época e à forma-partido nos anos 1980 que os atuais "portadores do novo"

Ao não analisar a forma-partido e manterem-se representantes de uma novidade a partir do slogan os defensores do "novo" não sustentam uma critica de fôlego que os identifique concretamente com a "novidade" presente em seu discurso. 

Como o "novo" pretende se organizar?  Como a Comuna de Paris? Como o Partido bolchevique? Como o Fora do Eixo? Como os liberais-radicais do mundo europeu e anglo-saxão?

Todas as formas acima citadas tem precedentes mais antigos (Talvez com exceção da Comuna de Paris).

E a economia? A discussão sobre a superação das relações entre capital e trabalho se dão sob que ponto de vista econômico? Entendem e discutem a questão do paradigma econômico baseado na infinitude de recursos como fator a ser rediscutido em um quadro onde se entende que recursos naturais não são infinitos e que a ecologia não é mais apenas um discurso bacana e nossa sobrevivência depende disso? Como entender a questão dos direitos autorais em um quadro de reformulação da economia pelas novas tecnologias, novos meios de exploração da mais-valia e ampliação das horas de trabalho cotidiano? E os impactos dessa nova economia sob o ponto de vista do meio ambiente?

Todas essas discussões são feitas cotidianamente nos partidos de esquerda e de centro-esquerda como o  PT e PSOL, possuem quadros que pensam os problemas, que discutem e se posicionam e cuja produção é ignorada pelos partidários do "novo" em sua sanha de uma superação do concreto pela formulação de slogans. Até o PV com sua loucura por cargos que o mantém atrelado ao PSDB tem em seus quadros quem discuta o capital, a economia e suas novas-tecnologias.


Dizer que os partidos não discutem o compartilhamento de arquivos, por exemplo, é ignorar o trabalho do professor Sérgio Amadeu , próximo ao PT, e passar ao largo do que blogueiros e organizações discutem, com muito material on line, há anos.

A novidade que vem dar a praia com seu canto de sereia parece muitas vezes ser apenas a manifestação esquizofrênica da repulsa às formas-partidos tradicionais com uma critica difusa às ideologias e um fetiche da ferramenta que torna as novas tecnologias panaceias para uma realidade que teima em exigir respostas concretas e não slogans.

E a novidade, que seria um sonho, acaba virando o mesmo pesadelo de sempre, porque no cotidiano todo mundo faz tudo sempre igual.