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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Ter fé é anátema?

O fanatismo religioso é um problema, e dos grandes, um de seus maiores erros é ultrapassar os limites da religião, elemento de foro íntimo, e impor uma crença como majoritária e por isso com, o direito de eliminar as outras. Não só isso, a imposição do fanatismo de suas regras religiosos a quem não professa a mesma fé ou quem não professa fé alguma tem embutido o elemento de perseguição do que considera pecado. 

É aí que temos a perseguição por religiosos cristãos a gays e a mulheres que fazem aborto, e não só, a tudo o que é considerado anátema, como religiões afro e até à sexualidade humana hétero que não coaduna com uma ideia de amor relacionada a uma moral extremamente conservadora.

Com os recentes esforços do congresso em retirar a punição do Conselho Regional de Psicologia à "psicóloga" Marisa Lobo que se esforça em defender a "cura" para gays, contrariando definições da Organização Mundial de Saúde e consenso científico a respeito da homossexualidade não ser doença a reação da população LGBT e militantes pelo laicismo, ateus ou não, foi imediata diante de mais um passo do conservadorismo na direção de um ataque à pluralidade religiosa.

E ai é que temos um enorme problema.

Há uma espécie de consenso entre os militantes LGBT e Ateus que incluem no mesmo saco o religioso fanático que sustenta atrocidade, menos por ser religioso e mais por ser conservador, ao religioso que não ataca nenhum principio de laicidade ou minorias, muitos inclusive ladeiam com a militância pelo laicismo no combate ao fanatismo. Incluem no mesmo saco católicos da teologia da libertação que não concordam com companheiros seus que mantém ainda uma espécie de conservadorismo relacionado aos LGBT, budistas, candomblecistas, umbandistas e por ai vai.

Ao dizer que o religioso ou o católico tem renda inferior aos Ateus a mensagem sutil é clara:  religioso é pobre por ser burro, o ateu, esperto, é de classe média ou mais por ser inteligente. Claro que detalhes da pesquisa onde se vê que a maioria dos que tem fé são de classe pobre ou média baixa e a maioria dos ateus e agnósticos serem de famílias de classe média alta/classe alta, o que impõe fatalmente, se incluirmos a luta de classes como conceito válido, os ateus ironicamente como parte do aparato social que sustenta o que os marxistas ortodoxos chamam de aparato de controle ideológico, que inclui a religião.

Ou seja, considerando que é mais difícil mudar de classe do que de religião podemos considerar que os ateus e agnósticos em geral possuem uma "herança" econômica e talvez até cultural que os permite com mais facilidade sair do enredo da religião, entendedores prévios via uma educação superior em qualidade que a religião é um elemento de controle que só deve ser direcionado aos mais pobres, e subalternos sociais a eles.

Optando por essa lógica poderíamos afirmar que os Ateus que idolatram a razão e consideram todos os religiosos estúpidos são ao mesmos tempo que críticos parte do problema da dominação cultural via religião, já que como controladores dos bens de produção, sendo o extrato econômico superior, são também sócios do controle ideológico.

Só que ao optar por esta linha de raciocínio acabaria pro cometer o mesmo erro de reduzir religião ou falta dela, fé ou falta dela a categorias imóveis, estagnadas e absolutas, fora de contexto cometido pelos fanáticos religiosos ao tratar de orientação sexual, questões de gênero ou de saúde pública como o aborto ou variações da sexualidade humana ou de comportamento, cultura ou até etnia sob a lente do dogma irrefletido, arcaico e generalizante.

Optar pela lógica reducionista seria afastar da luta pelo laicismo o ateu que entende que a generalização é estúpida, assim como optar pelo tratamento de todo religioso como um estúpido afasta quem tem fé e mantém claro o raciocínio e a luta para a emancipação do todo do gênero humano, tenha ele fé ou não.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A vida conforme a fé

Não sou teólogo, sou historiador, mas sou Umbandista e atuei por cerca de 15 anos direto na religião, passando por, digamos, degraus de "crescimento", talvez inclusive hierárquicos. Não entro em detalhes de propósito, exatamente para não expor demais algo que a meu ver é questão de foro íntimo e exporia terceiros.

A questão é que por diversos motivos a experiencia religiosa não é algo novo e nem sequer observado apenas com os olhos da fé, ela é lida também pelo filtro do historiador e do ex-graduando de ciências sociais sem que as diversas leituras concorram no sentido de tornarem-se guardiãs da única explicação do fenômeno. Inclusive a saída mais lógica nesse meu caminho foi o entendimento da complementaridade das percepções na construção de uma ideia de religião em mim que se conformasse com a construção de minha identidade, de minha individualidade.

Ouso dizer que toda religião, toda ela, seja de certa forma isso, um conjunto de experiencias que se conformam na construção de identidades pessoais e coletivas e sofrem também o efeito destas identidades individuais e coletivas em permanente transformação, neste dinâmico mundo chamado sociedade humana e cultura.

O pensamento mágico, a religião, neste aspecto é como o pensamento cientifico, fruto de construções, tensões e variações geradas pela existência humana envolvida nele e pela produção intelectual envolvida nestas experiencias a partir de regras presentes nesta rede de formulação de explicações do real de cada forma de pensamento.

E é aí que o aborto me surge como questão, e séria, da fé.

Evito o tema por n motivos. Um deles, e fundamental, é o fato de pessoalmente o aborto me ser complicadíssimo de aceitar, pela ideia da vida humana ali envolvida, pelo entendimento da construção da fecundação, pelo entendimento da existência do ser como algo anterior ao que estipula a ciência,etc. Outro, contraditoriamente e humanamente colocado em seguida, é o entendimento racional, político, da autonomia feminina no assunto ser superior à todas as coisas.

E nessa sinuca de bico a junção do Historiador com o Umbandista tomou uma posição, como ambos, que é o de apoio eterno à decisão da mulher e de defesa dela sobre todas as coisas e mais ainda, isso fundamenta uma lógica de entendimento da inexistência de posição alguma divina que condene o ato do aborto na religião que professo.

Jamais vi um orixá ou entidade recusando ou obrigando um parto ou uma fecundação, jamais. Já vi argumentações neste sentido, mas jamais vi entidades posicionando-se de forma a oprimir um seu filho a tomar esta ou aquela decisão, ainda mais neste aspecto que é tão dolorosamente marcante.

Óbvio que não tenho o monopólio da fundamentação religiosa do fato, mas também ouso dizer que ninguém tem e mais ainda, entendo que toda religião tem, tanto no aspecto direto da exposição do "laudo" divino sobre qualquer assunto quanto nos aspectos indiretos muito da construção de seus membros, em especial das lideranças, o elemento da reprodução, portanto há que se questionar o quanto das posições dos jogos e entidades não reproduzem a lógica do cavalo, babalorixá ou jogador.

É complicadíssimo defender o que coloco a partir de uma lógica absolutamente "empírica" dadas as particularidades do assunto e a própria natureza  não empírica da religião, mas "intuitivamente" como filho de Logun-edé Loko e Oxum Apará nunca os entendi ou percebi como defensores da vida a ponto de torná-la uma defesa intransigente que ocultasse a opção da opressão por ela. A vida em si era entendida também como a determinação do movimento sobre ela.

 A vida do bebẽ é importante sim, mas nunca se ela de alguma forma levar à perda da determinação, do movimento de uma vida consciente na direção de sua felicidade.

O entendimento da liberdade, da construção da felicidade, do superar desafios e da negociação como forma de relação entre divino e  humano sempre me foram claras e nunca me foram tão claras nas ditas religiões do amor como me foram claras nas religiões de matriz africana.

Por isso o entendimento, no caso de um dia ter sobre mim a  responsabilidade do sacerdócio, da questão de gênero e do aborto como exposta acima, como uma questão de autodeterminação da e pela mulher e que deve ser vista como religiosamente um caso de decisão específica da mulher.

E é sim papel do sacerdote ser o defensor da mulher diante do divino, inclusive pelo entendimento do divino feminino ali presente como também uma demonstração da força feminina e da autodeterminação dela.

É dever do sacerdote entender os limites de sua moral na determinação dos destinos dos que estão sob sua responsabilidade como mediador entre homens e Deuses.

Quando um mediador leva a questão religiosa como um ato de sustentação de crueldades anti-vida como as vistas  no caso de Severina, impedindo a realização de um direito constitucional, ou mesmo de um desejo pessoal, este mediador abre mão de seu papel em nome de uma convicção que lhe desautoriza como detentor de tão importante papel.

Se isto já compõe o quadro no caso de religiões onde o sacerdote assim o é por uma opção pessoal, vocacional ou não, é ainda mais forte no caso das religiões de matriz africana onde o sacerdote possui um cargo que lhe é designado ao nascimento, "herdado", como um talento que nasce com ele e que é resultado de escolha divina, uma espécie de direito divino. 

Se para o religioso a fé é parte da vida, é preciso entender também que a vida é parte da fé, mas que esta é antes de tudo um elemento de percepção filosófica que não significa apenas o bater de um coração, mas um conjunto de fatores que incluem a liberdade. E é preciso que o religioso entenda que como humano seu papel é menos o de se colocar como um Deus que determina a partir do seu corte moral ou da reprodução automática da questão moral do seu grupo e mais aquele que media o divino com o homem, o entendimento supra-humano com o entendimento humano, ou seja, a realidade concreta não mágica com o mágico.

É, portanto, papel do mediador, do sacerdote, a introdução das transformações pelas quais a sociedade passa nas questões religiosas e entender a partir da relação com os Deuses em como isso deve garantir a felicidade e a construção de um grupo e suas individualidades, imaginários, coletividades, sem que sacrifícios sejam feitos, sem martírios e mais importante ainda, sem a destruição do humano em nome de tradições que não mais se sustentam.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Estranho mundo de Bob Socialista

No dia a dia político embates, debates, porradarias e dissenções são mais comuns do que se pensa. O pau quebra de manso e contradições são mais que normais, paradoxos idem.

No mesmo Agosto que desgostou militantes PSOLinos com a filiação de Paulo Pinheiro no Rio de Janeiro (Rimou!), o PT me tira da cartola uma belíssima resolução pedindo regulação da mídia e meio que pressionando o Planalto para que algo se faça. A parada ia ser mais séria, mas no conchavismo nuestro de cada dia acabou em moção. O que se propõe alternativa tomou um baile do que foi dito morto.

Isso não significa que os bolcheviques estejam chegando no PT, talvez signifique mais que o PSOL esteja se tornando um sub-PT sem máquina.Também não é de soltar fuegos em la piazza, no esperanto ítaloportunhol de cada dia, mas de recolocar na mesa o debate sobre o que é alternativa para a esquerda dentro de um quadro de burocratização galopante dos aparatos partidários.

Um post recente de Emir Sader em seu blog há uma conclamação ao PT de ocupação de um espaço à esquerda, mas o tom é de uma ocupação pela via da institucionalidade. Da mesma forma o tom dos artigos e discursos das figuras públicas do PSOL são no máximo e com esforço na mesma linha.  A média das colocações dos principais partidos da esquerda são de louvor à institucionalidade. E com o perdão antecipado que pelo aos companheiros de PSTU e PCB, por mais combativas que sejam suas ações e colocações não se colocam como alternativa real para uma ação para além da burocracia, embora em ambos esteja a benéfica crítica da opção pela institucionalidade.

Nessa ladainha a cada dia temos mais um reforço da posição da extrema direita na cabeça do povo, levando a um fenômeno da discussão com muros, ou seja, na ausência de debates, opção pela irreflexão e escolha prioritária do momento e da ação minimalista como saída, pela esquerda ou direita.

Com a  distancia cada vez maior da população, das bases e opção pela ocupação da instituição, com também interrupção da democracia interna evitando abalos em poderes constituídos intrapartidários, a esquerda se torna cada vez mais parecida com o que combate. 

Além disso a opção de quem já ocupa a institucionalidade pelo viés mais simplista de manter a relação com a população e suas bases acaba se tornando uma repetição do que já existe, com distanciamento do partido e estado da população, sem a ampliação e real empoderamento da população na determinação dos destinos do estado e partido.

Em suma, os partidos de esquerda optam pela distancia das bases e povo na determinação dos destinos de partidos e país, em um paradoxo imenso para quem se propõe defensores dos direitos do povo e da conquista de emancipação por ele. Parece que a rapaziada quer libertar o povo de um monte de coisa, mas mantendo um cabresto controlado por ela.

A opção pela instituição já torna o PT algo que pode ser tudo, menos de esquerda. O PSOL com sua política de fortalecimento eleitoral a qualquer custo caminha para o mesmo tipo de partido: Partido de esquerda burguês com o máximo de proposta de ampliação do horizonte democrático e reformas do estado burguês sem nenhuma forte ampliação do papel da população no controle deste, muito menos na derrubada do sistema.

Os demais partidos de esquerda, por mais que no discurso defendam realmente a revolução e o socialismo e a ampliação do poder da população, mantém uma relação de distancia e de burocratização sectária, com ausência de real relação de horizontalidade com a dita "massa".



Enquanto isso fora desse estranho mundo de Bob da esquerda, a relação da direita com a população se mantém firme e forte, pois sem precisar enfrentar o arcabouço de preconceitos viventes na tradição ou discutir a quebra do paradigma senhor/escravo e "Cada macaco no seu galho", nada de braçada na proximidade e intimidade que possuem com estes valores e quebram qualquer busca de alternativa de mudanças na cabecinha da patuléia.

 Aliado a isso a opção de parte da esquerda, especialmente a petista, de manter o diálogo com o povo menos na busca de alternativa e mais na busca de acomodação faz com que estas forças de "esquerda" acabem por participar dessa relação, serem parte dela e, pasmem, acreditarem nela.

E enquanto as alternativas escaceiam, nos movimentos e organizações não partidárias o discurso de reflexão é interrompido ou pelo obreirismo sectário ou pelo anti-intelectualismo. Discutir o uso de palavras é considerado "intelectualismo". Da mesma forma radicalismo é berrar, e Pensamento intelectual é repetir ad infinitum um bando de papagaios de pós-modernistas.

A crise que desponta no horizonte traz mais que pesadas nuvens pro dia a dia econômico, traz também pesadas nuvens pro horizonte político onde o ganho de força da direita e extrema-direita é cada vez maior, com o dia a dia repetindo o preconceito, o ódio, a hierarquização social ao máximo, inclusive entre gêneros e raças. 




Enquanto "Analistas" confundem crise entre Tucanos e DEM com crise da direita, ignorando a crise enorme que a esquerda passa, as forças reacionárias nadam de braçada na consciência viva da população. 

A Classe média se bobear é hoje mais conservadora que nos anos 1950 e a dita "Nova Classe Média" acaba por assumir os valores da antiga com louvor, repetindo não a postura política que em principio a elevou de patamar, mas a postura que havia antes de ódio de classe de uma classe média que acha bacana ser homofóbico.


A crise que desponta no horizonte pode ser mais que econômica e colocar mais água na fervura da perda de espaço para ideais de esquerda, e não importa se o governo Petista enfrentará com show de bola ou não, resta saber se enfrentará para além do econômico e como as demais forças dialogarão com este enfrentamento.


Os debates, dissenções, quebra-paus internos da esquerda passam ao largo de toda a problemática relação de perda de hegemonia de seus ideais na sociedade.

 Ou confundindo vitória na eleição com conquista de hegemonia ou optando pelo fortalecimento eleitoral como caminho para esta disputa, a esquerda ignora as mensagens recebidas tanto de aumento do pensamento reacionário como da crítica aos métodos tradicionais que usam os partidos numa critica interessante da forma partido em uso como acabada e patinam num mundo onde Partidos "Necessários" se tornam a cada dia mais semelhantes aos partidos de "Esquerda".

Nesse estranho mundo de Bob as alternativas parecem nítidas, mas no mundo real a ausência delas ampliam o espaço de chegada do mais puro fascismo.




segunda-feira, 18 de abril de 2011

Se você quer sorrir é com Patati ou Pensar dói?

O mundo político é por vezes um mundo estranho onde fórmulas consagradas são expostas sem nenhuma vergonha e na frente de todo mundo. E não só na luta entre esquerda e direita, mas também na fofa luta interna da esquerda, e desconfio que mais neste campo.

Nesta eterna batalha pela sobreposição de idéias, ou conquista de consciências, se lê cada besteira que eu vou te contar. As platitudes do FEBEAPÁ da luta política já chamaram a dialética do materialismo histórico de platonismo de esquerda, criaram a categoria do Lulopetismo e não conseguem enxergar conservadorismo na esquerda e libertarianismo na direita.

No mundo binário do dia a dia o mais importante é rosnar grosso, não refletir. Do alto da minha chatice intelectual, talvez arrogantemente inflada,  não consigo entender o uso de categorias como capitalismo burocrático de estado para descrever o Governo Lula e repetição ad eternum de argumentos para ignorar a existência de paradoxos e contradições no interior de cada escola ideológica ou campo político.

Criam-se mundos fantásticos onde qualquer argumento vale, mesmo que não sirva pra limpar o fiofó em momento de ausência de papel higiênico.

Respeito com louvor as oposições de esquerda e direita que pensam, mas não posso entender concordancia pela esquerda com FHC e nem argumentos que trazem uma categoria de explicação da URSS para caracterização do governo Lula, da mesma forma não posso ignorar uma esquerda homofóbica e liberais libertários, mesmo me opondo a eles no que tange à defesa de modos de produção, sistemas, antípodas.

Outro elemento é que a crítica, se não for fofinha, é ofensa. Então a gente pode perder nosso maravilhoso tempo escrevendo diversas explicações, lendo pras pessoas coisas que ampliem o julgamento do mundo, esse serzinho nada simples, mas quando bate de frente coma pedra que nego confunde com convicção, mas é apenas dogma, danou-se.  Então se repetirmos o que escrevemos mil vezes, segundo a lei de Mula, isso vira verdade. Na esquerda essa repetição como forma de convencimento, que sempre me pareceu um contágio de métodos de escolas católicas para a esquerda, é a tônica, e negozinho cria mundos fantásticos de purezas de sua própria ideologia e demonios incansáveis e intangíveis pro lado adversário. Nem sempre isso ocorre apenas no embate esquerda x direita, mas muito no interior da esquerda. É por isso que nego é incapaz de entender alianças pontuais com liberais na defesa de bandeiras radicais em comum, como leis anti-homofobia, legalização do aborto, cotas,etc. Da mesma forma é dai que vem a incapacidade do entendimento de tensionamentos à esquerda de governos que assim se assumem.

Então a mesma ladainha que cria liberais automaticamente conservadores e se escandalizam com a menção a marxistas homofóbicos, cria os "Quinta-coluna da burguesia", termo inicialmente cunhado por Stalinistas contra Trotkistas na época da Guerra Fria, para todo os que de alguma forma criticam o Governo de Esquerda, ou dito de esquerda, de plantão. Nessa toada se abraçam também os conservadorismos da sociedade que fazem um coquetel perigoso com marxismos de galinheiro. Então vemos Marxistas homofóbicos e machistas, aliados a gente que não aceita essa existência dada a pureza do marxismo como curativo panacéico de tudo. Pra grande parte da esquerda o marxista é um salvo, e nesta emulação do evangelismo fundamentalista se torna um herói que as massas desconhecem até o advento da iluminação de suas consciências pelo Das Capital mal lido de plantão.

E aí de tu se citar Aliança pontual com liberais! Como negozinho só entende ação política em eleição, seja de sindicato, síndico, CAs ou majoritária de presidente, prefeito ou prefeito, a palavra aliança é automaticamente entendida como aliança partidária. Da mesma forma ação política só é entendida como partidária, se não tiver partido tá maluca. Deviam avisar isso pros anarquistas. Pra rapaziada entender que aliança pontual pode ser em passeata, em parlamento, e apenas na defesa de bandeiras comuns e que permanecem radicais, e até revolucionárias, como leis anti-homofobia e legalização do aborto, tem de desenhar em power point e chamar o Patati Patatá pra explicar de forma lenta.

 E falar de tolerância religiosa? Aí, nego preto, a coisa desanda na maionese, e o cara canhoto chama pro pau e o cacete!  Por que? porque no real da esquerda o barato é ser ateu e se for religioso é marxista meia boc,a se for marxista meia boca é capaz de ser fundamentalista e sendo fundamentalista vais bater em homossexual, sacou? Não? Existe procê Religioso marxista como Frei Betto e Leonardo Boff? Existe procê intolerância atéia e tolerância católica,umbandista, judaica ou muçulmana? Cara, fala baixo, nego não vai entender e vai te chamar de defensor de Malafaias. Aí o ateu de esquerda vira uma espécie da Malafaia com sinal trocado, porque não pode ser evangélico e progressista ou católico e progressista, sacou? A Teologia da Libertação e o Movimento Evangélico Progressista são ilusões idióticas suas. Vai na mesma linha da inexistência de marxista conservador e de liberal libertário, se tentar convencer leve o Patati Patatá.

 Mas o que esperar de uma esquerda que fala da classe e conscientização ignorando até Marx na defesa de que a consciência de classe vem do processo de lutas e de percepção de objetivos comuns? Ela entenderia a sutileza Thompsoniana da classe não como categoria estanque, mas como fenómeno histórico, ou seja, elemento dinâmico que precisa de contextualização constante? Nem fodendo, camarada.

 Parte disso tudo, tanto na direita quanto na esquerda, é uma deficiência de formação mínima que dói. A incapacidade de olhar o mundo de forma ampla, que delineie problemas que a teoria ou não alcança ou a abordagem omite, é fruto de uma incapacidade de entender variações do real que vão para além do conhecimento teórico-científico. Além disso impressiona a necessidade de regras rígidas e imutáveis de construção de realidade política e a ausência de simancol no uso de categorias criadas para descrever cachorro como ferramenta de descrição de papagaios.

Por isso os Tucanos definem os governos petistas como "Capitalismo Burocrático de Estado Lulopetista".  Aí eles misturam O Capitalismo Burocrático de Estado que alguns téoricos marxistas definiam a URSS com Lulopetismo, uma espécie de chavismo com uma menção à "República Sindicalista" da UDN em 1964. Não é porque sou oposição de esquerda ao governo que vou ter de engolir esse samba do crioulo doido teórico, mal feito, mal escrito, mal lido e com um leve teor Reinaldo Azevedo.

O primeiro erro é definir como uma máquina estatal proprietária de bens de produção um governo de fomento de linha muito mais próxima do Keynesianismo clássico do que do Socialismo Stalinista, ou Socialismo Realmente existente. Confundir o Estatismo Socialista com o fomento via BNDES, com quase nenhuma aquisição pelo estado de empresas e bens de produção, é dose. É até ofensivo intelectualmente. Sem contar que a conduçao da economia fez concessões a um intervencionismo levemente Keynesiano, mas mantendo o esqueleto criado pelo neo-liberalismo tucano, algo que até fator foi de eleição de Lula em 2002 via "Carta ao Povo Brasileiro".Outro erro é o tal do Lulopetismo, um treco mal definido como se fosse uma espécie de neo-populismo, uma categoria que consegue definir no mesmo barco coisas díspares como Chavez, Getúlio, Lula e Perón. O tal do Lulopetismo repete patacoadas como "República Sindicalista", "Aparelhamento do Estado", "Política Assistencialista" e mistura cu com bunda sem maior sintonia fina da realidade com o escrito. A idéia da república sindicalista, da ocupação de postos chaves por sindicalistas ou é burra ou desonesta, porque é óbvio que um partido que nasce de sindicatos e movimentos sociais, em que seus quadros são em geral vindos do mundo do trabalho e da base social, ocuparia cargos importantes com pessoas de sua base, ou não? Além disso, essa classificação é desonesta, porque me obriga a perguntar porque vossas senhorias fofas geniais não se chamaram de "República Bancária", "República da oligarquia" ou "República dos Bacharéis" quando controlavam a máquina pública com um arco de alianças pouco diferente do governo atual e ocupação de cargos chave por gente da cúpula do mercado financeiro, do mercado imobiliário, do mercado de comunicação,etc? Então quando o PT assume o governo e nomeia os seus é "Aparelhamento do estado" e "República sindicalista", quando o PSDEMB/PPS assume é "Ministério de Notáveis"? Tá bão!

A tal "política assistencialista" é fofa, dado que ignora as contrapartidas da manutenção de crianças na escola, do aquecimento da economia, do microcrédito e abertura de empresas familiares,etc. Só com a história dos Mototaxi dava pra chamar a classificação dos Bolsa de "Política assistencialista" de sacanagem, limitação teórica, ou desconhecimento da realidade, ou tudo junto. E pior é que tem gente boa da esquerda que cai nessa.

 Então o papo na política ou é lidar com desonestidade intelectual, categorias de quinta de uma direita que já foi melhor ou com dogmas burros e "fantásticos mundos de bob"  de uma esquerda que fora da dualidade não enxerga patavinas diante do nariz.   No combate com a direita talvez a fragilidade seja boa, mas do lado da esquerda este binarismo cego e burro não ajuda a ninguém, dado que ele é também partidário do congelamento de uma classe operária no século XIX, e de uma conscientização mais parecida com catequese e jamais com convencimento.

Enquanto isso o mundo dos Bolsonaros recebem apoio diário, e ao contrário da direita  Tucana e dos liberais, aceitos no mundo fascistas com uma certa tolerância, o "Fantástico Mundo de Bob" da Esquerda precisa ir mais longe e convencer um povo inteiro de que suas bandeiras não são uma mistura mecanica de dogmas com marxismo vulgar e sim propostas políticas transformadoras. Mas pra isso tem de pensar, e parece que isso dói.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Se Deus vier que venha armado!

 Peço emprestada a frase de um rap do Pavilhão 9 com titulo para ilustrar a perspectiva que a Religião, somada à doença mental e à irrresponsabilidade de pastores, dá quando tratada como uma cachorra leprosa e como auxilio de delírios tremens morais e fundamentalistas.
 Que me perdoem os fiéis de religiões pentecostais e suas ânsias de pureza, mas quando a pureza atira com armas de fogo, pedras ou incitação a crimes, a racismo e outras desumanidades ela deve ser tratada como é: Como uma manifestação de ódio e irresponsabilidade desumanas que transformam a dita fé e religião em cúmplice, seja de espancamento e assassinato ou de opressão psicológica e quejandos.

 O tom é duro mesmo e não é pra menos: depois do desfile por anos a fio de preconceito contra toda a fé que não lambesse chagas de Cristo, de opressão à mulheres, homossexuais e racismo enrustido (ou não) nas salas que servem de palco e púlpito para defesa de purezas que nada mais são do que etnocentrismo, machismo, misoginia e homofobia, cansa defender o direito democrático à religiões que no fim das contas são apenas pano de fundo para a distorção de todo e qualquer ensinamento do Cristo que pregou o amor em nome do inflar de egos e carreiras políticas de pastores que conduzem ovelhas nem sempre negras á escuridão do fascismo.

 É chegada a hora de defensores de preconceito e incitação de ódios, sejam os líderes que conduzem as ovelhas ou sejam as próprias ovelhas que conduzem seu ódio pessoal e se escondem na confortável e omissa posição de gado, serem responsabilizados pelos crimes cometidos em nome de um Jesus ou de uma pureza que é tragicamente similar à rotulação, perseguição e morte de tudo o que não é parte do dito "normal": papai e mamãe presos na sala vendo novela da globo e com medo de discutir como patrão. 

Os discursos dos pastores atingem o objetivo de conduzir seu gado a um estourar de violência e morte, ódio e opressão, cuja culpa só cai no couro da ovelha louca ou excepcionalmente crente que aperta o gatilho, e isso é o ápice da corrupção moral e covardia ética, intelectual e humana das lideranças que falam o que querem, conduzem a atos de violência e se escondem atrás da responsabilização individual do imbecil ou louco que segue seus ensinamentos.

 O direito a fé é inatacável, assim como o dever de manter sua fé longe do crime e das lideranças religiosas serem responsabilizadas pelos ecos de suas palavras, sejam elas ditas nos púlpitos ou nos terreiros. A noite de Sâo Bartolomeu deveria ser uma lição de tolerância, mas virou um modelo de prática de intolerância assumido por pastores e padres em nome da cristianização do mundo. E a partir disso fica engraçado o demonio ser negro e batucar enquanto quem mata meninas por misoginia misturada com religiosidade extrema pregada por um pastor qualquer o faz em nome de um Deus que parece uma mistura de general com torturador.

O negro batucador é acusado de tudo, de magia negra a servir às forças da escuridão, mas todo assassino em série fala é em Jesus, toda homofobia e racismo tem Jesus como pano de fundo, da mesma forma que foi m nome de Deus e de Jesus que se justificou a escravidão e o assassinato de índios, que se justifica a homofobia  e a opressão de mulheres. Pelo que me consta não foi a umbanda que escravizou europeus pra mandá-los pras colonias da África.

 A carta do assassino de Realengo cita tanto Deus que se juntarmos com o assassínio cujo alvo prioritário eram meninas parece um resultado muito claro do grau de misoginia, preconceito e ódio defendido por várias religiões que colocam mensagens de ódio bem sutis, como as do pastor Malafaia na Avenida Brasil no Rio de Janeiro, ou declaram de forma nada sutil, o mesmo Malafaia entre outros, seu ódio a homossexuais, claramente, e a negros, enrustidas nos ataques às religiões de matriz africana, a sambas de Zeca Pagodinho com cagaço da lei anti-racismo,etc.

 Quero ver a defesa clara da culpabilidade de pastores e padres quando ataques como esse ocorreram e com a mesma velocidade da satanização das religiões afro com relação ao sacrifício de animais! E aí incluo os Ateus fofinhos e "críticos" que como uma versão bizarra do fanatismo religioso são rápidos e rasteiros e mahcos pra cacete pra chamar os fiéis de criminosos e imbecis, mas somem quando é hora de assumirem a responsabilidade laica de defenderem a vida humana para além de pseudo-racionalismos que pegam bem em festas hype.

 Sou Umbandista, sou comunista e não tenho nadica de sangue de barata, nem me pretendo aqui racional ou frio, dada a tragédia ocorrida na minha cidade e no bairro vizinho de onde eu moro. Antes pediria desculpas se estiver sendo injusto, mas evoco minha trajetória e minha defesa contínua tanto da liberdade religiosa quanto das lutas anti-homofobia, anti-racismo e contra toda e qualquer opressão para defender claramente: É hora de pastores, deputados e demais figuras públicas serem responsabilizadas pelo que dizem,s e a institucionaldiade não o faz que façamos nós, seja por meio de protestos diários, ovadas, protestos nas escolas de seus filhos, residencia, local de trabalho, seja por cartas, processos constantes,etc.. 

Não precisamos da violência para protestar, mas precisamos da veemência, da luta diária e da revelação desses defensores de ódios aos demais, sejam eles líderes ou paspalhos seguidores. Se existe um em seu local de trabalho, é hora dele sentir na pele a veemência do laicismo e a força da liberdade. Se a luta esperar PLCs estamos literalmente fudidos, sem o perdão da palavra.

 A cada Bolsonaro e pastores que defendem crimes e ódios existem os loucos ou fascistas que estão prontos para apertar o gatilho. Seremos pra sempre ovelhas a espera do abate? seremos Pedros Pedreiros Penseiros esperando o trem do papai estado ou do papai parlamento pra tomarmos posições na rua, na chuva e na fazenda? 

 Na minha fé ovelha é alimento e o sacrifício de uma ovelha é do animal que tem a lã pra nos aquecer e a carne pra alimentar toda a tenda. Homens e Mulheres são gente, responsáveis por si mesmos e por sua tenda, inteiros, íntegros e vivos, não correm pro abate, mas podem correr pra guerra se necessário, conscientes de que tem hora de Ser Oxalá Velho, e tem hora de ser o Oxalá guerreiro, que com Ogum, Oxóssi, Xangô e Logun-edé transformam sua realidade e o mundo.

 É hora de sairmos da pasmaceira e revelarmos os assassinos e defensores do ódio, é hora da guerra, uma guerra sem armas, sem mortes, mas com pichações, com vídeos, com faixas, com gritos e com a demonstração clara de quem são os animais que permitem que suas palavras acabem em mortos.

PS: Se o doido for Muçulmano ou não, não diminuiu em nadica de nada o teor das crítica,s porque uma hora aparece um doido Malafaista ou Pentecostal, com as mesmas justificativas, e duvido que o cabra aí não frequentasse uma Assembléia de  Deus da vida.