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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Qualquer coisa de intermédio

A identidade do indivíduo não é algo exatamente simples de identificar, quanto mais a de um grupo ou de uma sociedade.

A miríade de formas identitárias que influenciam a construção das identidades não permite que se entenda de forma simplória o que é uma pessoa,um grupo, um coletivo,uma sociedade

O existir como homem, mulher, trans*, negro, branco, indígena, morador de Madureira, Ipanema, Porto Alegre, Pelotas, não obedece a uma simples determinação geográfica, étnica, de gênero, transgênero ou de cerne biológico.

Identidades individuais ou coletivas não nascem apenas de motivações isoladas, são um conjunto de inter influências que são também traduzidas politicamente e também se organizam e traduzem na relação com o outro, na chamada alteridade.

Identidades são construídas sim, mas antes de serem construídas no laboratório das boas intenções são interações construídas coletivamente, socialmente, historicamente e se alteram para além do controle bem intencionado da intelectualidade menos atenta a limites que permeiam nossa cultura de análise da realidade.

Universalizar conceitos pode ser mais arriscado que pular sem paraquedas do alto do Everest, ainda mais se o lastro concreto não tem uma base maior do que um palpite bem intencionado.

A identidade da população negra  como Povo Negro, por exemplo, é uma modernidade  construída no decorrer dos anos  do século XX em especial e lutou, se bobear ainda luta, contra a carga pejorativa desta categoria enquanto termo aplicado à escravos e redutor da diversidade que existia para além do fenótipo.

A categoria Negro reduzia toda a população de pele negra a membros de uma só identidade, estuprando a diferenciação entre Minas, Iorubás, Gêge, Daomé, Sudaneses, Criolos (negros nascidos no Brasil),etc.  A categoria Negro no século XIX também reduzia livres e escravos a uma mesma população, ignorando suas diferenças.

Salvo engano esta carga negativa ainda persiste e ainda divide opiniões entre a população negra mesmo após todo o trabalho militante que buscou agrupar todas as lutas dos afro-brasileiros via Movimento Negro Unificado. E mesmo após todos estes anos ainda existem lutadores que buscam a construção de outra identidade das lutas anti-racistas sob a categoria povo Preto.

Essa identidade negra ou preta  é um exemplo de como categorias construídas socialmente, com base em um misto de ação intelectual e militante, da base popular e da base intelectual, não tem nem elas mesmas uma unanimidade na construção de si mesmas como termo síntese das lutas de uma determinada população. 

E nem considerei a população não militante que não utiliza este tipo de categoria explicativa como definidora de identidade e utiliza as diversas outras categorias sociais que são utilizadas para definir a população afro-brasileira, como negão,  crioulo, pretinho, neguinho, pessoa de cor,etc, e não as tem como pejorativa como a população militante. Também não considerei quem não entende essa luta como válida, nem tampouco vê a si mesmo como alvo da discriminação e/ou opressão.Tampouco considerei questões culturais, que variam demais pra fora do confortável eurocentrismo de parte das ciências, inclusive as humanas.

Ou seja, a lógica da formação de identidades, especialmente sob o ponto de vista político, não é 
bolinho.

Podemos usar também a lógica de categorização do real a partir do feminismo também e vamos dançar em cima de categorias que incluem ou não a luta de classes,o viés racial,etc, e esta dança vai conter contradições, diversidades e como movimentos organizados têm imensa complexidade na construção de suas própria identidades, mesmo com lastro social, histórico, mesmo com amplo apoio coletivo, numérico até, e mesmo assim com tudo isso não conseguem nessa complexidade inibir o fato de apesar de parte da identidade tornar-se hegemônica ela não é unanime.


A ideia de construção da identidade coletivamente não é exatamente uma forma de imposição ou artificialização da identidade, ela é feita a partir de decisões coletivas que se organizam na luta concreta e pelas oposições e relações com a alteridade, inclusive com opositores, se consolida como identidade hegemônica.

Ninguém define uma população como Negra, por exemplo,  e sai assoviando.


A lógica vanguardista  de adotar soluções de cima pra baixo como elemento de alteração do real é um vício que não anima apenas marxistas-leninistas ferrenhos, ele tem seus efeitos nos mais fiéis fãs de Foucault, que mesmo ignorando a complexa teoria do amado mestre, insistem em construir uma luta que se propõe concreta através de uma visão que entende o real como uma forma de texto que alterando o verbo altera a correlação de forças.

Além dessa visão vanguardista levar a uma ideia de que o mundo pode ser alterado como uma espécie de frase de efeito ou numa crença de que "as palavras tem poder", há também um outro aspecto dela que é a lógica de que as pessoas, populações inteiras até, precisam da luz  da intelectualidade "capacitada".

Essa lógica da tutela pela vanguarda  de populações inteiras é muito presente na ideia de que o povo precisa da vanguarda  para ter "consciência", como se o intelectual fosse um anjo que desce da super estrutura trazendo a semente do pé de feijão pra João, enquanto este intelectual está mais pro sujeito que ri do pobre João quando este vende a vaca para ter uma semente mágica, mesmo depois do pé de feijão o levar a um reino onde o pobre João conquista sua riqueza.

À ideia da formação política se acrescenta um pouco assumido senso de que o outro não raciocina ou que lutas precisam de nós para terem visibilidade e que para isso é necessário mais do que discutir possíveis transformações de percepção do real, mas impor uma percepção do real de cima pra baixo, considerando esta imposição uma lógica quase que zapatista de libertação.

Se parte da construção artificial da identidade ou do que é o outro para depois impor esta percepção ignorando as reações da alteridade, consideradas como anátemas por desafiar algo tão legitimamente endossado no mar das boas intenções.

É a partir daí que a lógica do intelectual na torre de marfim se constrói com toda força e vapor. Porque a percepção da vanguarda de que o real é o que ela pensa ser fica mais forte do que a identificação de demandas concretas, inclusive sob o ponto de vista cognitivo e que tenham eco inclusive entre a população que se pretende atingir.

Na sanha de construir um novo mundo se busca construir um novo outro, só que ignorando que este outro já existe, em um mundo que já existe.

Se parte para uma idealização hegeliana, uma construção quase que platônica de uma realidade paralela, um mundo hermeticamente fechado, travado na ideia de sua sensacional clareza de percepção do real e voraz classificador de qualquer reação concreta como anátema, como inimiga, mesmo se esta for construída por dúvidas pertinentes, racionais, científicas até, politicas até, no campo próximo ideológico.

Na sanha de ser o outro pelo outro se esquecem do alto da vanguarda  a mediação entre identidades, a ideia do intermédio, do pilar da ponte de tédio que vai de si mesmo ao outro (Obrigado Mário de Sá Carneiro). 

Ao esquecer que na relação de alteridade não se é nem a si mesmo, tampouco o outro, e se é um misto social de construção de identidades e ações, a vanguarda  trai a si mesma na sanha da transformação global e acaba sendo um pastiche de transformação chamado gueto.

Isso vale na luta operária, na luta LGBT, na luta Feminista, em qualquer luta.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Se o que nos consome fosse apenas fome...

Eu queria falar sobre a cidade do Rio e a concepção de cidade construída desde 1902 quando Pereira Passos assumiu a prefeitura da cidade e de lá pra cá poucas vezes enfrentada, se é que o foi, e tem em Eduardo Paes um representante quase que puro sangue, mais ainda que seu criador, o ex-prefeito e atual candidato a vereador César Maia.

Queria escrever um texto focado inclusive na grata percepção do fato de meus candidatos Marcelo Freixo e Renato Cinco (este candidato a vereador) compartilham da ideia da concepção da cidade do Rio ter sido construida como um paraíso liberal e cuja função do poder público é garantir lucro, gerir bem a parte da cidade partida onde vivem os ricos e vender a ideia de cidade-cenário.

Queria também falar sobre muitos outros assuntos, sobre a campanha, sobre a necessidade de qualificar a campanha virtual, sobre o positivo da campanha Freixo no interior do PSOL, na própria alma da esquerda,etc. 

Mas para escrever isso eu teria de manter uma calma e uma paz interna, uma alegria que os temas exigem e que infelizmente não tenho como manter diante de ter-me descoberto subitamente como preconceituoso.

Até dois meses atrás ignorava a questão da Cissexualidade e continuo receoso sobre a a aplicabilidade da lógica que gira em torno da construção da categoria, diante de dificuldades que tenho a partir do caráter "eurocêntrico" desta "revisão" de categorias de explicação do mundo a partir da sexualidade "biológica" ou seja, pela redivisão da categorização entre homem e mulher para entre cissexuais e transsexuais.

A ideia toda parte do legítimo princípio da redução de opressão sobre uma minoria, sua defesa parte do legítimo princípio da defesa das minorias, mas as questões levantadas sobre essa súbita reorientação de discurso também contém uma carga enorme de legitimidade, porque é muito possível que no afã de "adequação" das categorias militantes se cometam erros metodológicos e até de julgamento de aliados, de membros e se ignora, pela tutelação, a necessidade concreta da militância de rua que por vezes nem tá por dentro das "novas ordens" que o mundo virtual abraça com a fome dos que precisam da nova etiqueta pra não serem chamados de brega na festa.

Não está claro pra mim se essa reorientação é válida, no sentido prático, e legítima, no sentido de ser uma demanda real, concreta, dos atingidos, e muito me incomoda a lógica de tutelar movimentos, me lembra por demais os defensores da "elevação da consciência da classe trabalhadora" de cima pra baixo à esquerda de quem entra. 

A lógica que me parece presente é a de considerar que os "ignorantes" que não compreendem que existe um universo que PRECISA ser redefinido entre Cissexuais e Transsexuais são o anátema da humanidade e não 'Tem consciência" e precisam ser iluminados. Não sei se a redefinição é precisa, necessária e cada vez menos sou simpático aos que defendem a necessidade e precisão.

Talvez estejam certos, talvez, mas meu recente caminho na academia me diz que "muita calma nessa hora" é um bom conselho, porque se o discurso já contém problemas, sua execução pode conter também e mais ainda, muitas vezes a ênfase na ignorância alheia pode afastar mais do que agregar no duro trabalho de construção da resistência ao mar de conservadorismo que abunda em  nossas plagas mundiais.

Enfim, aprendi que sou cissexista, só que este aprendizado está longe de ter percebido conscientemente um preconceito do que um sentimento de injustiça advinda da rotulação como preconceituoso de quem apenas discorda da categorização e da redefinição súbita de terminologia baseado em questões não atendem concretamente uma demanda real a seu redor. A menos a meu ver, esta questão é um assunto para profundo debate antes de virar dogma.

A questão toda, o incomodo todo, nasce do que recentemente tive contato via redes sociais sobre a questão da "transsexualidade x cissexualidade" especialmente retratados aqui no Biscate Social Clube onde escrevia e me afastei ao perceber que estava de alguma forma, e pela primeira vez, deslocado como preconceituoso e portador de uma "defesa de privilégios". E o incômodo chegou a lugares nunca antes atingidos ao ver as reações nas redes sociais a este texto em que, parece, reproduzi alguma espécie de preconceito grave contra os transsexuais.

É a primeira vez, repito, que sou acusado disso e especialmente da forma como estou sendo acusado. Nunca tive sequer de longe a ilusão de minha perfeição, mas sempre me honrei com a capacidade de superação de todo e qualquer comportamento preconceituoso com medidas conscientes de percepção clara de que sou privilegiado sim por ser homem, branco, alto, com educação superior,etc.

Em suma: onde havia dúvidas a serem sanadas se construiu um afastamento por  preservação, até porque a covardia fala muitas línguas.

A lição fica: Sempre há um flanco a ser atingido e sim, eu posso estar errado. 

Porém continuo com a pequena desconfiança acadêmica (que conquistei com um parco, porém focado, caminho) onde a inquietação investigativa é prima dileta dos ouvidos abertos, e muito me vem atiçando a curiosidade do quanto o discurso atinge o cotidiano das pessoas as quais se diz defender. 

Talvez por um empirismo exagerado prefiro não cometer açodamento antes de abraçar uma categoria explicativa, talvez por ser um historiador aplicado e não ter ainda contato com outros ramos das ciências humanas onde parece que o rigor metodológico não atinge esta necessidade.

Até que entenda como demanda do movimento feminista concreto, real, cotidiano, e da militância LGBT e Transsexual, fico de molho aguardando novas notícias a respeito da questão "Cissexual x Transsexual" e me ausento temporariamente da discussão sobre gênero,LGBT e Trans* no mundo virtual.

Enquanto isso continuo lendo, estudando, como tenho costume, e tentando aprender mais sobre o mundo, já que longe das torres de marfim é preciso ir além do blablablá tradicional, ao menos pra quem quer ir além do título e ser um cientista de verdade, concreto, real e respeitado por isso.E o mesmo vale pra quem, como eu, se pretende militante e atuar para mediar o contato entre o mundo acadêmico e o cotidiano d@s lutador@s e não acredita que isso seja possível pela via do erguer de barreiras, sejam elas terminológicas, raciais, de gênero, religião, linguagem ou de classe.

Se o o que nos consome fosse apenas fome...





sexta-feira, 25 de maio de 2012

Por que apoiar a marcha das Vadias?

Uma coisa sempre me dá um enorme prazer e essa é o de ler algo que me ensina e de forma profunda. 

Um dia li em alguma das redes sociais (Ou terá sido em um ponto de ônibus? ou num muro?) a brilhante frase: "Nos ensinam 'não seja estuprada' ao invés de 'não estupre'".

Não preciso dizer o impacto, preciso? A ideia contida nesta simples frase é revolucionária,  simplesmente porque questiona o eixo de formação do masculino, inclusive da ideia de prazer e amor no homem, da lógica política de dominação presente no ethos ensinado aos meninos durante sua longa estrada de formação em homens.

Essa frase e logo depois a clareza de como é catalogadora, desumanizadora, reificadora a ideia de mulher como um ente a ser tutelado, aprisionado, controlado, regido por o máximo possível de limitações e culpabilizado por todos os atos, como se um demônio provocador dos crimes ao qual é submetida, inclusive o mais vil deles, o estupro, tornaram claro para mim a  necessidade de entender que qualquer ideia de revolução ou construção libertária que não passe pela emancipação de gênero, orientação sexual e anti-racista está fadada a ser apenas uma pincelada de transformação, como a Marianne que de nua, de seios à mostra, passa a ser uma séria senhoura após o estabelecimento da república Burguesa na França do XIX.

O Brilho da colocação da marcha das Vadias como uma reação muito bem vinda à lógica civilizacional de que mulher se veste como objeto de desejo e  por isso o estuprador tem o atenuante da sedução feminina, do encanto  e do  feitiço do diabo-mulher que "embriaga" o pobre homem, não é um brilho exclusivo ao gênero. 

É um brilho que contesta o sem número de noções limitadores do humano, reducionista do homem, do ser-humano com um sem número de determinações que ocultam conflitos de classe ao tornar inimigos homens e mulheres, negros e brancos, gays e heteros.  Fazendo membros da mesma classe serem soldados de uma luta fratricida, que torna-se uma cortina de fumaça da opressão maior de classe a que estão submetidos, também pela via da moral conservadora, a grande massa de seres humanos, independente de cor, gênero e orientação sexual.

O combate à profunda educação que torna a mulher um sub-humana dentro de uma sociedade que as divida também em classes, que combate a noção da mulher como um objeto à disposição da mão do homem é também um combate à separações internas às classes que as desunem e as tornam ferramentas de desmobilização da luta contra a opressão como um todo.

O combate a cada opressão é parte fundamental da luta contra a opressão de classe, e a luta contra as noções culturais que delimitam o humano a um ser hierarquizado e oprimido,submetido a outro, seja por cor, gênero ou orientação sexual, é parte fundamental do entendimento do outro como um ser como és, como tu, não um alienígena a quem se oprime, prende, rotula, estupra.

Apoiar a marcha das vadias é ir além da moral conservadora, burguesa enfim, e é reconstruir, revolucionar a moral, a noção do outro, a noção de gênero e de nosso papel na construção de um mundo que rompa de verdade com todos os grilhões que o prendem em uma relação de propriedade, que até no âmbito do amor, e das relações sexuais é um tipo de relação econômica e de posse.

Se a propriedade é um roubo, porque a propriedade sobre o outro não o é também? Como podemos nos apropriar da sexualidade alheia, do corpo alheio, da orientação sexual alheia?

Apoiar a marcha das vadias é mais que ser feminista, é ser humano, ser humanista, ser de esquerda.

Apoiar a marcha das vadias é deixar que Marianne, que de nua foi vestida como se a liberdade precisasse de um aspecto casmurro pra ser respeitada, pudesse andar novamente nua, novamente livre, novamente plena.

PS:  Marianne é a personificação da República Francesa e quando da Revolução Francesa era simbolizada de seios à mostra, como uma imagem que rompia com todos os parâmetros do antigo, do antigo regime e da moral aristocrática, porém ao se estabelecer a república burguesa ela foi paulatinamente vestida, pois não cabia bem um símbolo da república tão imoral.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A vida conforme a fé

Não sou teólogo, sou historiador, mas sou Umbandista e atuei por cerca de 15 anos direto na religião, passando por, digamos, degraus de "crescimento", talvez inclusive hierárquicos. Não entro em detalhes de propósito, exatamente para não expor demais algo que a meu ver é questão de foro íntimo e exporia terceiros.

A questão é que por diversos motivos a experiencia religiosa não é algo novo e nem sequer observado apenas com os olhos da fé, ela é lida também pelo filtro do historiador e do ex-graduando de ciências sociais sem que as diversas leituras concorram no sentido de tornarem-se guardiãs da única explicação do fenômeno. Inclusive a saída mais lógica nesse meu caminho foi o entendimento da complementaridade das percepções na construção de uma ideia de religião em mim que se conformasse com a construção de minha identidade, de minha individualidade.

Ouso dizer que toda religião, toda ela, seja de certa forma isso, um conjunto de experiencias que se conformam na construção de identidades pessoais e coletivas e sofrem também o efeito destas identidades individuais e coletivas em permanente transformação, neste dinâmico mundo chamado sociedade humana e cultura.

O pensamento mágico, a religião, neste aspecto é como o pensamento cientifico, fruto de construções, tensões e variações geradas pela existência humana envolvida nele e pela produção intelectual envolvida nestas experiencias a partir de regras presentes nesta rede de formulação de explicações do real de cada forma de pensamento.

E é aí que o aborto me surge como questão, e séria, da fé.

Evito o tema por n motivos. Um deles, e fundamental, é o fato de pessoalmente o aborto me ser complicadíssimo de aceitar, pela ideia da vida humana ali envolvida, pelo entendimento da construção da fecundação, pelo entendimento da existência do ser como algo anterior ao que estipula a ciência,etc. Outro, contraditoriamente e humanamente colocado em seguida, é o entendimento racional, político, da autonomia feminina no assunto ser superior à todas as coisas.

E nessa sinuca de bico a junção do Historiador com o Umbandista tomou uma posição, como ambos, que é o de apoio eterno à decisão da mulher e de defesa dela sobre todas as coisas e mais ainda, isso fundamenta uma lógica de entendimento da inexistência de posição alguma divina que condene o ato do aborto na religião que professo.

Jamais vi um orixá ou entidade recusando ou obrigando um parto ou uma fecundação, jamais. Já vi argumentações neste sentido, mas jamais vi entidades posicionando-se de forma a oprimir um seu filho a tomar esta ou aquela decisão, ainda mais neste aspecto que é tão dolorosamente marcante.

Óbvio que não tenho o monopólio da fundamentação religiosa do fato, mas também ouso dizer que ninguém tem e mais ainda, entendo que toda religião tem, tanto no aspecto direto da exposição do "laudo" divino sobre qualquer assunto quanto nos aspectos indiretos muito da construção de seus membros, em especial das lideranças, o elemento da reprodução, portanto há que se questionar o quanto das posições dos jogos e entidades não reproduzem a lógica do cavalo, babalorixá ou jogador.

É complicadíssimo defender o que coloco a partir de uma lógica absolutamente "empírica" dadas as particularidades do assunto e a própria natureza  não empírica da religião, mas "intuitivamente" como filho de Logun-edé Loko e Oxum Apará nunca os entendi ou percebi como defensores da vida a ponto de torná-la uma defesa intransigente que ocultasse a opção da opressão por ela. A vida em si era entendida também como a determinação do movimento sobre ela.

 A vida do bebẽ é importante sim, mas nunca se ela de alguma forma levar à perda da determinação, do movimento de uma vida consciente na direção de sua felicidade.

O entendimento da liberdade, da construção da felicidade, do superar desafios e da negociação como forma de relação entre divino e  humano sempre me foram claras e nunca me foram tão claras nas ditas religiões do amor como me foram claras nas religiões de matriz africana.

Por isso o entendimento, no caso de um dia ter sobre mim a  responsabilidade do sacerdócio, da questão de gênero e do aborto como exposta acima, como uma questão de autodeterminação da e pela mulher e que deve ser vista como religiosamente um caso de decisão específica da mulher.

E é sim papel do sacerdote ser o defensor da mulher diante do divino, inclusive pelo entendimento do divino feminino ali presente como também uma demonstração da força feminina e da autodeterminação dela.

É dever do sacerdote entender os limites de sua moral na determinação dos destinos dos que estão sob sua responsabilidade como mediador entre homens e Deuses.

Quando um mediador leva a questão religiosa como um ato de sustentação de crueldades anti-vida como as vistas  no caso de Severina, impedindo a realização de um direito constitucional, ou mesmo de um desejo pessoal, este mediador abre mão de seu papel em nome de uma convicção que lhe desautoriza como detentor de tão importante papel.

Se isto já compõe o quadro no caso de religiões onde o sacerdote assim o é por uma opção pessoal, vocacional ou não, é ainda mais forte no caso das religiões de matriz africana onde o sacerdote possui um cargo que lhe é designado ao nascimento, "herdado", como um talento que nasce com ele e que é resultado de escolha divina, uma espécie de direito divino. 

Se para o religioso a fé é parte da vida, é preciso entender também que a vida é parte da fé, mas que esta é antes de tudo um elemento de percepção filosófica que não significa apenas o bater de um coração, mas um conjunto de fatores que incluem a liberdade. E é preciso que o religioso entenda que como humano seu papel é menos o de se colocar como um Deus que determina a partir do seu corte moral ou da reprodução automática da questão moral do seu grupo e mais aquele que media o divino com o homem, o entendimento supra-humano com o entendimento humano, ou seja, a realidade concreta não mágica com o mágico.

É, portanto, papel do mediador, do sacerdote, a introdução das transformações pelas quais a sociedade passa nas questões religiosas e entender a partir da relação com os Deuses em como isso deve garantir a felicidade e a construção de um grupo e suas individualidades, imaginários, coletividades, sem que sacrifícios sejam feitos, sem martírios e mais importante ainda, sem a destruição do humano em nome de tradições que não mais se sustentam.

terça-feira, 27 de março de 2012

Papéis

Uma das maiores limitações do escriba, talvez inclusive como analista e como profissional de História, mas principalmente como ser humano é a imensa dificuldade de despir-me de papéis pré-concebidos e herdados que trago em mim.

A opção pelo viés da intelectualidade, inclusive artística, por vezes me parece ser uma fuga via ciência do grau de enfrentamentos necessários para a revolução que prego externa, tornar-se interna.

Convivendo cada vez mais com a militância LGBTT e Feminista sou "bombardeado" cotidianamente com questionamentos das "caixinhas" que todos usamos pra pormos os outros e a nós mesmos em papéis pré-determinados que por vezes não só nos limita, mas nos oprime.

Talvez a opressão seja mais difícil de ser percebida em nós, ativa em nós, atuante em nós como adultos do sexo masculino e brancos, mas com certeza fica patente ao percebermos em nós a opressão como agente para como o outro, mesmo que minimizada por uma feroz auto-crítica.

Ao ler, ver e ouvir relatos feministas e LGTT a impressão final é que ainda sou parte de um mundo que deveria ser abolido, onde todo o arcabouço de categorias que construo como mundo são semi-inúteis. Não que isto tenha alguma carga dramática ou de terror intelectual, mas define a limitação do modo de pensar que causa inclusive "miasmas" internos que se traduzem na posse, no ciúme, em dores inventadas, em vergonhas, em machismos ocultos, homofobias enrustidas que apesar de combatidas por um humanismo adotado e que entendo feérico ainda existem e maltratam ao outro e a mim.

A gravação dos papéis em mim, em nós, são tatuagens de cultura que são preenchidas com todo o grau de conflito entre os grupos sociais dos quais participamos, entre gêneros, entre orientações sexuais, raça. Estes papéis são um dado, uma categoria a ser trabalhada sob pontos mais fortes do que os nitidamente racionais e construídos e demolidos talvez com simplicidade pela educação, mas antes de mais nada com uma necessidade de trabalhar com força e fome nos níveis emocionais, psíquicos e não com remedinhos delirantes, mas com uma profunda jornada de auto-conhecimento.

A certeza das categorias fixas em todos os níveis atrapalham mais que ajudam, no âmbito da construção do individuo atuam inclusive como arma de perpetuação de opressões.

É preciso que nossos papéis ganhem mais cor, mais abertura analítica, e também política, e para isso é preciso um olhar profundo até o dedão do pé, como diria Gonzaguinha.

PS: Uma das razões deste post é este vídeo imenso que vi e que me emocionou sim, mas antes de mais nada reforçou necessidades de auto-crítica: http://youtu.be/ctuUqzZEZKs

domingo, 11 de março de 2012

A permuta dos Santos

Há um artificio do catolicismo popular, muito bem descrito e cantado na musica de Chico Buarque e Edu Lobo "A Permuta dos Santos", que é o da troca de imagens de santos católicos feitas pelos fiéis entre paróquias com o fim de "provocar" os digníssimos a realizarem o "prometido" ou o "pedido" por estes mesmos fiéis nos anos anteriores.

A busca é irritar as divindades e lembrá-los que o conforto e a fé a eles não tá ali de bobeira e nem pagando pau de graça, ou seja, a rapaziada não tá batendo palma pra maluco dançar.

A sabedoria do catolicismo popular é impressionante e desmente a ideia da fé como alicerçada na omissão, na preguiça de pensar e no desvio impotente para a aceitação de tudo. A fé não impede que existam protestos nem contra o alvo da fé, quanto mais por sobre o humano que amiúde impede realizações pessoais e coletivas. A rapaziada tirando os santos de lugar também dá o recado que pode não ser tolerante com os não santos.

Nas cidades e nas mentalidades nem tão populares assim , há imagens que no entanto pululam o imaginário de parte da sociedade e de parte de sua inteligentsia  e que indicam que precisam mais do que permutas para serem transformadas em uma simples construção de igualdade.

Temos por exemplo o uso de um biologismo rastaquera para justificar o injustificável e misógino pagamento à menor da força de trabalho feminina ou o legalismo zé ruela pra defender escravismos tupiniquims por cantoras de rock.

A rapaziada saca do bolso sofismas mal sustentados em si mesmos quanto mais se lançados na arena de outras paróquias. A biologização do pagamento à menor do trabalho feminino é até bacana sob o ponto de vista da ficção, porque o baila comigo  do autor pra não dizer logo que mulher é inferior e tem  que ocupar o que lhe apetece biologicamente, com algumas vagas no mercado de trabalho especificas para elas, enfermeiras por exemplo, chega a ser fofo. 

É até fofo pensar em como se sustenta que existem mais mulheres na Medicina do que na Engenharia sem que o aspecto sócio-cultural tenha ido lá pra dar sua sambadinha, sem que tudo o que circula a ideia de gênero no âmbito social tenha sido sequer bolinado, com consentimento obviamente.

A imagem do santo da biologia foi posta em sua catedral pseudo-científica pra ser o centro das atenções de um mal dissimulado machismo sustentador da lógica própria do mercado de dividir pra conquistar. O autor, que acredito que só tenha feito seu trabalho, prefere atribuir uma culpa divina pela construção de um alicerce genético à fêmea que sustenta como um contrato ad eternum de inferioridade, inclusive no ganho por sobre a venda de sua força de trabalho, a colocar pra jogo  a redução da capacidade feminina culturalmente e socialmente como arma para economias que o capital faz. Sem contar obviamente todos os demais aspectos não decorrentes de uma vontade do capital, mas bem sacados e usados por ele.

 E claro ainda rola a cereja do bolo de indicar o que a mulher tem de fazer a partir de uma só fonte de suporte à "autoridade" de seu argumento. Todo o resto da literatura que envolve gênero e caralhinhos voadores no banheiro é a mesmíssima coisa para o digníssimo autor.

Mudar o santo da biologização de lugar não cabe nessa lógica de permuta que busca a partir da remoção de ícones, de sustentáculos divinizados de crenças, alterar a realidade dos fiéis, cuja fé aguardava a intervenção daquele a quem recorrem em momentos onde os limites do humano falham.

A imagem da santa biologia não cabe em outras paróquias que sensibilizem sua parca autonomia como sustentáculo do absurdo a serem outra coisa além de uma santa de fancaria, uma bazófia à inteligencia alheia. 

Em terreno democrático não há igreja ou capela que aceite a santa sob pena de protestos veementes dos demais santos, que em sua longa carreira de permutas no universo do pensamento mágico nunca foram pautados pela irracionalidade preconceituosa travestida de argumento.


quinta-feira, 8 de março de 2012

Menina ou "O Senhor é um moleque"

Não conheço o suficiente do movimento feminista pra discorrer sobre concordâncias ou discordâncias a respeito de modus operandi. Somado a isso tendo a me envolver diretamente com as lutas dos oprimidos de forma a absorver como verdade suas bandeiras. Há o risco de ser acrítico por vezes, mas o risco vale diante da lógica de necessidade de apoio às resistências e demolição da opressão, inclusive a presente no inconsciente meu, seu, nosso.

Amar uma mulher feminista traz em si o automático interpor de questões não colocadas, não trabalhada sou pensadas anteriormente e naturalizadas por vezes, mesmo em quem se considera um exemplo de combatente contra as opressões e amável aceitador da auto-crítica (e não necessariamente da crítica).

E mesmo em quem se observa e se critica, e se corrige, impressiona e assusta a presença ali da resistência machista.

A terminologia usada no tratamento às mulheres me foi colocada pela primeira vez em termos mais amplos do que estava acostumado a entender e pensar. De óbvios combates ao "pegar àquela mulher" começamos a pensar no termo "menina" no "gostosa" gritado na rua. E sem ironia assusta o quão a opressão arraigada na língua e na cultura se espalha de forma a penetrar (ui!) nos mais profundos recônditos da palavra.

O uso  do termo menina como forma de diminuição infantilizadora da mulher e o grito de gostosa no meio da rua em altos brados como determinante da mulher enquanto escrava do seu corpo, são elementos assustadores.

A forma de introjeção da opressão através das palavas, velha conhecida, se torna novamente uma forma de susto. Mesmo considerando as variações do uso dos termos, dos tratamentos, das lógicas contextuais é de se pensar, e de maneira firme, sobre o impacto e o quanto não se parece com opressão o que opressão é.

Mesmo sendo partidário do "nem tanto ao mar, nem tanto à terra" no quesito cultura, pois esse bicho costuma ter mais subjetividades e variações que rompem com lógicas mecânicas, não dá pra não entender que sim, há o impacto do uso das palavras, e estas foram exemplos, no trato da mulher enquanto forma de redução desta a um papel secundário, infantilizado e reificado. E mesmo sendo amigo íntimo do medo do mecanicismo sem reflexão aplicado ao falar  tornar-se como uma camisa de força, não há como negar que entender que sim, há espaços e há uma conotação em vários termos e usos da língua que são armas de permanência, de manutenção, de uma colocação da mulher em segundo plano. O mesmo vale para termos relacionados a negros e gays.

O fato é que pro macho, adulto, especialmente os brancos, a naturalização da língua como liberta da reprodução de preconceitos, especialmente para os que a dominam, é um aspecto a ser reconsiderado quando se percebe que em dimensões alheias ao que é seu, a seu mundo, as palavras ferem e como navalhas relembram de estupros a desqualificação na casa, na faculdade, no trabalho, na rua, na chuva, na fazenda.

Ao ouvir "É uma menina" talvez ecoe em seus ouvidos o equivalente ao "O senhor é um moleque".


sábado, 7 de janeiro de 2012

Mulher falando de sexo? Contra-revolucionário!

Eu nem sou leitor assíduo do Biscate Social Club e confesso achar a temática média do Blog "coisa de mulherzinha", eu que ogristicamente acho que tudo fora de Futebol, Política e filme de Zumbi é "coisa de mulherzinha, se é que vocês me entendem. 

Queria no entanto, devido a curtir demais a iniciativa tanto política quanto comportamental de esculhambar o machismo atávico e burrão do Brasileirismo, elogiar em um post, que se iniciou poético, a beleza política, artística, comportamental e sexual de mulheres assumindo-se como livres, livres e donas do seu nariz, cabeça, tronco e membros.

Mas qual o que? é impossível nessa vida não topar com gente que diz fazer "política" e "revolução" sem entender o viés ausente dos manuais práticos das bronhas do gueto e sem cagar a volumosa regra da "inteligentsia" de "vanguarda".

Mulher falar de sexo e de liberdade de pegar, vestir, trepar, beijar? Contra-Revolucionário e não feminista! Social Club? Incapaz de haver discussão de idéias! E pior negozinho acha que isso ai é argumento sem notar a raiz da palavra socialismo, o que é óbvio porque o que mais rola é radical que não olha nada pela raiz.. 

E sigamos o bonde da "esquerda" sem auto-crítica e pĺena de manuais, incapaz de olhar o próprio machismo atávico, o quão é pró-forma a critica ao sexismo, ao machismo da sociedade, ao patriarcalismo. Porque mulher pode denunciar a opressão da sociedade no trabalho, na reprodução, mas falar de sexo? trepar? como assim feminista trepa? Anátema!

Depois do "barata-voa" com epítetos de "mal amada" a quem fez apenas uma singela brincadeira zoando o Hetero Branco, o clássico arquétipo do dominante e opressor, citado até por Caetano em "O Estrangeiro", a "lição" dos Bolcheviques de cursinho, da vanguarda do gueto.

Estamos bem... 

O que interessa é que a beleza do biscatear deve ser louvada, especialmente para quem não curte a cagação de regra da "mulher pra casar" e "mulher pra trepar" e mesmo não lidando muito bem com o fudevu na zona da não-monogamia acha um barato o conceito de "mulher pra amar".

Até porque na singela opinião do Groucho-Marxista Quisifodista aqui presente, não há revolução sem sexo, e nem sexo sem revolução, a não ser que você chame revolução de tomada de poder e aquele papai e mamãe modorrento de trepada.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Magina se macho tivesse TPM, nega!

Nas idas e vindas da Ternet, essa rede com nome de empregada de novela, achei issaqui da Grande Niara de Oliveira a respeito de nosso amado ogrismo macho pereréco.

Lendo a traulitada bem dada e assumida como toque (Graças a Deus não retal!) escrevi um comentário que virou esse post aqui.Não espere politiquês e teoria política a rodo, é só um post impressionista e baseado no que sei, li, ouvi e aprendi, sem notas de pé de página.

 A questão do ogrismo macho pereréco pra mim é uma questão  cultural construída, ocidentalmente em especial pelo que percebo no meu parco conhecimento, de mulher como posse, grosso modo filha dileta da mulher como meio de aliança político-econômica, que nasce sei lá quando.

E esse cultural é no sentido Antropológico ou algo que o valha.

Homens são ogros e se tornam violentos quando bebem? Não sei, mas desconfio homens aceitam de bom grado a ogrice que lhes é imputada e o álibi da cachaça para seus atos.. é confortabilíssimo.

É mole seguir a curva do rio e a correnteza, é molíssimo. Prefiro olhar mais a fundo e perceber o quanto é fácil buscar explicações e deitar nelas, usando-as como álibi.. Temperamento? Não mete essa, mulheres tb tem temperamento e mãos, facas, força própria à disposição, mas em geral não saem por aí metendo a porrada no parceiro, e muitas deveriam. Bebida? Mulheres bebem, sabia? E chuto que estatisticamente se envolvem em menos problemas e especialmente os que levam à violência que meia macharada. Pressão social? Aceitaria se o macho em geral chegasse em casa e fizesse a janta pra Dona Rainha que sentaria no sofá e pediria a cerveja, mas a pressão social sobre o macho em geral é mais leve, essa do "provedor" não cola, porque o provedor é hoje dupla, em geral o macho provedor foi atropelado e com direito a ré confirmatória pela mudança do mundo econômico. Hoje família com um provedor só tem grana, muita grana. Então o cabra coloca o nível alto de testosterona e muitas otras coisas como álibi pra sua violência e na verdade mal percebe que no fundo ele só deixa rolar porque.. pode, a cultura lhe permite, nenhuma trava é permitida ao Machão Gostosão pica grossa.

A postura masculina em geral é a do Reizinho do Parque, paudurecência na mesa, no ovo, no auge, o foda-se querido ligado no talo pra que todo o multiverso o sirvam.. e quem o serve no multiverso? A moça, a mulher, a empregada, a mãe, a esposita barrozo.

Quem faz isso é só a macharada desesclarecida povão e opressores nojentões de direita? Ledo Ivo engano caro compa: eu, você, nós dois diuturnamente repetimos esse machismo ogróide do balacobaco sem a menor verguenza (Thanks Xico Sá!).

O Ogrismo em geral é mais explicado que batom na cueca e pior vira uma espécie de álibi: "Sou assim porque sou homem!" e o pior "A maioria dos homens é assim e  piora quando bebe!". As duas frases tão cagadas porque a primeira naturaliza uma comoda posição de "vítima da natureza" quando podemos enfrentar a cultura e nos transformar e a transformar com isso. A segunda frase é cagada porque exclui o proferidor do crime, ela é álibi pra ele, macho esclarecido, pagar de homem-santo.

Quer dizer então que o ogrismo macho não pode? Poder pode, desde que tu se olhe nozoio e assuma-o (curtiram?) como um treco machista e que pode até continuar existindo em paralelo ao combate interno ao próprio machismo, mas usá-lo como álibi pra seus sentimentos de posse, inseguranças e "tremiliques" quando as "servas" se rebelarem é migué.

Temperamento se fosse álibi daria merdeloquê, como disse acima, porque mulher, pasmem, tem temperamento e, dizem, até alma. E no meu específico caso de macho jurubeba (Valeu II Xico Sá!) seria caso de estapeamento geral e irrestrito e não rola, nem no meu caso nem do meu falecido pai cujo temperamento transformava o meu no da Sandy na época do Junior. 

Quer dizer que o autor ogro da escrivaria arriba não é machista? Nope, ele é, finge que não é e tenta não ser,, mas sem se esconder na confortável casa da tergiversação do próprio machismo.

Beber eu bebo, fumar eu fumo, ter cabeça quente eu tenho, mas não estapeio ninguém, e talvez pela grande coisa feita por meu pai em sua vida: Me ensinar que mulher é gente, tem direitos, opiniões, pensamentos, sentimentos. então sem essa rapaziada, vamo enfrentar a cultura e sermos ogros quando precisa, que é no pau diário pela transformação dessa bagaça de mundo em algo que preste.

Magina de macho tivesse TPM, nega!