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sábado, 24 de novembro de 2012

Nota do Setorial Nacional Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL, a respeito das eleições 2012

O crescimento do PSOL em 2012 foi inegável, apresentando-se com campanhas com uma postura à esquerda, efetuando um contraponto às milionárias campanhas patrocinadas pelo PT e seus aliados nas capitais, assim como as da direita tradicional.

Ao apostar na mobilização da sociedade e no diálogo constante com os movimentos sociais, na defesa da contribuição cidadã para as campanhas, na força do voluntariado militante, o PSOL alcançou um status que o destaca como nova referência da esquerda nacional, ensaiando ir além da sua sugestão como partido necessário e ocupando um lugar que buscava desde sua fundação: alternativa de esquerda à capitulação lulista patrocinada pela guinada direitista do Partido dos Trabalhadores e sua política “pragmática”.

Ao obter 2,39 milhões de votos para candidatos a prefeito no primeiro turno, superando partidos historicamente mais inseridos na institucionalidade, mergulhados na ordem e com ela compactuando, como PV e PCdoB, o PSOL também ocupou em capitais importantes como Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza o espaço deixado pelo PT junto à sociedade e movimentos sociais.

Ao bradar que “Nada deve parecer impossível de mudar”, qualificou-se como uma oposição que resgata a dimensão da utopia, o discurso ecossocialista, as demandas do movimento feminista, do movimento negro e LGBT, abandonadas por um Partido dos Trabalhadores mais interessado em ampliar sua imensa musculatura eleitoral ao custo da bandeira histórica da esquerda mais próxima de ser rasgada. Politicamente mais respeitado e com sua bancada de vereadores/as enormemente ampliada, o PSOL elegeu seu primeiro prefeito no primeiro turno e foi ao segundo turno em duas capitais.

Estas conquistas foram levadas a cabo por uma profunda ação militante e por um discurso que se diferenciou dos partidos tradicionais, dos partidos da ordem, em uma conjuntura mais favorável que a de 2008, onde ainda recém-fundado, enfrentava um quadro onde a experiência da população com o PT ainda não havia deixado clara a mudança operada naquele partido que se filiou ao vasto ‘clube dos partidos da ordem’.

Com campanhas feitas à esquerda, o PSOL atraiu a população, especialmente a juventude, abrindo boas possibilidades de construção do partido com mais capilaridade que permitiu ampliar a defesa de um projeto de socialismo com liberdade, democracia e com absorção das lutas abandonadas por parte da esquerda e cuja importância era negada diante de um projeto de transformação que só enxergava as questões macro, que só enxergava o desenvolvimento econômico a qualquer custo, ignorando totalmente a dimensão ambiental e a de direitos humanos.

Abrem-se novas possibilidades de construção, o crescimento do partido também exige novas posturas diante da própria consciência critica da população que espera nos ver como alternativa precisa e não simulacros modernizados do que já ai está.

Diante desta responsabilidade, o que se fez no Amapá e em Belém, guardadas as diferenças entre as ações, se torna uma agressão não só às decisões partidárias construídas coletivamente como também às ações cotidianas de nossos militantes inseridos nas lutas e nos movimentos sociais. Estes tiveram o seu discurso e toda a diferença que demarcaram no decorrer de muitos anos jogadas na lama por atitudes irresponsáveis de parte da direção partidária e de figuras públicas como Randolfe, Clécio e Edmilson.

Já anteriormente advertidos pelo Diretório Nacional do PSOL em 2010, por alianças não condizentes com as definidas coletivamente pelo PSOL, Randolfe e a direção do PSOL-AP repetem em 2012 a postura de ignorar decisões do coletivo do partido ao, já no primeiro turno, apoiar, na figura do senador Randolfe Rodrigues, candidatos de partidos com os quais o DN-PSOL havia expressamente proibido alianças.

O Ato político público pelo qual foram feitas as alianças com DEM, PTB e PSDB no segundo turno da eleição em Macapá, torna mais grave a prática, inclusive pela reincidência, evidenciando o modus operandi levado a cabo em Macapá, expondo o partido como um todo não só a ataques de adversários, como provocando o afastamento da parte da sociedade que se aproximou do PSOL por nossas posturas de diferenciação, setores estes e que agora se vêem em dúvida diante de posturas que lembram a lógica do PT em sua célere caminhada para a tucanização.

A postura dúbia de Clécio e Randolfe Rodrigues ao afirmar para o partido uma coisa e outra para a imprensa, só agrava a postura levada a cabo em Macapá. Além disso, a postura dúbia contém também ataques a quem no partido se recusa a ter com uma explicação inverossímil uma relação de bovina passividade.

A preocupação menos em explicar a dúbia postura diante do gravíssimo ato público aliado ao DEM, e mais em demarcar uma posição agressiva de culpabilização de quem resiste a uma práxis por demais similar à capitulação petista e ao abandono de bandeiras histórias da esquerda, que nos opõe a partidos como DEM et caterva, guarda uma similaridade na desqualificação que a direita costuma mirar por sobre os socialistas, sendo sempre chamados de “incapazes de compreender” atos de profundo esbulho e que possuem o desagradável odor de traição, nas lutas cotidianas.

A gravidade cometida em Belém, embora tenha outras tonalidades, também guarda em si um enorme problema cuja similaridade aos malfeitos de Macapá está na lógica do ganho eleitoral ao custo de toda e qualquer limitação exposta por uma construção socialista capilar do partido como oposição à esquerda do Governo Lula/Dilma.

Além da gravidade de negociar no segundo turno mais do que o apoio do PT ao candidato Edmilson Rodrigues, mas também o apoio do PSOL em Belém ao governo Lula/Dilma, com gravação de apoio do próprio Lula, da presidente Dilma e dos Ministros Mercadante e Marta Suplicy, a campanha para prefeito o fez em desacordo com a direção municipal, levando não só constrangimento a todo do partido, empenhado em lutar contra o governo em várias frentes, principalmente em 2012 na longa greve do funcionalismo das instituições federais de ensino superior, mas, sobretudo, também levou a uma divisão entre seus quadros, que poderá resultar em efeitos nefastos para o partido no Pará.

Além de confundir fronteiras entre ‘receber o apoio do PT’ em um quadro eleitoral polarizado, com ‘construir a defesa de um governo que opõe nossa postura partidária em construir uma esquerda socialista conseqüente e alternativa a linha social-liberal do PT’, subordinada aos interesses da grande burguesia brasileira e internacional, a campanha de Edmilson Rodrigues tornou-se de fato, seu representante, um braço político da linha social liberal ao ter em seu programa Lula, Dilma e Aloísio Mercadante louvando seu governo, promovendo um escárnio simbólico da campanha majoritária em Belém para com lutadores e lutadoras que resistiram à nefasta política educacional do governo federal, sendo tratados como vagabundos pelo governo ao qual a campanha se vinculava, ao passo que deveria ser firme oposição a ele.

A campanha Edmilson ao transformar um natural, nas circunstâncias, apoio do PT, em venda do apoio do PSOL, aos governos do PT, também errou ao adotar o discurso combatido pelo partido país afora, que colocava quem se aproximava do governo federal como possuidor de “facilidades” em investimentos, discurso este combatido no Rio de Janeiro, em Fortaleza e Salvador, não só por ser este um discurso despolitizado e falacioso, similar ao coronelismo dos aliados ao governo federal, como também simbolizar a total subserviência a mecanismos viciados de governo.

Tão grave quanto os fato relatados acima, foi a postura do presidente do Partido ao optar por uma explicação dos graves feitos em Macapá e Belém de forma insuficiente, como também foram os ataques que fez a quem discordava, como “expositores do partido”, ao fazer uso de sua figura partidária para atacar a campanha em São Paulo como uma espécie de vingança pessoal por ter sido preterido pelo coletivo municipal.


O presidente do partido agiu como ‘chefe de tendência’ e não como quem tem responsabilidade política, administrativa e orgânica de zelador das resoluções partidárias. Ao tomar parte como integrante da ala defensora das práticas levadas a cabo em Belém e Macapá, atos estes praticados por membros de sua corrente, Ivan Valente foi conivente com estas ações e cometeu uma irresponsabilidade que não condiz como cargo que ocupa. Ou seja, ao não agir como presidente e sim como membro e chefe da corrente a qual também pertencem Clécio e Randolfe Rodrigues, Ivan Valente deslegitimou-se como presidente do PSOL, pois não mais tem legitimidade política para mediar as relações no conjunto do partido.

Diante do exposto, o Setorial Nacional Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL se vê na necessidade de emitir uma moção de repúdio às campanhas de Macapá e Belém que, mesmo em Macapá onde foi eleitoralmente vitoriosa, expuseram negativamente o partido perante a sociedade, construíram meios de ataque de nossos adversários onde vencemos politicamente (em cenários muito mais duros), afastaram conquistas feitas na base e atacaram lutas construídas coletivamente por sindicalistas, ecologistas e estudantes, juventude e a sociedade que busca uma alternativa à herança maldita que o PT legou à esquerda. Esta ‘herança maldita’, por sua vez, pareceu ser muito similar àquela vendida como ‘panacéia’ pela direção, em conluio com Randolfe Rodrigues e Clécio em Macapá, e com o desastre cometido por Edmilson em sua campanha em Belém.

Por último, o Setorial Nacional Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL solicita a constituição de uma Comissão de Ética, tratando dos atos de todos os que desrespeitaram as resoluções partidárias, ultrapassaram as fronteiras éticas e limites definidos por diversas instâncias partidárias, a exemplo da ação de Randolfe Rodrigues, colocando-se em confronto aberto ao que decidiu o diretório de Rio Branco no Acre, quando apoiou um candidato petista no segundo turno naquela capital e atropelou decisões de instâncias do partido em vários níveis.



PS: Esta nota teve como base a nota votada por sete membros da Executiva Nacional do PSOL na reunião realizada no dia 08/11/2012.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

PSOL E SEU ARCO CINZENTO DE ALIANÇAS: NÃO PASSARÃO!

Nota do Setorial LGBT do PSOL sobre as alianças eleitorais do partido em 2012 aprovada na reunião do setorial realizada no X Encontro Nacional Universitário da Diversidade Sexual (ENUDS):

PSOL E SEU ARCO CINZENTO DE ALIANÇAS: NÃO PASSARÃO!

Das últimas eleições sai vitorioso um PSOL construído nas lutas, no diálogo com diversos movimentos sociais e amplos setores da sociedade. Um partido socialista, militante, com um projeto político de esquerda capaz de aglutinar as reivindicações e as lutas da classe trabalhadora explorada, das populações tradicionais, mulheres, negros, LGBTT e pessoas com necessidades especiais de todo o Brasil. Foi assim que o PSOL obteve este ano cerca de 2,39 milhões de votos para candidatos a prefeito só no primeiro turno, elegeu 49 vereadores e foi ao segundo turno em duas capitais. Tudo isso fortaleceu o partido como o mais sólido agrupamento de oposição ao governo Lula/Dilma e à direita conservadora “tradicional” representada principalmente pelo campo DEM/PSDB.

Por outro lado, quando analisamos o perfil e o arco de alianças estabelecidas em certas candidaturas do PSOL, constatamos que coexistem internamente projetos distintos no que se refere à construção de um partido de esquerda socialista. Basta observar que muitas candidaturas do partido, mesmo aquelas que não eram LGBT, foram firmes em relação à pauta da diversidade sexual e não se renderam a lógica conservadora e pragmática na busca de votos. Estas candidaturas reafirmaram o compromisso do PSOL com a luta contra as opressões, pela laicidade do Estado e no combate ao conservadorismo e ao fundamentalismo religioso que atacam a população LGBT e os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Dentre essas candidaturas, destaque para o primeiro candidato a prefeito assumidamente homossexual do Brasil, o professor Renan Palmeira, do PSOL João Pessoa, cuja coragem e coerência política reafirmam o espaço das LGBT no cenário político nacional.

No entanto, muitas alianças construídas ainda no primeiro turno colocaram o PSOL lado a lado com legendas conservadoras. Foi o caso da coligação Unidade Popular em Macapá, da qual fazia parte o Partido Trabalhista Cristão (PTC) e o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), este último, integrante da bancada religiosa do Congresso Nacional. Para piorar, no segundo turno, a coligação encabeçada pelo candidato Clécio Luís aceitou o apoio do reacionário e racista DEM, em uma enorme demonstração de falta de respeito às resoluções congressuais do partido e sem que nenhuma instância de direção nacional tomasse uma iniciativa para impedir tal afronta.

Também é preocupante a aliança com o PT e o apoio da alta cúpula petista à candidatura majoritária do PSOL em Belém. Essa situação custou caro a toda militância do PSOL, em especial às militantes LGBT, que há dez anos enfrentam um duro processo de cooptação e institucionalização do movimento imposto pelos governos Lula e Dilma. Esse processo, aliado às alianças eleitorais do PT com setores fundamentalistas, que ampliaram sua bancada no Congresso Nacional de forma significativa na última década graças a sua vinculação ao Governo Lula, resultou em uma desastrosa política de flexibilização dos direitos LGBT, como ficou claro no episódio do veto da Presidenta Dilma ao Kit Escola Sem Homofobia em 2011. Enquanto isso, centenas de LGBT são assassinados todos os anos no Brasil - foram 266 só no ano passado – número que deve ser superado em 2012, segundo dados da ONG Grupo Gay da Bahia.

Outro fato não menos indigesto para a militância do PSOL nas últimas eleições foi a aparição da ecocapitalista e homofóbica Marina Silva em algumas candidaturas de destaque do partido, como a de Edmilson Rodrigues para prefeito em Belém e de Jefferson Moura para vereador no Rio de Janeiro. Marina, que durante a campanha presidencial de 2010 se recusou a segurar uma bandeira do arco-íris para demonstrar apoio à causa LGBT, está aliada a alguns dos setores mais conservadores do neopetencostalismo brasileiro. Não faz sentido que o PSOL, na condição de referência nacional na luta contra a homofobia, se vincule a uma liderança de traços tão conservadores.

Esses fatos demonstram a incompreensão de alguns setores que constroem o PSOL no que diz respeito ao papel estruturante das opressões para a exploração capitalista. Em nome do vale-tudo eleitoral, esses setores não pensam duas vezes antes de flexibilizar a pauta LGBT, colocando o partido na vala comum do fisiologismo político. O combate à homofobia, assim como o combate ao machismo e ao racismo, não pode ser tratado como um apêndice do programa partidário, tampouco como uma luta setorial cuja tarefa é de responsabilidade de um pequeno grupo de militantes de base. Ela deve ser uma discussão central para todos os militantes, como já foi diversas vezes na curta história do nosso partido. Um bom exemplo foi o protagonismo das mulheres no II Congresso em 2009 para garantir a permanência da resolução sobre a legalização do aborto e o beijo gay exibido durante o programa de TV do partido na campanha eleitoral de 2010. Nessas ocasiões, o que vimos foi um PSOL coerente com seu programa fundacional, que não tem medo de avançar na construção de um polo de esquerda verdadeiramente antiracista, antimachista e antihomofóbico.

Apesar de tudo, o resultado das eleições nos mostra que foi esse PSOL quem saiu vitorioso das urnas. Dos 49 vereadores eleitos pelo PSOL, 14 foram eleitos sem nenhuma coligação proporcional; 19 coligados com o PCB e/ou PSTU; e apenas 8 com coligações com outros partidos do leque de alianças aprovado pelo DN (aí incluídos tanto partidos do campo do governo federal, partidos de direita como o PPS e legendas de aluguel de direita, que foram aprovadas pelo DN contra nosso voto). Além disso, foram eleitos outros 7 vereadores filiados ao PSOL em coligações que incluem partidos de direita fora do leque de alianças aprovado pelo DN. Isso significa que, na prática, os melhores resultados eleitorais foram obtidos sem concessão programática, alianças oportunistas ou pragmatismo eleitoral.

Diante desta situação, e tendo em vista a necessidade de fortalecer um PSOL verdadeiramente socialista, militante e compromissado com o combate às opressões, exigimos que o Diretório Nacional do Partido, em sua próxima reunião, tome as medidas necessárias para ouvir, analisar, se posicionar e se possível expulsar os vereadores e dirigentes responsáveis por restas alianças espúrias. Pedimos ainda a todos as militantes LGBT do partido que se recusarem a coadunar com essa grave situação, que subscrevam esta carta e divulguem o conteúdo em seus estados de atuação.

Setorial LGBT do PSOL

Assinam esta carta xs militantes:

Evelyn Silva (Niterói-RJ)
Rodrigo Cruz (Campinas-SP)
Tulio Bucchioni (São Paulo-SP)
Dário Neto (São Paulo-SP)
William Santana Santos (São Paulo-SP)
Henrique Condesso Nicodemo (Poá-SP)
Gustavo Mineiro (Fortaleza-CE)
Cesar Fernandes (Curitiba-PR)
Leandro Galindo (Niterói-RJ)
Warley Martins (Rio de Janeiro-RJ)
Eduardo Gomes Pereira (São Paulo–SP)
Frederico Sosnowski (São Paulo-SP)
Bruno Zaidan (São Paulo-SP)
Vitor Gregório (São Paulo-SP)
Matheus Pacheco (Rio de Janeiro-RJ)
L. Tunã Nascimento (Niterói-RJ)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Navegar é preciso: pequena avaliação das eleições 2012

A caminha da esquerda partidária nunca foi baseada no purismo simplista que arrotam "sábios" e "ponderados' membros da blogagem "progressista" ou da imprensa corporativa (cujo comportamento e modus operandi se confundem e refletem). 

A dura caminhada plena de contradições internas e externas, relações perigosas dentro ou fora do arco de alianças "puro-sangue", sempre foi marca de uma esquerda onde no passado logo após sair da cadeia abraçou o ex-algoz Getúlio em nome da resistência diante de uma direita entreguista representada pela UDN e que crescia para controlar o governo.

Também no decorrer dos anos 1990 a pressão para a ampliação do arco de alianças sobre o "radical" PT foi a marca daquela caminhada que corria em paralelo ao amainar também das lutas cotidianas e das necessidades e combates dos movimentos sociais, já imersos na correia de transmissão do projeto de eleição do primeiro operário presidente da república, que ocorreu afinal em 2002.

As contradições e a quase que universal pressão para "a ampliação das alianças" não são, portanto, novidades para a esquerda e, nem tampouco o PSOL se livraria do discurso que perseguiu o PT durante os anos 1990 e vencendo neste partido levou aos píncaros da ampliação e flexibilidade programática que foi o abraço ao Maluf em São Paulo, com resultado positivo eleitoralmente (Politicamente são outros quinhentos).

No próprio PSOL esse discurso permeou o partido no primeiro e segundo turno, com ênfase no nebuloso projeto de Macapá que incluiu até um apoio no segundo turno, com cheiro de aliança, do fatídico DEM, abraçado pelo senador Randolfe Rodrigues e seu pupilo Clécio com o ardor dos que vêem ali a saída para todos os males. 

Este ardor aliancista cuja lógica aparentemente "racional" não distingue "flexibilidade" e ampliação de alianças com acordos complexos com setores representantes da ala da sociedade cuja construção do PSOL se buscava combatente, fomentou discussões que retornam ao período onde essa mesma carga de debate era aplicada para a diferenciação óbvia entre aliança com amplo arco da sociedade de acordos com partidos que representam o controle político conservador sobre o estado. Ou seja, a discussão que havia de 1990 a 2002 no PT, não morreu lá, e continua no PSOL, numa busca de amainar uma "radicalidade" que muitas vezes é tachada de sectária quando pro vezes tem o cálculo político da diferenciação em prol da ampliação da capilaridade social para além da institucionalidade.

Confundindo capilaridade política com capilaridade eleitoral o "aliancismo" se joga numa busca de "musculatura" eleitoral que se utiliza do maior número de malabarismos possíveis pra justificar arcos de alianças pra lá de ecléticos e que pouco se assemelham a uma construção horizontal de alianças com a sociedade, tendo muito mais a cara, inclusive em seus atos de formalização, das velhas e velhacas alianças entre senhores e coronéis, no acordo de cavalheiros que sustentam não uma mudança estrutural, ou mesmo um ensaio disso, nos locais onde ocorrem, mas sim apenas mudanças pontuais de controle do aparato do estado, e isso quando vão além da mudança dos chefes de governo locais.

Sob a alegação da necessidade de crescimento partidário rumo a constituir-se uma alternativa ao poder atual repetem-se os erros que conduzirem o projeto atualmente hegemônico ao poder, e com singular similaridade.

O interessante é que estes movimentos ocorrem quando em centros maiores e com uma realidade política extremamente mais complexa, projetos com um saldo organizativo político-partidário local foram muito além das fronteiras  da cidade e se tornaram referências nacionais pela capacidade de ir além das fronteiras do partido e da concepção de alianças com legendas com pouca ou nenhuma proximidade ideológica como único eixo de atuação política. Esses projetos ocorreram em disputas eleitorais de profunda dureza como no Rio, Salvador e Fortaleza e com um saldo organizativo palpável, com ampliação de ocupação de espaço político à esquerda, sem sectarismo e  com diálogo amplo na sociedade e profunda aliança com movimentos sociais e coma  sociedade civil organizada sem nenhum tipo de discurso hermético ideológico e com um arco profundo de politização dentro dos marcos da discussão de projetos de cidade.

Esses projetos possibilitam um avanço para além do carisma individual desta ou daquela liderança e a construção de coletivos militantes que possibilitem um crescimento sólido e que penetre transversalmente na disputa política sem precisar de acordos estapafúrdios com caciquetes locais em nome de uma duvidosa vitória eleitoral com profunda desconfiança não só do partido, mas como da sociedade brasileira.

No mesmo plano de discussão a questão de Belém representa um ponto de reflexão sobre os limites de um determinado tipo de pragmatismo em busca da eleição por si mesma. Embora com menos ardor "pragmático'' que deu a Macapá o título de líder no quesito alianças sui generis, a ampliação de alianças em Belém também obedeceu uma certa flexibilidade  que foi tolerável no primeiro turno e que degringolou no segundo quando a sanha pela vitória tornou o apoio do PT em aliança programática com inclusive anuência de Lula em programa de TV.

De uma campanha com a presença de parte da base de apoio ao governo federal, mas ainda dentro dos marcos de um discurso do PSOL mais macio, a campanha de Edmilson Rodrigues no segundo turno tornou-se praticamente uma anti-campanha do PSOL ao tornar-se uma campanha ratificadora de um governo ao qual o partido mantém fervorosa oposição e concordância com programas deste governo cujo partido e movimentos sociais ao qual o partido é próximo compõe profunda oposição, combate mesmo, como o "Minha Casa,Minha vida" ou a  política de educação que gerou as prolongadas greves no ensino federal.

A participação de Mercadante na campanha de Edmilson representou um imenso problema pra metade mais um do partido que compuseram a liderança nas greves. A de Dilma ofereceu a quem combate a política ambiental do governo, Belo Monte, política indigenista, a dura face de verem-se desrepresentados pelo outrora candidato que em Belém era seu representante. Marta por sua vez lembrou a quem luta pela ampliação dos direitos LGBT a complicada ação da Senadora na negociação que levou ao arquivamento do PLC 122 no senado. Pra completar Lula em sue discurso auto-congratulatório pelas realizações de sue governo  representou como se uma vitória simbólica do projeto que ele representa sobre a dissidência que fundou o PSOL. 

O resultado disso tudo, obviamente somados a outros tantos fatores, não foi exatamente oque o partido em Belém esperava levando à derrota eleitoral e possivelmente política ao causar tantas fraturas na base de apoio partidário e nos movimentos sociais.

Neste mar de contradições, vitórias e derrotas que se ergue um PSOL que hoje possui um quadro muito mais complexo e positivo que outrora, desde sua fundação, dado que permite uma construção ampla, com participação coletiva e leitura ideológica sem ser fechada, hermética, e impossível aos não iniciados, e também inclui em debate o alcance de determinadas vitórias cuja metodologia pouco difere das dos quem abrimos fogo no combate político diário. 
Além disso o excesso de independência de determinadas instâncias com relação à direção nacional, como o de figuras públicas em sua relação com a conjuntura nacional e  local é um bom tema de debate, dado que tanto o Senador Randolfe sustentou as alianças sui generis em Macapá como atropelou a instância estadual do Acre ao poiar o mesmo candidato do PT que a instância local negou apoio.


A omissão de parte do diretório nacional na discussão destas questões também é uma pauta que deve ser debatida para que o PSOL não viva sequestrado como partido pelas suas lideranças ou correntes que controlem cargos dirigentes evitando que como em 2010 tenhamos ruptura pública ao ponto de sites serem furtados.

É neste mar que o PSOL hoje navega, o caminho que tomará dependerá tanto da mobilização dos navegadores quanto da conjuntura externa, das marés. 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Vai ter segundo turno.

Eu queria falar da construção da tradição da guerra aos pobres, da criminalização da pobreza, das classes perigosas, aprendizado lido no livro "Cidade Febril" de Sidney Chalhoub.

Também queria questionar o combate ao fundamentalismo religioso em busca de uma razão neo-iluminista que no fim e ao cabo é a reprodução da lógica de que tudo e todos que possuem fé são imbecis.

Também pensei em escrever sobre a permanência de proto-intelectuais num nicho de lógica, se é que podemos chamar de lógica, que manifestam seu entendimento do real como superior ao de outrem, especialmente se estes outros não são doutos,letrados, e que definem o que não é científico, entendendo-se o científico  com uma fé enrustida na neutralidade da ciência que faria inveja nos intelectuais do século XIX, como subalterno, imbecil, idiota, como se o conhecimento tradicional (ou o conhecimento mágico) não fosse ele mesmo muitas vezes tão ou mais racional e empírico quanto o pensamento e conhecimento científico. 

Também pensei em retomar a lógica do vanguardismo, da defesa de uma antevisão que parte da sociedade tem que sua percepção do real lhe garantiria uma liderança automática por sobre os demais, ou em termos mais rudes, por sobre o gado, o populacho, a choldra.

Tudo isso foi pensado para ser escrito como tema de minhas atualizações do blog, que se buscam semanais, porém foram todos, um a um descartados, não por não serem temas importantes ou se não fosse possível escrevê-los, mas porque um misto de cansaço, sensação de dever cumprido e encanto se apoderou de mim ao fim desta belíssima campanha para tentar eleger Marcelo Freixo e Renato Cinco neste pleito de Sete de Outubro de 2012.

Durante todo o tempo de campanha lidei com novas pessoas, entendi novas paixões, novas razões, novos meios de entender o cotidiano, vivi, ri, chorei, tomei chuva; panfletei superando minha aversão ao panfletar; sai de casa para além das obrigações e da diversão superando um desejo e uma preguiça de quase nunca sair do teto; monitorei redes; enlouqueci de raiva a partir de ataques rebaixados de adversário, ex-companheiros e até ex-amigos; Sofri com raiva do fogo amigo que infelizmente se torna comum na esquerda; aprendi novas leituras; aprendi novas pessoas e realcancei a utopia, mesmo tímida, de mudar o mundo.

Foram quase três meses de muito trabalho diário nas redes, algum trabalho no cotidiano das ruas, de muito papo com colegas de faculdade, de muito texto, muito debate, muito sangue doado, muito suor e muito amor doado pra uma campanha. Só não doei dinheiro porque não tenho.

Foram quase três meses após mais de seis meses afastado do PSOL por divergências internas, por uma necessidade de reformulação interna minha de repensar o político pra mim, a política, a ideologia. Foram quase três meses onde a busca pela retomada da dimensão da utopia para a cidade e o país coincidiam no mesmo movimento para a retomada desta dimensão em mim.

Uma campanha onde deixei pendurada na porta uma vaidade minha, um desejo de ser vanguarda que sempre atrapalhou e que me impedia de aprender com tanta gente que hoje faz parte dessa tanta gente que trago em mim onde quer que eu vá.

Uma campanha onde reouvi canções minhas, eternas, nossas, de coração aberto, razão aberta, de estudo aberto, onde estudei a cidade para transformá-la e pra pesquisá-la, onde vi as cidades e a luta contra a construção do projeto de secessão nela no discurso do meu partido, da candidatura majoritária, do meu candidato a vereador, em meu projeto de pesquisa e mergulhei nisso, nessas convergências, convencido que nada deve parecer natural e nada deve parecer impossível de mudar.

Esse texto é o que eu consegui fazer para agradecer a todos, ao candidato e companheiro Marcelo Freixo, ao candidato e companheiro Renato Cinco, aos candidatos e companheiros Eliomar Coelho, Mc Leonardo, Babá, Futuro e tantos outros que tão ai e estarão tentando construir o PSOL e enfrentar a barra de combater milícias, empreiteiras, tratores, oportunistas, nesse cotidiano de tanta pancada que a gente leva como trabalhadores, com os trabalhadores, com os movimentos sociais. 

Esse texto é também um agradecimento ao Leo Uchoa, à Luisa Côrtes, Pedro Souto, Raoni Tenório, Paulo Cople, Cássio Venturi, Jorge Borges, Bid Teixeira, Luciene Lacerda, Luiz guilherme Santos, Silvio Pedrosa, Gustavo Ribas e tantas outras pessoas que fui de alguma forma conhecendo e achando bom e lidando com elas da tarefa de tentar fazer das redes e das ruas um espaço nosso, de uma campanha nossa, alegre, militante, amorosa, entregue à luta. Agradeço também a todos eles por me reapresentarem uma forma de fazer política, aguerrida, brigada, mas sorridente e feliz.

A gente agradece enquanto espera e descansa depois de um dia panfletando, guardando forças para abraçar o Maracanã amanhã dia 06/10 às 11:00 hs da manhã e pra depois refazer todo esse percurso no segundo turno.

Cês sabem,né? Vai ter segundo turno!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

As distorções que as opções causam

A campanha eleitoral no Rio de Janeiro já começa a causar alguns efeitos estranhos no comportamento militante e midiático da situação.

Diante de uma explanação clara do candidato Marcelo Freixo em critica ao Minha Casa, Minha vida , onde ele critica a construção dos conjuntos habitacionais em locais sem infra-estrutura de saneamento, transporte, saúde e educação e em áreas sob o controle do crime organizado para-estatal, mais conhecido como milícias, a tropa de choque virtual governista adotou a tática do "Vai dizer isso pra quem foi beneficiado pelo programa", desviando a crítica sobre o planejamento descuidado (Pra ser bonzinho) e mal executado para o eixo do emocional "caridoso" do "Olha as pessoas que ganharam sua primeira casa", ocultando também que foram removidas de suas casas de maneira ilegal para serem enviadas para locais ermos e sob vulnerabilidade que a política de segurança do PMDB, a quem apoiam, em quase oito anos não deu conta de resolver. 

E fazem isso a partir do que Marcelo Freixo coloca na seguinte análise presente na matéria do jornal: 

                 — O programa Minha Casa, Minha Vida estimula o crime organizado. Cerca de 87% do empreendimentos estão nas partes mais afastadas da Zona Oeste, sem acesso a transportes, saneamento e emprego. São condomínios em regiões dominadas por milícias — disparou o candidato ao apresentar suas propostas de governo para o sindicato. 

Ou seja, a distorção é total e sem nenhum tipo de filtro, é orquestrada, não é ausência de entendimento, é uma busca de desqualificação do candidato porque é proibido para essas pessoas uma critica a qualquer programa do governo. E pior, quando o Candidato mantém a critica e a qualifica ainda mais saem com o adágio: "Teu partido é o que te enterra". 

Essa última observação diz muito sobre quem substitui o Partido dos Trabalhadores por um condomínio de adoração fanática da Luis Inácio Lula da silva. O partido, programas, debates, correntes internas, divergência, construção coletiva? "O Partido é o que te enterra" respondem. Baseado nisso avaliam que tudo o que é parte da construção da figura pública e é coletivo, que sai do controle autoritário é anátema, sejam parlamentares, militantes, intelectuais, qualquer coisa que crie um coro de diversidade, organizada ou não, é ameaça ao ethos e ao logos do neoPTcostalismo.

Vejam bem, os neopetistas não ligam pra apoiarem um prefeito do PMDB "por contingencia" mesmo ele sendo supostamente ligado a milicias e tendo suposta ação com grupos criminosos que pressionam moradores da Zona Oeste já agora para que nem façam campanha para adversários e muito menso votem neles, sob ameaça do clima "ficar mais sinistro" nas palavras de moradores. 

Se não ligam pra isso, imagina para o fato dos governos federal, estadual e municipal construírem condomínios sem infra estrutura mínima em locais dominados pelo crime organizado e sem nenhuma intervenção que garanta a segurança das pessoas, quanto mais sua qualidade de vida. Se a ligação com milícias é aceitável, construir em área de milícias também o é, não é verdade?

Pra completar a distorção do noticiário, culpam o PSOL de acordos com a Veja, diante de capa da mesma revista elogiando o governo que dizem popular pelas ações de fomento ao capitalismo dizendo se tratar de um benéfico (para a revista) "choque de Capitalismo" levado a cabo por aquela a quem Eike Batista corretamente chamou de "Margareth Tatcher Brasileira" e diante do fato do PSOL ainda nem ter votado pela convocação do diretor da revista e o que já havia decidido fazer. 

Ao culpar o PSOL talvez façam o serviço sujo de ocultar que o PMDB do aliado Paes é parte da tropa do acordo com a Veja que evita a convocação do diretor da revista à CPMI do Cachoeira. Além do aliado PMDB, há o aliado PDT na figura de Miro Teixeira, representante do PDT de Brizola Neto, atual ministro do trabalho, atuando como uma espécie de advogado de defesa da mídia, a quem os cínicos chamam Golpista (a tal PIG), em especial da Veja e das organizações Globo.

A tudo isso o silêncio é a resposta e a criação do PSOL como espantalho, talvez por este partido ter anualmente parlamentares eleitos como melhores do congresso, é a mágica que faz com que o véu de fanatismo do que se tornou a militância do PT seja mantido na base da mentira, do cinismo e da truculência.

Esse novo modus operandi inclusive nos leva a indícios a respeito da autoria de ataques baixos sobre Marcelo Freixo e sua defesa da legalização do aborto e da legalização da maconha , reproduzindo oque o tucanato e seus aliados conservadores religiosos fizeram com Dilma em 2010 e que, pasmem, hoje são feitos por apoiadores da chapa do PT/PMDB, outrora alvo, contra Marcelo Freixo.

As opções pela distorção, a opção pela satanização do adversário, pela construção de espantalhos baseados em mentiras e irracionalidade fanática acaba por gerar um movimento de autodestruição da imagem de quem buscava-se "iluminado salvador dos povos". 

A opção pelo caminho fanático, com tintas stalinistas, agressivo, irracional, que para "vencer" o adversário acaba por demolir qualquer limite ético, e não estou falando de moralismo lacerdista, levou aos alvos da mais suja e difamadora campanha da história, 2010, a reproduzirem métodos serristas contra um candidato que ameaça de alguma forma o domínio de parte do campo da esquerda, e quiçá ameaça a manutenção da prefeitura do Rio de Janeiro (Leia-se cargos), em mãos aliadas.

Essa mesma opção leva a massa de apoiadores irracionais a ignorarem ataques cotidianos aos direitos dos trabalhadores federais em greves, atacados pela mídia, pelo PT e pelo governo repetindo o que faziam antes os tão odiados tucanos.

Talvez por tornarem o partido um problema diante da necessidade de sacralização das lideranças e figuras públicas do PT, o governismo acéfalo irracional insuflado pela burocracia das migalhas tenha perdido a dimensão do que é a política de esquerda, do que é o coletivo e a necessidade de algum tipo de ethos que nos diferenciem do que chamamos de direita e que combatemos, ou dizemos combater. Ao esquecer isso a militância neoPTcostal se assemelha a um bando de Bolsonaros, aliado ao governo federal, alguns muito parecidos até na misoginia homofobia e racismo.

As distorções que as opções causam não ocorrem só no discurso, na tática ou na ação consciente, acaba por levar à distorções de caráter, sejam eles perceptíveis por quem assim age ou não, e a distorções de forma de pensar. Por isso vemos a opção pelas mega obras em detrimento do ser humano, pelo tratamento de índios como "Nômades", de mulheres, idosos e gays como lixo.

As distorções que as opções causam acabam por irem além de ser uma opção tática da política partidária e vira traço de caráter e este traço de caráter diz muito sobre o homicídio do PT pós-2006.

Diante destas distorções nos cabe rebatê-las com política, pois política enche praças.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O Tempo da Política

A política no brasil, é notório, é definida popularmente como detentora de um tempo próprio, de um período onde é dado a ela o papel fundamental na vida das pessoas e onde a discussão política ganha um espaço privilegiado. 

Este tempo é, óbvio, o tempo das eleições, onde inclusive há a lenda do aparecimento, do avistamento, dos políticos, que são entidades disciplinadas pela periodicidade de quatro anos e pela oferenda da representatividade de do prestígio local no "fazer", também conhecido como "construir".

Os políticos são também tidos como entidades limiares, ou seja, cuja ética e moral não obedece ao padrão coletivo ou "superior" e cuja manifestação tem uma cara e um cheiro específico que relembra o lado negro da força.

Ironias à parte, essa visão é tanto uma construção de uma tradição baseada na experiencia cotidiana, empírica, pela população como resultado da redução da política ao voto e à participação nas eleições como atores, cabos eleitorais, elementos de prestigio nas comunidades pelas relações com quem "traz benefícios" para a comunidade,etc. Essa redução é uma carona que parte do aparato midiático pega na tradição da política anti-democrática tradicional no Brasil (diria que no mundo) para reduzir a participação popular ao ato de votar e inibir ações concretas de transformação via ativismo.

A ação que transforma a política em ação restrita dos políticos e afastada do cotidiano da ação popular direta é também vista na noticia das greves como privilégios, das manifestações como atrapalhadores do trânsito, de reajustes salariais como "Bônus" e não como direitos e que comparam salários como se um trabalhador melhor remunerado fosse  um "marajá nomeado" e não um trabalhador que vende sua força de trabalho em troca de salário como o gari, o guarda, o balconista, todos com direito à greve.

O tempo da política da sabedoria popular é uma análise da sazonalidade da presença do estado via poder legislativo e executivo nas comunidade, mas também é usado como referência da política como algo afastado do cotidiano e com trânsito impossível pro popular, especialmente nas grandes cidades onde a circulação do poder nas ruas é restrita.

Esse afastamento da vinculação de greves, manifestações e ativismo do que é chamado de política e que leva às pessoas  entenderem a política em espaços "de relaxamento" como uma afronta, dado que para muitos existem espaços "alheios e independentes da política", e por isso aparecem nas redes sociais, festas e praças reclamações sobre a presença de manifestantes e militantes como invasores, dado que para a maioria da população o militante não é um defensor de um ideal, mas um cabo eleitoral pago para a propaganda política e ou diretamente interessado pro razões pecuniárias ou de influência na eleição de x ou y, como s1e a política fosse apenas a apropriação do aparato do estado para fins privados.

A visão sobre a apropriação do estado pelas forças políticas em disputa não é nada contrária à realidade cotidiana, inclusive fortalecida pela ação inclusive de forças de esquerda neste aspecto, só que restringe a política à reprodução da privatização do estado pelas forças hegemônicas da política cotidiana que vive em nossa história desde sempre, mantendo a tradição monárquica que sustentou a  formação do estado nacional brasileiro. 

Este estado, formado a partir da lógica de laços sanguíneos como fundadores da tradição política nacional, foi mantida inclusive pelo estado republicano que ampliou o caráter liberal do estado brasileiro redesenhando a correlação de forças interna a ele apenas quanto à redivisão do poder no seio da oligarquia e não ampliando democraticamente o controle do poder para o todo da população. 

Caia o imperador, mas não se alterava significativamente em que mãos se assentava o poder, tampouco se alterava a lógica de tutelação da população e de identidade deste como um mero observador do cenário político. Dá pra perceber que a ideia do povo como protagonista da história ainda permanece como anátema nas colocações deste como um mero bestializado cotidiano, especialmente e infelizmente nos círculos da elite que se pretende esclarecida, lógica de bestialização que ainda considera a população como distante do esclarecimento necessário para a ação política.

A construção desta lógica é feita tanto pelo trabalho cotidiano do aparato ideológico de manutenção da dominação de uma elite por sobre a população e que constrói a história ocultando as lutas cotidianas que levaram pela pressão grevista ou pelas revoltas contra remoções à conquistas de direitos pela população ( como a CLT, a construção de movimentos sociais de resistência às remoções, partidos e sindicatos) quanto pela opção tradicional de formação da memória brasileira que preferiu a personalização da história à crítica que incluísse democraticamente todos os atores da formação do Brasil no cenário da Grande História. 

O resultado desse processo é o Tempo da Politica, ser um tempo institucional, dado externamente ao cotidiano popular e onde se entende o espaço popular de obtenção junto aos políticos  do que não conseguirão ao fim deste tempo.

À Esquerda cabe não só a ação cotidiana e o redefinir da participação política neste período e também à ampliação do circulo de ação política para além da demarcação eleitoral, mas também a redefinição de seu papel "educacional", não como um tutelador de um povo bestializado que precisa de "consciência", mas como um reprodutor do que se entende por História, como um ampliador das discussões que revelam ao povo sua tradição de lutas e que lhe permitirá a construção de sua consciência pela consciência de seu próprio passado. Esta consciência sendo não a "doação de luz", mas um retirar dos véus que a história tradicional usa para ocultar o DNA do povo na formação de um país cujo DNA é mais seu do que da elite que se apresenta como "proprietária" do Brasil, quando no máximo parasita um país formado pela força popular, pela força da cultura popular.

O Tempo da Política é o tradicional período de eleições, mas cabe nele a ampliação que só pode ser feita pelo trabalho cotidiano de quem entende este tempo como o respirar cotidiano, também chamado Vida.




quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dos 18 Brumários e outras histórias

Existem muitas similaridades na história recente do PT e a da Social-Democracia europeia, incluindo o Labour Party. Existe também similaridades entre PT e PSOL, em seu modus operandi e construção de tática e estratégia política e político-eleitoral. Essas semelhanças tendem a parecer uma repetição como farsa de histórias anteriores e suas similaridades podem trazer uma sombra de inexorabilidade nos atos, nas ações políticas, na política de alianças que por sua vez tem muito menos de determinismo histórico do que de manutenção de uma cultura de organização que acaba por repetir-se pela ausência de outras formas entendidas de ação.

As Social-Democracias europeias e o PT não atuam de forma similar na migração de partidos anti-ordem para partidos da ordem porque um lei natural assim determina, mas pelo compartilhamento de tanto métodos de organização partidária quanto de métodos de profissionalização da militância, de quadros e aparelhamento do aparato do estado, sindicatos, movimentos e organizações estudantis. 

Esse modelo de organização tática, com diferenças claras de contexto, conjuntura e particularidades regionais, acabam por afastar o corpo da militância "espontânea", não orgânica, e o militante ideológico, que entende por norte um conjunto de bandeiras e políticas cujo papel de transformação é mais importante que o da manutenção. 

E a questão da oposição entre transformação e manutenção é bastante simples de entender, o partido ao estruturar-se dentro do aparato do estado ou de aparatos sociais que são parte integrante da sociedade atual, e regidos pelo sistema político-ideológico e cultural atual, acabam substituindo o objetivo de transformação e superação do sistema pela redução de danos deste até o momento em que começam a defendê-lo de forma a evitar transformações consideradas radicais, mesmo que dentre elas estejam conquistas que são ainda bandeiras levadas a cabo por liberais quando das revoluções burguesas e abandonadas por estes, recuperadas pela esquerda e de novo abandonadas.

No caso das Sociais-democracias europeias a defesa da austeridade liberal e no caso do PT na defesa de mega-empreendimentos abertamente criticados por ambientalistas, na venda da defesa dos direitos LGBTT e das mulheres, no abandono de limites à aliança partidária e na participação (alguma vezes comandando) e apoio a governos que atuam atacando direitos da população mais pobre.

O preocupante disso tudo é que o espaço de atuação das forças de esquerda acaba reduzido a uma órbita de partidos que paulatinamente se afastam das lutas da esquerda, mantém refém a seu redor militância de esquerda valorosa e duvidosa do papel de alternativa desempenhado por partidos que não estão no círculo vicioso da burocratização, como o PSOL.

O PSOL não assume definitivamente o papel de alternativa à este processo de burocratização do PT exatamente por repetir alguns modelos de organização e de alianças que acabam por levar a dúvidas a quem está desiludido com as movimentações do Partido dos Trabalhadores. 

Ao mesmo tempo que o PSOL é valoroso defensor das bandeiras de esquerda abandonadas pelo PT, seus governos e muitos de seus militantes, atua no plano as alianças mantendo um perigoso desprezo à simbologia da busca do apoio do PV, que inclusive apoiou Serra. 

O PSOL também tem um perigoso domínio interno das figuras e aparatos parlamentares (excelentes parlamentares,é bom ressaltar)  e quadros que representam uma elite partidária muito mais afeita à decisões em petit comitée  do que a decisões coletivas que dependem de processos mais demorados e que envolvam um conjunto de militantes, que por irem além da claque também se tornam valorosos e incansáveis lutadores por participarem de todos os escopos das lutas e bandeiras (E candidaturas) levadas a cabo pelo partido.

A ausência de instâncias orgânicas estabelecidas e funcionais, com uma ampla capilaridade, não é falha, é também uma concepção de partido que estabeleceu um partido parlamentar e com perigosa tendência à burocratização. Isso vem menos pro uma maldade atávica e mais por uma similaridade de organização tática e estratégica, que acaba por criar elementos que parecem leis deterministas e  naturais. De tanto repetir uma mesma forma de "cortar uma madeira" cria-se um modus operandi que acaba por empiricamente reproduzir resultados similares.

Em um momento onde Lula rifa sua figura histórica ao ostentar o apoio de Maluf a Haddad em SP, onde a militância de esquerda entristece-se de ver o PT se transformar e mais que um partido da ordem, mas em um igual ao que combateu-se por anos e a candidatura Marcelo Freixo se liga a uma recuperação da esperança de uma luta aberta contra o sistema e que contenha o novo, o entusiasmo e a coragem para mudar o Estado, o sistema e a cultura do país, é fundamental termos em mente a reflexão sobre o que se quer e se fará  da forma-partido para que ela antes de tornar-se assassina de esperanças, se torne um catalisador das mesmas.

É neste quadro que é preciso e possível buscar mudanças que não torne a história da esquerda uma espécie de trabalho de sísifo sustentado em eternos 18 brumários.

PS: Não inclui Marina Silva ai, mas devia.. a lógica que gira em torno de seu modus operandi político-partidário não é muito diferente, e isso merecia uma análise mais acurada.  Vejamos se futuramente sai.