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segunda-feira, 5 de março de 2012

De Tudo ao meu Amor Serei Atento


"De Tudo ao meu Amor Serei Atento" , um verso de Vinícius de Moraes.



Estranho neste espaço o amor vir e vir duas vezes. Talvez conquistando da aridez da História e da política o espaço exigente dos que não se prendem nas amarras dos versos e poesias.



Mas é o súbito do amor que garante seu espaço nessas entrelinhas transversais que antes de mais nada é fundador. Pois é o amor às gentes e às diversidades que construiu cada tijolo do espaço, como quem constrói um fortim de humanidades. Nada mais justo que um dia personificado se mostrasse como quem reconquista o espaço do individuo.



"De Tudo ao meu Amor Serei Atento" ,diz o verso. E à atenção dá um tom de ação, uma urgência de uso, utilidade, arma.



Como ser atento ao tudo, ao todo, se secessionamos? Como dividir em evangélicos, negros, pobres, ricos, velhos, novos, burros, gênios, limpos, sujos? como levar a cabo o ideal democrático, uma das faces do amor, se flexionamos a democracia em uma formação de castas submersa à máscara teórica disponível?



Como sermos o todo se não somos o dois? se não somos o outro?



Essa abordagem já foi feita teoricamente aqui de diversas formas, citando a disparidade do discurso com a prática que inclua a disputa política pelo convencimento do outro e não por sua classificação como lúmpen ou sub-humano desintelectualizado e "inconsciente' ou "alienado". Porém o que é isso sob o ponto de vista do subjetivo?



Como meio amar? como ser meio? Como ser meio humanista,. meio elitista, meio socialista?



Como amar um alguém e dizer que ama uma humanidade e ao mesmo tempo não amar o outro e buscar entender o outro para além de nossas próprias e comuns deficiências de percepção do outro como tal? Como se colocar ao lado da classe trabalhadora, mas condená-la se não ouvem Schubert ou Chico Buarque e ouvem Teló? como condená-las ao limbo dos idiotas se rezam, creem, doam seu dinheiro, fruto de seu trabalho, por sua fé? Como chamar seu deus de resultado de esquizofrenia e postar-se, a meu ver cinicamente, como seu aliado, amigo, amante?



Como ser um homem para uma mulher e recusar-se a não rotulá-la como biscate, puta, séria, trabalhadora, viva, morta, autêntica, burra? Como saber o que é o outro sem sê-lo?



Eu nasci em Deus, eu nasci de Deus. A fé é para mim  a estrutura básica do que sou. A história é vista com olhos de Exu. O amor é fruto dos braços de Oxum.  Jesus me levou pelas mãos muitas vezes, Marte idem. Ogum me dá a segurança de amar ao todo e largar-me no risco da insolvência pelo excesso de convicção que só os de Logunedé tem a sorte de manter.



Eu nasci amor, fruto de amorosa rede de gentes que carrego em cada letra. Gentes que suportam o fogo de meu pouco trato social e entendem mais do que mesmo eu consigo ver.



Me é incompreensível o humano sem a imensidão do coração tornado arma. Mesmo quando a fúria autoritária se apossa dos meus passos é o entendimento corpo e alma do humano como medida de todas as coisas, inclusive das divinas, que me conduz na busca do entendimento da diversidade, democracia e liberdade como valores máximos.



E se me é incompreensível o fundamentalismo com fé, idem o fundamentalismo sem ela. Me é incompreensível o elitismo que se coloca tutor do povo em relação à cultura, que trata o funk como sub música e samba seu avô pelas praças, assim como me é incompreensível amar uma mulher sem amar seus mundos, fundos, letras, pés, mãos, corpos, almas, cheiros e voos.



"De Tudo ao meu Amor Serei Atento" , um verso. Poderia ser um lema.

Uma lema pois que retornasse a percepção ideológica do amor como ente, parte fundamental de toda ideologia humanista, que retirasse o viés que exclui a reflexão sobre o outro do combate diário pela conquista do estado. A doação diária e sensível que faz a esquerda permanecer no combate contra a opressão capitalista, que luta contra o ethos de priorizar a propriedade por sobre a humanidade, o direito ao ter sobre o direito ao ser, este movimento é um movimento de amor, uma declaração de amor ao humano. E ouso dizer que mesmo os liberais em sua fundação humanista não são outra coisa em sua busca pela liberdade contra o estado senão apaixonados pelo humano como medida de todas as coisas. Anarquistas nem se fala, são verdadeiras Biscates ideológicas (sob o prisma do Biscate Social Clube) amam numa nice, sem crises.




Esta declaração de amor ao humano não se pode permitir racista, machista ou homofóbica. Não se pode permitir transigir com o excludente. Por isso o racismo e a misoginia me atingem, mesmo eu sendo o macho adulto branco (Sempre no comando, Caetano?) .



Sem que percebamos a dimensão do Amor, ou a subjetividade do sentimento de ação libertária como Amor, nas lutas diárias elas se transformam neste eterno arranca rabo de ocupação de espaços limitados e/ou a conquista de postos.



Não é a ideia que constrói a solidariedade intrínseca na construção de laços, é o respeito e o sincero abraço, é o riso, é o copo, é o saber-se igual, mesmo que diferente.



"De Tudo ao meu Amor Serei Atento" , um verso. Poderia ser uma práxis.




domingo, 11 de dezembro de 2011

Para além da Grande Religião Vermelha


Às vezes me parecem os textos da esquerda, especialmente da marxista, de um formalismo analítico que quase segue uma fórmula imutável.

É tipo assim: Se A se deslocar para B, teremos C.. e de boa, nem sempre teremos C, o deslocamento muda diante das realidades, mas as análises por vezes se enrolam numa forma que as identifica como pertencentes ao mesmo corte "Teórico", ou seja, salvo raras exceções, todas propõem uma mesma solução ao fim da análise seja ela falando de tsunami ou falando  da praça Tahir, ou do 11 de Setembro ou da relação sexual dos macacos...

É claro também que as análises vindas da academia sob a perspectiva Marxista não cometem este erro, mas esse rigor acadêmico não se espalha, não vai além das fronteiras da academia, não se tornam parte de um modus operandi analítico que opere uma transformação no olhar da realidade e não no formalismo da análise. Grosseiramente falando: Falta formação pros Marxistas.

Conseguiu-se nas fileiras marxistas um modelo de discurso, mas não um modelo de análise. E pior, produziu-se um modelo de discurso estratificado, existem graus hierárquicos deste modelo, de maior ou menor complexidade, mas em todos eles existe uma linha de raciocínio que acaba igualando-os. Todos eles são quase repetidores de uma fórmula de análise do real que mal compreende a idéia de contexto.

No topo da piramide hierárquica estão os acadêmicos ou assemelhados da burocracia dos partidos que produzem sim análises com riqueza teórica, com profundidade analítica e estes sendo os exemplos de que há uma fuga do monolitismo dogmático no marxismo.

Só que esta fuga é aparente, é até falsa, porque o marxismo militante  não tem acesso a este grau de reflexão e de ensino teórico, ensino mesmo, como se faz nas universidades. Ai você tem no dia a dia o mesmo e velho, modorrento e inútil marxismo de galinheiro cotidiano, que no fundo é a repetição de mantras proto-ideológicos inspirados em Lênin, segundo a interpretação semi-religiosa de algum marxista mecânico qualquer espalhado no vasto mundo da burocracia militante.

A riqueza da teoria em Marx, que propõe muito mais do que os manuais práticos, e por vezes patéticos, do "militante bolchevique" se perde ai,neste ralo e  pirâmide que separam não só o joio do trigo, mas o rei da teoria do mais besta peão da Grande Religião Vermelha.

É por isso que quando aparece o Zizek ele vira tábua de salvação, mesmo que ele no fim da vasta conta não tenha sido muito, digamos, novidadeiro em nada. Zizek saindo do lugar comum do mecanicismo vira gênio. Calinicos, Gonzales, Chris Harman idem.

 E ainda fingem não ver Marcuse, Thompson,etc, que tornam esses ai, na humilde opinião do blogueiro, os Diguinhos do Meio campo do Marxismo, põe eles no banco fácil.

Não citei Trotski, Rosa, porque estes são hoje mais mitologicamente repetidos do que lidos ou alvo de reflexão, salvo pelos sumos sacerdotes do Mosteiro bolchevique.

Não entrei também no universo teórico que vai além da Grande Religião Vermelha porque isso aí é uma discussão mais ampla, muito mais ampla e faz parte da própria revisão do que é a ação da teoria Marxista no mundo pós-moderno ( foi o que me veio,desculpem a má palavra, ok?).



A Esquerda perde terreno a olhos vistos, a esquerda marxista idem. Existem diversas possibilidades de explicação do fenômeno, todas elas a meu ver se cruzam quando analisam a burocratização dos movimentos e a perda do humanismo central à qualquer ideologia de esquerda. Desta forma é fulcral que avancemos na demolição dos muros que nos prendem a um formalismo teórico que gangrena o tal adjetivo "científico" que acompanhava a palavra socialismo.

É mais que hora da Esquerda se rever teoricamente, sob pena de tornar-se cada vez mais uma Grande Religião Vermelha e cada vez menos uma ferramenta de transformação do mundo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Solucionáticas?


No texto abaixo eu meto uns paus, faço umas críticas e reclamo de umas coisas, entendi que estava também incluindo algumas solucionáticas enrustidas no apontamento da problemática. Seguidor das leis de Rei Dadá esperava e entendia que alguns apontamentos incluídos sub repticiamente no texto ficariam claros, mas amigos bem sacadores não sacaram e resolvi escrever as propostas num “Que fazer?” caboclo meia boca.

Primeiramente acho que é bom explicar, embora seja óbvio, que de Lênin eu não tenho nem a careca. Segundamente não tenho experiencia forte em administração pública, ou seja, jamais atuei no poder então meus pitacos são especificamente de fora, cometendo obviamente deslizes no que foge à minha alçada.

As críticas que coloco relativas aos posicionamentos partidários são simples de esclarecer o que proponho: Fortalecimento das instancias internas com nucleação forte, nucleação de base com relações inter núcleos via plenárias regionais frequentes e com isso levantamento de questões à plenárias de direção que encaminhem diretrizes às executivas partidárias. O uso de um falso centralismo democrático travestido de colegiado de correntes e tendencias é golpe imediato na democracia interna de partidos como PT e PSOL.

O PSTU e PCB já partem do centralismo democrático clássico, críticas à parte sobre a existência ou não de burocratização neles, mas partidos como PSOL e PT se colocam como partidos de correntes de de núcleos, se você interrompe o oxigênio partidário com enfraquecimento dos núcleos você amplia a burocratização e mata o partido, ao menso a diversidade e se bobear sua inclinação socialista, ainda mais se a opção pelo eleitoralismo levar à filiação de grupos que nunca foram parte da esquerda, nem mesmo na proximidade pontual.

Pra sair da armadilha de comportamento olímpico com relação ao povo sem uma relação direta de convencimento acredito que o primeiro momento é abandonar a ideia da população não ter consciência e ir no caminho antropológico de “etnografia”, ou seja, viver com a população e dialogar, colocar as ideias no pano, ver qualé, passear pelos locais, discutir, interagir e sim, ser convencido também. Atividades e pesquisa são fundamentais, entender a dimensão das relações sociais e de parentesco nas comunidades idem, entender o que significa honra, palavra, dádiva,etc, mais ainda.

É fundamental desconstruir a ideia de povo como algo dado e cuja definição de Marx é tomada como regra e não o como Marx chegou a esta definição. Nada é menos materialista do que pegar uma ideia construída fora do dia a dia político brasileiro como fundamento para análises nossas. E mesmo em muitas análises feitas por brasileiros a ideia de povo é tomada via “bancada”, ou seja, o povo é visto do alto de uma análise de classe média/alta ou mais ainda mesmo quando vista in loco trabalhada com o arquétipo de povo. Sem contar que devíamos escrever “povo” dada a diversidade do que significa esta categoria.



De que povo estamos falando? Como ele respira, ouve, lê, anda, fala? Tem sotaque? Que sotaque? De onde vem esse sotaque? Como são as relações de gênero deste povo? Como são as relações entre fenótipos diferentes? Como são suas construções? Como eles veem e querem suas casas , ruas, escolas, trabalho, sexo, música? São perguntas abertas, e é óbvio que são feitas também da “bancada”, porque as perguntas mudam de acordo com o campo. É preciso que a “prática como critério da verdade” seja algo além de um discurso e algo além de pesquisas quantitativas e observação abertas, cheias de estereótipos de uma população variada país afora. É preciso abandonar o anti-intelectualismo e o medo da ciência e largar de mão dogmas pseudocientíficos e filosóficos que por vezes travam e são atualizados até mesmo dentro das tradição ideológicas por outras formas de abordagem do real. 


É preciso para nossas relações políticas irmos além do aparato e arcabouço puramente ideológico e acrescentar a ele o que se produz como ciência. Dessa forma talvez tenhamos menos comunistas com elitismo cultura ou machistas. Talvez com isso tenhamos menso comunistas que tem um belo discurso, mas reproduzem os mesmos preconceitos culturais, de gênero e raça que dizem combater.


Não precisamos gostar de funk ou de ruas apertadas ou de pagode ruim, ou de letras de música dizendo que a mulher tem de chupar pirocas pras entender que isso é sim culturas e é tão legítima e válida quanto Chico Buarque. E é preciso menos moralismo cultural, menos rotulação sobre como deve ou nãos e comportar o diferente.

Muitas vezes lemos que o que diz a Tati Quebra Barraco é reforço no machismo, mas é mesmo? Lá no ambiente onde foi construído grito da Tati é reforço ao machismo ou ofende o machismo local? Aposto na segunda opção. A mulher dizer claramente que faz sexo como quer e não é vagabunda é como queimar sutiãs naquele ambiente. Podemos discutir o quanto isso na nossa concepção de comportamento é reprodução e nessa viagem inter grupos sociais como o conceito exposto pela Tati é por nós entendido, mas antes de usar esse entendimento para explicar universalmente o significado da música convém ir lá e ver in loco como essa música funciona na cabeça de quem fez e de quem ouve primeiramente, antes da viagem da favela pras boites da zona sul carioca.

Comunista que chama funk de sub música tá numa redoma, e pior, reproduz um preconceito que diz que música é apenas uma música aprovada pelas classes dominantes, cujo gosto foi assumindo pelas classes médias. No início do século XX essa sub música, também originada fora do país, era o samba. Nas décadas de 1950 a 1970, iniciozinho, essa sub música era o rock.

Da mesma forma é preciso ações de conquista de diálogo horizontal como uma juventude que anda por ai doida por um 15-M tupiniquim. E acredito que do mesmo jeito da relação com o “povo” é preciso entender que rapaziada é essa. É preciso entender que determinadas construções da forma partido cuja horizontalização e trajetória das discussões e processos decisórios é interrompida são o fim da picada pra uma multidão de pessoas que estão expostas à fragmentação da comunicação n cotidiano chamada Internet. E essa fragmentação não é quebra, é diversidade, é polifonia, a ideia de síntese, cujas discussões determinam um ponto de convergência pode estar sendo substituída na prática pela ideia de polifonia, onde todos os grupos e desejos se materializam na ação direta, onde não é preciso esperar a revolução pra discutir o problema de gênero, por exemplo.

Há problemas nas manifestação espontâneas de Madri ao Cairo, na primavera árabe e na rebeldia europeia? Claro, e esses problemas são menso da diversidade e mais da ausência de organicidade. Essa organicidade não significa que todos tem de empunhar a mesma bandeira, mas talvez da organização dessas diversas lutas no sentido de também derrubar o inimigo. Não necessariamente focar numa bandeira única, mas ampliar as lutas diversas, todas nas ruas, todas com solidariedade mútua e todos sufocando o inimigo numa batalha em várias frentes, mas ao mesmo tempo agora.

Para combater a crise da esquerda é preciso antes de mais nada entender o “público alvo”, depois entender que estamos em crise e perder o saudosismo da unidade perdida. A partir desses passos talvez tenhamos muito mais ganho do que estamos tendo e podemos enfrentar a ideia do estado à nossa frente, inimigo ainda, e também do governo que deve sim ser pressionado para a realização dos desejos desse “público”.

Com isso talvez a esquerda possa ir além do que está sendo feito. Um exemplo é a luta pelos 10% do PIB para a educação, fundamental, mas que para na luta por verbas e que pode e deve usar as mais diversas experiencias de esquerda para a educação, da “Escola do Aluno Caminhador” à “Escola Possível” de Miguel Arroyo, iniciativas que partiam da realidade do aluno para construir um processo educacional que minimizasse a violência da “socialização” via educação. Paulo Freire tá aí pra isso.

Será que a escola que queremos é só a escola com 10% do PIB pra educação? Como é o professor na escola que queremos? Como é o aluno? A educação já é um assunto tão periférico, cuja importância merecia aspas, pois fica mais no discurso do que na prática de entendimento crítico de seu papel, porque os profissionais da educação não levam pra rua o papo sobre a escola onde estudam os filhos da sociedade? Porque nós os lutadores não vamos pra rua pressionando a sociedade a entender o que ela está fazendo apoiando bravamente a luta de bombeiros e ignorando a luta dos professores de seus filhos, que são tão massacrados e proletarizados quanto os vermelhinhos e tão vítimas quanto os alunos de uma escola que deforma, que humilha, que entedia e que destrói o indivíduo o tornando em geral um mero repetidor? Qual o medo e ir além do econômico e também repensar publicamente e em conjunto com a sociedade o próprio sistema de educação? Será que enfrentar o pai da criança, que foi aluno da mesma escola deformadora e por isso também tem uma péssima ideia do professor como inútil é tão difícil?

Além disso, que governo queremos para nós? É apenas um governo bacaninha que faz o “bem pro povo” ou é um governo que amplie a imersão do “povo” nos processos decisórios? Cadê a ideia do Orçamento participativo e sua adaptação para meios de interferência popular direta e embate político constante na sociedade que seja federal? E que estado queremos? É esse ai adaptado ou outro? O Outro mundo possível é um mundo velho com Botox?

Enfim, na busca pela solucionática acabei criando outras problemáticas e nem paro no ar que nem beija-flor.

Algumas sugestões estão ai e podemos sim avançar a partir delas, indo além do discurso, colocando o assunto à baila e na prática. Talvez com isso comecemos a disputar a hegemonia das consciências coma direita, sem levar luz, sem tentar pagar de “orientador”, mas debatendo e discutindo, colocando soluções práticas, debatendo soluções práticas, de baixo pra cima, à esquerda de quem entra.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A práxis e o tal Bonde da História

Duas frases são meio comuns na esquerdolandia: "A práxis é o critério da verdade" e "Estamos perdendo o bonde da história". 

Bem, a  práxis é muito mais que prática, inclui método, ideologia e como isso se mistura na criação de condições para a existência da sociedade ou, na modesta opinião de vosso escriba, da existência de uma estrutura social segundo determinado conjunto de práticas, métodos, ideologias e cultura. Grosso modo a tal práxis é sim o critério da verdade, sendo que esta verdade o é para os usuários da tal práxis, e isto não a torna universal, dadas as variáveis de métodos, linhas ideológicas, cultura,s presentes na sociedade e no próprio espectro da sociologia. Escrevi isso tudo pra dizer que quando me saltam esta frase, mais fácil de ser dita que "psiu", saco logo do coldre a resposta:"De qual verdade cê tá falando?". 

Não sou exatamente uma anta e nem o mais sábio, estudado e gostosão telectual dos planeta, mas dou minhas cacetadas.E faço o tal questionamento numa boa, porque um tanto de coisas são ditas sob o pano de marxismo que muitas vezes viram mantras sem significado. Tomam a práxis como dada e não como um elemento inclusive a ser entendido e variável dentro de algo tão complexo quanto uma sociedade e mesmo no que tange à complexidade do universo ideológico da esquerda.

A esquerda socialista e marxista, sem contar que existam socialistas não marxistas, é muito mais complexa e variável do que gostaria de ser e até de aceitar.Duvido muito que um militante do PSTU, do PCB, do MTL, do Enlace, do PT e do Revolutas tenham uma linha reta de categorias marxistas que aceitam e tomam para si como válidas para seu processo analítico da realidade. Chego a pensar que se bobear podemos criar uma linha que colocaria como opostos duas vertentes do pensamento socialista marxista e entre elas diferenças cujas gradações não são bolinho. E ai estou me prendendo explicitamente à quem se reivindica marxista e que considera práxis uma categoria relevante. Nesta linha o próprio entendimento de práxis seria diverso, e todas utilizariam metodologia marxista.

Então, se mesmo na esquerda socialista o entendimento de práxis é diferente nos mais diversos grupos e linhas teóricas do marxismo, imagina fora da esquerda socialista. A práxis continua critério da verdade em minha modesta opinião, mas a verdade é que são elas.

A verdade é algo tão variável quanto as interpretações da história e do que é práxis e por isso o tal "bonde da história" que tantos perdem, ou acusam uns aos outros de perder, fica meio vivendo em um samba do afro-brasileiro levemente atordoado, o antigo samba do crioulo doido.

Se perde mesmo o tal bonde da história? O que ele é? isso é um jargão pra dizer que uma corrente ou linha teórica tá ali mamada na beira da estrada sem eira nem beira ou significa algo mais? Bem, considerando que a história é um treco mais complexo do que uma linha de bonde ou um trilho reto a seguir a metáfora tem entendimento claro de perda por algo ou alguém do momento certo para agir dentro de sua práxis e estar de tal forma na crista da onda dos movimentos do dia a dia que sua compreensão se torna quase que luminosa para as tais "massas".

Alguém hoje perdeu o bonde da história com sua práxis? Não sei ao certo, na minha modestíssima opinião o tal bonde passou pra maioria da esquerda ou pior, o povo tava dentro do bonde coçando a práxis nuestra de cada dia e resolveu sair do bonde, descendo no ponto errado. Quem hoje em dia mantém um discurso socialista e continua dando a linha na pipa do povo, mudando a sociedade com sua práxis? Ninguém, manolo!

Se alguém te disser que tá na crista da onda pesquisa na padaria o que a rapaziada pensa da vida e se tu tirar algo der socialismo ali sem forçar a barra te dou um bolo de batata. Quem disputa no dia a dia a consciência das pessoas? quem coloca sua práxis em julgamento no tribunal das rua,s do dia a dia? E quem fazendo isso leva alguma mensagem que não seja a da aceitação do mundo, uns incluindo ai a mensagem de que é preciso lutar por direitos, outros não? Ninguém.

 A tal práxis como critério da verdade colcoa na percepção do cabra que tá olhando a festa do bonde de fora um bando de verdade com gente com belos discursos de esquerda, marxistas e que na prática não constroem condições para mudar a sociedade e no fundo querem mesmo é afastar qualquer possibilidade da galera do bonde mudar a sociedade, mantendo enquanto isso alguma espécie de nicho de mercado da pregação sobre o bonde.

Como se vai mudar a sociedade com uma práxis que busca é conquistar postos na mesma sociedade, sem mudá-la ou mudá-los antes? O Bonde da História metafórico tem mais revoltas onde negam a  forma-partido clássica da burguesia que piolho em mendigo e o que as formas-partidos burguesas fazem com sua práxis e belos discursos marxistas? afastam essas mudanças com práticas anti-democráticas, ignoram demandas da população pra rua e pelegam na caruda, optando pela via institucional que, pasmem, mantém a tal sociedade, a tal estrutura social que os discursos dizem querer mudar.

Como critério da verdade essas práxis me dizem que a tal verdade nem curte muito este bonde da história e no fundo quer é saltar dele o quanto antes. Enquanto isso no bonde o grito é do bonde sinistro, o bonde do terror, cada vez mais fascistas, cada vez com mais gente adotando sua práxis. Do lado da esquerda os discursos continuam lindos, mas a práxis continua afastando gente que pode atrapalhar numa retomada dos trilhos.


terça-feira, 9 de agosto de 2011

O avanço do Conservadorismo x A marcha do Zabumbador Maluco

Em tempos de crise máxima 1929 reloaded com altas tintas fascistas o debate sobre Deus e o Diabo na Terra do Sol avança com fome na vinculação clássica de conservadorismo à fé, entre outras histórias. Além disso, a direita vira um monstro de geração espontânea, o povo vira conservador de per si, a consciência vira um substantivo amorfo que muitas vezes significa "concordar comigo" ou mesmo "apoie o governo senão os tucanos voltam", e a população que discorda de mim, de você e da Magali vira uma mistura de cachorro com gado.

No meu tempo gente letrada pagava pau pra pensar e encontrar soluções e não pra ficar no rame rame do facilismo, ma eu sou um idoso de 37 anos e sou da velha esquerda, talvez não tenha rococós suficientes pra bancar o style intelectual em voga, que usa uma forma bacana pra ocular reducionismos.

Tem conservadorismo saindo pelo ladrão no mundo? Tem e esse namoro dele com o fascismo,seja de velho ou novo tipo, é um treco que tem mais causa que briga em favela. Eu não tenho bagos suficientes pra bancar uma análise histórico-econômica da crise, mas acho que posso dar uns pitacos sobre a relação disso tudo e da nossa amarga vida de esquerdista zabumbador maluco. Se rolasse mais tempo vosso escriba poderia sentar aqui e contar a História usando os velhos e bons sábios Ingleses Hobsbaw e Thompson, mas vou ficar na cultura de orelha mesmo porque o tempo ruge e urge.

O conservadorismo não sai do ralo, não é gerado pela chuva e pelo sol em alternância esquentando e esfriando o lixo, ele tá ai numa disputa política clara em uma sociedade. A tal Luta de Classes, por mais complexa que seja dentro de uma mudança radical das classes de Marx pra cá, tá aí pra isso, mesmo tu chamando ela de outra coisa.

O Estado como é hoje, e foi ontem, é parte de um conceito de vida, de estrutura de sociedade e de relações sociais, esta bagaça não surge do dia pra noite, ele tá aí e é um processo que não manda pro lixão algo automaticamente quando uma classe chega ao poder. O Estado e a sociedade convivem com tempos históricos diversos em sua formação cultural. Existem elementos nas sociedades "ocidentais" que ainda são pré-medievais, e para o bem e para o mal, não há uma interrupção cultural quando uma ala da sociedade ganha o poder mesmo que por séculos. Quando a Burguesia chegou ao poder, quase três séculos atrás, ela não simplesmente substituiu a lógica da Aristocracia pela dela, em muitos casos houve fusão de modos, de pensamentos, de atos e costumes, ou seja, negozinho se juntou e ficou tudo junto misturado. Então a burguesia repete a aristocracia ainda hoje? Em parte sim, em parte não. A hegemonia cultural conquistada foi conquistada com absorção da aristocracia de valores burguesas antes mesmo da conquista do poder definitivo. 

E esse ai é um exemplo grosso modo de algo bem mais complexo e complicado de ler, ver e interpretar quando a gente olha pro real.O que tem isso a ver com a questão do conservadorismo? Tudo. Qualquer sociedade tem impulsos de mudança e conservação dentro dela, e em ambos a cultura se move pra mudar aqui e ali a quantidade de gente que concorda com cada lado pro Fla x Flu final chamado Revolução, ou algo que o valha. Pra conquistar o estado tem de conquistar o domínio dessa cultura, tem de ser o cara que é visto como o que tem a "razão" a respeito de suas bandeiras como as melhores pro todo da sociedade.

E o que tá rolando? Os conservadores hoje pautam a rapaziada, eles são os caras, eles tem o controle do pensamento. Ah, mas não tão no governo! Não tão no governo? Não afirmaria isso, mas mesmo que concordasse arriscaria a dizer que estarão e em breve. Sabe porque? Porque hoje eles pautam o estado, pautam o pensamento, ajudados pela mídia, aparato de hegemonia privada a serviço disso, e pautam o boteco, a padaria, o banheiro dos homens e das mulheres, a escola das crianças. E pautam porque a Esquerda que deveria fazer propaganda do contrário, assumiu o jogo conservador e foi se adaptando a ele em nome da opção pela disputa institucional ao invés da rebelião que incluísse uma rebelião de costumes e uma disputa pela hegemonia do pensamento da população.

A esquerda optou por se engessar, calar o que lhe fazia diferente, ocultar sua rebelião pra conquistar governos, abdicando do controle do estado, em nome da opção direta pela reforma. A opção pela reforma é legal até certo ponto, pois começa a ter hora que os nego preto cansam e percebem que o monstro não é tão feio e usam a opção pela máquina pra conduzir o governo a seguir o controle do estado que possuem com suas diversas formas de máquina de controle de hegemonia,desde pressão parlamentar a igrejas, passando por jornais, revistas e apostilas escolares. Ao optar por ser aceita e ganhar governos a esquerda tornou-se igual ao que combatia e é absorvida pelo jogo, e o o jogo lhe mostra que o controle do estado pelos conservadores conduz seus governos e estes governos tem cada vez menos margem de negociação das poucas bandeiras "rebeldes" que ainda mantém consigo. Hoje a meu ver o controle conservador do governo atual é tão grande que ele pouco se diferencia do sue principal adversário eleitoral.

Essa opção da esquerda de se negar à rebeldia das ruas pra manter o controle de governos leva a um fosso de ausência de qualquer contestação concreta, orgânica, ao pensamento único conservador que avançam mais e mais agregando mais e mais gente pra combater uma "esquerda", que só tem um governo e não o estado, e alijar qualquer oposição, seja ela política racial, de gênero ou orientação sexual, do poder e dos direitos.

Não é a fé que faz o mundo conservador, é o mundo conservador que usa a fé, como os jornais, os colunistas, o padeiro.E é isso que leva à pastores, deputados, colunistas, jornalistas, padeiros, vendedores de cerveja ou empregados da Light a reproduzirem com cada vez mais violência o mais absurdo comportamento reacionário e leva ao crescimento mundial do fascismo e nos leva ao um abismo cujo fim tem uma serpente que saiu do ovo enquanto comemorávamos qualquer cosia feita pelos "caras" da vida. 

E é por isso que precisamos cada vez menos do Deputado de terno, educado, formalmente perfeito pra ganhar a classe média e mais do Zabumbador Maluco, o personagem de rua , aquele que faz esporro,  que transforma tudo até a última ponta, sem medo de chocar, porque seu choque é a fome, é o ronco da cuíca que o homem manda parar.

É preciso raiva pra interromper, antes que nos interrompam.

Magina se macho tivesse TPM, nega!

Nas idas e vindas da Ternet, essa rede com nome de empregada de novela, achei issaqui da Grande Niara de Oliveira a respeito de nosso amado ogrismo macho pereréco.

Lendo a traulitada bem dada e assumida como toque (Graças a Deus não retal!) escrevi um comentário que virou esse post aqui.Não espere politiquês e teoria política a rodo, é só um post impressionista e baseado no que sei, li, ouvi e aprendi, sem notas de pé de página.

 A questão do ogrismo macho pereréco pra mim é uma questão  cultural construída, ocidentalmente em especial pelo que percebo no meu parco conhecimento, de mulher como posse, grosso modo filha dileta da mulher como meio de aliança político-econômica, que nasce sei lá quando.

E esse cultural é no sentido Antropológico ou algo que o valha.

Homens são ogros e se tornam violentos quando bebem? Não sei, mas desconfio homens aceitam de bom grado a ogrice que lhes é imputada e o álibi da cachaça para seus atos.. é confortabilíssimo.

É mole seguir a curva do rio e a correnteza, é molíssimo. Prefiro olhar mais a fundo e perceber o quanto é fácil buscar explicações e deitar nelas, usando-as como álibi.. Temperamento? Não mete essa, mulheres tb tem temperamento e mãos, facas, força própria à disposição, mas em geral não saem por aí metendo a porrada no parceiro, e muitas deveriam. Bebida? Mulheres bebem, sabia? E chuto que estatisticamente se envolvem em menos problemas e especialmente os que levam à violência que meia macharada. Pressão social? Aceitaria se o macho em geral chegasse em casa e fizesse a janta pra Dona Rainha que sentaria no sofá e pediria a cerveja, mas a pressão social sobre o macho em geral é mais leve, essa do "provedor" não cola, porque o provedor é hoje dupla, em geral o macho provedor foi atropelado e com direito a ré confirmatória pela mudança do mundo econômico. Hoje família com um provedor só tem grana, muita grana. Então o cabra coloca o nível alto de testosterona e muitas otras coisas como álibi pra sua violência e na verdade mal percebe que no fundo ele só deixa rolar porque.. pode, a cultura lhe permite, nenhuma trava é permitida ao Machão Gostosão pica grossa.

A postura masculina em geral é a do Reizinho do Parque, paudurecência na mesa, no ovo, no auge, o foda-se querido ligado no talo pra que todo o multiverso o sirvam.. e quem o serve no multiverso? A moça, a mulher, a empregada, a mãe, a esposita barrozo.

Quem faz isso é só a macharada desesclarecida povão e opressores nojentões de direita? Ledo Ivo engano caro compa: eu, você, nós dois diuturnamente repetimos esse machismo ogróide do balacobaco sem a menor verguenza (Thanks Xico Sá!).

O Ogrismo em geral é mais explicado que batom na cueca e pior vira uma espécie de álibi: "Sou assim porque sou homem!" e o pior "A maioria dos homens é assim e  piora quando bebe!". As duas frases tão cagadas porque a primeira naturaliza uma comoda posição de "vítima da natureza" quando podemos enfrentar a cultura e nos transformar e a transformar com isso. A segunda frase é cagada porque exclui o proferidor do crime, ela é álibi pra ele, macho esclarecido, pagar de homem-santo.

Quer dizer então que o ogrismo macho não pode? Poder pode, desde que tu se olhe nozoio e assuma-o (curtiram?) como um treco machista e que pode até continuar existindo em paralelo ao combate interno ao próprio machismo, mas usá-lo como álibi pra seus sentimentos de posse, inseguranças e "tremiliques" quando as "servas" se rebelarem é migué.

Temperamento se fosse álibi daria merdeloquê, como disse acima, porque mulher, pasmem, tem temperamento e, dizem, até alma. E no meu específico caso de macho jurubeba (Valeu II Xico Sá!) seria caso de estapeamento geral e irrestrito e não rola, nem no meu caso nem do meu falecido pai cujo temperamento transformava o meu no da Sandy na época do Junior. 

Quer dizer que o autor ogro da escrivaria arriba não é machista? Nope, ele é, finge que não é e tenta não ser,, mas sem se esconder na confortável casa da tergiversação do próprio machismo.

Beber eu bebo, fumar eu fumo, ter cabeça quente eu tenho, mas não estapeio ninguém, e talvez pela grande coisa feita por meu pai em sua vida: Me ensinar que mulher é gente, tem direitos, opiniões, pensamentos, sentimentos. então sem essa rapaziada, vamo enfrentar a cultura e sermos ogros quando precisa, que é no pau diário pela transformação dessa bagaça de mundo em algo que preste.

Magina de macho tivesse TPM, nega!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Fome tem que ter raiva pra interromper, a raiva é a fome de interromper

A política é por vezes a arte de negociar com extremos, a arte de engolir sapos, pra muitos a forma mais importante e por vezes os fins justificam os meios,  num uso limitado de Maquiavel. 

A política dentro dos domínios burgueses, das instituições, muitas vezes é uma política cuja forma é mais importante que o conteúdo ou, para não cair no vitimismo da incompetência, cuja forma é tão importante quanto o conteúdo e cujo leque de negociações é por vezes mais amplo do que o que sugere àqueles que entendem política como parte da luta de classes.

Um de meus maiores defeitos para a politica é minha raiva. Diante de situações onde a meu ver princípios inegociáveis baseados em julgamentos de valor e com valores que não podem ser rompidos são negociados, sob pena de transformar relações políticas em mero reflexo de relações comerciais ou tradicionalmente negociáveis no balcão da política burguesa, a raiva é libertada. Não quero que todos partilhem de meus valores, isso me faria autoritário, algo que desconheço em minha prática política e que me causa espécie ser chamado de tal, a ponto de rompimento pessoal. Mas entendo que qualquer relação política baseada na troca que não seja também baseada em um conjunto de valores que incluem a honra interpessoal, a honestidade, a lealdade e o "olho no olho" correm o risco de serem apenas "troca".

A raiva é fruto da impotência diante de movimento cuja percepção de vosso escriba é a da "bola nas costas", algo comum em política, mas facilmente perceptível quando do "olho no olho", e talvez compreensível e mais ainda, aceitável diante da necessidade de sacrifícios em uma luta árdua. Quando no mundo virtual, esse protetor radical de covardes e vaidosos, a cosia aperta. O teclado impede o risco físico de um pau no pé do nariz diante de uma trairagem. Por isso a política real, a prática, a da assembléia tem tantas regras não ditas, baseadas em geral na proteção dos direitos de fala, de integridade física, da integridade política de processos,etc, e pouco se sai da ausência da intimidação física e/ou jurídica, em caso de uma ou outra aparece naturalmente seu inverso, pois os limites forma rompidos, as práticas degringolaram.

Se tudo é permitido não é a revolução, mas o caos que se instala e tudo começa a ruir.

Talvez uma incompetência de leitura me impeça de entender na política virtual a facilidade que entendo na política diária.E talvez por uma certa ingenuidade não consiga aceitar cálculos em política que não sejam frutos de um entendimento sincero e honesto da necessidade de sacrifícios e mais ainda, de ação de forma transparente para com o sacrificado para que este entenda seu papel no jogo. Sem que o combinado seja feito, tudo fica caro, e romper combinação é traição da grossa.

Ser o novo na política não é parecer o novo e nem buscar uma adaptação de práticas políticas diante de novas ferramenta,s mas transformar o velho. E o que o "novo" tem feito é usar o velho com roupa nova, matando seu melhor e ficando com o rescaldo do pior. Assim como se burocratizaram partidos e movimentos o virtual em breve será alvo de nova onda de burocratização, já se inicia com as medidas institucionais, isso deve ser acompanhado de uma reação de movimentos e partidos no sentido de barrar a ação estatal, mas até que ponto a reação não será uma ação burocrática, negociada e pelega do espaço virtual. As alternativas não parecem promissoras em negar a burocratização. Quando movimentos priorizam o processo, o processo burocrático, em relação à rompimentos de acordos tácitos, como a concretização de ameaças em ambiente de debate político, a cosia tá feia e aponta seriamente para uma repetição do que se condena no dia a dia político.

Percebendo ou não o movimento, o grupo, o partido, caminham para a "profissionalização" das relações políticas e para a burocratização.

Qualquer relação política cuja confiabilidade, no que me baseei para colocar a honra como valor primordial, é substituída pela burocratização e profissionalização, que impede a emocionalidade, bane a raiva, mas deixa o demolir dos códigos mínimos de convivência, não me parece ter vida longa.

Por isso a raiva é inimiga, hoje da política, e mais ainda, da política virtual, porque a raiva é rompedora, a raiva não consegue calar-se diante do que a causa, a raiva tem fome de interromper. Pra muitos é um defeito, pra mim é uma de minhas maiores qualidades. Antes mal educado do que opaco, antes ogro do que vaselina, antes honrado do que traíra.

Ainda acho que os fins justificam os meios, desde que a prática como critério da verdade seja amparada numa prática de construção coletiva com honra, com lealdade e respeito mútuo, algo tão presente no cotidiano da tal classe operária que buscamos representar que fico assustado dos nobres colegas da esquerda não entenderem o quanto é básico, para uma galera onde o compadrio ainda pesa como laço forte de solidariedade entre pessoas de um grupo, a lealdade, o respeito mútuo, a amizade, o desarmar e a proximidade no dizer, no sentir e no olhar, olho no olho, juntos para frente.

Em uma vila, um morro, quando o os laços de confiança são quebrados, a primeira coisa que acaba não é a opressão, mas a capacidade de resistência à ela. Toda reação à opressão, toda indignação, é santa, para acalmá-la só , antes de mais nada, a confiança, sem essa é melhor separar.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A democratização da comunicação é a democratização da sociedade

A concentração midiática no Brasil, onde poucas famílias são proprietárias da maioria absoluta de veículos de comunicação, abrangendo a mídia televisiva, rádios, Internet, jornais e revistas, é um dos maiores obstáculos, senão o maior,  para a emancipação da população em matéria de democracia, protagonismo politico e conquista de direitos.

As empresas de comunicação do Brasil são aliadas do processo de concentração de poder econômico com controle de indústria, terras  e comércio por uma elite sócia destas mesmas empresas e que utiliza a máquina pública como ferramenta para manutenção de  privilégios e ampliação  de sua riqueza.

Ao serem máquinas de repetição diária de idéias que tornam medidas de manutenção de privilégio e diferença entre as classes, os meios de comunicação são a mais forte ferramenta de convencimento de que um sistema que explora o trabalho de milhões, lhes fornece estrutura precária de moradia, saúde, educação e transporte é o único sistema viável e que todo poder deve ser entregue à representantes que são os únicos que "podem" administrar o estado. Com o bombardeio diário de uma informação ela acaba se tornando verdade, uma única verdade. Assim então é construído um silencio sobre toda e qualquer forma de resistência à marcha de um "progresso" cuja propaganda não mostra as favelas removidas para grandes obras, a escola maltratada dos filho dos pobres, os postos de saúde e UPAs hiper lotadas e os soldados "pacificadores" da Upps proibindo festa de criança na favela. Por outro lado o mesmo soldado que proíbe festa de criança é mostrado em festa de debutante sorrindo, a obra que remove moradores sem nenhum respeito à sua história, bens e os jogam a quilômetros de onde moram são mostradas como solução fantástica e linda, os postos de saúde e UPAS são relatados por "especialistas" como um grande feito.

Os meios de comunicação não atuam somente ocultando a realidade, eles criam uma realidade também. Por isso que "favela" é sinônimo do pior que existe, é algo negativo e tem isso reforçado toda vez em que uma grande obra precisa ser feita.Assim se cria uma "verdade" onde é sempre melhor o morador ser removido pra quase 100 km de onde estruturou sua vida do que morar na "favela". A Favela é o mundo ruim, o mundo cão, é o horror habitacional. Não se menciona assim que também é a solução habitacional construída pela população na ausência de politicas habitacionais dignas desse nome e que não sejam apenas o que o jornalista Lúcio de Castro chama de "jogar o pobre pra baixo do tapete da distancia". A vida das pessoas é tratada como se indiferente detalhe diante da necessidade de "melhorar" a vida do pobre segundo soluções criadas longe do principal interessado, em gabinetes administrativos e apartamentos da Zona Sul dignos de figuração nas novelas do Manoel Carlos. Essa mesma realidade onde o núcleo pobre das novelas é o engraçado e fica no máximo na Gloria ou em São Cristóvão, dado o desconhecimento do mundo além túnel dos donos da voz. É a realidade que finge não ver as remoções para a construção de obras faraônicas para os mega-eventos esportivos, tratados apenas como o melhor que podia acontecer ao país e o pobre é o palhaço do espetáculo.

Donas dos direitos de transmissão dos mega-eventos, as empresas de comunicação ajudam a criar mais um muro de silencio que ignora atitudes autoritárias dos poderes executivos municipal, estadual e da união, os gastos absurdos nas obras nitidamente superfaturadas e os escândalos de corrupção ligados à seus parceiros tanto políticos quanto  comerciais como os que envolvem o presidente da CBF e dirigentes da FIFA. Da mesma forma a maior parte da população ignora o que acontece em Belo Monte, no Pará, com indígenas e povoo pobre sendo removidos na base da pancada para a construção de uma usina hidrelétrica que é monstro tratado como solução,mas  injustificável sob o ponto de vista técnico, já que não gerará energia que pague o tamanho da destruição, e que é na verdade o faz um gigantesco crime ambiental.

É por estes motivos, entre tantos outros, que é necessário um amplo movimento de pressão para mudanças nas leis que permitam uma verdadeira democratização dos meios de comunicação. São necessárias ações nas ruas, jornais e rádios comprometidos com a causa da democracia irrestrita para que se derrube o poder quase que absoluto dos donos dos meios de comunicação e que se permita a ampliação do acesso à informação. Precisamos de passeatas, de convencimento da população para pressionarmos os deputados e governantes e os obriguemos a mudar a lei para termos uma comunicação democrática e banir o racismo, a homofobia, o machismo, a misoginia, a exploração dos trabalhadores e a destruição do meio ambiente , para que não permaneçam jogadas de lado e em uma batalha inglória para serem vistas pela população não como mania de radicais enlouquecidos, mas demandas necessárias  para que os direitos da pessoa humana sejam amplamente respeitados até para a sobrevivência das pessoas.Precisamos lutar por novas leis de comunicação que rompam com os monopólios e permitam que a população construa seus próprios meios de comunicação, rádios, Tvs e jornais, sem que a Politica Federal e Anatel os persiga e sem que a máquina doa grandes meios os silencie.

A democratização das comunicações não é excentricidade, não é uma bandeiras dos "anti-Globo" e de mau humorados, é uma necessidade para que o povo não seja pra sempre vitima de ações truculentas como as que remove sem respeito nenhum aos direitos humanos as populações das favelas para a construção de condomínios de classe média e além disso tenha seu drama ocultado por empresas que vendem cidades e até um país que parece de novela, mas tem o dia a dia de filme de terror, ao menos pros mais pobres e que enquanto a concentração da comunicação permanecer nas mãos de poucas famílias aliadas daqueles que concentram o poder e dirigem os esforços do estado para aumentar sua riqueza vai ter muitas sequencias com imensos danos no dia a dia do povo.