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terça-feira, 27 de março de 2012

Papéis

Uma das maiores limitações do escriba, talvez inclusive como analista e como profissional de História, mas principalmente como ser humano é a imensa dificuldade de despir-me de papéis pré-concebidos e herdados que trago em mim.

A opção pelo viés da intelectualidade, inclusive artística, por vezes me parece ser uma fuga via ciência do grau de enfrentamentos necessários para a revolução que prego externa, tornar-se interna.

Convivendo cada vez mais com a militância LGBTT e Feminista sou "bombardeado" cotidianamente com questionamentos das "caixinhas" que todos usamos pra pormos os outros e a nós mesmos em papéis pré-determinados que por vezes não só nos limita, mas nos oprime.

Talvez a opressão seja mais difícil de ser percebida em nós, ativa em nós, atuante em nós como adultos do sexo masculino e brancos, mas com certeza fica patente ao percebermos em nós a opressão como agente para como o outro, mesmo que minimizada por uma feroz auto-crítica.

Ao ler, ver e ouvir relatos feministas e LGTT a impressão final é que ainda sou parte de um mundo que deveria ser abolido, onde todo o arcabouço de categorias que construo como mundo são semi-inúteis. Não que isto tenha alguma carga dramática ou de terror intelectual, mas define a limitação do modo de pensar que causa inclusive "miasmas" internos que se traduzem na posse, no ciúme, em dores inventadas, em vergonhas, em machismos ocultos, homofobias enrustidas que apesar de combatidas por um humanismo adotado e que entendo feérico ainda existem e maltratam ao outro e a mim.

A gravação dos papéis em mim, em nós, são tatuagens de cultura que são preenchidas com todo o grau de conflito entre os grupos sociais dos quais participamos, entre gêneros, entre orientações sexuais, raça. Estes papéis são um dado, uma categoria a ser trabalhada sob pontos mais fortes do que os nitidamente racionais e construídos e demolidos talvez com simplicidade pela educação, mas antes de mais nada com uma necessidade de trabalhar com força e fome nos níveis emocionais, psíquicos e não com remedinhos delirantes, mas com uma profunda jornada de auto-conhecimento.

A certeza das categorias fixas em todos os níveis atrapalham mais que ajudam, no âmbito da construção do individuo atuam inclusive como arma de perpetuação de opressões.

É preciso que nossos papéis ganhem mais cor, mais abertura analítica, e também política, e para isso é preciso um olhar profundo até o dedão do pé, como diria Gonzaguinha.

PS: Uma das razões deste post é este vídeo imenso que vi e que me emocionou sim, mas antes de mais nada reforçou necessidades de auto-crítica: http://youtu.be/ctuUqzZEZKs

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Estranho mundo de Bob Socialista

No dia a dia político embates, debates, porradarias e dissenções são mais comuns do que se pensa. O pau quebra de manso e contradições são mais que normais, paradoxos idem.

No mesmo Agosto que desgostou militantes PSOLinos com a filiação de Paulo Pinheiro no Rio de Janeiro (Rimou!), o PT me tira da cartola uma belíssima resolução pedindo regulação da mídia e meio que pressionando o Planalto para que algo se faça. A parada ia ser mais séria, mas no conchavismo nuestro de cada dia acabou em moção. O que se propõe alternativa tomou um baile do que foi dito morto.

Isso não significa que os bolcheviques estejam chegando no PT, talvez signifique mais que o PSOL esteja se tornando um sub-PT sem máquina.Também não é de soltar fuegos em la piazza, no esperanto ítaloportunhol de cada dia, mas de recolocar na mesa o debate sobre o que é alternativa para a esquerda dentro de um quadro de burocratização galopante dos aparatos partidários.

Um post recente de Emir Sader em seu blog há uma conclamação ao PT de ocupação de um espaço à esquerda, mas o tom é de uma ocupação pela via da institucionalidade. Da mesma forma o tom dos artigos e discursos das figuras públicas do PSOL são no máximo e com esforço na mesma linha.  A média das colocações dos principais partidos da esquerda são de louvor à institucionalidade. E com o perdão antecipado que pelo aos companheiros de PSTU e PCB, por mais combativas que sejam suas ações e colocações não se colocam como alternativa real para uma ação para além da burocracia, embora em ambos esteja a benéfica crítica da opção pela institucionalidade.

Nessa ladainha a cada dia temos mais um reforço da posição da extrema direita na cabeça do povo, levando a um fenômeno da discussão com muros, ou seja, na ausência de debates, opção pela irreflexão e escolha prioritária do momento e da ação minimalista como saída, pela esquerda ou direita.

Com a  distancia cada vez maior da população, das bases e opção pela ocupação da instituição, com também interrupção da democracia interna evitando abalos em poderes constituídos intrapartidários, a esquerda se torna cada vez mais parecida com o que combate. 

Além disso a opção de quem já ocupa a institucionalidade pelo viés mais simplista de manter a relação com a população e suas bases acaba se tornando uma repetição do que já existe, com distanciamento do partido e estado da população, sem a ampliação e real empoderamento da população na determinação dos destinos do estado e partido.

Em suma, os partidos de esquerda optam pela distancia das bases e povo na determinação dos destinos de partidos e país, em um paradoxo imenso para quem se propõe defensores dos direitos do povo e da conquista de emancipação por ele. Parece que a rapaziada quer libertar o povo de um monte de coisa, mas mantendo um cabresto controlado por ela.

A opção pela instituição já torna o PT algo que pode ser tudo, menos de esquerda. O PSOL com sua política de fortalecimento eleitoral a qualquer custo caminha para o mesmo tipo de partido: Partido de esquerda burguês com o máximo de proposta de ampliação do horizonte democrático e reformas do estado burguês sem nenhuma forte ampliação do papel da população no controle deste, muito menos na derrubada do sistema.

Os demais partidos de esquerda, por mais que no discurso defendam realmente a revolução e o socialismo e a ampliação do poder da população, mantém uma relação de distancia e de burocratização sectária, com ausência de real relação de horizontalidade com a dita "massa".



Enquanto isso fora desse estranho mundo de Bob da esquerda, a relação da direita com a população se mantém firme e forte, pois sem precisar enfrentar o arcabouço de preconceitos viventes na tradição ou discutir a quebra do paradigma senhor/escravo e "Cada macaco no seu galho", nada de braçada na proximidade e intimidade que possuem com estes valores e quebram qualquer busca de alternativa de mudanças na cabecinha da patuléia.

 Aliado a isso a opção de parte da esquerda, especialmente a petista, de manter o diálogo com o povo menos na busca de alternativa e mais na busca de acomodação faz com que estas forças de "esquerda" acabem por participar dessa relação, serem parte dela e, pasmem, acreditarem nela.

E enquanto as alternativas escaceiam, nos movimentos e organizações não partidárias o discurso de reflexão é interrompido ou pelo obreirismo sectário ou pelo anti-intelectualismo. Discutir o uso de palavras é considerado "intelectualismo". Da mesma forma radicalismo é berrar, e Pensamento intelectual é repetir ad infinitum um bando de papagaios de pós-modernistas.

A crise que desponta no horizonte traz mais que pesadas nuvens pro dia a dia econômico, traz também pesadas nuvens pro horizonte político onde o ganho de força da direita e extrema-direita é cada vez maior, com o dia a dia repetindo o preconceito, o ódio, a hierarquização social ao máximo, inclusive entre gêneros e raças. 




Enquanto "Analistas" confundem crise entre Tucanos e DEM com crise da direita, ignorando a crise enorme que a esquerda passa, as forças reacionárias nadam de braçada na consciência viva da população. 

A Classe média se bobear é hoje mais conservadora que nos anos 1950 e a dita "Nova Classe Média" acaba por assumir os valores da antiga com louvor, repetindo não a postura política que em principio a elevou de patamar, mas a postura que havia antes de ódio de classe de uma classe média que acha bacana ser homofóbico.


A crise que desponta no horizonte pode ser mais que econômica e colocar mais água na fervura da perda de espaço para ideais de esquerda, e não importa se o governo Petista enfrentará com show de bola ou não, resta saber se enfrentará para além do econômico e como as demais forças dialogarão com este enfrentamento.


Os debates, dissenções, quebra-paus internos da esquerda passam ao largo de toda a problemática relação de perda de hegemonia de seus ideais na sociedade.

 Ou confundindo vitória na eleição com conquista de hegemonia ou optando pelo fortalecimento eleitoral como caminho para esta disputa, a esquerda ignora as mensagens recebidas tanto de aumento do pensamento reacionário como da crítica aos métodos tradicionais que usam os partidos numa critica interessante da forma partido em uso como acabada e patinam num mundo onde Partidos "Necessários" se tornam a cada dia mais semelhantes aos partidos de "Esquerda".

Nesse estranho mundo de Bob as alternativas parecem nítidas, mas no mundo real a ausência delas ampliam o espaço de chegada do mais puro fascismo.




quinta-feira, 28 de outubro de 2010

União Civil e Casamento LGBTT

 Em primeiro lugar: Não sou advogado nem sou profundamente legalista!
Em Segundo Lugar: Não milito na causa LGBTT ou "Gay",  nem mesmo sou, até o momento, gay ou  acho que serei (ironia, tá darlings!) ou mesmo entenda que seja importante que eu seja.

 Colocadas estas observações, algumas bem enroladas, vamos ao que interessa. 

O PSTU postou recentemente um texto colocando-se como quase único apoiador do casamento gay e informando, incorretamente, que Plínio de Arruda Sampaio e o PSOL não o são.  O texto desonestamente informa (pode ser lido aqui ) que "Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, concordou e disse ao portal R7 que é favorável somente à União Civil, porque o casamento é instituição religiosa.". O mais interessante é que na entrevista que está no mesmo portal  o discurso é exatamente diverso do que o texto coloca(Como pode ser visto neste destaque aqui  e aqui e na íntegra aqui). Da mesma forma que em outras ocasiões é claríssima a posição a favor do Casamento gay, como no vídeo ao UOL ( que pode visto aqui ). Pra ser mais exato ele diferencia apenas o casamento civil do casamento religioso, sacramento, mas defende com todas as letras CASAMENTO. Ou seja, o texto do PSTU é desonesto.

Por outro lado o PSOL em seu programa afirma: "Pelo reconhecimento da união patrimonial de pessoas do mesmo sexo e suas decorrências legais!" (Tópico 19, pode ser visto aqui). Complexo? Claro, a meu ver deveria ter uma afirmação peremptória de apoio ao "Casamento Gay" ou ser claro que é a favor da união civil completa e não só da união estável, a que os LGBTT já tem direito, era necessária, mas o consenso possível dentro do partido foi uma postura legalista que permite disputas. A questão é: Há interesse na luta pelo direito civil dos homossexuais ou só uma disputa fratricida pelo nicho?

Ao ocultar desonestamente posições e não debater o cerne da questão, as formas de apoio à luta pelos direitos civis, o PSTU queima pontes e busca sectariamente disputar a luta LGBTT como hegemonico, mas não pela política, pela desinformação. A louvável firmeza na defesa do uso do termo casamento é ocultada pela vileza da edição das posturas de Plínio de Arruda Sampaio e a negativa de colocar as posições que o PSOL defende e criticá-las no que estão erradas.Ao negar o PSOL como defensor da união civil, chamada ou não de casamento, o PSTU se coloca, mais uma vez, como detentor da verdade, e se nega ao debate, posicionando-se como único, no que é deslavada mentira.

Queria mesmo saber no que é que este tipo de atitude auxilia a luta pelos direitos civis LGBTT! 

A luta pelo uso do termo casamento é importante? é sim, é uma luta pela não secessão de cidadania, e a semântica aqui é importante, mas é fundamental? Não sei, acho que não. Já vi defesas da existência já em lei do "casamento homossexual" por conservadores alegando que a união estável já contempla o povo LGBTT. Aí o termo casamento serve para empulhar uma mentira, a união estável está ao alcancem mas ela não contempla todos os direito civis que o casamento, outra forma de união civil, contempla. Por outro lado muita gente, muitos do PSOL, defende o termo união civil como díspar de união estável, como o casamento em si, sem chamá-lo de casamento, evitando conflitos com o plano religioso, que entende casamento como sacramento. De que lado os lutadores ficam?  Acredito que é mais compreensível estarem do lado de quem evita  o uso do termo Casamento pra avançar na conquista de direitos do quem o uso pra erigir uma mentira, não?

A opinião do escriba é a mesma de Plínio, é casamento civil cacilda! Porém entendo quem utiliza o artifício de chamar de união civil, mesmo sendo claramente a favor da totalidade de direitos e acho luta menor a crise com relação à terminologia, da mesma fora como entendo que o PSOL, no programa erigido pelo consenso possível, indica exatamente o apoio à integralidade de direitos de casamento aos LGBTT, mesmo redigindo de forma mais "timida".

De qualquer forma a crítica ao "muro" PSOLista e bem vinda e sim, serve de apoio a quem acha que a semântica é também importante, além de quem acha que casamento civil é  casamento civil e deve ser chamado assim,  contnuar lutando para que o programa do partido saia do "muro" e entre de cabeça nessa importante luta, o que não pode é mentir, ser desonesto, em nome da luta por hegemonia em "nichos de mercado" que no fundo separa mais que une e tende ao gueto, até porque mentira tem pernas curtas, mesmo que sejam bonitas.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A idade média contra-ataca

 O surto medieval da campanha, com padres e pastores assumindo o protagonismo do atraso ao atacar a legalização do aborto e a união civil de homossexuais, não é um fato isolado diante de uma correlação de forças hostil para avanços do campo da esquerda.  A neo-idade média é filha direta do avanços das forças conservadoras após 16 anos de ataques contra trabalhadores e movimentos sociais, guinadas constantes à direita em nome da conquista do governo pelo PT, do surgimento de partidos ligados diretamente à igrejas e ampliação da militância religiosa nos partidos, com ampliação do lobby religioso no congresso.

 Enquanto o combate a movimentos sociais e organizações de esquerda se intensificou, com redução de quadros inclusive, ampliou-se a presença de religiosos conservadores nas grandes cidades, com ampla organização, militância ativa e controle de meios de comunicação. Além disso a igreja católica assumiu o protagonismo na redução dos quadros de esquerda de suas igrejas, com ataques constantes que reduziram tanto os religiosos, padres e leigos, de esquerda, quanto as comunidades eclesiais de base e fiéis, com investimento direto e apoio à grupos conservadores, como a Canção Nova, e à movimentos "carismáticos" de conduta despolitizada e conservadora. Também ancorados tanto em mídia própria como apoio de grandes meios de comunicação, como a Globo e o uso do Padre Marcelo, estes grupos influenciaram fortemente a maioria dos fiéis, que bombardeados pela mensagem que reduz a fé a seu modus operandi conservador e à interpretação das escrituras baseada em fundamentalismos, misturam o ato de crer com a defesa de valores que estão além da religião e militam na política direta.



 Outro importante elemento é o da postura das organizações de esquerda e partidos de adaptação à um "jogo" político que se pretende "mediado". Assim o confronto contra posturas e idéias não-laicas, buscando avanços democráticos e construindo uma sociedade baseada em conceitos de igualdade, foi substituído pelo cálculo político eleitoral de não desagrado a determinados setores sem qualquer compromisso com a construção democrática, mas importantes sob o ponto de vista eleitoral. O lado da esquerda isso produziu a opção da negação do contraponto à ideais conservadores que pelo outro lado encontravam amplo terreno e oxigênio para a tonarem-se hegemônicos nos partidos da ordem. Assim os partidos de centro e direita tinham quadros cada vez mais ligados ao conservadorismo e a religiosidade reacionária enquanto a esquerda calava-se na opção de não desagradar eleitores, substituindo a luta diária pela luta eleitoral puro e simples.


 Neste contexto, a estagnação dos movimentos sociais e seu imobilismo cooptado diante do governo atual, o moralismo que grassou na esquerda socialista, a negativa da percepção da centralidade de lutas como a da legalização do aborto e união civil, em paralelo com as lutas de caráter classista, se juntaram a uma ofensiva das igrejas pela retomada do protagonismo político criando o palco perfeito pro desfile reacionário a que testemunhamos hoje. O debácle do laicismo tomando o PSDB, imobilizando o PT e fazendo parte da agenda de figuras públicas como Marina Silva e Heloísa Helena, tidas como progressistas causa estragos enormes em um quadro de avanços democráticos dos últimos 20 anos. O não enfrentamento da questão da comunicação permite que a concentração midiática da burguesia tenha aliados fortíssimos  no uso do aparato ideológico representados pelas igrejas e seus programas diários na TV aberta, rádio, jornais e revistas. Ou seja, templos e meios de comunicação unidos no bombardeio diário de ideais conformistas e reacionários, que tipificam indivíduos, negam direitos civis e se pretendem guerreiros de uma pureza moral que remetem a fascismos carolas.

 O medievalismo na eleição é um crime contra a democracia e precisa ser derrotado, combatido sem tréguas e com plena consciência de seu papel na derrota de qualquer projeto progressista, de qualquer partido, mas é preciso também entender em que condições históricas se dá o avanço de uma direita religiosa com poderes suficientes para serem mais que beatas em ladainhas aborrecidas. É preciso entender que o avanço conservador é também fruto de uma política deliberada de "governabilidades" e "coalizões" que não enfrentaram forças que barravam avanços democráticos inegáveis, além disso é preciso assumir que os moralismos udenistas da oposição de esquerda, a ausência de fortalecimento de concepções de partido que priorizassem a democracia radical em oposição ao personalismo, ajudaram na criação de um terreno fértil para  um retorno de uma inquisição eletrônica e seus meios canalhas de manipulação, via medo, da opinião pública.
 É hora da esquerda reocupar os espaços perdidos, dos movimentos sociais fugirem da cooptação, de ampliar os debates e as intervenções, ampliar a disputa de consciências, para além de governos, sob pena de assistirmos ao crescimento do fascismo de batina enquanto nos digladiamos na disputa de votos e "governabilidades".