No texto
abaixo eu meto uns paus, faço umas críticas e reclamo de umas
coisas, entendi que estava também incluindo algumas solucionáticas
enrustidas no apontamento da problemática. Seguidor das leis de Rei
Dadá esperava e entendia que alguns apontamentos incluídos sub
repticiamente no texto ficariam claros, mas amigos bem sacadores não
sacaram e resolvi escrever as propostas num “Que fazer?” caboclo
meia boca.
Primeiramente
acho que é bom explicar, embora seja óbvio, que de Lênin eu não
tenho nem a careca. Segundamente não tenho experiencia forte em
administração pública, ou seja, jamais atuei no poder então meus
pitacos são especificamente de fora, cometendo obviamente deslizes
no que foge à minha alçada.
As
críticas que coloco relativas aos posicionamentos partidários são
simples de esclarecer o que proponho: Fortalecimento das instancias
internas com nucleação forte, nucleação de base com relações
inter núcleos via plenárias regionais frequentes e com isso
levantamento de questões à plenárias de direção que encaminhem
diretrizes às executivas partidárias. O uso de um falso centralismo
democrático travestido de colegiado de correntes e tendencias é
golpe imediato na democracia interna de partidos como PT e PSOL.
O PSTU e
PCB já partem do centralismo democrático clássico, críticas à
parte sobre a existência ou não de burocratização neles, mas
partidos como PSOL e PT se colocam como partidos de correntes de de
núcleos, se você interrompe o oxigênio partidário com
enfraquecimento dos núcleos você amplia a burocratização e mata o
partido, ao menso a diversidade e se bobear sua inclinação
socialista, ainda mais se a opção pelo eleitoralismo levar à
filiação de grupos que nunca foram parte da esquerda, nem mesmo na
proximidade pontual.
Pra sair
da armadilha de comportamento olímpico com relação ao povo sem uma
relação direta de convencimento acredito que o primeiro momento é
abandonar a ideia da população não ter consciência e ir no
caminho antropológico de “etnografia”, ou seja, viver com a
população e dialogar, colocar as ideias no pano, ver qualé,
passear pelos locais, discutir, interagir e sim, ser convencido
também. Atividades e pesquisa são fundamentais, entender a dimensão
das relações sociais e de parentesco nas comunidades idem, entender
o que significa honra, palavra, dádiva,etc, mais ainda.
É
fundamental desconstruir a ideia de povo como algo dado e cuja
definição de Marx é tomada como regra e não o como Marx chegou a
esta definição. Nada é menos materialista do que pegar uma ideia
construída fora do dia a dia político brasileiro como fundamento
para análises nossas. E mesmo em muitas análises feitas por
brasileiros a ideia de povo é tomada via “bancada”, ou seja, o
povo é visto do alto de uma análise de classe média/alta ou mais
ainda mesmo quando vista in loco trabalhada com o arquétipo de povo.
Sem contar que devíamos escrever “povo” dada a diversidade do
que significa esta categoria.
De que
povo estamos falando? Como ele respira, ouve, lê, anda, fala? Tem
sotaque? Que sotaque? De onde vem esse sotaque? Como são as relações
de gênero deste povo? Como são as relações entre fenótipos
diferentes? Como são suas construções? Como eles veem e querem
suas casas , ruas, escolas, trabalho, sexo, música? São perguntas
abertas, e é óbvio que são feitas também da “bancada”, porque
as perguntas mudam de acordo com o campo. É preciso que a “prática
como critério da verdade” seja algo além de um discurso e algo
além de pesquisas quantitativas e observação abertas, cheias de
estereótipos de uma população variada país afora. É preciso
abandonar o anti-intelectualismo e o medo da ciência e largar de mão
dogmas pseudocientíficos e filosóficos que por vezes travam e são
atualizados até mesmo dentro das tradição ideológicas por outras
formas de abordagem do real.
É preciso para nossas relações
políticas irmos além do aparato e arcabouço puramente ideológico
e acrescentar a ele o que se produz como ciência. Dessa forma talvez
tenhamos menos comunistas com elitismo cultura ou machistas. Talvez
com isso tenhamos menso comunistas que tem um belo discurso, mas
reproduzem os mesmos preconceitos culturais, de gênero e raça que
dizem combater.
Não
precisamos gostar de funk ou de ruas apertadas ou de pagode ruim, ou
de letras de música dizendo que a mulher tem de chupar pirocas pras
entender que isso é sim culturas e é tão legítima e válida
quanto Chico Buarque. E é preciso menos moralismo cultural, menos
rotulação sobre como deve ou nãos e comportar o diferente.
Muitas
vezes lemos que o que diz a Tati Quebra Barraco é reforço no
machismo, mas é mesmo? Lá no ambiente onde foi construído grito da
Tati é reforço ao machismo ou ofende o machismo local? Aposto na
segunda opção. A mulher dizer claramente que faz sexo como quer e
não é vagabunda é como queimar sutiãs naquele ambiente. Podemos
discutir o quanto isso na nossa concepção de comportamento é
reprodução e nessa viagem inter grupos sociais como o conceito
exposto pela Tati é por nós entendido, mas antes de usar esse
entendimento para explicar universalmente o significado da música
convém ir lá e ver in loco como essa música funciona na cabeça de
quem fez e de quem ouve primeiramente, antes da viagem da favela pras
boites da zona sul carioca.
Comunista
que chama funk de sub música tá numa redoma, e pior, reproduz um
preconceito que diz que música é apenas uma música aprovada pelas
classes dominantes, cujo gosto foi assumindo pelas classes médias.
No início do século XX essa sub música, também originada fora do
país, era o samba. Nas décadas de 1950 a 1970, iniciozinho, essa
sub música era o rock.
Da mesma
forma é preciso ações de conquista de diálogo horizontal como uma
juventude que anda por ai doida por um 15-M tupiniquim. E acredito
que do mesmo jeito da relação com o “povo” é preciso entender
que rapaziada é essa. É preciso entender que determinadas
construções da forma partido cuja horizontalização e trajetória
das discussões e processos decisórios é interrompida são o fim da
picada pra uma multidão de pessoas que estão expostas à
fragmentação da comunicação n cotidiano chamada Internet. E essa
fragmentação não é quebra, é diversidade, é polifonia, a ideia
de síntese, cujas discussões determinam um ponto de convergência
pode estar sendo substituída na prática pela ideia de polifonia,
onde todos os grupos e desejos se materializam na ação direta, onde
não é preciso esperar a revolução pra discutir o problema de
gênero, por exemplo.
Há
problemas nas manifestação espontâneas de Madri ao Cairo, na
primavera árabe e na rebeldia europeia? Claro, e esses problemas são
menso da diversidade e mais da ausência de organicidade. Essa
organicidade não significa que todos tem de empunhar a mesma
bandeira, mas talvez da organização dessas diversas lutas no
sentido de também derrubar o inimigo. Não necessariamente focar
numa bandeira única, mas ampliar as lutas diversas, todas nas ruas,
todas com solidariedade mútua e todos sufocando o inimigo numa
batalha em várias frentes, mas ao mesmo tempo agora.
Para
combater a crise da esquerda é preciso antes de mais nada entender o
“público alvo”, depois entender que estamos em crise e perder o
saudosismo da unidade perdida. A partir desses passos talvez tenhamos
muito mais ganho do que estamos tendo e podemos enfrentar a ideia
do estado à nossa frente, inimigo ainda, e também do governo que
deve sim ser pressionado para a realização dos desejos desse
“público”.
Com isso
talvez a esquerda possa ir além do que está sendo feito. Um exemplo
é a luta pelos 10% do PIB para a educação, fundamental, mas que
para na luta por verbas e que pode e deve usar as mais diversas
experiencias de esquerda para a educação, da “Escola do Aluno
Caminhador” à “Escola Possível” de Miguel Arroyo, iniciativas
que partiam da realidade do aluno para construir um processo
educacional que minimizasse a violência da “socialização” via
educação. Paulo Freire tá aí pra isso.
Será que
a escola que queremos é só a escola com 10% do PIB pra educação?
Como é o professor na escola que queremos? Como é o aluno? A
educação já é um assunto tão periférico, cuja importância
merecia aspas, pois fica mais no discurso do que na prática de
entendimento crítico de seu papel, porque os profissionais da
educação não levam pra rua o papo sobre a escola onde estudam os
filhos da sociedade? Porque nós os lutadores não vamos pra rua
pressionando a sociedade a entender o que ela está fazendo apoiando
bravamente a luta de bombeiros e ignorando a luta dos professores de
seus filhos, que são tão massacrados e proletarizados quanto os
vermelhinhos e tão vítimas quanto os alunos de uma escola que
deforma, que humilha, que entedia e que destrói o indivíduo o
tornando em geral um mero repetidor? Qual o medo e ir além do
econômico e também repensar publicamente e em conjunto com a
sociedade o próprio sistema de educação? Será que enfrentar o pai
da criança, que foi aluno da mesma escola deformadora e por isso
também tem uma péssima ideia do professor como inútil é tão
difícil?
Além
disso, que governo queremos para nós? É apenas um governo bacaninha
que faz o “bem pro povo” ou é um governo que amplie a imersão
do “povo” nos processos decisórios? Cadê a ideia do Orçamento
participativo e sua adaptação para meios de interferência popular
direta e embate político constante na sociedade que seja federal? E que
estado queremos? É esse ai adaptado ou outro? O Outro mundo
possível é um mundo velho com Botox?
Enfim, na
busca pela solucionática acabei criando outras problemáticas e nem
paro no ar que nem beija-flor.
Algumas
sugestões estão ai e podemos sim avançar a partir delas, indo além
do discurso, colocando o assunto à baila e na prática. Talvez com
isso comecemos a disputar a hegemonia das consciências coma
direita, sem levar luz, sem tentar pagar de “orientador”, mas
debatendo e discutindo, colocando soluções práticas, debatendo
soluções práticas, de baixo pra cima, à esquerda de quem entra.