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terça-feira, 17 de julho de 2012

O Tempo da Política

A política no brasil, é notório, é definida popularmente como detentora de um tempo próprio, de um período onde é dado a ela o papel fundamental na vida das pessoas e onde a discussão política ganha um espaço privilegiado. 

Este tempo é, óbvio, o tempo das eleições, onde inclusive há a lenda do aparecimento, do avistamento, dos políticos, que são entidades disciplinadas pela periodicidade de quatro anos e pela oferenda da representatividade de do prestígio local no "fazer", também conhecido como "construir".

Os políticos são também tidos como entidades limiares, ou seja, cuja ética e moral não obedece ao padrão coletivo ou "superior" e cuja manifestação tem uma cara e um cheiro específico que relembra o lado negro da força.

Ironias à parte, essa visão é tanto uma construção de uma tradição baseada na experiencia cotidiana, empírica, pela população como resultado da redução da política ao voto e à participação nas eleições como atores, cabos eleitorais, elementos de prestigio nas comunidades pelas relações com quem "traz benefícios" para a comunidade,etc. Essa redução é uma carona que parte do aparato midiático pega na tradição da política anti-democrática tradicional no Brasil (diria que no mundo) para reduzir a participação popular ao ato de votar e inibir ações concretas de transformação via ativismo.

A ação que transforma a política em ação restrita dos políticos e afastada do cotidiano da ação popular direta é também vista na noticia das greves como privilégios, das manifestações como atrapalhadores do trânsito, de reajustes salariais como "Bônus" e não como direitos e que comparam salários como se um trabalhador melhor remunerado fosse  um "marajá nomeado" e não um trabalhador que vende sua força de trabalho em troca de salário como o gari, o guarda, o balconista, todos com direito à greve.

O tempo da política da sabedoria popular é uma análise da sazonalidade da presença do estado via poder legislativo e executivo nas comunidade, mas também é usado como referência da política como algo afastado do cotidiano e com trânsito impossível pro popular, especialmente nas grandes cidades onde a circulação do poder nas ruas é restrita.

Esse afastamento da vinculação de greves, manifestações e ativismo do que é chamado de política e que leva às pessoas  entenderem a política em espaços "de relaxamento" como uma afronta, dado que para muitos existem espaços "alheios e independentes da política", e por isso aparecem nas redes sociais, festas e praças reclamações sobre a presença de manifestantes e militantes como invasores, dado que para a maioria da população o militante não é um defensor de um ideal, mas um cabo eleitoral pago para a propaganda política e ou diretamente interessado pro razões pecuniárias ou de influência na eleição de x ou y, como s1e a política fosse apenas a apropriação do aparato do estado para fins privados.

A visão sobre a apropriação do estado pelas forças políticas em disputa não é nada contrária à realidade cotidiana, inclusive fortalecida pela ação inclusive de forças de esquerda neste aspecto, só que restringe a política à reprodução da privatização do estado pelas forças hegemônicas da política cotidiana que vive em nossa história desde sempre, mantendo a tradição monárquica que sustentou a  formação do estado nacional brasileiro. 

Este estado, formado a partir da lógica de laços sanguíneos como fundadores da tradição política nacional, foi mantida inclusive pelo estado republicano que ampliou o caráter liberal do estado brasileiro redesenhando a correlação de forças interna a ele apenas quanto à redivisão do poder no seio da oligarquia e não ampliando democraticamente o controle do poder para o todo da população. 

Caia o imperador, mas não se alterava significativamente em que mãos se assentava o poder, tampouco se alterava a lógica de tutelação da população e de identidade deste como um mero observador do cenário político. Dá pra perceber que a ideia do povo como protagonista da história ainda permanece como anátema nas colocações deste como um mero bestializado cotidiano, especialmente e infelizmente nos círculos da elite que se pretende esclarecida, lógica de bestialização que ainda considera a população como distante do esclarecimento necessário para a ação política.

A construção desta lógica é feita tanto pelo trabalho cotidiano do aparato ideológico de manutenção da dominação de uma elite por sobre a população e que constrói a história ocultando as lutas cotidianas que levaram pela pressão grevista ou pelas revoltas contra remoções à conquistas de direitos pela população ( como a CLT, a construção de movimentos sociais de resistência às remoções, partidos e sindicatos) quanto pela opção tradicional de formação da memória brasileira que preferiu a personalização da história à crítica que incluísse democraticamente todos os atores da formação do Brasil no cenário da Grande História. 

O resultado desse processo é o Tempo da Politica, ser um tempo institucional, dado externamente ao cotidiano popular e onde se entende o espaço popular de obtenção junto aos políticos  do que não conseguirão ao fim deste tempo.

À Esquerda cabe não só a ação cotidiana e o redefinir da participação política neste período e também à ampliação do circulo de ação política para além da demarcação eleitoral, mas também a redefinição de seu papel "educacional", não como um tutelador de um povo bestializado que precisa de "consciência", mas como um reprodutor do que se entende por História, como um ampliador das discussões que revelam ao povo sua tradição de lutas e que lhe permitirá a construção de sua consciência pela consciência de seu próprio passado. Esta consciência sendo não a "doação de luz", mas um retirar dos véus que a história tradicional usa para ocultar o DNA do povo na formação de um país cujo DNA é mais seu do que da elite que se apresenta como "proprietária" do Brasil, quando no máximo parasita um país formado pela força popular, pela força da cultura popular.

O Tempo da Política é o tradicional período de eleições, mas cabe nele a ampliação que só pode ser feita pelo trabalho cotidiano de quem entende este tempo como o respirar cotidiano, também chamado Vida.




segunda-feira, 2 de julho de 2012

A novidade veio dar à praia

Nos últimos dez anos (ao menos) as mudanças tecnológicas e as novas formas de economia que surgem a partir destas novas tecnologias ganharam adeptos e ideólogos que identificam nas mudanças a ocorrência da superação do sistema.

A novidade como o mote da superação da política "obsoleta" é encontrada tanto nos adventistas da "política sem rancor" como nos entusiastas do compartilhamento de arquivos como método revolucionário.

Ironias à parte sobre os movimentos, o que surpreende neles é menos a arrogância de destituírem a política cotidiana de sua importância, e inclusive de fazer parte do eixo de transformações levadas a cabo pela utilização das novas tecnologias, e mais a reprodução do evolucionismo tão caro à modernidade em seu discurso aparentemente diretamente vinculado à pós-modernidade.

A ideia do partir do slogan e  da análise do real construída por sobre a impressão superficial do concreto é tentadora inclusive pela popularidade de conceitos Drops lançados em discursos afirmativos, "conscientes" e convictos  e pela imagem de transformação que isso dá, baseado que está na fragmentação do concreto e do discurso como forma de facilitação da "comunicação". 

A imagem do Slogan e ele próprio são considerados a própria mensagem, o todo dela, e também da ação política. É como se o "Sempre Coca-Cola" fosse o próprio ato de beber Coca-Cola. Então a política fica reduzida à superfície dela mesma, a aparência da política é para a "nova política" um fim em si.

E é aí que vemos surgir uma longa fila de teóricos que se empenham em construir uma nova economia pós-mais valia, de teóricos "open source" que partem do compartilhamento de arquivos como um ato revolucionário, como se novo também, e tomando a lógica de relacionamento com direitos autorais como um fim em si mesmo e não como uma nova variedade de capitalismo que não só não abole a mais valia como a amplia.

A transformação da política cotidiana como "velha" como se o mundo fosse transformado em um novo modelo de exploração automaticamente a partir do advento da internet é também uma redução do trabalho político cotidiano a um pastiche onde a premissa da "novidade" é superior à premissa da sustentação de uma nova discussão a partir das mudanças do mundo. O mundo precisa de um "novo" que supere o "velho" segundo a nova retórica.

A questão é que primeiro o próprio "velho" é desconsiderado, a maior parte da novilíngua da "novidade" se sustenta em uma percepção que mal esconde o nojo da politica cotidiana, seus problemas e acertos, suas rusgas e disputas, e com isso o ignora como necessidade de entender o objeto da crítica para sustentar essa mesma crítica. Então é mais fácil rotular todos os partidos, um a um, do que discutir seus programas, métodos, discussões, formas de abordar o que incomoda ao sustentador do "novo". 

Notadamente a maioria dos partidários do "novo" iniciam sua argumentação como fim da dicotomia entre direita e esquerda retomando o dito por ideólogos do neo-liberalismo no inicio dos anos 1990 logo após a queda do muro de Berlim e dos países do bloco chamado "socialismo realmente existente".

Do discurso que remonta o "fim da história" de Fukuyama, passamos quase que automaticamente a uma leitura pálida da história dos partidos políticos e a redução destes a um pastiche de seu discurso, praticamente montado em torno de uma colcha de retalhos de críticas mantidas por jornalistas conservadores nos jornais diários misturadas à "Deduções" a respeito de como discutem estes mesmos partidos. O PV por exemplo tem sua história resumida a seu estado recente, o PSOL aparentemente é ainda o discurso de Heloísa Helena e o Socialismo, cumpádi, é uma tolice do século XX. 

O PT e demais partidos, todos eles, são ignorados, de onde se tira que a nova política  entenda que a luta política cotidiana é tolice e que inventando um novo mundo onírico tenhamos sucesso na superação da luta de classes ou seja lá o que interessa a estes superarem.

Ai temos um novo que no fundo é uma requentada no discurso liberal de superação da história somado a um profundo desprezo pela política cotidiana, quase que todo ele sustentado pela percepção desqualificatória da política como "suja" feita pelos jornais liberais. O interessante é que isso aparece em propostas que se pretendem novas, seja a da biopolítica dos partidários da "política sem rancor", seja dos entusiastas do Partido Pirata e seu libertarianismo open source.

A necessidade de "superação" das formas de organização partidárias presentes no discurso acabam por sustentar de forma indireta estas mesmas formas, inclusive pela opção  de participação em partidos já formados (Para a superação do velho "por dentro") ou pela formação de novos partidos totalmente "puros e sem defeitos", feitos pro gente nova e que não está contaminada pela obsoleta forma de ver o mundo (contém ironia). 

Com isso quase que se omite a discussão sobre a própria forma-partido e suas limitações, não se discute a propriedade da forma-partido como catalisadora das lutas modernas e do combate ao "velho" na política, se opta, contraditoriamente, pela formação de novos partidos, sob o ponto de vista da constituição de uma democracia burguesa e quase sempre estruturados para disputar a política sob o escopo da eleição de parlamentares para atuar no estado que ai está. 

Onde está o novo? Onde se aplica um novo se este se forma enquanto mais um peão no tabuleiro político estabelecido pelas revoluções Burguesas dos séculos XVII e XIX? Onde se aplica o novo se nem a confirmação de uma nova estrutura de organização política interna destes partidos  que sejam um reflexo de "novas políticas" é dada nestas novas organizações?

As criticas do "novo" portanto em geral caem em si mesmas como apenas a aparência de criticas. O desconforto que o cotidiano causa pelas formas de ação política limitadas pela cruel realidade nos formuladores do novo acaba por gerar um movimento de transformação que se mata na reprodução do que condena enquanto fac-símile.

Sob este ponto de vista os movimentos que reorganizaram a forma-partido nos anos 1980 no PT (sim no PT) ainda são a mais moderna forma de organização partidária da história recente, que mesmo que tenha se transformado na burocratização  completa atual, e no PSOL em uma burocratização em menor escala, ainda são o que contém as sementes do entendimento de uma democracia popular e partidária ampla.

O próprio "deformado" PV, nasce como uma critica muito mais sustentada e contundente às organizações presentes à época e à forma-partido nos anos 1980 que os atuais "portadores do novo"

Ao não analisar a forma-partido e manterem-se representantes de uma novidade a partir do slogan os defensores do "novo" não sustentam uma critica de fôlego que os identifique concretamente com a "novidade" presente em seu discurso. 

Como o "novo" pretende se organizar?  Como a Comuna de Paris? Como o Partido bolchevique? Como o Fora do Eixo? Como os liberais-radicais do mundo europeu e anglo-saxão?

Todas as formas acima citadas tem precedentes mais antigos (Talvez com exceção da Comuna de Paris).

E a economia? A discussão sobre a superação das relações entre capital e trabalho se dão sob que ponto de vista econômico? Entendem e discutem a questão do paradigma econômico baseado na infinitude de recursos como fator a ser rediscutido em um quadro onde se entende que recursos naturais não são infinitos e que a ecologia não é mais apenas um discurso bacana e nossa sobrevivência depende disso? Como entender a questão dos direitos autorais em um quadro de reformulação da economia pelas novas tecnologias, novos meios de exploração da mais-valia e ampliação das horas de trabalho cotidiano? E os impactos dessa nova economia sob o ponto de vista do meio ambiente?

Todas essas discussões são feitas cotidianamente nos partidos de esquerda e de centro-esquerda como o  PT e PSOL, possuem quadros que pensam os problemas, que discutem e se posicionam e cuja produção é ignorada pelos partidários do "novo" em sua sanha de uma superação do concreto pela formulação de slogans. Até o PV com sua loucura por cargos que o mantém atrelado ao PSDB tem em seus quadros quem discuta o capital, a economia e suas novas-tecnologias.


Dizer que os partidos não discutem o compartilhamento de arquivos, por exemplo, é ignorar o trabalho do professor Sérgio Amadeu , próximo ao PT, e passar ao largo do que blogueiros e organizações discutem, com muito material on line, há anos.

A novidade que vem dar a praia com seu canto de sereia parece muitas vezes ser apenas a manifestação esquizofrênica da repulsa às formas-partidos tradicionais com uma critica difusa às ideologias e um fetiche da ferramenta que torna as novas tecnologias panaceias para uma realidade que teima em exigir respostas concretas e não slogans.

E a novidade, que seria um sonho, acaba virando o mesmo pesadelo de sempre, porque no cotidiano todo mundo faz tudo sempre igual.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Manifesto Macunanímico

Um dos problemas paradigmáticos da ciência, de todas elas, mas em especial das humanas, é o viés eurocêntrico. A ideia de um processo racional linear de pensamento, de construção cultural, de entendimento do outro, do estado, do poder, da noção de coletivo e de transformação política, construída na base iluminista e mantida, levada a cabo como regra, cláusula pétrea de pensamento e vivência, de luta política e de transformação político-sócio-pessoal marca uma negação de qualquer modus operandi e de pensamento que não siga regras circunscritas em propostas de viés europeu, de Marx a Adam Smith, Hayek,etc..

Não há problema no ler, saber, viver e pensar entendendo a contribuição de quem quer que seja, mas torná-la manual prático de práxis, a ponto de ignorar variações culturais, de construção do arcabouço de realidade à mão de povos diferentes, construídos de barros diferentes por mestres Vitalinos plenos de uma vitalidade similar à de Michelangelos, mas independentes de uma Grécia Clássica e mais próximos de uma percepção de povo feito das mãos de um Deus colorido que de tez moura samba qual Malasartes.


Esperamos revoluções e entendimentos que incluam uma Pachamama tão parecida com Gaia que nos dá o vislumbre do cabelo Louro Greco-Romano-Anglo-Germânico-Saxão, de uma ideia de Deusa menos índia e mais presente nos salões cultos da gélida Europa. Pedimos democracia direta, mas sambamos de horror quando assembleias indígenas tornam-se um só voto, um só, unido, incontestável, criado numa coletividade que não leu Locke.

Criamos um paradigma de laicismo que torna a fé um anátema ao invés de combater fundamentalismos, entendemos o mundo religioso como externo a  ele mesmo, como uma copia fiel de uma fé construída na base do papismo dourado de uma idade média tida como das trevas e fingimos não ver Revoluções pintadas nas cores das Folias de Reis tão medievais quanto o dourado dos Bentos, mas com a pele herege tatuada de muito mais do que leituras de Lênin costumam perceber.

Precisamos de mais radicalidade real, criada do olhar da raiz, do beijo na raiz, de uma macaxeira frita em banha de porco e de uma raiz múltipla, contida de peles e mãos negras, mulatas, indígenas, Nagô, aimará, Tupinambá, Guarani, Banto, Gêge, Ketu.

Precisamos que Marx coma Tacacá, que Macunaima dance um Fox Trote na cara do Luiz XV. Precisamos misturar Chiclete com Banana e por bebop no samba.

Tá na hora da reeducação de alguém, de ver Pachamama devoradora de homens e irmã das Onças e não uma mistura de Gaia com India Potira. Precisamos ver o Admirável Gado Novo, o povo marcado ê, o povo feliz, do lado dele, olhando no olho dele, cheirando ele e não na distância próxima do arcabouço intelectual que cisma em ignorar Levi-Strauss que achava banguela a Guanabara

É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte de uma civilização sem civilidade, sem o civil mundo distante dos salões, feito de Funk, Hip Hop, Tecno-Brega, feito de transformações que zoam a estética de nariz em pé afrancesada.

É preciso ver a moeda número um do Tio Patinhas sendo tomada pelas mãos da criança feia e morta que nos estende a mão.

Precisamos de uma ciência e de uma política que vá além do manual prático do intelectual de esquerda Brasileira. Aquele sujeito com a barba por fazer de três dias, limpo, cheiroso, versado em Francês, que dança um tambor de crioula limpo, cheiroso, versado em francês, que ouve o sertanejo do Piaui, sem ouvir o Funk do Piaui, que fala de uma religião de almanaque, que fala de uma revolução de almanaque.

Precisamos devorar o Bispo Sardinha em nós mesmos, precisamos ser peça de churrasco na mandíbula do anárquico. 

Precisamos do popular e perigoso terreno da galhofa.

Precisamos do popular para além do sorriso burocrata do sindicato que deleita-se ao ver o bolsa-familia assinar a Veja.

Que vivamos o mundo Macunamicamente, que sejamos churrasco na lage, que sorriamos o caos, que lambamos o riso cruel dos ônibus da Avenida Brasil, o ódio surdo do sol na cara em três horas de percurso, a raiva descarregada no puta que pariu que xinga o Juiz.

Precisamos de um novo nós, com o umbigo dos descobertos, sem camisa, de havaianas, em cada esquina.

Precisamos andar assim de viés, tomar a praça como um salão, precisamos ser ralé.


segunda-feira, 9 de abril de 2012

Não vamo deixar ninguém chegar com sacanagem

Após um breve interregno de uma tristeza broxa, uma frescurinha nervosa, um chilique enrustido, eis que volta o batente aquele esperançoso, otimista ogro que vosotros conhecem.

Gonzaguinhando em plena segunda-feira e achando muito bom sacudir a poeira e imbalançar, como aconselhava o poeta em "Agalope" do disco "Coisa mais maior de Grande: Pessoa" .

Para o retorno do ogro concorreram pequenas pitadas de Borboletras nos olhos, noções de Caipiragem malasarteana do Violeiro de Lorena, Ogrices pelotenses beudas, um Toque galináceo belorizontino, Lilesquices Novalimenses e por fim, Serpenteios da Liga de Bueno.

E como já tô com um pé nessa estrada, qualquer dia a gente se vê, mas enquanto isso o discurso do rei, ops, da rainha, decretando fantasias, e que causou mais um da série de desenganos diários que saíram no xixi,  foi percebido como clara resposta aos bardos acadêmicos da ordem verde, cuja perspectiva por vezes passeia no perigoso terreno da oportunidade e receberam um troco nada leve, truculento até, mas no mesmo nível de redução de papéis. Coisas da política nacional e de sua lógica de conflitos de conquistas de reputação.

Pensei até em escrever sobre isso sob o ponto de vista do octágono MMA, mas achei sacanagem com o esporte.

Aproveitando que estou aqui para bater palmas para maluco dançar e ainda entendo que a política pode ser mais do que uma coisa séria feita com os punhos verbais sem ser a nobre arte, não poderia deixar de  pedir à banda para tocar um dobrado enquanto voltamos ao picadeiro para elogiar novamente as ações de esculacho público aos torturadores, como arma sim de pressão e de resposta diante de agressões diárias, de negação do estado de lidar com o problema e buscar de alguma forma a resolução. Comparar isso a linchamento, sorry, não dá, vamos contextualizar inclusive o histórico das ações, o motivo delas existirem em toda a América latina, etc... 

Ah, vão fazer isso com os militantes de esquerda? Jura? Já o fazem, sempre fizeram, até com quem começou depois da ditadura, não notaram? Menos legalismos, por favor.

Na mui leal um ex-jornal em atividade diz que o Emir do Paesquistão é um excelente funcionário público porque voltou pra trabalhar quando podia esticar em Paris e dá ideia pros funças que não podem ir além da Praça Paris e que ralam todo dia para, sei lá, evitar darem uma esticada num churras em Bangu na segunda-feira pré-feriadão, já que fazer sua obrigação qualifica o sujeito como bom profissional.

Do lado ensolarado do espectro político partidário há um sopro de frescor na candidatura dos Marcelos para a prefeitura, que ajuda aos eleitores como eu, que tavam com nojinho das eleições no Paesquistão, a terem candidato. Há também um sopro de negror com a atuação fedorenta do Senador Randolfe no caso DEMóstenes Cachoeira. 

Pô Senador a gente sabe que a luta política é dura, a gente perdeu, mas não esculacha,viu?

E assim se desenha o quadro da mesmice da política cotidiana onde aqui e ali aparecem sinais legalzinhos de que podemos sair do rame rame da luta do bem contra o mal, do moralismo versus o "Vamo comê", da geladeira versus o mato e do museu novidades estranhas pregadas como peça nos doutorados e feitas verdades mezzo embusteiras sob o pano Ecocarola do novo Circo "republicano".

Aqui e ali esculachos, minas pirando na biscatagi, acadêmicos que vão de trem, descendentes de escravos desescravizando no rap (tá ligado?), e funks da periferia vão dando cor às ruas por onde o ogro passa. Por isso o verso do poeta filho de Gonzagão torna-se fundamental: "Não vamo deixar ninguém atrapalhar a nossa passagem. Não vamo deixar ninguém chegar com sacanagem!".

E quarta tem Flu x Boca, nada é mais importante.

sábado, 8 de outubro de 2011

Quem serão os Intelectuais do pós-lulismo?


Maravilhado pelo Artigo "Os intelectuais no pós-lulismo" encasquetei com um ponto: O Pro-Uni e as cotas nas universidades públicas.

Os pontos de cultura fazem o surgir do intelectual orgânico? tá,pode ser,mas este tende a ser desprezado pela "tenda dos milagres" dos Especialistas. Este tende a ser ignorado, a não ser em casos especiais ou em grandes feitos.

Os caras que estão na universidade via programas levados a cabo pelo governo tendem a ser simpáticos a ele e, querendo ou não professores mais ou menos alinhados à  critica da mídia (que na minha experiencia pessoal são poucos, mas existem), lerão aqui e ali intelectuais que independente de serem de direita ou esquerda  ajudam com novas ferramentas ao pensar. Isso tem mais impacto em áreas como História, Comunicação, Pedagogia, do que em Administração e Engenharia,mas terá impacto. ninguém lê Thompson e Burke impunemente, Levi -Strauss, Umberto Eco, idem.  E negozinho sai do "lumpem" pra ter contato com isso e passa a ter ferramentas pro pensar o real, e vai usar a ferramenta e assim surgem intelectuais.

O 1% , numa perspectiva pessimista, que sair dali com este impacto fará uma diferença enorme e terá mais chances de ser ouvido porque passou pelos critérios meritocráticos da "Intelectualidade amestrada", não vai ser facilmente desqualificado. E mesmo que seja ignorado pela mídia, são formados 1% anualmente em ao menos 5 anos pra cá. A Evasão é alta? é, mas mesmo assim é menor do que era antes, porque o cabra conseguiu chegar ali e se agarra  com unhas e dentes. Então há uma geração de gente que começará a produzir conhecimento vindos de uma outra ótica, de um outro parâmetro social de percepção cultural. 

Essa rapaziada pode ser conservadora, mas se o for será de outra forma onde o elitismo, se houver, não será igual ao clássico. Notadamente se houver o elitismo ele o será paradoxal e talvez combatido pela mesma comunidade do qual o cara saiu,e sabemos que não é exatamente fácil sair de uma comunidade e ir pra um outra comunidade, especialmente uma "mais branca", ou seja,a  tendência é o cara não ir de encontro ao que ele chama de casa..

Então o que defendo é que estão sendo construídos intelectuais que pensarão o Brasil a partir de uma perspectiva pessoal de mudança via Governo Lula. Estes são os intelectuais do pós-lulismo.

A perspectiva do pós-lulismo vai além do que acreditamos ser certo ou errado em seu governo e vai além dos "planos" seja da mídia ou do governo e seus apoiadores.  Idelber aponta um questionamento perfeito e coloca algumas questões sob o ponto de vista de tentar perceber o que a intelectualidade já em ação fará, pensará ou agirá. Entendo que numa perspectiva de "pós-lulismo" temos de pensar na intelectualidade formada por ele, sob suas políticas e sob a lógica do debate político levado a cabo durante esta era.

O impacto da entrada de mais gente nas universidades muda a própria lógica da formação "técnica" dos cursos formados sob este ponto de vista. A formação de professores, por exemplo, como é feita? que professores gerarão?  O que eles lêem? E os universitários que foram mais longe e inundarem mestrados e doutorados, que produção terão? como ela influenciará o pensamento dos próximos?

Independente de classificações ideológicas cabíveis ou não sobre o governo a realidade produzirá um quadro a ser lido e analisado, e esta realidade terá um impacto, como já tem e foi exemplificado pelo Idelber ao citar os pontos de cultura, sobre a intelectualidade não só para a intelectualidade que já está  na ativa, mas na própria cara do que será a intelectualidade em um futuro próximo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Solucionáticas?


No texto abaixo eu meto uns paus, faço umas críticas e reclamo de umas coisas, entendi que estava também incluindo algumas solucionáticas enrustidas no apontamento da problemática. Seguidor das leis de Rei Dadá esperava e entendia que alguns apontamentos incluídos sub repticiamente no texto ficariam claros, mas amigos bem sacadores não sacaram e resolvi escrever as propostas num “Que fazer?” caboclo meia boca.

Primeiramente acho que é bom explicar, embora seja óbvio, que de Lênin eu não tenho nem a careca. Segundamente não tenho experiencia forte em administração pública, ou seja, jamais atuei no poder então meus pitacos são especificamente de fora, cometendo obviamente deslizes no que foge à minha alçada.

As críticas que coloco relativas aos posicionamentos partidários são simples de esclarecer o que proponho: Fortalecimento das instancias internas com nucleação forte, nucleação de base com relações inter núcleos via plenárias regionais frequentes e com isso levantamento de questões à plenárias de direção que encaminhem diretrizes às executivas partidárias. O uso de um falso centralismo democrático travestido de colegiado de correntes e tendencias é golpe imediato na democracia interna de partidos como PT e PSOL.

O PSTU e PCB já partem do centralismo democrático clássico, críticas à parte sobre a existência ou não de burocratização neles, mas partidos como PSOL e PT se colocam como partidos de correntes de de núcleos, se você interrompe o oxigênio partidário com enfraquecimento dos núcleos você amplia a burocratização e mata o partido, ao menso a diversidade e se bobear sua inclinação socialista, ainda mais se a opção pelo eleitoralismo levar à filiação de grupos que nunca foram parte da esquerda, nem mesmo na proximidade pontual.

Pra sair da armadilha de comportamento olímpico com relação ao povo sem uma relação direta de convencimento acredito que o primeiro momento é abandonar a ideia da população não ter consciência e ir no caminho antropológico de “etnografia”, ou seja, viver com a população e dialogar, colocar as ideias no pano, ver qualé, passear pelos locais, discutir, interagir e sim, ser convencido também. Atividades e pesquisa são fundamentais, entender a dimensão das relações sociais e de parentesco nas comunidades idem, entender o que significa honra, palavra, dádiva,etc, mais ainda.

É fundamental desconstruir a ideia de povo como algo dado e cuja definição de Marx é tomada como regra e não o como Marx chegou a esta definição. Nada é menos materialista do que pegar uma ideia construída fora do dia a dia político brasileiro como fundamento para análises nossas. E mesmo em muitas análises feitas por brasileiros a ideia de povo é tomada via “bancada”, ou seja, o povo é visto do alto de uma análise de classe média/alta ou mais ainda mesmo quando vista in loco trabalhada com o arquétipo de povo. Sem contar que devíamos escrever “povo” dada a diversidade do que significa esta categoria.



De que povo estamos falando? Como ele respira, ouve, lê, anda, fala? Tem sotaque? Que sotaque? De onde vem esse sotaque? Como são as relações de gênero deste povo? Como são as relações entre fenótipos diferentes? Como são suas construções? Como eles veem e querem suas casas , ruas, escolas, trabalho, sexo, música? São perguntas abertas, e é óbvio que são feitas também da “bancada”, porque as perguntas mudam de acordo com o campo. É preciso que a “prática como critério da verdade” seja algo além de um discurso e algo além de pesquisas quantitativas e observação abertas, cheias de estereótipos de uma população variada país afora. É preciso abandonar o anti-intelectualismo e o medo da ciência e largar de mão dogmas pseudocientíficos e filosóficos que por vezes travam e são atualizados até mesmo dentro das tradição ideológicas por outras formas de abordagem do real. 


É preciso para nossas relações políticas irmos além do aparato e arcabouço puramente ideológico e acrescentar a ele o que se produz como ciência. Dessa forma talvez tenhamos menos comunistas com elitismo cultura ou machistas. Talvez com isso tenhamos menso comunistas que tem um belo discurso, mas reproduzem os mesmos preconceitos culturais, de gênero e raça que dizem combater.


Não precisamos gostar de funk ou de ruas apertadas ou de pagode ruim, ou de letras de música dizendo que a mulher tem de chupar pirocas pras entender que isso é sim culturas e é tão legítima e válida quanto Chico Buarque. E é preciso menos moralismo cultural, menos rotulação sobre como deve ou nãos e comportar o diferente.

Muitas vezes lemos que o que diz a Tati Quebra Barraco é reforço no machismo, mas é mesmo? Lá no ambiente onde foi construído grito da Tati é reforço ao machismo ou ofende o machismo local? Aposto na segunda opção. A mulher dizer claramente que faz sexo como quer e não é vagabunda é como queimar sutiãs naquele ambiente. Podemos discutir o quanto isso na nossa concepção de comportamento é reprodução e nessa viagem inter grupos sociais como o conceito exposto pela Tati é por nós entendido, mas antes de usar esse entendimento para explicar universalmente o significado da música convém ir lá e ver in loco como essa música funciona na cabeça de quem fez e de quem ouve primeiramente, antes da viagem da favela pras boites da zona sul carioca.

Comunista que chama funk de sub música tá numa redoma, e pior, reproduz um preconceito que diz que música é apenas uma música aprovada pelas classes dominantes, cujo gosto foi assumindo pelas classes médias. No início do século XX essa sub música, também originada fora do país, era o samba. Nas décadas de 1950 a 1970, iniciozinho, essa sub música era o rock.

Da mesma forma é preciso ações de conquista de diálogo horizontal como uma juventude que anda por ai doida por um 15-M tupiniquim. E acredito que do mesmo jeito da relação com o “povo” é preciso entender que rapaziada é essa. É preciso entender que determinadas construções da forma partido cuja horizontalização e trajetória das discussões e processos decisórios é interrompida são o fim da picada pra uma multidão de pessoas que estão expostas à fragmentação da comunicação n cotidiano chamada Internet. E essa fragmentação não é quebra, é diversidade, é polifonia, a ideia de síntese, cujas discussões determinam um ponto de convergência pode estar sendo substituída na prática pela ideia de polifonia, onde todos os grupos e desejos se materializam na ação direta, onde não é preciso esperar a revolução pra discutir o problema de gênero, por exemplo.

Há problemas nas manifestação espontâneas de Madri ao Cairo, na primavera árabe e na rebeldia europeia? Claro, e esses problemas são menso da diversidade e mais da ausência de organicidade. Essa organicidade não significa que todos tem de empunhar a mesma bandeira, mas talvez da organização dessas diversas lutas no sentido de também derrubar o inimigo. Não necessariamente focar numa bandeira única, mas ampliar as lutas diversas, todas nas ruas, todas com solidariedade mútua e todos sufocando o inimigo numa batalha em várias frentes, mas ao mesmo tempo agora.

Para combater a crise da esquerda é preciso antes de mais nada entender o “público alvo”, depois entender que estamos em crise e perder o saudosismo da unidade perdida. A partir desses passos talvez tenhamos muito mais ganho do que estamos tendo e podemos enfrentar a ideia do estado à nossa frente, inimigo ainda, e também do governo que deve sim ser pressionado para a realização dos desejos desse “público”.

Com isso talvez a esquerda possa ir além do que está sendo feito. Um exemplo é a luta pelos 10% do PIB para a educação, fundamental, mas que para na luta por verbas e que pode e deve usar as mais diversas experiencias de esquerda para a educação, da “Escola do Aluno Caminhador” à “Escola Possível” de Miguel Arroyo, iniciativas que partiam da realidade do aluno para construir um processo educacional que minimizasse a violência da “socialização” via educação. Paulo Freire tá aí pra isso.

Será que a escola que queremos é só a escola com 10% do PIB pra educação? Como é o professor na escola que queremos? Como é o aluno? A educação já é um assunto tão periférico, cuja importância merecia aspas, pois fica mais no discurso do que na prática de entendimento crítico de seu papel, porque os profissionais da educação não levam pra rua o papo sobre a escola onde estudam os filhos da sociedade? Porque nós os lutadores não vamos pra rua pressionando a sociedade a entender o que ela está fazendo apoiando bravamente a luta de bombeiros e ignorando a luta dos professores de seus filhos, que são tão massacrados e proletarizados quanto os vermelhinhos e tão vítimas quanto os alunos de uma escola que deforma, que humilha, que entedia e que destrói o indivíduo o tornando em geral um mero repetidor? Qual o medo e ir além do econômico e também repensar publicamente e em conjunto com a sociedade o próprio sistema de educação? Será que enfrentar o pai da criança, que foi aluno da mesma escola deformadora e por isso também tem uma péssima ideia do professor como inútil é tão difícil?

Além disso, que governo queremos para nós? É apenas um governo bacaninha que faz o “bem pro povo” ou é um governo que amplie a imersão do “povo” nos processos decisórios? Cadê a ideia do Orçamento participativo e sua adaptação para meios de interferência popular direta e embate político constante na sociedade que seja federal? E que estado queremos? É esse ai adaptado ou outro? O Outro mundo possível é um mundo velho com Botox?

Enfim, na busca pela solucionática acabei criando outras problemáticas e nem paro no ar que nem beija-flor.

Algumas sugestões estão ai e podemos sim avançar a partir delas, indo além do discurso, colocando o assunto à baila e na prática. Talvez com isso comecemos a disputar a hegemonia das consciências coma direita, sem levar luz, sem tentar pagar de “orientador”, mas debatendo e discutindo, colocando soluções práticas, debatendo soluções práticas, de baixo pra cima, à esquerda de quem entra.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A Classe Operária vai à Padaria

No texto anterior tento discutir a questão da chamada política 2.0 e menciono uma galera que não tá no mundão 2.0, mas tá no dia a dia e é alvo de politicas,. Assunto de políticas e personagem principal de discussões, algumas que querem trocar de povo, inclusive são,de forma indireta, atacados quando genericamente as pessoas se referem pejorativamente a evangélicos, católicos, burros, pobres,entre outros substantivos e adjetivos nem sempre de bom tom.

Mas o que é esse povo, o que é essa classe operária, porque é tão difícil entender o que ela quer e porque é tão difícil que nossa discussão fofa e lindona sobre ativismo digital e praça Tahrir, política 2.0 e assuntos críticos como a questão de gênero e LGBTT seja uma discussão que vá além da pequena e isolada aldeia da virtualidade? Talvez porque fazemos da virtualidade um bantustão de ideologia avant garde.

A classe operária quando invade a virtualidade quase nunca se parece com nossas amizades descoladas que se junta a nós na defesa do fim do machismo e da homofobia. E isso não ocorre porque ela é burra e desentendida, mas porque ela não é convencida, não nos recebe em sua casa pra tomar café e nem é ouvida em diálogos francos sobre os assuntos. Uma moça outro dia foi tida como heroína da raça por, de forma bem simples, colocar questões hiper fodas em uma passeata homofóbica de fundamentalistas cristãos. Virou ídolo fácil e automático da galera hype da Internet. Mas no dia seguinte ela, como todos os iguais a ela, foi incluída nos diversos xingamentos aos "evangélicos", essa espécie parecida com povo, despersonalizada e amorfa. Dona Jovelina é evangélica, como muitos outros e outras.

A virtualidade, conhecida nos lugares mais legais do planeta como política 2.0, também acha que o povo vota no Bolsonaro porque é ignorante e tudo fascista, e acha que é o fim da picada eleger Tiririca. Fico me perguntando como a gente faz então pra inverter a demanda de base de esquerda, e não de partidos de esquerda necessariamente, no congresso. Se o povo é esse ai e ele vota no Tiririca e no Bolsonaro e não no Rui Kureda, companheiro socialista bom pra diabo , não era com ele que a gente tinha de ir lá e dialogar? Adianta a gente fazer marcha pela paz, pela maconha, pelo direito de voar de costas ou pelo tetra do Flusão se essa marcha for feita apenas por milhares de modernos jovens que em sua maioria nem sequer lembram o nosso amado amigão porteiro ou padeiro? Nossa Praça Tahrir teria povo ou apenas uma classe média descolada, pós moderna e cheia de amor pra dar?

Essas perguntas não querem em momento algum desqualificar qualquer movimento ou pensamento e nem botar gasolina na falsa dicotomia de que ter o povo a nosso lado a qualquer custo é o mote, reduzindo obviamente povo a voto.O que eu quero é propor o debate sobre que politica fazemos cujo 2.0 reproduz o preconceito contra a população que vai à padaria, construindo um muro onde nós, os iluminados, levamos o conhecimento, o movimento, a verdade e a vida a um bando de gente estúpida que recebe bolsa família.

Discorremos sobre o voto "consciente" em deputados de esquerda e não somos capazes de aceitar e compreender que o voto no João da Pipoca, que faz benfeitorias no bairro do cabra, ou no Zeca do Tijolo, que doou tijolo pra o cara terminar a casa dele que estava quase sem teto, com goteira e estragando seus parcos bens, como votos conscientes, completamente entendidos. Cobramos uma ideia de "civilidade" e uma relação com a sociedade que contemple um dever para com uma sociedade que na maioria dos casos nunca cumpriu dever algum com as pessoas de classes para além túnel rebouças, por exemplo, os tais pobres.

Cobramos uma consciência da população, que já há, mas temos nós consciência do que ocorre, do que é a vida diária de um povo que em geral toma porrada, perde a casa e só pode confiar realmente na sua rede de relações criadas a partir do parentesco, dos laços de amizade, dos políticos locais, que ajudam essas amizades e laços? Dificilmente. Às vezes nossa classe "consciente" parece entender mais os Nuer ou o cálculo da mais valia do operário da Volks no Cazaquistão do que a classe operária que ele quer levar ao paraíso, mas só se for de acordo com suas regras.

A esquerda, essa mesmo que se propõe porta-voz da classe operária,  faz algum tipo de esforço para ir na classe operária, entendê-la, ouvi-la, sê-la, participar dos laços, ser contra-hegemônica no seu dia a dia, dialogar na padaria? E este esforço vai além do aceno simpático, do abraço, da conversa cujo teor está impregnado do desejo de iluminar mentes e menos de compreender o intrincado sistema de classificação baseado em honra, em compadrio? A classe operária gostava do Brizola por ele ser um "líder carismático" ou por ele honrar o desejo das massas e ser confiável à elas?  O Carisma do cara vinha de sua fala e magnetismo ou da percepção da galera que ele ia cumprir, e energicamente se preciso, os compromissos assumidos com ela "na palavra". Lula é carismático por ser carismático ou por ser um de nós, mais um nessa vida e um que tava lá em cima e olhou pra baixo, não cuspiu no prato que comeu. Esse tipo de relação não é simples, não é fácil, não é jogo e ninguém nela é estúpido. Sabemos tudo sobre a formação da classe operária inglesa, e da nossa? E como saber? Formatando-a em conceitos genéricos e internacionalistas que jamais fogem de modelos que quase obrigam a  comportamentos idênticos entre ingleses e Baianos?

Gritamos alto sobre a cassação de direitos dos homossexuais e recuos nos avanços disponíveis, mas disputamos a hegemonia do debate com o povo da padaria? Vamos lá e conversamos com os caras? dizemos pra eles que médicos do mundo inteiro pesquisaram e sabem que gay não é safadeza? Dizem os pra eles que o casamento é um troço que deve valer pra todo mundo, mas não o da igreja, o do cartório? Procuramos ver e ouvir que existem gays mais respeitados na favela, no bairro  e no sertão baiano do que na paulista? Sabemos e discutimos as diferenças entre a homofobia da Paulista e certos medos de que tradições sejam esculhambadas por "modernidades" trazidas por gente que é de outro mundo pra eles, e em geral é de um mundo que grila suas terras e passa o trator em suas comunidades? Quando vivemos em um mundo onde ateus reivindicam o direito de desqualificar quem não é ateu, acho que não.

Qualquer se humano atento a software sabe que pra se ter um 2.0 precisamos antes viabilizar o modelo 1.0 ou talvez caiamos no erro de abandonar o esqueleto anterior sem um futuro estar pronto. Enquanto isso nossos amigos fascistas tão lá compreendendo entendendo, conversando e tomando café.

É importante usarmos todas as ferramentas, digitais ou não, de atuação, mas temos de saber fazer política com a moçada 2.0 e com a classe operária, que não vai ao Facebook, mas vai na padaria.