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quinta-feira, 19 de julho de 2012

A paz sem voz e a Trotskização de Olívio Dutra

Dois discursos vem me incomodando profundamente.

Um deles começa com "Desarme-se" outro com "Não há como governar sem maioria parlamentar". 

Nem sempre ambos são empunhados com má vontade ou desonestidade, muitas vezes são até bem intencionados, embora sirvam, ambos, frequentemente a interesses nada ingênuos.

A lógica do "desarmamento" em discursos geralmente vem acompanhados por uma ideia de que os debates são uma forma pacífica de resolver problemas e superar sistemas, machismos, racismos, homofobias e que tudo deve ser feito de acordo com a regra do  "não levar pro emocional" ou seja, de que tudo pode ser resolvido racionalmente de acordo com regras de etiqueta respeitadas nos salões, nas mesas e que tudo pode e deve ser leve o tempo todo, que tudo não pode ter a carga "negativa" da raiva, do emocional, da indignação santa, pois "somos todos amigos".

Já o argumento de "Não há como governar sem maioria parlamentar" tem uma inquietante lógica de ocultação de História e até de governos que estão hoje em movimento sem esta maioria, e realizando transformações de forma até radical. É inclusive um argumento que perambula pelas bocas "sábias" e "responsáveis" de partidos que de "combatentes dos interesses do povo" passaram a governantes e que lá "aprenderam" que não se governa com enfrentamento e com a população. 

Começou com o PMDB no pós-ditadura, teve um período de Brizola e suas alianças com José Nader e agora aterriza nos desmemoriados petistas que apoiados na cara de pau de Blogueiros Progressistas como Eduardo Guimarães e sociólogos surpreendentemente esquecidos como Emir Sader ressuscitam esta ladainha fingindo não ter existido por vinte gloriosos anos uma experiência de governar sem maioria tanto em Porto Alegre dos Governos Olívio Dutra,Tarso Genro e Raul Pont (de 1989 a 2005) quanto no Governo do Estado do Rio grande do Sul de Olívio Dutra (de 1998 a 2002). 

Claro que existe a possibilidade dos digníssimos senhores não terem, como eu, nascido naquela época, mas a lendária criação do "modo petista de governar" baseado no orçamento participativo foi uma agradável experiencia para os socialistas que viam uma alternativa de governo sem a necessária absorção do partido pela ordem. Outros exemplos podem ser tidos atualmente e lidos para os jovens blogueiro e sociólogo como o do Governo Evo e Correa, que mesmo enfrentando dificuldades governam apoiados basicamente pela população.

Claro que é mais fácil no entanto ocultar a história do que refletir e perigosamente pensar sobre os destinos de um partido que de dos Trabalhadores hoje utiliza discurso idêntico ao do Espantalho Tucano ao tratar de grevistas federais.

A justificativa Governista é incomodamente negada pela frase do próprio Olívio Dutra em 1998: "...temos a experiência de governar sem ser maioria no Legislativo. Há dez anos governamos Porto Alegre e nunca tivemos maioria no Legislativo do município.". 

Ambos os discursos a seu modo são uma chamada à acomodação, à ausência de enfrentamento com a ordem vigente e de buscas de superação de um sistema cada vez mais cruel com a população, cada vez mais excludente. Ao eliminar o componente de litígio da luta política pelo desarmamento do discurso e pela negação da busca de governar atuando como aliado da população na pressão cotidiana  na direção do parlamento, ambos os discursos apostam na controlada, regulada, educada, luta política sem povo, sem superação, que acomoda, pede um chá se senta com o patrão e o abraça sorrindo.

Outras faces destes discursos é a lógica da paz, que parece ser sem voz, e lembra medo, auxiliada pelo papo político tradicional que lista "realizações" cuja marca é a de ser um alivio aos mais pobres, sem no entanto alterar a estrutura que torna os pobres necessitados de "realizações" enquanto os ricos permanecem desigualmente sentados no trono de sua ostentação. 

A lista das realizações ostenta a inserção da população pobre no mercado consumidor, mas comodamente ignora as remoções de pobres de forma autoritária de suas casas para apartamentos longínquos que serviram para pagar dívidas de campanha com empreiteiras e que ganham o irônico nome de "Minha Casa, Minha Vida" enquanto derrubam casas e atropelam a vida de milhares de pessoas.

A lógica da paz e da busca de maioria parlamentar busca sociabilizar o debate político, suavizá-lo, enquanto rotulam candidaturas que discordam do coro de contentes como a de Roseno em Fortaleza e Freixo no Rio, nomeando-os "aventureiros" ou "Irresponsáveis", enquanto ambos atuam como representantes de todo uma série de questionamentos acadêmicos e populares ao modus governandi do melhor gerente do capital da história deste País, o PT, que na busca por mais aparatos para sua sanha prefere o abraço a Maluf do que ao povo.

Os suavizadores do discursos, cúmplices de racistas, reaças, homofóbicos, elitistas e machistas em sua sanha por uma acomodação perfeita, suave, dançarina e construída no amor ao inefável, acabam por sustentar a construção de um discurso que a cada porrada em pobre brande uma migalha de transformação que "muda a vida das pessoas" enquanto negam evidências cientificas, antropológicas, históricas para levar a cado o plano de expansão do capital a qualquer preço, com a "Responsabilidade social" do pequeno afago ocultando o trator que derruba casas, florestas e chama índios de nômades. 

Estão ambos os discursos apostando em uma política cuja superação de luta de classes é a principal apostas, só falta combinar com os russos.

Na busca da paz sem voz e do esquecimento de que é possível governar com apoio da sociedade, os discursadores do "não-conflito" acabam tão mergulhados no medo que entendem que é preferível criar espantalhos e ocultar porradarias do que enfrentar problemas, resolvê-los e tentar superar um sistema opressor onde a mudança do nome das coisas não muda a necessidade clara de uma luta constante, diária e presente para além do blablablá na Confeitaria Colombo.

Por isso enquanto o mundo explode é preciso lembrar cotidianamente de que ao sermos realistas e apostarmos no impossível não esquecemos que somos guerreiros, trabalhadores que encaramos todo dia nossa batalha, uma batalha desigual, dolorosa e que não dá pra ocultar no sorriso forçado.

Enquanto o mundo explode não podemos esquecer que temos passado, temos raiva e queremos mudar o mundo.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Igreja Peripatética Deus é Bróder

Tem dia que de noite é assim mesmo! Mesmo assim tá completo quase à tampa o suporte ao pentelhamento carpado da fé e da anti-fé no blabláblá diuturno das redes sociais.

Sei que quem espera sempre alcança, e mais ainda que quem desespera anda rápido, às vezes em círculos, e por isso guardei o manifesto peripatético nos bolsos da ironia, enquanto afagava a bílis do cinismo.

Em resumo: O saco completa o amadurecimento dos ranzinzas e rompe com o modorrento guardar. Ele está cheio!

É isso! Ando de saco cheio da bondade, da pureza, da fé, do otimismo, do mundo róseo, do mundo da salvação. Também ando de saco cheio do ateísmo racional de botequim, molecote, barba mal feita e parca, barriga ainda imberbe e magra, cara de quem nunca perdeu um dente numa briga, nem se fosse briga virtual de vídeo game.

Há otimismo, fé e anti-fé pseudo cínica demais no ar deste Fla x Flu fedorento que são as redes sociais onde tudo é alvinegro, sem ser botafoguense, e tudo carece de qualquer tipo  de profundidade. A fé ou é fanática e burra ou é otimista, feliz e pônei maldito. A anti-fé ou é fanática e burra ou é babacóide, molecóide, que culpa a irracionalidade pelo crime do mundo ser esta imensa bosta flutuante no espaço como  se na racional Grécia não rolasse escravidão, tortura, mulher oprimida, etc..

Talvez só a Igreja Peripatética Deus é Bróder e a Igreja Tresbesteriana do Sétimo Dígito tragam o alento do perigoso terreno da galhofa para esses dias de protesto coxinha, revolução coxinha, geração saúde coxinha e até bebum coxinha.

A Ironia foi assassinada junto com a Lógica e nem meteram poesia na bagunça do dia a dia, meterem foi ateísmo fake, fé demente, otimismo bunda, quase  um modelo vegan radicalóide burro da discussão sobre cultura e o real.

Não sei se Deus é amor, e nem quero saber, só sei que o meu é Bróder e tem vez que ele vai na do Ojuobá e é ateu (E viu milagres como eu). Não sei se a Religião é o ópio do povo, e acho  que se o fosse seria mais bacana porque o mundo doidão teria mais graça, mas sei que essa racionalidade irracional século XIX desatualizada e com cheiro de fralda mal lavada é um porre.

Misture tudo isso à ditadura da felicidade Luciano Huck e ao radicalismo raivoso pseudo-esquerdista semi oportunista que quase não esconde o preconceito com pobre, aqueça e pode servir.

Existe um modelo de auto normatização do protesto que parece radical, existe um moralismo de fachada, um racionalismo banguelo, um modelo de conhecimento redutor de real, estupidificador, fechado que no fundo no fundo só mantém o dia a dia idêntico como todos ama nas teorias de quarto escuro. É o radicalismo que não vê pela raiz é só uma vertente histérica do intelectual elitista de qualquer versão ideológica.

Ai tu mistura o Malafaia, com o Esquerdistazinhos anti-religiosos que juram que isso é ser laico, os Otimistas da ditadura da felicidade, os fiscais de fiofó, os fiscais alimentares contra comedores de cadáveres, os ateus que acham que a religião é culpada de tudo e atuam com homofobia, etnocentrismo e  até racismo, mistura isso tudo e tens na tua mão o resultado do conservadorismo babaca que tá na direita, esquerda, centro e ai te olhando, por cima do ombro, querendo te comer.

Tem anarquista etnocêntrico, comunista machista, direitista burro, otimista fundamentalista.

É neste mar de babaquices fardadas que acham que o planisfério só surfa dede os anos 2000 que a Igreja Peripatética Deus é Bróder se lança num convite cético, cínico, poético, anárquico: Bebam mais, falem menos! Flutuem, Bróders!




sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Quase não somos racistas

Não pretendia escrever sobre isso. Em primeiro lugar porque acho que a linha tênue do respeito político e à inteligência, da honestidade intelectual, não só foi ultrapassada com o advento das redes sociais como a rapaziada samba na cara da coerência a as referências, por mais flexíveis que sejam, ideológicas hoje mais parecem uma mistura de relativismo amplo com samba do crioulo doido (Ou do afro-descendente fora do eixo mental dito normal, se lhes parecer racista o uso do primeiro termo). Em segundo lugar porque minhas opiniões a respeito de homofobia, racismo e misoginia não são exatamente premiadas pelo auge da flexibilidade.

Não gosto nada de Paulo Henrique Amorim, do que se se convencionou chamar de "Blogueiros progressistas" (Que vai muito mais longe de blogs e tem uma cara tão corporativa quanto a jornalistada da mídia gorda), acho uma merda o naipe do jornalismo e do ativismo político ao redor do/da Cara, acho uma merda a Globo e congêneres, acho o Heraldo Pereira um jornalista tímido, pra ser um cara legal, e omisso também, especialmente diante do fato claro da organização onde trabalha defender a inexistência do racismo no Brasil, mas, no entanto, todavia e apesar de estar mais próximo dos "progressistas" , que ao menos em alguns pontos concordam comigo a cada seis meses, não posso nem sonhar em deixar passar uma declaração que chama o Heraldo de "negro de alma branca". 

Não se pode transigir com racismo, homofobia e misoginia.

Se Paulo Henrique Amorim não é racista, parabéns pra ele, mas nesta declaração ele foi sim e continua sendo ao ridicularizar a minha, a sua a nossa inteligência, assim como seus defensores, ao não reconhecer que, por baixo, usou uma terminologia racista, repetindo, RACISTA, para se referir a um colega de profissão.

Dizerem que o termo "Negro de alma Branca" é anti-racista é zoar, de boaça. Talvez em salvador ou em Brasília o seja, mas sempre ouvi o termo ou para se referir ao negro que não milita nos movimentos anti-racistas ou pra se referir "elogiosamente" ao negro que possui "qualidades" inatas aos Branquelos. Nos dois casos, na casa Grande ou na Senzala, o uso é racista. 

É racista porque reduz, porque ridiculariza o outro atribuindo a ele ou a omissão diante dos seus, a quem deveria automaticamente ser um militante solidário por ter uma cor da pele determinada, ou por atribuir a ele qualidades que são "alheias" a seu fenótipo. O uso para o negro não militante é racista por que reduz o sujeito a um negro "menor", o pelo sujeito que atribui ao negro qualidades por ter "alma branca" é por atribuir ao negro "de alma branca" qualidades que lhe são alienígenas por vetadas ao negro.

Paulo Henrique Amorim ao dizer que Heraldo Pereira era um "negro de alma branca" talvez não tivesse intenção nenhuma de incorrer em racismo, mas incorreu. PHA talvez estivesse ironizando um colega de profissão por este trabalhar na emissora que sustenta a tese de não sermos racistas, poderia fazer de outra forma, preferiu usar terminologia racista e dentro do contexto altamente interpretada como um ato tão racista quanto o termo possui de carga. 

Talvez se apenas corrigisse publicamente e considerasse um ato nada violento da auto-crítica pelo uso do termo nada estivesse tão quente e nenhum Blogueiro Progressista caísse no corporativo uso do termo "Esgotosfera" para se referir a quem não foi iniciado nas artes mágicas do babaovismo político e nem a máquina de defesa inconteste da grande tribo vermelha perdesse seu valioso tempo defendendo um jornalista adulto e experiente ao invés de, sei lá, tentar evitar maiores recuos do governo em áreas como os direitos LGBTT, Aborto, luta anti-racista,etc. Mas novamente se preferiu criar um Fla x Flu, um espantalho arrogante, onde o termo "inveja" aparece a rodo.

Da mesma forma que no episódio Feminazi a Milícia Progressista Governista prefere um embate estéril e histérico lotado de ad hominens ao simplesmente reconsiderar em auto-crítica o grau ensandecido de oposição apolítica à imprensa não governista que leva um de seus próceres a cometer um equívoco de tal monta.

Bastava a PHA reconhecer que fez merda. Ao não fazê-lo, diante do uso de um termo racista, amplia a consideração de que seu objetivo era exatamente o que pareceu. A defesa irracional e com tantas acrobacias aéreas, que chega a dar inveja à esquadrilha da fumaça, desafia a lógica e ao senso de ridículo. Grande parte da defesa do digníssimo gira em torno de suas qualidades pessoais, que honestamente não me interessam, e que  não deveriam interessar a ninguém.

Enquanto figura pública cometeu-se um ato público que incorreu no racismo, uma simples auto-critica lhe engradeceria. A resistência, inclusive coletiva, inclusive usando a vil tática do uso da empresa onde trabalha o ofendido como espantalho pra desqualificá-lo e aos críticos do ato de PHA, lhe e lhes diminui, como é comum recentemente a cada necessidade de defesa de um dos seus ou dos governos que apoiam.

Pouco se diz que o ofendido estava para obter, ou obteve, ganho de causa na justiça com relação ao fato ocorrido e que o jornalista PHA através de acordo conseguiu a cessão da  ação. Acordo esse onde reconhece que extrapolou e que não teve a intenção de ser racista, bastava inclusive dizê-lo publicamente a todos, mas ele, e seus defensores, preferiram a lógica da acrobacia para defender o indefensável.

É preciso sim batermos de frente com a lógica Kamel de "Não somos Racistas", inclusive em nós. E é complicadíssimo quando em um momento como esse, onde parte da "inteligentsia" que se toma por "progressista" cai em um "Quase não somos racistas" em nome do corporativismo.

Palavras tem peso e poder, precisamos aprender isso.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

É feito uma reza, um ritual!

Gosto muito  de escrever, é um momento de junção do desejo de expor pensamentos com o íntimo construir de reflexões, é um misto da vaidade de ser lido com o serviço público de expor análises que considero corretas, é um tanto o autoritário discurso, um monólogo como ecoar gritos coletivos.

O motivo desse introito não é outro que não a descoberta do blog como algo que tem leitores e não é apenas um enviar de vaidade de vosso escriba. Mas além disso é pela percepção de que há tanto a ser dito e tanto mais que precisa ser superado no mar de noções reducionistas, de machismos, de racismos, de medo do popular, de hipocrisia elitista travestida de "conscientização",etc.

É nessa hora que o grito das ruas ganha o luxuoso auxílio da cuíca que a gratidão do autor a seus leitores se emociona e parte pro abraço coletivo, pro samba de bloco pelas ladeiras do imaginário, pelas ruas e alegrias de minha Madureira mental.

É nesta procissão sambada que o carnaval, que veste-se de reversão, de revolução, de mudança de papéis, de liberdade, é o elo entre o elogio de ser lido e a percepção de como é rico um dia a dia onde vemos e respiramos a variedade das gentes, que combatemos a secura e o cinismo, que somos "ditadores' contra a intolerância dos estúpidos, dos justificadores do injustificável.

Neste post que é apenas um agradecimento a quem me lê e ao samba, por me dizer desde criança que "o sambista não precisa ser membro da academia, ao ser natural em sua poesia o povo lhe faz imortal", não quero me pintar como o democrata, o paciente, o tolerante, o que jamais fui em meu sangue quente, meu pavio inexistente, minha ferrenha convicção no que penso, meu desejo de superação e de resolução de problemas práticos com velocidade. Não vou me autoproclamar como a versão masculina de Madre Tereza, mas talvez do meu jeito ogro me declare feliz e honrado por ser lido por tanta gente, além da CIA, que eu jamais imaginaria que se  interessasse pro minhas loucuras. 

Este blog sempre se pretendeu pautador de pensamentos, mas  jamais achou que conseguiria, achava no entanto que como a Portela na voz de Clara Nunes deveria se comportar como o "povo na rua cantando, feito uma reza um ritual", ou seja, focado, sério e honesto dentro da proposta de escrever as percepções políticas, culturais e científicas que adquiria através dos anos.

Nestes três anos de Blog defendi coisas diferentes, mundos diferentes, analisei com mais ou menos correção, mas jamais escondi o que pensei e o que sou. E quero agradecer a quem me lê por ter me dado a honra de ser ter compartilhado o pouco conhecimento que produzi.

Muito obrigado.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O mundo tá ficando difícil de ser encarado sóbrio


O mar não tá pra peixe, o mato não tá pra cobra.

Diante da necessidade do "desenvolvimento" ontem se aprovou um Código Florestal que é pior que o votado na câmara. Perdemos essa, Esquerda, my friend!

No dia a dia do mundo Belo Monte é discutida até na padaria agora e "precisamos de energia" é o mote, e a qualquer preso, porque é "besteira essa obsessão indígena pelo espaço sagrado". A Obsessão branca e cristã pela buceta, feto e fígado sagrado é plausível, a "obsessão indígena" é coisa de bugre.

Diante disso o combate pela democratização das comunicações, pela lei de médios ainda é uma pauta,né? Não, não é. Porque além do silencio do Governo a respeito, o que é repetido pela Imprensa governista, simbolizada no movimento dos Blogueiros Progressistas, é só uma propaganda de seminários e discussões extra-oficiais a respeito, onde aparecem aqui e ali membros do Governo pra dissolver em sua baba de lagarto as velhas platitudes nunca concretizadas a respeito dessa necessidade.

Imprensa governista? Existe? sim, claro, é uma imprensa alternativa centrada nos "progressistas' e cuja única função é repelir os ataques da "PIG" que vem a ser o "Partido da Imprensa Golpista" criado pelo mesmo Paulo Henrique Amorim que apoia Belo Monte e chama de mentiroso o movimento Xingu Vivo e a CIMI quando estas se opõem a Belo Monte.

Aliás o silencio dos Blogueiros progressistas em torno de qualquer medida de recuo conservador do Governo do qual dependem é sintomático. Procurem Belo Monte, Código Florestal, Kit-Antihomofobia, PLC 122, alguma coisa dessas nos principais membros do movimento e você vai encontrar um nada absoluto.  Nem pra bater nas inverdades, putarias, canalhagens de Veja a respeito. Aliás, a Veja anda fazendo capas com as quais os "Progressistas" concordam.

Ah, esse admirável mundo novo! "Vamos mudar o país! Rumo ao progresso!" diziam há dez anos., e hoje defendem barragens cujo projeto começa na ditadura e condenadas pela maioria do mundo científico, militâncias indigenista, antropólogos, ambientalistas, ecossocialistas, o escambau! 

Outro dia muitos defenderam a ocupação da USP pela polícia porque o povo estava radical demais. ou porque usavam drogas. Índios viraram nômades e não haverá remoções e nem prejuízos a eles com a  construção da barragem. Pra manter a base parlamentar fecham acordo com Ronaldo Caiado e Kátia, Abreu  além do Blairo Maggi, e votam um Código Florestal que devia se chamar Desflorestal.

Como disse um amigo, o Governo entendeu que nada menos popular na maior parte do Brasil que defender índio e árvore. Etendeu também que defender homossexual é impopular, aborto e mais direitos pras mulheres idem.

 "Quem quer um bando de viadinhos ensinando nossos filhos a serem gays? " ou "Aborto legalizado pra que? pra essas putas darem as bucetas e poderem tirar a qualquer hora?", é assim que pensa o mundo. E o Governo entendeu, seus defensores idem. 

É preciso manter o governo, são muitos os companheiros que precisam dele.

Enquanto isso na oposição de esquerda se busca ampliar a presença neste mesmo estado e talvez começar disputar o governo para seguir este mesmo caminho e se cogita aliança com o PV, se filia egressos do PDT e PPS.

Em Vila Valqueire um morador foi assassinado pela milicia porque não pagou o Gatonet. Um deputado teve de sair do país por ameaças da mesma milicia, uma juíza foi assassinada.

O mundo tá ficando difícil de ser encarado sóbrio, mas podia ser pior, porque no Recife foi aprovada uma lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas em espaço público de 18:00 às 06:00 hs. Lá você só pode encarar o mundo sem ser sóbrio se não sair de casa.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Os Blogueiros, os pavões, a mulher e a esquerda

 Em 2010 criou-se uma atmosfera na esquerda de apoio cerrado à candidata Dilma Roussef diante do crescimento da candidatura e das ações da direita, cada vez mais reacionária. Mesmo quem optou pelo voto nulo sentia a pressão para o apoio sob o rótulo de "apoio indireto á direita", caso continuasse com uma postura política que não fosse a do bumbo coletivo.

 Várias vezes o debate político foi travado diante de traves que impediam avanços na construção de pontes, a desconstrução da esquerda não-governista era por vezes palpável no argumento de vários dos defensores do apoio à Dilma a qualquer custo. 

 Por trás das paixões que se elevam nos embates eleitorais, nas escolhas, não havia só uma busca de vencer a direita, mas também uma lógica de exclusão de qualquer oposição à uma política que parte da esquerda endossa de gerenciamento qualificado do capitalismo.

 Então caminhamos lado  lado, todos no combate á direita, alguns no apoio crítico à candidatura do governo e  outros no apoio cerrado ao governo e à candidatura, e chegamos à eleição da primeira mulher a presidir o Brasil. Mesmo quem não votou em Dilma lutou contra o crescimento da direita,a meu ver o alvo principal da esquerda e junto  a quem votou em Dilma, criticamente ou não, construiu e pavimentou uma civilizada relação entre campos da esquerda rumo à ampliação deste espectro político na vida nacional, correto? Não necessariamente.

 Após as eleições a busca de manutenção do clima binário, de nós ou eles, se tornou parte integrante da postura de vários companheiros, muitos deles blogueiros conhecidos, que entrevistam presidentes,etc. A lógica de apoio acrítico ao governo se manteve, como se o combate à direita só fosse possível com a criação de uma claque organizada e que nunca critica a formação, as posturas e as políticas do governo. Como se a esquerda se reduzisse ao governo e seus apoiadores. A esquerda que não segue o tom do bumbo por vezes sofre nos debates o que se chama de rodo nas assembléias, ou seja, o debate é interrompido porque a postura crítica  é tratada como ataque frontal. 

 Mesmo nas iniciativas que se propunham amplificadoras de uma rede de publicadores de esquerda o que se via era o direcionamento da divulgação evitando ampliação real da divulgação de idéias que não fossem as alinhadas com o apoio integral ao governo Dilma.

 O Sectarismo criticado na ultra-esquerda encontra eco na esquerda governista quando a idéia de mobilização passa diretamente pelo alinhamento ao governo e qualquer crítica a ele se transforma num comportamento que falta pouco pra ser chamado de "quinta-coluna".

 Enquanto isso a formação de pontes entre organizações de esquerda sofre um revés, seja na divisão da construção de uma rede de blogs de esquerda que possa se transformar em uma literal opção de comunicação à mídia tradicional, seja na construção literal de redes pessoais de opinião e idéias que possa respeitar divergências e avanças nas lutas que são agenda comum.

 É preciso ir além do apoio ao governo e ir fundo no apoio à uma agenda comum, ir criticamente na relação com um governo que não é da esquerda, é composto por uma malha de partidos e interesses que por vezes são frontalmente antípodas aos de qualquer grupamento ou individuo de esquerda, principalmente a socialista. É preciso entender que o apoio a um governo não precisa ser um cheque em branco, um apoio incondicional, porque além da simbologia da primeira mulher eleita, existe um estado, um estado capitalista,  e este é conduzido por um governo com uma miríade de apoios, cuja constituição inclui membros da velha direita da ARENA, de acordo com um sem número de interesses, pressões e tensionamentos que na maior parte das vezes é um muro aos interesses que defendemos.

 Confundir apoio à decisões que estejam de acordo com uma rede de bandeiras comuns com apoio integral ao governo, o que incluiria apoio á medidas como as da mudança no código Florestal, Belo Monte,etc, é bola fora na tentativa de construir mais que um bando de chiliquentos que se juntam em época de eleição e depois se divide em uma claque feliz contra críticos ferozes.

 Se os blogs de esquerda forem mais do que pessoas que buscam entrevistar presidentes é hora de começar a se construir uma rede real, ampla e democrática, até porque governos e partidos mudam, e por vezes nos abandonam.