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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Ter fé é anátema?

O fanatismo religioso é um problema, e dos grandes, um de seus maiores erros é ultrapassar os limites da religião, elemento de foro íntimo, e impor uma crença como majoritária e por isso com, o direito de eliminar as outras. Não só isso, a imposição do fanatismo de suas regras religiosos a quem não professa a mesma fé ou quem não professa fé alguma tem embutido o elemento de perseguição do que considera pecado. 

É aí que temos a perseguição por religiosos cristãos a gays e a mulheres que fazem aborto, e não só, a tudo o que é considerado anátema, como religiões afro e até à sexualidade humana hétero que não coaduna com uma ideia de amor relacionada a uma moral extremamente conservadora.

Com os recentes esforços do congresso em retirar a punição do Conselho Regional de Psicologia à "psicóloga" Marisa Lobo que se esforça em defender a "cura" para gays, contrariando definições da Organização Mundial de Saúde e consenso científico a respeito da homossexualidade não ser doença a reação da população LGBT e militantes pelo laicismo, ateus ou não, foi imediata diante de mais um passo do conservadorismo na direção de um ataque à pluralidade religiosa.

E ai é que temos um enorme problema.

Há uma espécie de consenso entre os militantes LGBT e Ateus que incluem no mesmo saco o religioso fanático que sustenta atrocidade, menos por ser religioso e mais por ser conservador, ao religioso que não ataca nenhum principio de laicidade ou minorias, muitos inclusive ladeiam com a militância pelo laicismo no combate ao fanatismo. Incluem no mesmo saco católicos da teologia da libertação que não concordam com companheiros seus que mantém ainda uma espécie de conservadorismo relacionado aos LGBT, budistas, candomblecistas, umbandistas e por ai vai.

Ao dizer que o religioso ou o católico tem renda inferior aos Ateus a mensagem sutil é clara:  religioso é pobre por ser burro, o ateu, esperto, é de classe média ou mais por ser inteligente. Claro que detalhes da pesquisa onde se vê que a maioria dos que tem fé são de classe pobre ou média baixa e a maioria dos ateus e agnósticos serem de famílias de classe média alta/classe alta, o que impõe fatalmente, se incluirmos a luta de classes como conceito válido, os ateus ironicamente como parte do aparato social que sustenta o que os marxistas ortodoxos chamam de aparato de controle ideológico, que inclui a religião.

Ou seja, considerando que é mais difícil mudar de classe do que de religião podemos considerar que os ateus e agnósticos em geral possuem uma "herança" econômica e talvez até cultural que os permite com mais facilidade sair do enredo da religião, entendedores prévios via uma educação superior em qualidade que a religião é um elemento de controle que só deve ser direcionado aos mais pobres, e subalternos sociais a eles.

Optando por essa lógica poderíamos afirmar que os Ateus que idolatram a razão e consideram todos os religiosos estúpidos são ao mesmos tempo que críticos parte do problema da dominação cultural via religião, já que como controladores dos bens de produção, sendo o extrato econômico superior, são também sócios do controle ideológico.

Só que ao optar por esta linha de raciocínio acabaria pro cometer o mesmo erro de reduzir religião ou falta dela, fé ou falta dela a categorias imóveis, estagnadas e absolutas, fora de contexto cometido pelos fanáticos religiosos ao tratar de orientação sexual, questões de gênero ou de saúde pública como o aborto ou variações da sexualidade humana ou de comportamento, cultura ou até etnia sob a lente do dogma irrefletido, arcaico e generalizante.

Optar pela lógica reducionista seria afastar da luta pelo laicismo o ateu que entende que a generalização é estúpida, assim como optar pelo tratamento de todo religioso como um estúpido afasta quem tem fé e mantém claro o raciocínio e a luta para a emancipação do todo do gênero humano, tenha ele fé ou não.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Por que apoiar a marcha das Vadias?

Uma coisa sempre me dá um enorme prazer e essa é o de ler algo que me ensina e de forma profunda. 

Um dia li em alguma das redes sociais (Ou terá sido em um ponto de ônibus? ou num muro?) a brilhante frase: "Nos ensinam 'não seja estuprada' ao invés de 'não estupre'".

Não preciso dizer o impacto, preciso? A ideia contida nesta simples frase é revolucionária,  simplesmente porque questiona o eixo de formação do masculino, inclusive da ideia de prazer e amor no homem, da lógica política de dominação presente no ethos ensinado aos meninos durante sua longa estrada de formação em homens.

Essa frase e logo depois a clareza de como é catalogadora, desumanizadora, reificadora a ideia de mulher como um ente a ser tutelado, aprisionado, controlado, regido por o máximo possível de limitações e culpabilizado por todos os atos, como se um demônio provocador dos crimes ao qual é submetida, inclusive o mais vil deles, o estupro, tornaram claro para mim a  necessidade de entender que qualquer ideia de revolução ou construção libertária que não passe pela emancipação de gênero, orientação sexual e anti-racista está fadada a ser apenas uma pincelada de transformação, como a Marianne que de nua, de seios à mostra, passa a ser uma séria senhoura após o estabelecimento da república Burguesa na França do XIX.

O Brilho da colocação da marcha das Vadias como uma reação muito bem vinda à lógica civilizacional de que mulher se veste como objeto de desejo e  por isso o estuprador tem o atenuante da sedução feminina, do encanto  e do  feitiço do diabo-mulher que "embriaga" o pobre homem, não é um brilho exclusivo ao gênero. 

É um brilho que contesta o sem número de noções limitadores do humano, reducionista do homem, do ser-humano com um sem número de determinações que ocultam conflitos de classe ao tornar inimigos homens e mulheres, negros e brancos, gays e heteros.  Fazendo membros da mesma classe serem soldados de uma luta fratricida, que torna-se uma cortina de fumaça da opressão maior de classe a que estão submetidos, também pela via da moral conservadora, a grande massa de seres humanos, independente de cor, gênero e orientação sexual.

O combate à profunda educação que torna a mulher um sub-humana dentro de uma sociedade que as divida também em classes, que combate a noção da mulher como um objeto à disposição da mão do homem é também um combate à separações internas às classes que as desunem e as tornam ferramentas de desmobilização da luta contra a opressão como um todo.

O combate a cada opressão é parte fundamental da luta contra a opressão de classe, e a luta contra as noções culturais que delimitam o humano a um ser hierarquizado e oprimido,submetido a outro, seja por cor, gênero ou orientação sexual, é parte fundamental do entendimento do outro como um ser como és, como tu, não um alienígena a quem se oprime, prende, rotula, estupra.

Apoiar a marcha das vadias é ir além da moral conservadora, burguesa enfim, e é reconstruir, revolucionar a moral, a noção do outro, a noção de gênero e de nosso papel na construção de um mundo que rompa de verdade com todos os grilhões que o prendem em uma relação de propriedade, que até no âmbito do amor, e das relações sexuais é um tipo de relação econômica e de posse.

Se a propriedade é um roubo, porque a propriedade sobre o outro não o é também? Como podemos nos apropriar da sexualidade alheia, do corpo alheio, da orientação sexual alheia?

Apoiar a marcha das vadias é mais que ser feminista, é ser humano, ser humanista, ser de esquerda.

Apoiar a marcha das vadias é deixar que Marianne, que de nua foi vestida como se a liberdade precisasse de um aspecto casmurro pra ser respeitada, pudesse andar novamente nua, novamente livre, novamente plena.

PS:  Marianne é a personificação da República Francesa e quando da Revolução Francesa era simbolizada de seios à mostra, como uma imagem que rompia com todos os parâmetros do antigo, do antigo regime e da moral aristocrática, porém ao se estabelecer a república burguesa ela foi paulatinamente vestida, pois não cabia bem um símbolo da república tão imoral.

domingo, 15 de abril de 2012

Circunstâncias

Não sou conhecedor da obra de Ortega Y Gasset, mas a frase repetida por professores,   "O homem é o homem e a sua circunstância", é elemento comum em minhas reflexões.

Não só pelo aspecto de óbvia referencia ao homem como não isolado, como não ele nele mesmo, alheio ao mundo, como parte de uma rede de circunstancias, de  multi significações, de um contexto, mas muito pela ideia mais simples do ser só existir em comparação com o todo a seu redor.

Sem o outro o que somos? E como entender o que não somos? Como saber do outro?

Claro que qualquer antropólogo de esquina tem lá suas respostas, já eu só tenho dúvidas, dores, amores e conversas, talvez pra boi dormir. 

Porque não sei o outro, não o entendo, talvez nem o aceite, e neste limite entre o raciocínio e o aceitar,  o entender e aceitar emocional, talvez viva o homem.

É nessa forma de choques, preços, decisões, mudanças, visões, percepções e quereres que vivemos e queimamos. Talvez em revoluções e revoluções, constantes, eternas, internas.

E o todo político disso? Quando somos nós mesmos armas de política e limites de experiencias políticas em que entendemos que amar é poder, se relacionar é poder, falar é poder, sentir é poder? Como fazer pra juntar o socialista, o anarquista, com o anti-machista quando reproduzimos o machismo na recusa à liberdade de amar?

Quando somos claros, até pra nós, ao nos posicionarmos como elementos de fomentação prática às mudanças? Sabemos se a nossa belíssima intenção é na prática um ato de reconstrução a partir da demolição de preconceitos, ações políticas danosas à nossa lógica ideológica?  Sabemos se o que fazemos é para o outro o que o vemos? ? Vemos o outro? Como o vemos?

O anti-racista quando vê um negro em sua direção à noite e se sente ameaçado é ele neste momento anti-racista, não vê no homem negro uma ameaça e se vê o que faz? Esse ver é um ver de uma ameaça independente da cor ou a cor, a pele, o fenótipo aumentam o peso da ameaça?

Ao amar  uma mulher entendemos as diferenças, os caminhos e o analisamos sob o o ponto de vista de nossa posição no mundo, na relação, nossa posição de gênero, nossas circunstâncias de gênero?

Não tenho respostas. Absolutamente nenhuma resposta. Tenho perguntas, pois o caminho que tracei me obriga a tê-las e estas dolorosas reconstruções a partir de novas circunstâncias me fazem um homem em transição permanente, temeroso de novas ações causando novas dores, amores, perdas, mas decerto compreendendo que o saber é em si transformador e que é uma arma de ação política direta.

Não um saber iluminista de púlpito, mas um ato de radical observação do real, entendimento das circunstâncias, percepção do real e de si mesmo nele. Este ato é em si perigoso, leva a mortos e feridos, leva a perdas, à distanciamentos, a medos e a "crimes", à destruição de laços se não observado que o caminho não é só um.

"O homem é o homem e a sua circunstância", uma frase, uma forma de ver o mundo, e talvez uma arma, espero que saibamos usá-la. 




terça-feira, 27 de março de 2012

Papéis

Uma das maiores limitações do escriba, talvez inclusive como analista e como profissional de História, mas principalmente como ser humano é a imensa dificuldade de despir-me de papéis pré-concebidos e herdados que trago em mim.

A opção pelo viés da intelectualidade, inclusive artística, por vezes me parece ser uma fuga via ciência do grau de enfrentamentos necessários para a revolução que prego externa, tornar-se interna.

Convivendo cada vez mais com a militância LGBTT e Feminista sou "bombardeado" cotidianamente com questionamentos das "caixinhas" que todos usamos pra pormos os outros e a nós mesmos em papéis pré-determinados que por vezes não só nos limita, mas nos oprime.

Talvez a opressão seja mais difícil de ser percebida em nós, ativa em nós, atuante em nós como adultos do sexo masculino e brancos, mas com certeza fica patente ao percebermos em nós a opressão como agente para como o outro, mesmo que minimizada por uma feroz auto-crítica.

Ao ler, ver e ouvir relatos feministas e LGTT a impressão final é que ainda sou parte de um mundo que deveria ser abolido, onde todo o arcabouço de categorias que construo como mundo são semi-inúteis. Não que isto tenha alguma carga dramática ou de terror intelectual, mas define a limitação do modo de pensar que causa inclusive "miasmas" internos que se traduzem na posse, no ciúme, em dores inventadas, em vergonhas, em machismos ocultos, homofobias enrustidas que apesar de combatidas por um humanismo adotado e que entendo feérico ainda existem e maltratam ao outro e a mim.

A gravação dos papéis em mim, em nós, são tatuagens de cultura que são preenchidas com todo o grau de conflito entre os grupos sociais dos quais participamos, entre gêneros, entre orientações sexuais, raça. Estes papéis são um dado, uma categoria a ser trabalhada sob pontos mais fortes do que os nitidamente racionais e construídos e demolidos talvez com simplicidade pela educação, mas antes de mais nada com uma necessidade de trabalhar com força e fome nos níveis emocionais, psíquicos e não com remedinhos delirantes, mas com uma profunda jornada de auto-conhecimento.

A certeza das categorias fixas em todos os níveis atrapalham mais que ajudam, no âmbito da construção do individuo atuam inclusive como arma de perpetuação de opressões.

É preciso que nossos papéis ganhem mais cor, mais abertura analítica, e também política, e para isso é preciso um olhar profundo até o dedão do pé, como diria Gonzaguinha.

PS: Uma das razões deste post é este vídeo imenso que vi e que me emocionou sim, mas antes de mais nada reforçou necessidades de auto-crítica: http://youtu.be/ctuUqzZEZKs

segunda-feira, 5 de março de 2012

De Tudo ao meu Amor Serei Atento


"De Tudo ao meu Amor Serei Atento" , um verso de Vinícius de Moraes.



Estranho neste espaço o amor vir e vir duas vezes. Talvez conquistando da aridez da História e da política o espaço exigente dos que não se prendem nas amarras dos versos e poesias.



Mas é o súbito do amor que garante seu espaço nessas entrelinhas transversais que antes de mais nada é fundador. Pois é o amor às gentes e às diversidades que construiu cada tijolo do espaço, como quem constrói um fortim de humanidades. Nada mais justo que um dia personificado se mostrasse como quem reconquista o espaço do individuo.



"De Tudo ao meu Amor Serei Atento" ,diz o verso. E à atenção dá um tom de ação, uma urgência de uso, utilidade, arma.



Como ser atento ao tudo, ao todo, se secessionamos? Como dividir em evangélicos, negros, pobres, ricos, velhos, novos, burros, gênios, limpos, sujos? como levar a cabo o ideal democrático, uma das faces do amor, se flexionamos a democracia em uma formação de castas submersa à máscara teórica disponível?



Como sermos o todo se não somos o dois? se não somos o outro?



Essa abordagem já foi feita teoricamente aqui de diversas formas, citando a disparidade do discurso com a prática que inclua a disputa política pelo convencimento do outro e não por sua classificação como lúmpen ou sub-humano desintelectualizado e "inconsciente' ou "alienado". Porém o que é isso sob o ponto de vista do subjetivo?



Como meio amar? como ser meio? Como ser meio humanista,. meio elitista, meio socialista?



Como amar um alguém e dizer que ama uma humanidade e ao mesmo tempo não amar o outro e buscar entender o outro para além de nossas próprias e comuns deficiências de percepção do outro como tal? Como se colocar ao lado da classe trabalhadora, mas condená-la se não ouvem Schubert ou Chico Buarque e ouvem Teló? como condená-las ao limbo dos idiotas se rezam, creem, doam seu dinheiro, fruto de seu trabalho, por sua fé? Como chamar seu deus de resultado de esquizofrenia e postar-se, a meu ver cinicamente, como seu aliado, amigo, amante?



Como ser um homem para uma mulher e recusar-se a não rotulá-la como biscate, puta, séria, trabalhadora, viva, morta, autêntica, burra? Como saber o que é o outro sem sê-lo?



Eu nasci em Deus, eu nasci de Deus. A fé é para mim  a estrutura básica do que sou. A história é vista com olhos de Exu. O amor é fruto dos braços de Oxum.  Jesus me levou pelas mãos muitas vezes, Marte idem. Ogum me dá a segurança de amar ao todo e largar-me no risco da insolvência pelo excesso de convicção que só os de Logunedé tem a sorte de manter.



Eu nasci amor, fruto de amorosa rede de gentes que carrego em cada letra. Gentes que suportam o fogo de meu pouco trato social e entendem mais do que mesmo eu consigo ver.



Me é incompreensível o humano sem a imensidão do coração tornado arma. Mesmo quando a fúria autoritária se apossa dos meus passos é o entendimento corpo e alma do humano como medida de todas as coisas, inclusive das divinas, que me conduz na busca do entendimento da diversidade, democracia e liberdade como valores máximos.



E se me é incompreensível o fundamentalismo com fé, idem o fundamentalismo sem ela. Me é incompreensível o elitismo que se coloca tutor do povo em relação à cultura, que trata o funk como sub música e samba seu avô pelas praças, assim como me é incompreensível amar uma mulher sem amar seus mundos, fundos, letras, pés, mãos, corpos, almas, cheiros e voos.



"De Tudo ao meu Amor Serei Atento" , um verso. Poderia ser um lema.

Uma lema pois que retornasse a percepção ideológica do amor como ente, parte fundamental de toda ideologia humanista, que retirasse o viés que exclui a reflexão sobre o outro do combate diário pela conquista do estado. A doação diária e sensível que faz a esquerda permanecer no combate contra a opressão capitalista, que luta contra o ethos de priorizar a propriedade por sobre a humanidade, o direito ao ter sobre o direito ao ser, este movimento é um movimento de amor, uma declaração de amor ao humano. E ouso dizer que mesmo os liberais em sua fundação humanista não são outra coisa em sua busca pela liberdade contra o estado senão apaixonados pelo humano como medida de todas as coisas. Anarquistas nem se fala, são verdadeiras Biscates ideológicas (sob o prisma do Biscate Social Clube) amam numa nice, sem crises.




Esta declaração de amor ao humano não se pode permitir racista, machista ou homofóbica. Não se pode permitir transigir com o excludente. Por isso o racismo e a misoginia me atingem, mesmo eu sendo o macho adulto branco (Sempre no comando, Caetano?) .



Sem que percebamos a dimensão do Amor, ou a subjetividade do sentimento de ação libertária como Amor, nas lutas diárias elas se transformam neste eterno arranca rabo de ocupação de espaços limitados e/ou a conquista de postos.



Não é a ideia que constrói a solidariedade intrínseca na construção de laços, é o respeito e o sincero abraço, é o riso, é o copo, é o saber-se igual, mesmo que diferente.



"De Tudo ao meu Amor Serei Atento" , um verso. Poderia ser uma práxis.




domingo, 4 de março de 2012

Amor em tempos de Hóstia

A complexidade de amar não é passível de manuais, retóricas reducionistas ou bambolês retóricos aplaudidos pelas claques e ruas do comum. Amar é intensamente ser o outro . É dois sendo um e um terceiro, o caminho feito de trocas entre seres que se amam.

Em suma: amar  não é pra principiantes. 

Amar concebe caminhos de cores, jeitos, odores e humores diferentes e em  geral surpreende. Quem ama costuma não matar, e também é em tese o exemplo perfeito da abnegação para com o outro. Quem ama não falha.

Amor se virtualiza, se concretiza, dança, rebola, diz, reclama, amor é. Amor não assume infalibilidades ou se constrói na onipotência monolítica. Amor é de filho a pai, de pai pra filho, de mãe a pai, de filho a filha, de homem a mulher, de homem a homem, de mulher a mulher, de homem a bicho.

O natural do amor nasce antes dos Deuses dizerem-se legisladores, antes da definição castradora de qualquer fé. O amor nasce com o Homem. Deus eu não sei.

A História do amor pode ser divertidamente explicada na historiografia a partir do advento da concepção de indivíduo, o que grosso modo se dá no período clássico e depois novamente no pós-renascimento. Após a compreensão do ser humano como passível de ser um, também se percebe a ideia da existência do outro. O Um é pai do Outro, e o amor nasce da percepção da completude da união de ambos. 

O amor, seja ele explicado pelo instinto do autor por por seus parcos conhecimentos de História, ao definir-se encontro não delimita quem se encontra. O encontro é a percepção da  junção de dois, seja lá quem forem e como se dá o encontro.

É ai que a porquinha fofa torce o volumoso rabo diante da retomada de um aparato formatador, castrador e, no popular, coxinha, na rotulação de comportamento seja via concepção funcionalista yuppie ou fundamentalóide cristã.

Pra generosos seres dito humanos que compreendem que códigos de importância específicas aos seus fiofós são obrigatoriamente de uso geral, o amor homo-afetivo, o amor advindo de encontros virtuais, o amor concebido  como para além das receitas caseiras do que é bunda gostosa ou não, o amor inter racial, ou seja lá que tipo outro de amor, tudo  isso é anátema dos brabos e alvo de ações lindinhas que vão da ridicularização à violência.

Dai que amar em tempos de hóstia adquire um aspecto mais complexo do que o fato claro do amor não ser coisa pra crianças, ele vira também um espaço de combate e de reforço corajoso à diversidade como uma bandeira necessária. Amar é também molotov.

Um beijo, um ir, um vir, um amor de mãe que faz sexo, um amor de quem se lê e se apaixona, um amor de homens irmãos ou homens que se comem, tudo é também  um enfrentar e um conquistar ao diverso o espaço de hegemônico.

O  amor de moças entre  moças, de gentes que se amam, o poli-amor ou até a mais perversa perversão, a monogamia, são bandeiras políticas também, assim como a legalização do aborto e a luta anti-homofobia.

A luta diária contra a camisa de força das forças mal amadas é quase uma luta pela legalização do amor. 

É preciso  buscar a expansão do amor, do amor como arma, como o dito por aquele que hoje é convocado pra sustentar atrocidades, mas que trazia como palavra  de fé o Amor: Não é hora de trazer  a mansidão é preciso trazer a espada.

Se só o amor constrói é preciso a virada à esquerda para antes de um novo alicerce ser construído sejam destruídos os muros de uma moralidade retrógrada, de uma compartimentação comportamental e de um fundamentalismo delirante e atroz assassino do diferente.

É preciso fazer do amor um aríete que impeça que as Borboletas fiquem sem janelas.



quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Velho, violento e homofóbico esporte bretão

Richarlyson é bom jogador. Volante duro, marcador implacável, boa saída de bola, alguma ausência de  noção pra perceber os limites de sua habilidade, mas uma seriedade imensa. Richarlyson foi convocado algumas vezes para a seleção Brasileira pelo técnico Dunga, foi tri-campeão Brasileiro pelo São Paulo (único time que o fez de forma consecutiva) e foi muitas  vezes parte da seleção do Campeonato Brasileiro sendo em geral companheiro de Hernanes, outro talentoso volante hoje na Lazio de Roma.


Richarlyson, hoje no Clube Atlético Mineiro, o famoso Galo, de Belo Horizonte, é o que considero um atleta, e um atleta que chegou ao auge de sua carreira, tanto em títulos, quanto pelo fato de ter jogado em grandes clubes e ter uma carreira consolidada no mercado. Richarlyson também é filho de Lela, ídolo da  década de 1980 do Coritiba, e irmão de Alecsandro, centroavante que joga no Vasco.

Richarlyson tem muitas vertentes de análise de sua existência no mundo, porém ele é lembrado quase sempre como gay, embora jamais tenha se declarado como tal. Seja pelas torcidas, organizadas ou não, seja pela imprensa, a sugestão da homossexualidade de Richarlyson é um fato, um notório e repetitivo fato, que nos lembra a cada segundo a homofobia no esporte, em especial  no velho e violento esporte bretão.

O atleta em si, sua qualificação, seus títulos, suas convocações são menores que a sombra de sua virtual homossexualidade, ao ponto de uma possibilidade de sua contratação pelo Palmeiras ter gerado em parte da torcida um movimento que inclusive produziu uma faixa cuja frase "A homofobia veste verde" revela um orgulho da estupidez que até impressiona.

Não raro esta lógica é fruto do comportamento "masculinizante" radical do futebol, como se a "masculinidade" fosse hetero e masculina, e só. A energia necessária para a ação esportiva é , na cabeça de mula dos "machões", restrita ao macho hétero, os demais são fracos. Mulher no futebol? Anátema! Gay? não pode, não dá! 

Mas dá, dão e dão muito.  A própria lógica de concentração de homens em um mesmo espaço é margem óbvia e lógica do surgimento de amores, paixões, flertes, da supressão da lógica limitadora da sexualidade a partir de formatos rígidos, e não faltam histórias a respeito seja na bola, seja no exército ou em  mosteiros,né? Precisa desenhar? A própria idéia das masculinas torcidas organizadas, mesmo com a presença de namoradas, acabam por reproduzir a partir da estética marombada sem camisa a estética gay do corpo do homem como supra sumo da beleza mangalarga marchador.

E é a partir dai que a necessidade atávica do repetir ad infinitum que ali só tem macho se torna lei e se torna  homofobia e reação agressiva a idéia de um gay ser um atleta competente, duro, forte em uma posição que exige cojones e senso de porrada. Porque ali a masculinidade imensa do gay se torna reveladora. E um gay revelar que por trás de cada macho tatuado sem camisa pode ter mais um membro da arte dá nó em cucamonga.

A própria rejeição ao futebol feminino passa pela consideração de que se mulher pode entrar no jogo duro em que lugar fica meu corpo malhado machão que abraça o marombado ao lado?

A homofobia na bola, o recurso à macheza como forma de diferenciação entre torcedores, a recusa ao gay e á mulher, tudo isso é reação ao medo da complexidade do corpo e da relação dos limites de sexualidade em um campo como o esporte onde o corpo exposto é mote, ali, em ação, expondo o suor, o esforço, a rigidez, o tesão mesmo.  Ao ver um corpo másculo em ação, revelando enrustimentos, o marombado cria uma barreira de proteção ao fiofó piscante e torna o que é apenas uma reação física em um problema.

Um problema criado no medo de que o ver, o sentir e o reagir se torna permanente, se torne "desvio". O que é apenas sentido, vira tesão e o tesão vira recalque.

Por isso Richarlyson é um problema, um problema dos bons, um problema volantão porrador que sabe sair com a bola e usa calças justas e brincos.

Richarlyson e a libertação do invólucro do marombado.

Isso nem a bola marca.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Sambista não precisa ser membro da academia


Mestre Candeia não tinha este título por nenhuma conquista em nenhuma instituição de pós-graduação. Mestre Elomar não é assim chamado por anos dedicados ao estudo formal ou alguma tese escrita nos moldes da ABNT. Assim como Mestre Chicão projetava casas e prédios e como outros tantos mestres pelo mundo se espalham e encantam, por vezes cantam, por vezes montam.

O conhecimento é um amplo mar com miríades de rios que o alimentam: dos sambas na Pedra do Sal ao livro de Foucault; da discussão de Marx à leitura das Cobras; do Funk da atoladinha ao Cantoria com Elomar, Vital Farias, Geraldo Azevedo e Xangai.



A percepção do real é amplamente registrada no pensamento mágico ou no pensamento científico. A arte é registrada nas paredes de cavernas ou no Louvre, tocada na Ópera de Milão ou no Boteco do Irajá. A construção do pensamento, portanto, é feliz proprietária de uma variedade legítima de construção de interpretações do real que não facilitam em nada pra analistas tresloucados do dia a dia a partir de tantas teorias existentes sobre praticamente tudo, de Deleuze ao Joca da Padaria.

No entanto é mais difícil perceber nos "intelectuais" a dimensão do respeito à construção do outro do que no Sambista. E aí é mato construírem teses fudidaças cheias de rococós e metonímias carpadas sobre Criminalização da homofobia ou sobre "conscientização" do povo ou mais legal ainda, sobre o "empoderamento" da população. Teses fudidaças que em geral partem do mesmo problema e do mesmo equivoco fundamental: A negação do Sambista como ente pensante, ou dizendo em "Antropologuês" Fajuto, no desprezo das  categorias e motivações "nativas".

A criminalização da homofobia só é um erro sob o ponto de vista dos que a defendem como panacéia, sob o ponto de vista óbvio do combate imediato aos crimes de ódio é simplesmente o que deve ser feito, sem , obviamente, negligenciar-se o lado mais importante, que é o debate diário pra derrubadas de barreiras de preconceito. Enveredar pela criminalização da criminalização à homofobia chamando quem a defende de "direitista enrustido" é dose pra baleia grávida e  de um arrogância Intelectual que não é pra poucos, dada a especialização. 

Primeiro porque junta cu com bunda na inclusão de quem defende a criminalização automaticamente  na ala de quem é partidário desta como panaceia que tudo resolve em relação à homofobia, segundo porque descontextualiza toda  a ideia desta criminalização, os movimentos anti-crime de ódio e tira a criminalização da homofobia do cotidiano, do contexto e a leva pro terreno pedregoso e diáfano do mundo teórico fofo e lindinho.

É basicamente a tese de que é preciso levar luz aos tolos que iniciam um movimento e constroem algo que dentre outras coisas sustentam a proteção dos lutadores, assim com é preciso "conscientizar" a população e lhes "dar poder', ou "empoderar", porque a população, por óbvio, não possui a especialização necessária para saber a realidade ao seu redor, ou seja não possui consciência, e nem tem poder pra  mudar sua realidade e precisa de um ente externo para dar esta concessão, seu empoderamento.

Da mesma forma, por esta linha de conduta é preciso mudar o eixo de luta dos LGBTT porque o direito penal não resolve problemas sociais, como se a maioria dos defensores da criminalização da homofobia se pautasse nesta  bandeira como forma de resolução do problema social. Partido desta lógica não é difícil chegar no ponto de que a criminalização do machismo via Lei Maria da Penha ou do Racismo via Lei Caó são igualmente um absurdo.

As categorias "nativas", as lógicas construtoras dos movimentos o conhecimento do que historicamente e cotidianamente levam a cabo o movimento de criminalização da homofobia, ou seja, a abordagem via o conhecimento da ponta, do dia a dia dos defensores de que a homofobia seja crime, levando a cabo um combate ao crime de ódio com algum arcabouço legal de proteção são solenemente ignoradas em meio a uma abordagem um tanto quanto nefelibata que parte de uma lógica até Foucaltiana , mas sem a profundidade necessária pra demandar a sugestão ao menos de um caminho menos simplista do que armar pessoas de tacape pra levar a discussão política para o plano do "vamos ter culhão" com o culhão dos outros.

Ai o Sambista, que sem ser membro da academia sabe de algumas coisas, pergunta porque o samba é atravessado por essa opera toda quando valia um miudinho.Talvez por isso tenha povo que lhe faça imortal.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sweet Dreams (Are Made Of This)

Os dias de hoje apresentam desafios a quem lida com política no cotidiano que superam as tradicionais , grandes ou pequenas, dissonâncias entre projetos político práticos e vertentes ideológicas. 

O avanço do fascismo aliado a uma nada suspeita burocratização que imobiliza os ditos movimentos e atores de esquerda são elementos super avisados no decorrer dos lindos anos 2000 pelas forças da "esquerda radical" e até por partes da esquerda nem tão radical assim representada pelo saudoso Leonel Brizola, avô do Excelente parlamentar Brizola Neto. 

Apesar de todos estes avisos foi preciso que em um Fórum Social Mundial Temático realizado em Porto alegre, na República do Rio Grande do Sul, o companheiro sociólogo socialista Boaventura de Sousa Santos tascasse um volumoso esporro pra o aviso ser notado pela esquerda que fingia não ver até onde ia seu "pragmatismo" e sua "responsabilidade'. 

Boaventura aproveitou o ensejo de #Pinheirinho para discorrer sobre o avanço do Fascismo social e as consequências disso diante da burocratização e do imobilismo da esquerda em sua maioria, e foi mais além, mencionou enfaticamente a falta de "traquejo" intelectual da esquerda, que fica presa mais do que nunca em uma linha de comando clara, com "procedimentos" claros, respostas rápidas e unitárias, saudosismo da unidade perdida,etc e tal. O companheiro encheu a boca pra dizer "A esquerda esqueceu-se de pensar".

E ai eu achei bacana que a esquerda radical, a partir disso, foi incluída como sócia-atleta da critica  pela esquerda governista.. Agora vai, tamo junto! E eu até concordo que a crítica seja compartilhada porque a  falha é global, mas sugiro que observem com mais calma porque já faz tempo que a esquerda radical avisa aos coleguinhas balouçantes das partes íntimas dos governos sobre os riscos dessa tática de  morde-assopra pro avanço do fascismo, ainda mais pós-carolização em 2010. 

Só que convém também trazer novos sócios pro papo, porque a fascistização social não parte só do tucanato delirante, parte dos aliados cheirosinhos do governo formoso e locomotivicio da Dona tia Dilmônica também curte a tese da borrachada como método de debate político, vide os Governos Deda e Wagner com estudantes  e as remoções no Paesquistão.

Mas não nos percamos acá na troca de dedurismo entre nossa amada e nueva solidariedade no preço a ser pago a partir da omissão bundona diante do coturno andar ensaiando uma volta. Bora fazer uma DR com relação à "A esquerda esqueceu-se de pensar". Até porque não foi só a Milícia progressista Governista que se esqueceu de pensar, há um modus non pensandi na esquerda como um todo que se arrepia com relação ao pragmatismo petemedebista, mas que também de uma aversão ao povo como ele é que chega a ofender meu lado antropólogo moderninho.

Quer  uma prova? o povo religioso pro marxismo ateu proselitista é maluco, esquizofrênico e "iludido" pelos pastores e padres maus. Ou sejam, se o cara não passou na universidade ele late em várias formas e linguagem au au, de pincher raivoso a Rotweiller biba. 

Toda a dimensão de construção de laços, de simbolismo, de honra, de tradição, de estruturação da realidade do cara se resume a um agá, o que a antropologia escreveu a respeito nos mais de cem anos dela é um imenso lixo porque não citou Marx mais de cem vezes.


Outra prova? Música popular é um lixo inventado pela CIA pra destruir a "verdadeira cultura popular" estuprada pela indústria cultural.  Ou seja, "Ai se eu te pego" é lixo, mas "Carolina com K" é genial e só o primeiro é produto da indústria cultural, embora qualquer historiador que lata também Pastor Alemão fluente saiba que Tonico e Tinoco, Gonzagão, era tudo os Teló do primeiros anos do século XX. 

Sem contar que "popular" ai esquece o que o povo ouve, porque, não entende o que tem no ouvir, porque se ouve, e  de novo os transforma em um bando de cãezinhos adestrados para a estupidez. 

O  mais engraçado ai é que por vezes o mesmo cara que bate no peito pelo PRO-UNI, ignora que os alunos do PRO-UNI, inclusive os mais safos e produtivos, fodões na teoria, curtem o bonde do tigrão e o "ai se eu te pego".

Além disso tudo toda a lógica de "Conscientização da classe trabalhadora"  parte do principio de estamentos hierarquicamente definidos, onde , o que não canso de repetir aqui, o povo é uma anta desnuda e nós os "iluminados". 

Não discutimos, não pensamos, não saímos de categorias definidas como pétreas há mais de cem anos, somos mecanicistas no marxismo, ignoramos outras contribuições científicas, somos arrogantemente encastelados em uma grande ordem semi religiosa de repetição ad infinitum de fórmulas pseudo-científicas que não resistem em sua maioria às bancas mais frágeis da academia. 

Somos alienados, alienados eruditos, mas alienados. Somos alienados do real, somos cegos ao mundo, pretendemos sermos líderes de pessoas que estranhamos ao vermos dançando, que tratamos por sem cultura, sem luz, sem alma. E é aí que perdemos pro fascismo social, porque ele não esquece que as pessoas pensam, ele inclusive adora  usar as emoções pra embotar este pensamento e tirar o pior de cada um.

É claro que para que revertamos esta situação temos de escolher entre fingir que não vemos e continuar na ladainha de disputa territorial em nome do aparatismo ou correr atrás de forma humilde e clara, pesquisando, lendo, refazendo nossas formas de ação,etc.

Isso nem atrapalha o âmbito eleitoral em si se for feito de forma decente e clara, é preciso a reflexão para que construamos um projeto de esquerda que queira saber o país para além da construção do Bolsa-Família. é preciso refletir pra resgatar a utopia disputando consciências de gente que conhecemos e não de  um gado amorfo criado por uma erudição elitista.

Doces sonhos são feitos disso.