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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Nomadismo e Dandismo


Os últimos anos, em nossos territórios, têm sido uma magnífica vitrine para as espécies mais curiosas de oportunismo. Os gerentes do momento, na empolgação da vitória, exigiam apoio incondicional, jogando com o pavor da aberração tucana e da devastação que ela havia deixado pra trás. E contra a tucanada, a favor da ordem & progresso, os gerentes exigiam “pragmatismo”.
Mais do que qualquer outra, “pragmatismo” se tornou a palavra de ordem do dia, sendo invocada para justificar o aperto de mãos com o coronelismo semi-feudal & o abandono de qualquer projeto de reforma agrária, os acenos para privatizações tímidas ao ponto de precisarem de novos apelidos (concessões!), o etnocentrismo renovado em Belo Monstro, e toda uma série de sintomas familiares, demasiado familiares.
Sejam pragmáticos!”, “Parem de sonhar!”, “Não se pode fazer política sem concessões!”, e toda uma coleção de enunciados do tipo, eram sons que jorravam dos ex-trabalhadores.
Os novos donos do realismo não demoraram em distribuir acusações de lacerdismo, esquerdismo, mania de princípios e outras mais aos poucos que se atreviam a fazer oposição de esquerda ao governismo. A esquerda fomos transformados em cavaleiros morais, nem mais, nem menos, enquanto o pesado fardo de uma “esquerda possível”, que conhece “a vida como ela é”, cabia aos gerentes.
Na “vida como ela é” era preciso aceitar todas as contradições postas na mesa (dos coronéis aos banqueiros, passando pelos herdeiros do ARENA) para promover o maior programa de expansão e consolidação jamais visto deste lado da galáxia.
Aos opositores, restava uma classificação pantanosa: das mil e uma flexibilidades admitidas na hora de negociar a “governabilidade”, nem meia foi usada como medida para os hereges. Aqueles que desafiavam a chefia da casa agora estavam todos com a direita, preto no branco.
O que se não se lembraram de dizer pra si mesmos é que pragmatismo – essa arte de avaliação de uma ação por suas consequências, já que “o único critério de verdade é a prática”! – não é oportunismo, que realismo não é realpolitik, que princípios e programa não são a mesma coisa. E vamos lembrando de que o mesmo grupo que hoje prega o abandono dos princípios em política em nome do oportunismo invocava, não tem muito tempo, o monopólio da moralidade política.
Justificado com uma filosofia da omelete (afinal, se queremos um governo de esquerda é preciso quebrar alguns ovos!), o sacrifício de ações necessárias e da maior parte do antigo programa político do movimento, da reforma agrária à reforma urbana, era condição necessária para a redução da pobreza e a integração social.
As palavras de ordem dos novos publicitários da situação, em todos os níveis de defesa do falso pragmatismo, falam sempre em “redução da pobreza” e “consumo de massas” nos tons mais histéricos que podem.
Um escrito recente, por exemplo, fala no asco da “velha” classe média diante das turbas incluídas no mercado consumidor, que gloriosamente “começaram a fazer turismo, a comer iogurte, beber vinho, fazer escova progressiva ou cirurgia plástica, a comprar carro, computador, tablet, tudo o que agora podem e têm direito”. E se sustentando na mágica da subida do consumo de massas, condena uma suposta pedagogia iluminista a ser aplicada ao povão, finalmente alforriado das mazelas existenciais que o perseguiam.
Belo exemplo da nova casta de publicitários da gerência: o “monstro” popular, massa selvagem e nomádica, criado pelo último ciclo econômico, é a libertação das massas em seus instintos primários e livres, contra o moralismo religioso da antiga classe média, punhado de brancos proto-fascistas.
O que dessa vez esqueceram de dizer pra si mesmos, quando requentam a tática das falsas oposições (pragmatismo X lacerdismo, dessa vez apresentado como massas-nômades X elites-sedentárias), é que popularidade não é sinal de nada além de popularidade. Como não é raro dizer por aí, também os líderes fascistas alcançavam patamares inacreditáveis de aprovação popular. Mais do que isso, a jogada dos publicitários da vez poderia passar quase despercebida: confundimos o povo por vir, como movimento de mobilização e libertação, com o “monstro” que descobre os prazeres do iogurte e do tablet.
Não se trata, jamais, de recusar o acesso das massas aos bens sociais, pelo que já queremos evitar que nos chamem de direitistas de última hora. De modo algum. Só perguntamos se o que queríamos no início era uma sociedade de consumidores, nada mais do que uma sociedade de consumidores.
O delírio que nos querem fazer engolir é o de que consumo de massas e reconstrução social são uma e a mesma coisa. Assim como a eles, o conservadorismo senhorial da classe média nos enoja. Mas também nos enoja o oportunismo desenvolvimentista, que divide lençóis com EBX, Odebrecht, ruralistas e companhia, que sacrificou um programa de ação concreto construído ao longo de uma história de lutas e ruas.
Os publicitários leem, tão de perto quando conseguem, certos pensadores franceses de 68, mas cabe lembrar que o ídolo dos publicitários, Deleuze, não era apenas um gênio da especulação selvagem. Era um gênio da especulação selvagem que até o fim da vida reivindicava a urgência de um pensamento de esquerda, do anticapitalismo, do “devir revolucionário” como acontecimento, que tinha como companheiro de escrita um militante radical vindo do extinto PSU francês.
Aprendem a reproduzir uma boa métrica, imagens barrocas e enunciados libertários – todos eles filhos de uma geração rebelde que pretendeu pensar maio de 68 e a “imaginação no poder” –, e querem fazer com que agora passem a maquiar o “monstro” consumidor.
A libertação da gerência é a expansão da liberdade de consumo a todos, projeto bastante magro pra quem quis atualizar uma real ruptura social. Resta saber se é este o grande ganho civilizatório que justifica a ruptura não com o status quo, mas com todos os movimentos que construíram esse projeto e agora se veem jogados nas sarjetas da história recente, dos órfãos de Pinheirinho aos movimentos camponeses.
A experiência não acabou, e os últimos minutos da prorrogação sugerem que as coisas não vão tão bem assim. O “monstro”, infelizmente, pode ter começado a sugerir a que veio. Sua coroação política mostra bem a maravilha produzida pelos que o amamentaram, acreditando que a integração do corpo social pelo consumo poderia substituir a integração pela expansão do espaço público e dos direitos sociais conquistados.
O suposto nomadismo das massas libertas se monstra cada vez mais como o sonho paradoxal de um dandismo intelectual que no seu romantismo tomou iogurte por moradia, tablet por terra.
Podem ser alegadas suas boas intenções, é verdade. Mas sabemos das estreitas relações que as boas intenções têm mantido com o inferno. O “monstro” são as massas consumidoras, o projeto dos ex-trabalhadores termina em uma sociedade de consumidores, e a nova cabeça do monstro, nascendo ao lado de Lula, não é o PT, é Russomanno.

Oscar Ginsberg
Oscar Ginsberg é um pseudônimo de um pensador tímido com ligações perigosas com os Iluminatti, meu amigo e companheiro de militância.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Das resistências e primaveras

Quando a gente fala em resistência se pensa imediatamente em resistência armada, pedras, tiros, coquetel molotov. 

A resistência tem imediatamente a marca de impedir sob quaisquer meios que o outro, o opressor, nos estupre, avilte, domine. Ela é a marca da ação, ela é a marca da força em sentido invertido, mesmo que derrotada, esmagada.

Essa percepção não está incorreta, não parte de uma visão tosca, míope ou reducionista, resistir é também combater e o ato do combate tem em si mesmo a eloquência visual e filosófica, é claro, tem efeito imediato.

O combate no entanto não é a única forma de resistência. A resistência se dá também pela afirmação de identidade, pela negociação, pela organicidade e organização de grupos.

Estudando a escravidão no Brasil a gente percebe que a visão do combate como forma de libertação parte da visão da liberdade como um horizonte perceptível para o escravo, como se um objetivo a ser alcançado, quando em um sistema escravista a concepção de liberdade só era possível para quem algum dia foi livre antes. 

Ou seja, o africano ao chegar tinha a ideia de liberdade clara, por ter sido livre, mas o escravo, nascido na escravidão, não tinha em seu horizonte um conceito de liberdade como opositor à seu estado de escravo, a escravidão era para ele natural.

A ideia de liberdade era tida como um conceito universal, mas esse conceito universal partia da concepção alienígena ao escravo, especialmente o crioulo, e também partia do princípio que havia uma identidade negra concreta, uma consciência "negra" que unificava africanos e  crioulos em um só desejo de se libertar do jugo do senhor.

A própria ideia de uma consciência unificada parte de uma natural união entre africanos e crioulos a partir da unidade fenotípica, ou seja, a partir da ideia de que por serem negros se uniriam por uma identidade de cor de pele, ignorando diferenças entre nações africanas e mesmo entre concepções de realidade entre africanos, nascidos livres e transpostos à força para a condição de escravos, e crioulos, nascidos escravos e imersos na naturalização da escravidão, no entendimento da escravidão como algo dado.

Mesmo a liberdade como um conceito unificador parte do princípio que coletivamente era algo claro no horizonte da razão da diversidade do povo preto aqui vivente. O que se esquece é que quando o Malê falava em liberdade não incluía automaticamente o Mina ou o Nagô, nem tampouco entendia o crioulo como não escravizável, sendo todos negros.

Por isso o escândalo em torno da descoberta de negros escravos possuidores de escravos ou negros forros que adquiriam novos escravos ou de revoltosos escravos africanos que entendiam a escravização de escravos crioulos em um reino africano na América como algo extremamente natural se sua nação fosse liberta. Esse escândalo parte da ideia da liberdade como valor universal para aquela população e não como o contrário, como a liberdade sendo um valor alienígena dentro de um sistema existente durante mais de trezentos anos.

Além disso, o escândalo de negros escravizando negros, usado de forma hipócrita para justificar a escravidão pela direita moderna, também parte da ideia de que a cor da pele unificaria naturalmente as nações africanas aqui escravizadas ou que um sistema longevo que permeava todas as camadas da sociedade durante trezentos, mundialmente falando,  não seria entendido como um sistema que construísse  uma leitura do real, reproduzida geração a geração e criando muros invisíveis nas cidades e nas consciências de negros, brancos, livres ou escravos.

A própria ideia de que a cor da pele produz identidade automática é de certa forma racista, pois não parece perceber que Alemães, Portugueses, Espanhóis, Catalães, Bascos, Irlandeses e Ingleses podem ser brancos, mas não esquecem suas diferenças nacionais e culturais.

Dentro desse entendimento a lógica da resistência muda de eixo para toda e qualquer ação que permitisse algum tipo de cunha no mecanismo de opressão a que estava exposto o escravo, africano ou crioulo, e por isso que o escravo crioulo tendo a escravidão como fator natural, dado, constituía essa resistência nas confrarias religiosas, nas associações que lhes permitisse via união organizada, organicidade, mecanismos de minimização da opressão e ganhos reais, inclusive de status social, e de ação coletiva que inclusive tomasse para si a tarefa de libertação de alguns dos associados escravizados sob o jugo de senhores especialmente cruéis.

Pelas irmandades e associações os escravos conquistavam inclusive uma humanidade retirada deles em sua condição de peças, de um tipo de vida com status análogo do de um animal de carga, de trabalho. Demarcavam também diferenças entre crioulos, nascidos no Brasil, e  africanos e como essa diferença era entendida no plano social, com os Crioulos tendo proeminência nas associações.

Neste aspecto se não podemos unir no mesmo saco de gatos africanos e crioulos, nem mesmo as diversas nações de africanos, a consciência da situação de sofrimento e de necessidade de colocação, inclusive como humanos, em uma sociedade escravista fez dos pretos crioulos mestres em um tipo de resistência que lutava entrincheirada na própria sociedade que o escravizava e utilizando os mecanismos dela para a conquista de espaços próprios de ação, de melhoria de vida, inclusive de uma libertação dentro da concepção pertinente ao tempo e à sociedade: Tornando-se senhor de escravo.

Essa ideia de resistência era uma ideia concebida no interior da sociedade, não se entendia fora dela, aliás a própria ideia de uma outra sociedade era um horizonte distante, a sociedade dada, escravista, era aquela e a resistência construída em seu interior entendia-se como a resistência possível.

A resistência enquanto rompimento era uma lógica de pensamento que se excluía de uma sociedade que era, ela mesma, estruturada na lógica da escravidão como algo dado, era como se se exilasse do cotidiano, das relações sociais presentes, sem no entanto uma utopia estruturadora de uma nova sociedade, no máximo uma busca de reprodução dos também escravistas, e parte do sistema internacional que mantinha a escravidão, reinos africanos.

Em um paralelo analógico, forçado inclusive, podemos dizer que a lógica de resistência enquanto construção da revolução socialista, dentro da sociedade Brasileira, mesmo com uma utopia estruturadora, se encaixa mais no âmbito da exclusão do discurso do cotidiano do diálogo popular, da lógica de convencimento do povo e não porque a resistência não é possível, mas porque o discurso se exclui da possibilidade imaginada, da ideia de construção de algo que avance mais, pois a própria ideia de sociedade se baseia na ideia que o capitalismo é dado, de que nosso cotidiano não é possível fora da lógica de capital.

Neste entendimento podemos, também analogicamente, entender que o horizonte do consumo como alcance libertador possível é análogo ao da conquista do direito de ser senhor de escravo na sociedade escravista. 

Esse fator hoje ocorre não porque é impossível de ser mudado, mas porque a sequência de derrotas do discurso e pensamento de esquerda no âmbito da política, com inclusive a opção preferencial pela acomodação feita pelo PT a partir de 1996/98, tornou o discurso hegemônico neo-liberal como algo dado, natural, eterno e imutável, sendo impossível alcançar mudanças fora dele.

É primordial nesse sentido entender que para a reconquista do horizonte utópico que permita no longo prazo um avanço político estruturado para a superação do sistema é primeiro necessário reconhecer que hoje a utopia precisa de um horizonte reconstruído ainda dentro dos marcos possíveis, reformistas mesmo, mas construídos pela radicalização da cidadania e da democracia, pela ampliação da participação popular e re-estatização do estado. 

É preciso a reconquista do universo da utopia, a reconstrução da possibilidade de se pensar o novo, de se construir o novo. 

Para que se entenda que nada deve parecer impossível de mudar é preciso que consigamos romper a barreira da naturalização do capitalismo no horizonte, de redução do impacto do capitalismo no horizonte da sociedade, no horizonte popular. 

Para que se entenda que nada deve parecer impossível de mudar é imprescindível que consigamos convencer o mundo de que nada deve parecer natural.

Assim como para o escravo a escravidão era dado, mesmo assim a resistência era feita pela construção de mecanismos de organização é pela organização e superação das barreiras intestinas da sociedade, dos muros invisíveis, que podemos construir novamente o horizonte da utopia e assim como o abolicionismo, abrir as portas para a liberdade como horizonte possível.


Para que a revolução se torne um valor cotidiano é preciso que reconstruamos o cotidiano político, esfacelado pelo ethos neoliberal.

Para construirmos o verão é preciso tornar possível a primavera, no Rio, no Brasil, no mundo.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O Tempo da Política

A política no brasil, é notório, é definida popularmente como detentora de um tempo próprio, de um período onde é dado a ela o papel fundamental na vida das pessoas e onde a discussão política ganha um espaço privilegiado. 

Este tempo é, óbvio, o tempo das eleições, onde inclusive há a lenda do aparecimento, do avistamento, dos políticos, que são entidades disciplinadas pela periodicidade de quatro anos e pela oferenda da representatividade de do prestígio local no "fazer", também conhecido como "construir".

Os políticos são também tidos como entidades limiares, ou seja, cuja ética e moral não obedece ao padrão coletivo ou "superior" e cuja manifestação tem uma cara e um cheiro específico que relembra o lado negro da força.

Ironias à parte, essa visão é tanto uma construção de uma tradição baseada na experiencia cotidiana, empírica, pela população como resultado da redução da política ao voto e à participação nas eleições como atores, cabos eleitorais, elementos de prestigio nas comunidades pelas relações com quem "traz benefícios" para a comunidade,etc. Essa redução é uma carona que parte do aparato midiático pega na tradição da política anti-democrática tradicional no Brasil (diria que no mundo) para reduzir a participação popular ao ato de votar e inibir ações concretas de transformação via ativismo.

A ação que transforma a política em ação restrita dos políticos e afastada do cotidiano da ação popular direta é também vista na noticia das greves como privilégios, das manifestações como atrapalhadores do trânsito, de reajustes salariais como "Bônus" e não como direitos e que comparam salários como se um trabalhador melhor remunerado fosse  um "marajá nomeado" e não um trabalhador que vende sua força de trabalho em troca de salário como o gari, o guarda, o balconista, todos com direito à greve.

O tempo da política da sabedoria popular é uma análise da sazonalidade da presença do estado via poder legislativo e executivo nas comunidade, mas também é usado como referência da política como algo afastado do cotidiano e com trânsito impossível pro popular, especialmente nas grandes cidades onde a circulação do poder nas ruas é restrita.

Esse afastamento da vinculação de greves, manifestações e ativismo do que é chamado de política e que leva às pessoas  entenderem a política em espaços "de relaxamento" como uma afronta, dado que para muitos existem espaços "alheios e independentes da política", e por isso aparecem nas redes sociais, festas e praças reclamações sobre a presença de manifestantes e militantes como invasores, dado que para a maioria da população o militante não é um defensor de um ideal, mas um cabo eleitoral pago para a propaganda política e ou diretamente interessado pro razões pecuniárias ou de influência na eleição de x ou y, como s1e a política fosse apenas a apropriação do aparato do estado para fins privados.

A visão sobre a apropriação do estado pelas forças políticas em disputa não é nada contrária à realidade cotidiana, inclusive fortalecida pela ação inclusive de forças de esquerda neste aspecto, só que restringe a política à reprodução da privatização do estado pelas forças hegemônicas da política cotidiana que vive em nossa história desde sempre, mantendo a tradição monárquica que sustentou a  formação do estado nacional brasileiro. 

Este estado, formado a partir da lógica de laços sanguíneos como fundadores da tradição política nacional, foi mantida inclusive pelo estado republicano que ampliou o caráter liberal do estado brasileiro redesenhando a correlação de forças interna a ele apenas quanto à redivisão do poder no seio da oligarquia e não ampliando democraticamente o controle do poder para o todo da população. 

Caia o imperador, mas não se alterava significativamente em que mãos se assentava o poder, tampouco se alterava a lógica de tutelação da população e de identidade deste como um mero observador do cenário político. Dá pra perceber que a ideia do povo como protagonista da história ainda permanece como anátema nas colocações deste como um mero bestializado cotidiano, especialmente e infelizmente nos círculos da elite que se pretende esclarecida, lógica de bestialização que ainda considera a população como distante do esclarecimento necessário para a ação política.

A construção desta lógica é feita tanto pelo trabalho cotidiano do aparato ideológico de manutenção da dominação de uma elite por sobre a população e que constrói a história ocultando as lutas cotidianas que levaram pela pressão grevista ou pelas revoltas contra remoções à conquistas de direitos pela população ( como a CLT, a construção de movimentos sociais de resistência às remoções, partidos e sindicatos) quanto pela opção tradicional de formação da memória brasileira que preferiu a personalização da história à crítica que incluísse democraticamente todos os atores da formação do Brasil no cenário da Grande História. 

O resultado desse processo é o Tempo da Politica, ser um tempo institucional, dado externamente ao cotidiano popular e onde se entende o espaço popular de obtenção junto aos políticos  do que não conseguirão ao fim deste tempo.

À Esquerda cabe não só a ação cotidiana e o redefinir da participação política neste período e também à ampliação do circulo de ação política para além da demarcação eleitoral, mas também a redefinição de seu papel "educacional", não como um tutelador de um povo bestializado que precisa de "consciência", mas como um reprodutor do que se entende por História, como um ampliador das discussões que revelam ao povo sua tradição de lutas e que lhe permitirá a construção de sua consciência pela consciência de seu próprio passado. Esta consciência sendo não a "doação de luz", mas um retirar dos véus que a história tradicional usa para ocultar o DNA do povo na formação de um país cujo DNA é mais seu do que da elite que se apresenta como "proprietária" do Brasil, quando no máximo parasita um país formado pela força popular, pela força da cultura popular.

O Tempo da Política é o tradicional período de eleições, mas cabe nele a ampliação que só pode ser feita pelo trabalho cotidiano de quem entende este tempo como o respirar cotidiano, também chamado Vida.




sábado, 30 de junho de 2012

Lula e Dilma: Um só governo

Muitas vezes vemos no discurso da oposição de esquerda uma separação entre Lula e Dilma, como se a segunda desvirtuasse o que o primeiro construiu em seu governo. Esse discurso encontra eco na mídia tradicional que opõe ambos, como se Dilma fosse superior a Lula e também entre os apoiadores governistas da blogosfera por vezes  se vê um argumento esquizofrênico de "continuidade e ruptura", ou seja, quando é bom é continuidade, quando é ruim é ruptura, isso nos que conseguem ainda articular argumentos para além da ladainha ufanista.

Confesso que essa lógica me incomoda por uma série de motivos: Primeiro porque a política de alianças, composição de ministério e de ação do governo não teve uma formidável alteração. Aliás, teve muito pouca alteação e a práxis do período Dilma inclusive já estava sendo desenhada nos dois últimos anos de Lula, tendo sido inclusive responsabilizada pela atuação do Brasil diante da crise mundial; Segundo porque a lógica de desenvolvimento do governo Lula e do governo Dilma em sua dualidade entre avanço da intervenção do estado na economia e a implementação de programas de garantia de renda estão ai, com  os mega empreendimentos, política energética e projetos de aquecimento do mercado da construção civil (Belo Monte e  Minha casa, Minha vida, por exemplo) aliados a uma imensa injeção de dinheiro no crédito para manutenção da industria e fomento ao consumo, investimento maciço do BNDES nas empresas nacionais e na expansão para a América latina e o eixo sul-sul da economia mundial, e também com o Bolsa-Família aliado à políticas de crédito barato ao consumidor ampliando a rede de consumo enquanto garante a sobrevivência da população na miséria; Terceiro porque o eixo de desqualificação de Dilma tem um estranho viés sexista e machista, que atribui à "estupidez" e "frieza" da "homofóbica" todos os pecados que o mito Lula não cometeu, sendo que toda a estrutura de ação política e de estratégia e tática estão ali, só que sem o véu do carisma para ocultar o rabo de capeta por trás a auréola de santo.

A eleição de Dilma inclusive serviu ao PT e a Lula como forma de  dupla estratégia, por um lado permitiu a ampliação do poder de Lula sobre o partido e sua massa de apoiadores, fiéis depositários de sua "infalibilidade" ao eleger uma tecnocrata insípida a presidente do Brasil e por outro satisfez a um PT cada vez mais burocratizado e que teve vários de seus principais quadros nacionais abatidos pela crise do mensalão em pleno vôo enquanto se consagravam como alternativas viáveis a Lula quando seu segundo mandato vencesse. Além disso, permitiu uma saudável ausência de Lula quando alguns dos efeitos ocultos da crise de 2008 se manifestasse, deixando no colo da "Tecnocrata" a bomba de resolver o problema e deixando Lula como uma carta na manga caso 2014 desandasse pro PT.

Para o PT Dilma caiu do céu, mantendo sua estrutura de ocupação do estado com os cargos que alimentam a massa de sua burocracia partidária e de parte de seus apoiadores, inclusive "virtuais", e evitando expor Lula a manobras para a conquista de um terceiro mandato e ao enfrentamento de restos da crise de 2008 e seu possível desgaste. Para Lula a eleição de Dilma o elevou ao patamar da genialidade e da santidade, genialidade para até observadores externos e oposição e santidade para seus fiéis seguidores, que hoje são maioria do PT quase expurgando a esquerda socialista que ainda teima em se agarrar ao resto que a burocracia lhe permite para se alimentar.

Para os movimentos sociais e apoiadores de esquerda do governo Lula/Dilma,  Dilma também serve como o espantalho que "traiu" as bandeiras que lhes levaram a se jogar na eleição de 2010, inclusive queimando pontes com quem desconfiava que Dilma não seria tão diferente de Serra na prática, especialmente nas questões sensíveis como LGBT e de gênero, onde houve uma clara opção pela base de apoio parlamentar conservadora para derrotar o tão conservador quanto José Serra, Tucano da pior cepa.


E aí é que está o busílis, Dilma não traiu nada, porque não se pode trair algo que nunca houve. Os Governos Lula se esforçaram em conferências intermináveis que geraram diversas linhas de atuação legislativa e de intervenção na sociedade que em sua maioria foram descartadas, ignoradas e ou simplesmente estripadas no congresso com anuência e cumplicidade da base de apoio, e maioria do PT em si.

O que foi gerado durante o governo Lula em sua maioria foi deixado para o governo Dilma vetar e lidar com a truculência que lhe é cara, exatamente para não indispor o mito com as exigências da realidade. Código Florestal, Kit Anti-Homofobia, Belo Monte, politicas de gênero, estatuto da igualdade racial, tudo isso já estava desenhado para que as decisões fossem estourar  no Governo Dilma, deixando para a "Tecnocrata" a responsabilidade de executar a parte da estratégia que livrava do mito o risco de arranhar os 80% de popularidade.

Essa inclusive é uma das maiores genialidades da coisa toda, e muito sim com as digitais de Luiz Ignácio, porém não é oculto e nem difícil de ler que o que está em ação é um Governo só, um projeto de poder levado a cabo desde 1996 pela ala majoritária do PT e que conquistou o poder em 2002 exatamente por ser um projeto sólido, que pensa em todas as áreas da administração pública e tem visão estratégica, se mantém em seu movimento pendular de adulação da população e de remuneração da burguesia e não pretende barganhar sua estratégia com gritos e sussurros da esquerda desamparada.

A separação portanto do projeto em dois é um serviço que se faz ao PT e seus apoiadores de manter o digníssimo líder livre das piabas do cotidiano enquanto o projeto se mantém com um quadro duvidoso se consolidando como manager do capitalismo brasileiro (Dilma) e um pusta quadro mitológico de reserva aguardando e pagando de Harry Potter da República, um neo-Getúlio democrata (Lula).

As peripécias em torno da candidatura de Haddad a prefeito de São Paulo inclusive obedecem a mesma lógica e reforçam a tática de lançamento de um quadro obscuro com potencial de crescimento para as feras, que se não der certo e cair tem todo um arcabouço de explicações prontas para deslegitimar críticas ao bruxo, e que se pretende um reforço das habilidades mágicas do todo poderoso líder genial dos povos enquanto cria-se uma base sólida para a candidatura petista ao planalto, seja ela a reeleição de Dilma ou um novo postulado de Lula.

Se a mídia corporativa erra ao desvincular Dilma de Lula pelas qualidades que agradam ao conservadorismo, enquanto por outro lado fortalece o projeto como um todo indicando sub-repticiamente que o Mago tem visão além do alcance, a oposição de esquerda erra pois acaba por personalizar a política, dando combustível à principal tática  do PT, que é a manutenção do carisma do grande líder intacto, além de acabar por não responder a perguntas que lhe fazem os que buscam nesta oposição uma alternativa ao projeto político hegemônico.

Portanto é preciso que não caiamos na facilidade de separar o projeto e sua continuidade da análise política que incluem todos os participantes nele, e não separa o líder da seguidora, como se a "pobre mulher" fosse uma incompetente homofóbica e conservadora e seu mentor um santo.



domingo, 24 de junho de 2012

Havia um golpe no meio do caminho

O Golpe parlamentar sobre Lugo contém questões e problemas muito maiores do que o simples e raso discutir sobre tamanho de base parlamentar, contém lances que lembram bastante o velho e bom imperialismo, interesses de países e burguesias locais e também a sustentação de táticas recentes adotadas pelo governo e principal partido de sustentação deste, o PT.

Lugo (que nunca foi exatamente um Evo, um Chávez) sofreu golpe após ter sido acusado de fraco diante dos conflitos fundiários que ocorrem no Paraguai que assustavam especialmente a ala da economia vinculado ao agronegócio, especialmente ao agronegócio brasileiro. Este golpe não foi nem o primeiro, inclusive.

Não tardou a pulular na grande rede, especialmente vindo de "blogueiros Progressistas" teses que "embasariam teoricamente" uma análise acurada do golpe, e o incrível é que elas em geral apontam pra corroboração de duas teses interessantes sobre a sustentação de governos de esquerda: A primeira a que coloca a necessidade de ampla composição para se sustentar, evitando golpes e a segunda a que exige uma base social forte e um governo idem para manter a sustentação nem que fosse na porrada.

Ambas as teses não são novas, elas sustentaram as manobras do grande Leonel Brizola e sua lógica particular de esquerda que incluiam a busca de "grandes nomes" para atração de votos com composições nada higiênicas com partidos e políticos tradicionais pro vezes tão danosos, embora menos famosos, que Maluf. Tá aí a composição com José Nader no Rio que não me deixa mentir. 

A tese pelo lado do governo forte com base social também estava presente na ponta da língua do Velho Caudilho, herdeiro que era de outro Velho Caudilho conhecido como "pai dos pobres", e é frequentadora atávica das almas e línguas de parte da esquerda vinculada com uma percepção mezzo afeita a Stálin (mesmo entre trotkistas)  do programa democrático-popular.

O legal das duas vertentes é um interessante, e histórico até, método de "esquecimento" de elementos que fazem as teorias mezzo furadonas que nem peneira. Em ambas se ignora a ideia da ampla base social sem maioria parlamentar como sustentadora de governos democráticos de esquerda, vide Evo, ou "progressistas", tipo Corrêa, e de governos democráticos pero no mucho também, vide Chavez, onde a base parlamentar foi solenemente solapada em suas tentativas de golpe pela galera na rua. E vamos combinar que nenhum dos três foi exatamente fofinho com a direita e fez assim composições,né? 

Outro lado interessante é uma sub-reptícia condenação da esquerda radical, ao ponto de dizerem que Collor sofreu um golpe parlamentar por "questões menores" como Lugo. Além de distorcer a história ignorando  o todo do processo de impeachment de Collor com ampla participação da tal base social conduzida pro um conjunto de ações levadas a cabo pela esquerda radical e movimentos sociais, os "teóricos" ainda fofamente utilizam uma veste de madeira às suas faces para dizer que o arcabouço de elementos que levaram ao impeachment eram "nada". 

Para isso usam também o fato de Collor ter sido inocentado no STF, ignorando tanto que a justiça não é exatamente imune a pressão política e a elementos, digamos, não usuais de convencimento para julgamentos, quanto ignorando que os elementos constitutivos da cassação podem ser reais, concretos para um julgamento político porém de forma a não qualificarem-se para as exigências técnicas do processo legal. Cheques em nome de Collor obtidos de forma nebulosa, ou ilegalmente, provam politicamente que Collor cometeu peculato, foi corrupto, porém não podem ser usados me julgamentos pela forma de obtenção, por exemplo.


Além disso tudo as teorias tem um leve cheiro de sustentação de uma estratégia levada a cabo pelo Governo Lula/Dilma de alianças e expansão eleitoral sem muito critério,digamos, ético ou mesmo ideológico, dado que ao redor delas paira a lógica do "Temos de ver a dificuldade de manter nossa estabilização democrática". Esse discurso é usado para não só justificar alianças, como para justificar políticas de recuo ou não-avanço em questões limiares entre a dita direta e a esquerda, entre bandeiras que se confrontam, como a legalização do abroto, o combate a homofobia, a titulação de quilombos e territórios indígenas, reforma agrária,etc.

O interessante é também a similaridade deste discurso e o discurso tucano nos anos 90 onde FHC o utilizava , o discurso da estabilidade, para sustentar acusações contra a pressão popular e da esquerda radical por avanços na reforma agrária e nas questões supracitadas.

O que complexifica o engolimento das teses assim a seco, é a sutil presença do agronegócio no entorno da crise, e mais, a questão Itaipu posta com leveza por Lugo sobre a mesa que incomodava o Governo Brasileiro, o último a se pronunciar, e de forma tímida, sobre o golpe e o primeiro, e único, que se dispõem a receber o presidente golpista.

A velocidade do surgimento das teses ocorre em um momento de profunda critica interna pela esquerda que o PT sofre pela construção de seu arco de alianças para as eleições municipais deste ano e pelo estranhamento com as movimentações do Governo Brasileiro no caso Lugo. Governo Brasileiro que foi eleito também como esteio da esquerda sul-americana, argumento dito, redito e repetido ad nauseum por seus apoiadores quando da necessidade de amplo apoio para a superação de Serra.

O problema das teses requentadas é que havia um golpe no meio do caminho e um golpe não é jamais feito assim, sozinho, do nada, sem sustentação, muitas vezes externa, para se manter.

terça-feira, 29 de maio de 2012

A esquerda odeia futebol

A esquerda não joga bola.

Sim, a esquerda odeia futebol. Ela o declara diariamente, ela diz todo dia, toda hora: , "é o 'ópio do povo'". Ela o culpa pelo estádio ser construído de forma sacana pelos governos e entregue à iniciativa privada depois. É clara a culpa, é do Futebol. O futebol, quando aceito, tem de ser o Futebol "antigo" e não o "moderno", ignorando que o futebol é moderno por excelência, como a arte moderna, como o rock ou a coca-cola. 

O Futebol, senhores, é filho dileto do capitalismo. Não tem choro nem vela, negada! A bola é da modernidade! O futebol é peão de fábrica!

Quando Marx escrevia o velho "Das Capital", boleiros ingleses e Alemães batiam sua pelada antes de irem pro sindicato, se bobear com o velho Karl bizoiando.

O negócio é que para a esquerda o espantalho simplista é uma necessidade. Pra que lidar com o fato do proletário ir com fome ver o Mengão, o Flusão, o Timão, o Porco ou o Bambi batendo sua bola nas tardes de domingo, explicar o fato, lê-lo como parte da vida, lê-lo como alimento da alma de comunistas e fascistas, de homofóbicos, machistas, feministas e libertários? 

Pra que pensar nele como um elemento de mais que lazer, mas de adaptação de diversos fatores culturais e de diversas culturas diferentes? 

Pra que pensar no futebol como um fenômeno que consegue agrupar Turcos que fazem lembrar rivalidades da idade média entre torcidas de corrida de biga; Brasileiros que parecem fazer um mix de rituais antropofágicos indígena com procissão religiosa portuguesa e pitadas de capoeira, samba, tarantela, quibe e cachaça; Alemães, Italianos, Ingleses, Angolanos, Egípcios, Sauditas, Iraquianos, Chineses, Japoneses?

Pra que fazer isso se posso reduzir o futebol ou ao "ópio do povo" ou a um fruto proibido da árvore da vida da pureza popular roubado por mãos capitalistas esfaimadas?


E ai é que está.. A esquerda não sabe ir além do esquemático, da equação mais simplista baseada de forma longínqua no marxismo mais reles. E ai pega o Futebol, que leva mais gente no estádio do que a esquerda consegue convencer a ir na assembléia e o elege como vilão. Fez isso com o Samba e faz com o Funk também. 

O Futebol tem uma longa família de "ópios do povo" a ele irmanados no preconceito e na estranha sensação de que no fundo a esquerda tem medo do povo, de entender o povo para fora do manual prático do leninista fornecido no PC mais próximo, emulado pelos trotkistas e às vezes por anarquistas que constroem suas ilhas de autonomia, suas ilhas da fantasia externa ao mundo real que domingo vai no maracanã.

O Futebol, o Funk,  e por vezes o Samba, são ofensas a uma Esquerda criada, gerada, alimentada pela ideia de que "é preciso evoluir" , é preciso sair da "ignorância da pobreza". São ofensas porque esta esquerda busca que o "novo homem" seja uma imagem e semelhança de sua visão, de sua educação, de  seu modus operandi. 

O "novo homem" da esquerda é o velho pequeno burguês janota que ouve Chico Buarque e tem nojod e Michel Teló... Enquanto isso o povo...

A esquerda não joga bola, a esquerda não ouve funk, a esquerda às vezes não gosta de samba, talvez seja doente do pé ou ruim da cabeça.

O papel do futebol no dia a dia das pessoas, que utilizam-no inclusive para enfileirar metáforas utilizando seus termos, como "embolou o meio de campo" ou "não vou ficar no zero a zero", é solenemente ignorada por uma esquerda que se coloca como defensora do povo, e como quem luta por interesses "populares", mas de que povo estamos falando?

A esquerda não leninista diz que luta contra um "futebol Moderno" que "rouba a essência do futebol", mas como ela trabalha com o fato de toda a construção do Futebol no Brasil, por exemplo, ter sido feita em seu germe da mesma elite que levou seu ethos às torcidas que até hoje repetem mantras emitidos pela nata da sociedade que fundou Fluminense, Corinthians, Palmeiras, Flamengo? Como se funda um novo futebol "lúdico" em um mundo capitalista sem notar que o futebol é tão filho dele quanto a linha de montagem? E que "essência do futebol" é essa? Tem fadinha sininho?

O que faz o futebol ser esse fenômeno? Quem o compartilha? Como se dá o torcer? Como se dá a filiação a um time? Por que ele é popular? A Esquerda se pergunta isso ou prefere criar fábulas, contos da carochinha ditas seriamente, com a sisudez bolchevique que transforma piadas em atos solenes, e a pasmaceira do monólito vivo de 1917 em uma pedra fundamental de papelão, cenográfica? Aposto na segunda pergunta.

Ignorar que o futebol é popular, tem raízes profundas nas diversas nações. culturas e populações é miopia grave, especialmente para quem se reivindica marxista e alinhado a uma avaliação do concreto que lida com o real de forma dialética e nunca construtora de monólitos teóricos imutáveis.

Falar em nome de um povo que ama futebol sem sabê-lo e torná-lo um opiáceo pra esse povo é só burrice mesmo.

A esquerda não usa óculos.