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domingo, 2 de dezembro de 2012

Da vanguarda no ensaio sobre a cegueira

A vanguarda quer dirigir e para tal convence-se que forma quadros.

À vanguarda cabe ao menos a ilusão de que o todo é composto de uma inteligível realidade facilmente reduzida a um modelo explicativo imutável e à ela também cabe a direção de um povo. 

Povo é uma categoria cuja explicação precisa do que é demanda tempo para que o amontoado de simplificações seja compreensível como uma tese. Povo é uma espécie de amálgama do outro simbolizado por um espantalho simplório que por sua vez pouco reflete algo além do nada.

À vanguarda cabe os líderes que por sua vez tem em si o carisma e a capacidade também imutável da infalibilidade e da antevisão quase profética do todo; O todo é aquele mesmo real que tem de ser inteligível e simplificado em sua também imutabilidade para uma explicação que coordene-se como uma tese clara e uma ação convincente.

O líder e a vanguarda não mudam, não erram, não cegam, agem com correção, mesmo que sua ação traga o DEM para uma aliança em um estado longínquo ou uma liderança condenada por todo um imenso grupo da sociedade que apoia o partido ao qual pertence esta vanguarda ganhe o espaço deste partido para defender-se de acusações que, pasmem, são feitas pelo partido que cede o espaço.

O líder e a vanguarda sabem o que fazem, mesmo quando apresentam em um programa eleitoral o ministro da educação que seu partido combateu por meses em uma das mais longas greves do funcionalismo público da educação federal. 

O estatuto da pureza revolucionária da vanguarda dá às suas lideranças o estatuto da pureza atávica, mesmo que assassinem programas, rasguem resoluções, estuprem movimentos. O estatuto da pureza revolucionária marca-se pela necessidade de criação de "musculatura" partidária, e pelo jeito esta deve se construir mesmo que usando anabolizantes.

Com as lideranças ungidas da pureza atávica que merecem mais que votos de confiança, mas verdadeiros cheques em branco que saem de contas mais amplas do que a composição da vanguarda dá conta, a vanguarda torna-se um bloco sensacional de explicação do todo como uma espécie de mantra metafísico que embute mais que filosofia política, mas verdadeiras revelações do real como uma espécie de shangri-lá, um mundo novo cujas leis da física podem ser alteradas pelo verbo.

À Vanguarda sabe a revolução, mas esta deve seguir as leis imutáveis do mecanicismo historicizante, nada de mudanças de paradigmas explicativos e percepção de que o planeta não gira seu tempo de forma linear e que a licença poética da repetição como farsa não cabe como explicação em um mundo que deve pensar para além do manual.

À Vanguarda cabe o papel principal do filme da política cotidiana, pena que este se assemelhe ao "Ensaio sobre a cegueira".

sábado, 24 de novembro de 2012

Nota do Setorial Nacional Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL, a respeito das eleições 2012

O crescimento do PSOL em 2012 foi inegável, apresentando-se com campanhas com uma postura à esquerda, efetuando um contraponto às milionárias campanhas patrocinadas pelo PT e seus aliados nas capitais, assim como as da direita tradicional.

Ao apostar na mobilização da sociedade e no diálogo constante com os movimentos sociais, na defesa da contribuição cidadã para as campanhas, na força do voluntariado militante, o PSOL alcançou um status que o destaca como nova referência da esquerda nacional, ensaiando ir além da sua sugestão como partido necessário e ocupando um lugar que buscava desde sua fundação: alternativa de esquerda à capitulação lulista patrocinada pela guinada direitista do Partido dos Trabalhadores e sua política “pragmática”.

Ao obter 2,39 milhões de votos para candidatos a prefeito no primeiro turno, superando partidos historicamente mais inseridos na institucionalidade, mergulhados na ordem e com ela compactuando, como PV e PCdoB, o PSOL também ocupou em capitais importantes como Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza o espaço deixado pelo PT junto à sociedade e movimentos sociais.

Ao bradar que “Nada deve parecer impossível de mudar”, qualificou-se como uma oposição que resgata a dimensão da utopia, o discurso ecossocialista, as demandas do movimento feminista, do movimento negro e LGBT, abandonadas por um Partido dos Trabalhadores mais interessado em ampliar sua imensa musculatura eleitoral ao custo da bandeira histórica da esquerda mais próxima de ser rasgada. Politicamente mais respeitado e com sua bancada de vereadores/as enormemente ampliada, o PSOL elegeu seu primeiro prefeito no primeiro turno e foi ao segundo turno em duas capitais.

Estas conquistas foram levadas a cabo por uma profunda ação militante e por um discurso que se diferenciou dos partidos tradicionais, dos partidos da ordem, em uma conjuntura mais favorável que a de 2008, onde ainda recém-fundado, enfrentava um quadro onde a experiência da população com o PT ainda não havia deixado clara a mudança operada naquele partido que se filiou ao vasto ‘clube dos partidos da ordem’.

Com campanhas feitas à esquerda, o PSOL atraiu a população, especialmente a juventude, abrindo boas possibilidades de construção do partido com mais capilaridade que permitiu ampliar a defesa de um projeto de socialismo com liberdade, democracia e com absorção das lutas abandonadas por parte da esquerda e cuja importância era negada diante de um projeto de transformação que só enxergava as questões macro, que só enxergava o desenvolvimento econômico a qualquer custo, ignorando totalmente a dimensão ambiental e a de direitos humanos.

Abrem-se novas possibilidades de construção, o crescimento do partido também exige novas posturas diante da própria consciência critica da população que espera nos ver como alternativa precisa e não simulacros modernizados do que já ai está.

Diante desta responsabilidade, o que se fez no Amapá e em Belém, guardadas as diferenças entre as ações, se torna uma agressão não só às decisões partidárias construídas coletivamente como também às ações cotidianas de nossos militantes inseridos nas lutas e nos movimentos sociais. Estes tiveram o seu discurso e toda a diferença que demarcaram no decorrer de muitos anos jogadas na lama por atitudes irresponsáveis de parte da direção partidária e de figuras públicas como Randolfe, Clécio e Edmilson.

Já anteriormente advertidos pelo Diretório Nacional do PSOL em 2010, por alianças não condizentes com as definidas coletivamente pelo PSOL, Randolfe e a direção do PSOL-AP repetem em 2012 a postura de ignorar decisões do coletivo do partido ao, já no primeiro turno, apoiar, na figura do senador Randolfe Rodrigues, candidatos de partidos com os quais o DN-PSOL havia expressamente proibido alianças.

O Ato político público pelo qual foram feitas as alianças com DEM, PTB e PSDB no segundo turno da eleição em Macapá, torna mais grave a prática, inclusive pela reincidência, evidenciando o modus operandi levado a cabo em Macapá, expondo o partido como um todo não só a ataques de adversários, como provocando o afastamento da parte da sociedade que se aproximou do PSOL por nossas posturas de diferenciação, setores estes e que agora se vêem em dúvida diante de posturas que lembram a lógica do PT em sua célere caminhada para a tucanização.

A postura dúbia de Clécio e Randolfe Rodrigues ao afirmar para o partido uma coisa e outra para a imprensa, só agrava a postura levada a cabo em Macapá. Além disso, a postura dúbia contém também ataques a quem no partido se recusa a ter com uma explicação inverossímil uma relação de bovina passividade.

A preocupação menos em explicar a dúbia postura diante do gravíssimo ato público aliado ao DEM, e mais em demarcar uma posição agressiva de culpabilização de quem resiste a uma práxis por demais similar à capitulação petista e ao abandono de bandeiras histórias da esquerda, que nos opõe a partidos como DEM et caterva, guarda uma similaridade na desqualificação que a direita costuma mirar por sobre os socialistas, sendo sempre chamados de “incapazes de compreender” atos de profundo esbulho e que possuem o desagradável odor de traição, nas lutas cotidianas.

A gravidade cometida em Belém, embora tenha outras tonalidades, também guarda em si um enorme problema cuja similaridade aos malfeitos de Macapá está na lógica do ganho eleitoral ao custo de toda e qualquer limitação exposta por uma construção socialista capilar do partido como oposição à esquerda do Governo Lula/Dilma.

Além da gravidade de negociar no segundo turno mais do que o apoio do PT ao candidato Edmilson Rodrigues, mas também o apoio do PSOL em Belém ao governo Lula/Dilma, com gravação de apoio do próprio Lula, da presidente Dilma e dos Ministros Mercadante e Marta Suplicy, a campanha para prefeito o fez em desacordo com a direção municipal, levando não só constrangimento a todo do partido, empenhado em lutar contra o governo em várias frentes, principalmente em 2012 na longa greve do funcionalismo das instituições federais de ensino superior, mas, sobretudo, também levou a uma divisão entre seus quadros, que poderá resultar em efeitos nefastos para o partido no Pará.

Além de confundir fronteiras entre ‘receber o apoio do PT’ em um quadro eleitoral polarizado, com ‘construir a defesa de um governo que opõe nossa postura partidária em construir uma esquerda socialista conseqüente e alternativa a linha social-liberal do PT’, subordinada aos interesses da grande burguesia brasileira e internacional, a campanha de Edmilson Rodrigues tornou-se de fato, seu representante, um braço político da linha social liberal ao ter em seu programa Lula, Dilma e Aloísio Mercadante louvando seu governo, promovendo um escárnio simbólico da campanha majoritária em Belém para com lutadores e lutadoras que resistiram à nefasta política educacional do governo federal, sendo tratados como vagabundos pelo governo ao qual a campanha se vinculava, ao passo que deveria ser firme oposição a ele.

A campanha Edmilson ao transformar um natural, nas circunstâncias, apoio do PT, em venda do apoio do PSOL, aos governos do PT, também errou ao adotar o discurso combatido pelo partido país afora, que colocava quem se aproximava do governo federal como possuidor de “facilidades” em investimentos, discurso este combatido no Rio de Janeiro, em Fortaleza e Salvador, não só por ser este um discurso despolitizado e falacioso, similar ao coronelismo dos aliados ao governo federal, como também simbolizar a total subserviência a mecanismos viciados de governo.

Tão grave quanto os fato relatados acima, foi a postura do presidente do Partido ao optar por uma explicação dos graves feitos em Macapá e Belém de forma insuficiente, como também foram os ataques que fez a quem discordava, como “expositores do partido”, ao fazer uso de sua figura partidária para atacar a campanha em São Paulo como uma espécie de vingança pessoal por ter sido preterido pelo coletivo municipal.


O presidente do partido agiu como ‘chefe de tendência’ e não como quem tem responsabilidade política, administrativa e orgânica de zelador das resoluções partidárias. Ao tomar parte como integrante da ala defensora das práticas levadas a cabo em Belém e Macapá, atos estes praticados por membros de sua corrente, Ivan Valente foi conivente com estas ações e cometeu uma irresponsabilidade que não condiz como cargo que ocupa. Ou seja, ao não agir como presidente e sim como membro e chefe da corrente a qual também pertencem Clécio e Randolfe Rodrigues, Ivan Valente deslegitimou-se como presidente do PSOL, pois não mais tem legitimidade política para mediar as relações no conjunto do partido.

Diante do exposto, o Setorial Nacional Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL se vê na necessidade de emitir uma moção de repúdio às campanhas de Macapá e Belém que, mesmo em Macapá onde foi eleitoralmente vitoriosa, expuseram negativamente o partido perante a sociedade, construíram meios de ataque de nossos adversários onde vencemos politicamente (em cenários muito mais duros), afastaram conquistas feitas na base e atacaram lutas construídas coletivamente por sindicalistas, ecologistas e estudantes, juventude e a sociedade que busca uma alternativa à herança maldita que o PT legou à esquerda. Esta ‘herança maldita’, por sua vez, pareceu ser muito similar àquela vendida como ‘panacéia’ pela direção, em conluio com Randolfe Rodrigues e Clécio em Macapá, e com o desastre cometido por Edmilson em sua campanha em Belém.

Por último, o Setorial Nacional Ecossocialista Paulo Piramba do PSOL solicita a constituição de uma Comissão de Ética, tratando dos atos de todos os que desrespeitaram as resoluções partidárias, ultrapassaram as fronteiras éticas e limites definidos por diversas instâncias partidárias, a exemplo da ação de Randolfe Rodrigues, colocando-se em confronto aberto ao que decidiu o diretório de Rio Branco no Acre, quando apoiou um candidato petista no segundo turno naquela capital e atropelou decisões de instâncias do partido em vários níveis.



PS: Esta nota teve como base a nota votada por sete membros da Executiva Nacional do PSOL na reunião realizada no dia 08/11/2012.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

PSOL E SEU ARCO CINZENTO DE ALIANÇAS: NÃO PASSARÃO!

Nota do Setorial LGBT do PSOL sobre as alianças eleitorais do partido em 2012 aprovada na reunião do setorial realizada no X Encontro Nacional Universitário da Diversidade Sexual (ENUDS):

PSOL E SEU ARCO CINZENTO DE ALIANÇAS: NÃO PASSARÃO!

Das últimas eleições sai vitorioso um PSOL construído nas lutas, no diálogo com diversos movimentos sociais e amplos setores da sociedade. Um partido socialista, militante, com um projeto político de esquerda capaz de aglutinar as reivindicações e as lutas da classe trabalhadora explorada, das populações tradicionais, mulheres, negros, LGBTT e pessoas com necessidades especiais de todo o Brasil. Foi assim que o PSOL obteve este ano cerca de 2,39 milhões de votos para candidatos a prefeito só no primeiro turno, elegeu 49 vereadores e foi ao segundo turno em duas capitais. Tudo isso fortaleceu o partido como o mais sólido agrupamento de oposição ao governo Lula/Dilma e à direita conservadora “tradicional” representada principalmente pelo campo DEM/PSDB.

Por outro lado, quando analisamos o perfil e o arco de alianças estabelecidas em certas candidaturas do PSOL, constatamos que coexistem internamente projetos distintos no que se refere à construção de um partido de esquerda socialista. Basta observar que muitas candidaturas do partido, mesmo aquelas que não eram LGBT, foram firmes em relação à pauta da diversidade sexual e não se renderam a lógica conservadora e pragmática na busca de votos. Estas candidaturas reafirmaram o compromisso do PSOL com a luta contra as opressões, pela laicidade do Estado e no combate ao conservadorismo e ao fundamentalismo religioso que atacam a população LGBT e os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Dentre essas candidaturas, destaque para o primeiro candidato a prefeito assumidamente homossexual do Brasil, o professor Renan Palmeira, do PSOL João Pessoa, cuja coragem e coerência política reafirmam o espaço das LGBT no cenário político nacional.

No entanto, muitas alianças construídas ainda no primeiro turno colocaram o PSOL lado a lado com legendas conservadoras. Foi o caso da coligação Unidade Popular em Macapá, da qual fazia parte o Partido Trabalhista Cristão (PTC) e o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), este último, integrante da bancada religiosa do Congresso Nacional. Para piorar, no segundo turno, a coligação encabeçada pelo candidato Clécio Luís aceitou o apoio do reacionário e racista DEM, em uma enorme demonstração de falta de respeito às resoluções congressuais do partido e sem que nenhuma instância de direção nacional tomasse uma iniciativa para impedir tal afronta.

Também é preocupante a aliança com o PT e o apoio da alta cúpula petista à candidatura majoritária do PSOL em Belém. Essa situação custou caro a toda militância do PSOL, em especial às militantes LGBT, que há dez anos enfrentam um duro processo de cooptação e institucionalização do movimento imposto pelos governos Lula e Dilma. Esse processo, aliado às alianças eleitorais do PT com setores fundamentalistas, que ampliaram sua bancada no Congresso Nacional de forma significativa na última década graças a sua vinculação ao Governo Lula, resultou em uma desastrosa política de flexibilização dos direitos LGBT, como ficou claro no episódio do veto da Presidenta Dilma ao Kit Escola Sem Homofobia em 2011. Enquanto isso, centenas de LGBT são assassinados todos os anos no Brasil - foram 266 só no ano passado – número que deve ser superado em 2012, segundo dados da ONG Grupo Gay da Bahia.

Outro fato não menos indigesto para a militância do PSOL nas últimas eleições foi a aparição da ecocapitalista e homofóbica Marina Silva em algumas candidaturas de destaque do partido, como a de Edmilson Rodrigues para prefeito em Belém e de Jefferson Moura para vereador no Rio de Janeiro. Marina, que durante a campanha presidencial de 2010 se recusou a segurar uma bandeira do arco-íris para demonstrar apoio à causa LGBT, está aliada a alguns dos setores mais conservadores do neopetencostalismo brasileiro. Não faz sentido que o PSOL, na condição de referência nacional na luta contra a homofobia, se vincule a uma liderança de traços tão conservadores.

Esses fatos demonstram a incompreensão de alguns setores que constroem o PSOL no que diz respeito ao papel estruturante das opressões para a exploração capitalista. Em nome do vale-tudo eleitoral, esses setores não pensam duas vezes antes de flexibilizar a pauta LGBT, colocando o partido na vala comum do fisiologismo político. O combate à homofobia, assim como o combate ao machismo e ao racismo, não pode ser tratado como um apêndice do programa partidário, tampouco como uma luta setorial cuja tarefa é de responsabilidade de um pequeno grupo de militantes de base. Ela deve ser uma discussão central para todos os militantes, como já foi diversas vezes na curta história do nosso partido. Um bom exemplo foi o protagonismo das mulheres no II Congresso em 2009 para garantir a permanência da resolução sobre a legalização do aborto e o beijo gay exibido durante o programa de TV do partido na campanha eleitoral de 2010. Nessas ocasiões, o que vimos foi um PSOL coerente com seu programa fundacional, que não tem medo de avançar na construção de um polo de esquerda verdadeiramente antiracista, antimachista e antihomofóbico.

Apesar de tudo, o resultado das eleições nos mostra que foi esse PSOL quem saiu vitorioso das urnas. Dos 49 vereadores eleitos pelo PSOL, 14 foram eleitos sem nenhuma coligação proporcional; 19 coligados com o PCB e/ou PSTU; e apenas 8 com coligações com outros partidos do leque de alianças aprovado pelo DN (aí incluídos tanto partidos do campo do governo federal, partidos de direita como o PPS e legendas de aluguel de direita, que foram aprovadas pelo DN contra nosso voto). Além disso, foram eleitos outros 7 vereadores filiados ao PSOL em coligações que incluem partidos de direita fora do leque de alianças aprovado pelo DN. Isso significa que, na prática, os melhores resultados eleitorais foram obtidos sem concessão programática, alianças oportunistas ou pragmatismo eleitoral.

Diante desta situação, e tendo em vista a necessidade de fortalecer um PSOL verdadeiramente socialista, militante e compromissado com o combate às opressões, exigimos que o Diretório Nacional do Partido, em sua próxima reunião, tome as medidas necessárias para ouvir, analisar, se posicionar e se possível expulsar os vereadores e dirigentes responsáveis por restas alianças espúrias. Pedimos ainda a todos as militantes LGBT do partido que se recusarem a coadunar com essa grave situação, que subscrevam esta carta e divulguem o conteúdo em seus estados de atuação.

Setorial LGBT do PSOL

Assinam esta carta xs militantes:

Evelyn Silva (Niterói-RJ)
Rodrigo Cruz (Campinas-SP)
Tulio Bucchioni (São Paulo-SP)
Dário Neto (São Paulo-SP)
William Santana Santos (São Paulo-SP)
Henrique Condesso Nicodemo (Poá-SP)
Gustavo Mineiro (Fortaleza-CE)
Cesar Fernandes (Curitiba-PR)
Leandro Galindo (Niterói-RJ)
Warley Martins (Rio de Janeiro-RJ)
Eduardo Gomes Pereira (São Paulo–SP)
Frederico Sosnowski (São Paulo-SP)
Bruno Zaidan (São Paulo-SP)
Vitor Gregório (São Paulo-SP)
Matheus Pacheco (Rio de Janeiro-RJ)
L. Tunã Nascimento (Niterói-RJ)

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar...

Uma das coisas que me perturbam o muquifo que é minha cabeça é a lógica da virtude atávica, inerente ao líder, à figura pública, à deputados, senadores.

Há uma tendência nos socialistas de construírem no entorno das lideranças a automática lógica de que é preciso confiar nelas em todas as suas ações.

O problema ocorre não só na base, ocorre também entre lideranças que se enxergam como detentoras da percepção formal e informalmente mais fodona da face da terra diante de meros mortais, que com suas "fraldas mijadas" enchem o saco, limitados que são na sua posição de pavimento do desfile dos grandes homens.

O entendimento da virtude inerente aos que alcançam uma posição de destaque na sociedade é detentor inclusive de um leve cheiro platônico que entende que ao alcançar determinadas posições sociais os homens enxergam longe, entendem melhor sutilezas do drama cotidiano da vida, sacam a dança melhor que a rapaziada que passeia no baixo calão do cotidiano, que dança outro tango, que pega o busão.

Esse entendimento tem um leve sabor de reprodução da hierarquização que a sociedade nos dá a um preço bastante absurdo.

Esse tipo de "detalhe" é facilmente perceptível nas defesas incontestes do grupo de Macapá por parte das figuras públicas do PSOL, que entendem que qualquer resistência à má explicada ação de "apoio" do DEM em Macapá vai de "má vontade" a "Setores intelectualizados que vivem em ambiente onde as instituições funcionam", passeando por "fraldas mijadas" e repetições ad infinitum de uma "distorção ferrenha" da imprensa que sempre deturpa as entrevistas da dupla, o que não parece ocorrer com Marcelo Freixo e Chico Alencar que quando são entrevistados dão menos interpretações dúbias, quando dão, que a dupla Macapaense.

O pedido de "confiança" para com a  dupla do Amapá, abatido a tiros pelas desastradas declarações de ambos à imprensa, é uma constante.

Os pedidos são insistentes mesmo com atitudes das dupla que vão desde vídeos, onde "empolgado pelo apoio" o Senador afirma que a relação com o DEM é pra governar, até afirmar nos jornais que o PSOL deve aceitar dinheiro de bancos e empreiteiras, o que é negado em resolução congressual. Mesmo que essas atitudes indiquem que há no mínimo um problema da dupla de manter posições que assumem e  permitirem que essa confiança nasça e cresça.

Embutido no pedido de confiança e na ação de desprezo à inteligência alheia há a noção que a cúpula dirigente, parlamentar, tem um grau acima da média de percepção do real que nosotros que da base devemos ter todos entre dez e quinze anos de idade mental, pouca formação intelectual e zero de experiência política, ao menos segundo se tira do comportamento de nossas lideranças.

Sé que esqueceram de combinar com os russos, porque além de muitos macacos velhos há também muita gente com formação intelectual, percepção embasada da realidade, experiência cotidiana nas lutas e ninguém é tão otário a ponto de não perceber que quem apresenta duas faces em geral tá escondendo uma terceira, né não?

A ideia da ausência de inteligência da base, aliada a uma virtude atávica das direções, é parte do construto mitológico de uma esquerda que é pouco afeita ao debate e a diversidade, além de entender que a função de uma base militante é menos interromper o jogo das cúpulas e mais levantar ídolos nos ombros até erguê-los aos céus dos cargos executivos.

O entendimento que a direção "sabe o que faz" e "precisa de voto de confiança" ignora um sem número de importantíssimas questões, pra mim a  principal é que o poder da burocracia encanta, e  quanto mais alto maior o encanto por um estilo de vida, pelas pessoas envolvidas na dança dos salões atapetados, que acaba tirando o gosto pela dura e cruel luta cotidiana.

E ai tome-lhe besteira comprada como solução, tome-lhe o caminho mais curto ao invés da construção segura de um alicerce para o alcance de postos mais altos, tome-lhe misturar discussão de ampliação de aliança com a absorção da aliança com o DEM, tida como apoio, como fundamental.

E tome-lhe defesa do indefensável, desqualificação de interlocutores e inversão de "culpas" quando se fala de deslealdade na reação a vídeos com um "empolgado" discurso dizendo que o DEM participaria do governo, como "exposição do partido". 

O discurso que diz que o DEM participaria de um governo do socialista PSOL não expõe o partido segundo os iluminados, mas a reação sim. 

O discurso que expõe o PSOL a uma aliança feita dizendo que o DEM participaria do governo não expõe o partido, a reação sim, esta expõe, esta reação deveria ser interna, deveria ser oculta, enquanto um ato público de aliança com o DEM é feito às claras, à disposição de qualquer detrator do Partido Socialismo e Liberdade.

Para parte da direção do partido o que expõe o partido é quem não acha que ocupar uma prefeitura, que tê-la é mais importante do que construir uma política estruturada que ocupa um espaço no imaginário da população.

Mais vale para estes setores uma prefeitura em Macapá que uma oposição estruturada por uma politica, discurso, postura à esquerda, como foi feito no Rio de Janeiro, Fortaleza e Salvador, entre outros cantos do país.

Mais vale para estes setores usarem a máquina da executiva partidária para atacar a campanha em São Paulo porque o presidente do partido em sua base foi derrotado e não foi indicado como candidato pelo partido.

Mais vale para estes setores desmentirem o que um vídeo gravado diz, invadirem o espaço institucional do Acre pra desqualificarem a decisão coletiva do diretório de Rio Branco e apoiarem o candidato do PT à revelia do partido.  

A confiança que pedem pra quem comete todos estes "equívocos" é na verdade uma carta branca, um cheque em branco. Minimizam a deslealdade de um senador da república para com um diretório inteiro do partido no Acre, mas são ferozes no apontamento como desleal de todo o processo de resistência à abjeta aproximação com a direita no Amapá.

Há duas deslealdades, há mundos diferentes, há visões diferentes com certeza.

Uma delas diz que só Macapá tem um realidade objetiva onde as instituições não funcionam e só lá os militantes socialistas enfrentam a violência e o descaso dos governos, justiça,etc. 

No Rio de Janeiro onde morreu a juíza Patrícia Acióli  onde militantes apanham  de milicianos na Zona Oeste e onde mulheres perdem a guarda de filhos abusados pelo pai porque sua denuncia é desqualificada por juiz e promotor? Ah, o Rio é um paraíso onde militam setores intelectualizados que são incapazes de entender a dinâmica singular da barbárie da "Terra de Malrboro" que é Macapá!

Na junção de uma lógica platônica de superioridade moral da direção partidária e dos parlamentares com um etnocentrismo preconceituoso que usa a "singularidade" pra justificar ações bizarras mora uma condescendência que acompanha o PSOL e acabou com milicianos filiados na cidade do Rio de Janeiro. 

Na "singularização" de Macapá age-se como se capitais fossem "rincões" e em capitais maiores e "civilizadas" não houvesse uma barbárie antiga, próxima e com instituições que funcionam sim, mas pra uma elite que em geral confia no DEM, o mesmo aliado de Macapá. 

Nesse contexto de pedido de que os "setores intelectualizados que lutam em cenários onde as instituições funcionam" e os que andam de "fraldas mijadas para ampliar seu circulo de relações" deem cheques em branco para uma dupla que tem uma imensa dificuldade de comprovar que são distorções o que parece posição política (Que aliás os acompanha desde 2010), eu prefiro esperar pra ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar.


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Nota votada por sete membros da Executiva Nacional do PSOL*



As eleições de 2012 foram um momento de vitória política e eleitoral para o PSOL. Obteve 2,39 milhões de votos para candidatos a prefeito no primeiro turno, superando partidos tradicionais como PV e PCdoB. Saiu politicamente mais respeitado, ampliou sua bancada de veradores/as, elegeu seu primeiro prefeito no primeiro turno e foi ao segundo turno em duas capitais. Isto foi viabilizado tanto pela ação do próprio partido como por uma conjuntura mais favorável que a de 2008. Ainda que tenha havido diversidade nas campanhas, elas em geral foram feitas pela esquerda, diferenciando o PSOL tanto dos partidos da direita tradicional quanto dos partidos do bloco de sustentação do governo federal. A visibilidade do PSOL cresceu muito, e ele se tornou um partido atrativo para uma parcela importante da população, especialmente uma grande parte da juventude. Ao mesmo tempo em que isto abre boas possibilidades para a construção do P SOL como partido socialista e para o desenvolvimento de um projeto de socialismo, impõe também novas responsabilidades. As ações do PSOL passam a estar muito mais sob o escrutínio da população.


Tudo isto aumenta muito a gravidade de opções tomadas por setores do partido, em parte desde o primeiro turno das eleições, e muito mais no segundo turno; este se constituiu num verdadeiro desastre. De fato, foram feitas claras agressões contra o caráter de esquerda, socialista e democrático do partido.


As opções mais negativas foram feitas pelo setor dirigente no PSOL do Amapá, especialmente pelo senador Randolfe Rodrigues e pelo prefeito eleito de Macapá, Clécio Luís. O senador Randolfe e a direção do PSOL-AP já haviam sido advertidos pelo Diretório Nacional do PSOL em dezembro de 2010, por terem feito uma aliança informal com o PTB no primeiro turno, apesar da proibição expressa da Executiva Nacional, e pelo apoio ao candidato a governador do PTB no segundo turno. Em 2012, no primeiro turno, houve apoios do senador Randolfe Rodrigues e do PSOL-AP a candidatos de partidos com os quais o DN-PSOL havia expressamente proibido alianças. No segundo turno de Macapá, o quadro piorou: o PSOL celebrou, em ato político público, uma aliança com o DEM, o PTB e o PSDB; representantes do partido deixaram claro que a aliança se fazia também para governar, e para depois. À gravidade dos fatos em si mesmos se somou a duplicidade do discurso do senador Randolfe Rodrigues e do prefeito eleito Clécio Luís. Em declarações para o público de Macapá e para a grande imprensa eles têm reafirmado a ideia de que a aliança com os três partidos da direita mais tradicional foi realmente celebrada, e acrescentado que o PSOL deve aprender a compreendê-la e aceitá-la. Já em declarações para o público interno do partido eles têm procurado minimizar o fato, dizendo que houve apenas aceitação de apoios, e que, no máximo, “em momento de empolgação pelos apoios recebidos de parte dos que naturalmente se alinhariam com nosso adversário houve menção às eleições de 2014 que permitiu interpretação errada em nossa militância de que haveria acordos futuros”. Obviamente trata-se de uma explicação inverossímil. De conjunto, tem-se caracterizado um comportamento desleal em relação ao PSOL. Ora, a linha de alianças amplas e duradouras com partidos e figuras emblemáticas da direita mais tradicional, seguida pelos dirigentes do PSOL-AP desde 2010, é incompatível com um partido socialista minimamente coerente.


Diferentes, mas também graves, foram as opções tomadas pela candidatura do PSOL a prefeito em Belém (neste caso, sem acordo da direção municipal do partido, que não foi consultada). Se não descaracterizaram inteiramente o PSOL como um partido socialista, elas o descaracterizam enquanto oposição de esquerda aos governos Lula e Dilma. Confundiram as fronteiras entre o esforço do PSOL de construir uma esquerda socialista consequente e a linha social-liberal do PT, que não apenas subordina este partido aos interesses da grande burguesia brasileira e internacional como, de fato, o torna seu representante. É importante termos claro que o problema não foi o PSOL ter recebido apoio do PT no segundo turno; isto seria normal, nas circunstâncias. O problema foi, em primeiro lugar, este apoio ter-se dado por meio de declarações de Lula, Dilma e diversos ministros de seu governo no programa do PSOL; em segundo lugar, estas declarações terem feito a defesa dos governos do PT; e, em terceiro lugar, a adoção pela candidatura do PSOL da linha de que Edmílson seria um bom prefeito por contar com a parceria do governo federal. O que se sugeriu não foi uma relação republicana entre os vários níveis de governo, mas uma relação de acordo político especial. Com tudo isto, além de as fronteiras político-programáticas entre o nosso partido e o PT terem sido apagadas, o PSOL assumiu a responsabilidade pela defesa dos governos do PT feita por Lula, Dilma e seus ministros. Ora, sabemos que os argumentos usados por eles são falsos. Dar-lhes credibilidade implica mentir ao povo, coisa que um partido socialista, que aposta na auto-organização popular e, logo, no avanço da consciência dos setores explorados e oprimidos da população, não pode fazer nunca. Tão grave quanto isso, é que esse caminho, como mínimo, sugere, que estaria em questão no PSOL sua vocação de ser uma oposição de esquerda programática ao modelo global de política econômica, social e ambiental dos governos do PT 2003. Estaria em questão a razão de ser do PSOL para recolocar ao país o projeto de uma esquerda socialista coerente.


3) Os problemas da linha seguida pelo PSOL no segundo turno, tanto em Macapá quanto em Belém, tornaram-se piores por se vincularem a um grande deterioração da democracia interna no PSOL. Não houve democracia no PSOL de Belém na direção da campanha; e, nacionalmente, o presidente do partido agiu como presidente apenas de seu grupo político, recusando-se a permitir que o Diretório Nacional do PSOL ou sua Executiva Nacional se expressassem sobre o desastre em curso e pudessem evita-lo.


4) Além dos casos já citados do estado Amapá, houve em outros estados, no primeiro turno, coligações proibidas pelo Diretório Nacional. Tal como feito em 2008, o normal é que os vereadores eleitos nestes casos sejam desligados do partido. A análise da atuação destes candidatos eleitos, bem como a análise das ações de todos (as) os(as) responsáveis por estas coligações proibidas, devem ser remetidas à Comissão de Ética Nacional do PSOL.


* Votaram nesta proposta de nota 7 membros efetivos da Executiva: Camila, Zilmar, Sílvia, Robaina, Pedro Fuentes, Mario Agra, Leandro Recife. O companheiro Tostão, que também é membro efetivo e não esteve presente por motivos de saúde, também assina a nota. A nota votada por maioria teve 8 votos.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Navegar é preciso: pequena avaliação das eleições 2012

A caminha da esquerda partidária nunca foi baseada no purismo simplista que arrotam "sábios" e "ponderados' membros da blogagem "progressista" ou da imprensa corporativa (cujo comportamento e modus operandi se confundem e refletem). 

A dura caminhada plena de contradições internas e externas, relações perigosas dentro ou fora do arco de alianças "puro-sangue", sempre foi marca de uma esquerda onde no passado logo após sair da cadeia abraçou o ex-algoz Getúlio em nome da resistência diante de uma direita entreguista representada pela UDN e que crescia para controlar o governo.

Também no decorrer dos anos 1990 a pressão para a ampliação do arco de alianças sobre o "radical" PT foi a marca daquela caminhada que corria em paralelo ao amainar também das lutas cotidianas e das necessidades e combates dos movimentos sociais, já imersos na correia de transmissão do projeto de eleição do primeiro operário presidente da república, que ocorreu afinal em 2002.

As contradições e a quase que universal pressão para "a ampliação das alianças" não são, portanto, novidades para a esquerda e, nem tampouco o PSOL se livraria do discurso que perseguiu o PT durante os anos 1990 e vencendo neste partido levou aos píncaros da ampliação e flexibilidade programática que foi o abraço ao Maluf em São Paulo, com resultado positivo eleitoralmente (Politicamente são outros quinhentos).

No próprio PSOL esse discurso permeou o partido no primeiro e segundo turno, com ênfase no nebuloso projeto de Macapá que incluiu até um apoio no segundo turno, com cheiro de aliança, do fatídico DEM, abraçado pelo senador Randolfe Rodrigues e seu pupilo Clécio com o ardor dos que vêem ali a saída para todos os males. 

Este ardor aliancista cuja lógica aparentemente "racional" não distingue "flexibilidade" e ampliação de alianças com acordos complexos com setores representantes da ala da sociedade cuja construção do PSOL se buscava combatente, fomentou discussões que retornam ao período onde essa mesma carga de debate era aplicada para a diferenciação óbvia entre aliança com amplo arco da sociedade de acordos com partidos que representam o controle político conservador sobre o estado. Ou seja, a discussão que havia de 1990 a 2002 no PT, não morreu lá, e continua no PSOL, numa busca de amainar uma "radicalidade" que muitas vezes é tachada de sectária quando pro vezes tem o cálculo político da diferenciação em prol da ampliação da capilaridade social para além da institucionalidade.

Confundindo capilaridade política com capilaridade eleitoral o "aliancismo" se joga numa busca de "musculatura" eleitoral que se utiliza do maior número de malabarismos possíveis pra justificar arcos de alianças pra lá de ecléticos e que pouco se assemelham a uma construção horizontal de alianças com a sociedade, tendo muito mais a cara, inclusive em seus atos de formalização, das velhas e velhacas alianças entre senhores e coronéis, no acordo de cavalheiros que sustentam não uma mudança estrutural, ou mesmo um ensaio disso, nos locais onde ocorrem, mas sim apenas mudanças pontuais de controle do aparato do estado, e isso quando vão além da mudança dos chefes de governo locais.

Sob a alegação da necessidade de crescimento partidário rumo a constituir-se uma alternativa ao poder atual repetem-se os erros que conduzirem o projeto atualmente hegemônico ao poder, e com singular similaridade.

O interessante é que estes movimentos ocorrem quando em centros maiores e com uma realidade política extremamente mais complexa, projetos com um saldo organizativo político-partidário local foram muito além das fronteiras  da cidade e se tornaram referências nacionais pela capacidade de ir além das fronteiras do partido e da concepção de alianças com legendas com pouca ou nenhuma proximidade ideológica como único eixo de atuação política. Esses projetos ocorreram em disputas eleitorais de profunda dureza como no Rio, Salvador e Fortaleza e com um saldo organizativo palpável, com ampliação de ocupação de espaço político à esquerda, sem sectarismo e  com diálogo amplo na sociedade e profunda aliança com movimentos sociais e coma  sociedade civil organizada sem nenhum tipo de discurso hermético ideológico e com um arco profundo de politização dentro dos marcos da discussão de projetos de cidade.

Esses projetos possibilitam um avanço para além do carisma individual desta ou daquela liderança e a construção de coletivos militantes que possibilitem um crescimento sólido e que penetre transversalmente na disputa política sem precisar de acordos estapafúrdios com caciquetes locais em nome de uma duvidosa vitória eleitoral com profunda desconfiança não só do partido, mas como da sociedade brasileira.

No mesmo plano de discussão a questão de Belém representa um ponto de reflexão sobre os limites de um determinado tipo de pragmatismo em busca da eleição por si mesma. Embora com menos ardor "pragmático'' que deu a Macapá o título de líder no quesito alianças sui generis, a ampliação de alianças em Belém também obedeceu uma certa flexibilidade  que foi tolerável no primeiro turno e que degringolou no segundo quando a sanha pela vitória tornou o apoio do PT em aliança programática com inclusive anuência de Lula em programa de TV.

De uma campanha com a presença de parte da base de apoio ao governo federal, mas ainda dentro dos marcos de um discurso do PSOL mais macio, a campanha de Edmilson Rodrigues no segundo turno tornou-se praticamente uma anti-campanha do PSOL ao tornar-se uma campanha ratificadora de um governo ao qual o partido mantém fervorosa oposição e concordância com programas deste governo cujo partido e movimentos sociais ao qual o partido é próximo compõe profunda oposição, combate mesmo, como o "Minha Casa,Minha vida" ou a  política de educação que gerou as prolongadas greves no ensino federal.

A participação de Mercadante na campanha de Edmilson representou um imenso problema pra metade mais um do partido que compuseram a liderança nas greves. A de Dilma ofereceu a quem combate a política ambiental do governo, Belo Monte, política indigenista, a dura face de verem-se desrepresentados pelo outrora candidato que em Belém era seu representante. Marta por sua vez lembrou a quem luta pela ampliação dos direitos LGBT a complicada ação da Senadora na negociação que levou ao arquivamento do PLC 122 no senado. Pra completar Lula em sue discurso auto-congratulatório pelas realizações de sue governo  representou como se uma vitória simbólica do projeto que ele representa sobre a dissidência que fundou o PSOL. 

O resultado disso tudo, obviamente somados a outros tantos fatores, não foi exatamente oque o partido em Belém esperava levando à derrota eleitoral e possivelmente política ao causar tantas fraturas na base de apoio partidário e nos movimentos sociais.

Neste mar de contradições, vitórias e derrotas que se ergue um PSOL que hoje possui um quadro muito mais complexo e positivo que outrora, desde sua fundação, dado que permite uma construção ampla, com participação coletiva e leitura ideológica sem ser fechada, hermética, e impossível aos não iniciados, e também inclui em debate o alcance de determinadas vitórias cuja metodologia pouco difere das dos quem abrimos fogo no combate político diário. 
Além disso o excesso de independência de determinadas instâncias com relação à direção nacional, como o de figuras públicas em sua relação com a conjuntura nacional e  local é um bom tema de debate, dado que tanto o Senador Randolfe sustentou as alianças sui generis em Macapá como atropelou a instância estadual do Acre ao poiar o mesmo candidato do PT que a instância local negou apoio.


A omissão de parte do diretório nacional na discussão destas questões também é uma pauta que deve ser debatida para que o PSOL não viva sequestrado como partido pelas suas lideranças ou correntes que controlem cargos dirigentes evitando que como em 2010 tenhamos ruptura pública ao ponto de sites serem furtados.

É neste mar que o PSOL hoje navega, o caminho que tomará dependerá tanto da mobilização dos navegadores quanto da conjuntura externa, das marés. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Da cidade Febril à cidade partida

Para quem milita contra a criminalização da pobreza e os projetos higienistas presentes ainda hoje no discurso da "modernidade" que grassa nas bocas, mentes e corações de políticos "jovens" do PT, PMDB e mais classicamente Tucanos do velho e bom PSDB de Guerra, o livro "Cidade Febril" de Sidney Chalhoub, publicado pela Companhia das Letras, é uma importantíssima ferramenta de acumulo de informações sobre a invenção da tradição do discurso higienista como embasador da perseguição, criminalização e justificação de atentados aos direitos humanos das pessoas pobres.

Ao nos apresentar o fato notório que desde o Império há um discurso que culpa a pobreza (Nada coincidentemente ligada à pele preta) tanto pela sua condição quanto pelos perigos das grandes cidade, assim como por doenças e problemas de saneamento, Chalhoub nos dá precioso meio de identificarmos como se cria um discurso "modernizante" que através dos tempos ecoa velhos preconceitos e nada "modernos" ou "novos", métodos de construção de uma modernização conservadora, de uma modernização de fundo tecnocrático, tecnicista, que despolitiza o cotidiano e a vida da sociedade, em nome de verdades absolutas "cientificistas" que consideram tudo o que estiver fora de sua "verdade" um absoluto inexistente.

Embasados pelo discurso que culpava a moradia das pessoas pobres como culpadas pelo contágio da Febre Amarela, vilã escolhida sob o manto da omissão com que tratavam a mortandade dos pobres e pretos por tuberculose, os motores da construção da nova cidade burguesa, construída sobre os escombros da cidade "colonial", iniciavam sua fome de derrubada de um "velho" muito similar ao pobre e no erguer de um "novo" muito similar à interesses de um já nascente mercado imobiliário.

No discurso dos médicos higienistas estava a base cientifica que muito interessava a construção civil da época e a indústria de transportes, assim como o embasar de um discurso de controle social que usaria um trabalho feito por um alto funcionário da polícia de Paris, M.A.Fregiér, pra justificar a construção de uma ideia de "classes perigosas" perigosamente vinculada, pra não dizer ostensivamente e conscientemente, à noção de "classes pobres", que no Brasil ganham o adendo de "população negra".

Também havia muito interesse dos mesmos especuladores para sustentar uma ação que continha a limpeza social, a sanitária e a "estética" da cidade, em nome de um conceito de civilização que tinha como ideia da cidade perfeita uma cidade sem negros, sem pobres e sem o contágio que para os philosophos  da época (Usando um termo do próprio autor) eram quase inerentes a pobres e pretos e suas moradias.

A própria opção pelo combate à febre amarela, doença que vitimava muito mais imigrantes e brancos do que negros, em detrimento de uma política de combate à tuberculose, que vitimava mais negros que os demais, dadas as condições de alimentação e abrigo das pessoas pobres, em sua maioria negros, tem em si a opção quase óbvia e sinceramente assumida de tentar facilitar à natureza o branqueamento da população.

Há inclusive uma declaração abertamente neste sentido emitida surpreendentemente por Rui Barbosa, autor de monta e vinculado a uma ideia de liberdade e república (que parece para ele não significar a mesma coisa com negros) e que é um poço de afirmação de que para a sociedade brasileira da época, e ouso dizer que ainda hoje, o branqueamento era não só preciso, como necessário e a qualquer custo.

Rui Barbosa dizia sobre a febre amarela:

                          É um mal que só a raça negra logra imunidade, raro desmentida apenas no curso das mais violentas epidemias e em cujo obituário, nos centros onde avultava a imigração européia, a contribuição das colônias estrangeiras subia a 92 por cento sobre o total de mortos. Conservadora do elemento africano, exterminadora do elemento europeu, a praga amarela, negreira e xenófoba, atacava a existência da nação em sua medula, na seiva regeneratriz do bom sangue ariano, com que a corrente imigratória nos vem depurar as veias da mestiçagem primitiva, e nos dava, aos olhos do mundo civilizado, os ares de um matadouro da raça branca. (CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril. Companhia das Letras. Rio de Janeiro,2011. página 95).

Esses dizeres, se não repetidos com esta clareza que a um homem de seu tempo como Rui Barbosa era permitida, são a fundação de um discurso de culpabilidade de parte da população no que diz respeito aos "dramas da civilização", leia-se civilização branca, repetidos até hoje. 

Se antes o uso da febre amarela como um problema aos planos de branqueamento da população era farto e com isso se sustentava uma política que unia o bota abaixo, o derrubar das casas de pobres, o policiamento indicando que pobres e negros eram a classe perigosa, como forma de ação civilizatória, este mesmo discurso retorna com o mesmo tipo de cerco quando as remoções sob alegação de "salvar vidas em área de risco", a pacificação das áreas onde vivem os mais pobres (e pretos), levando com elas a similaridade de uma especulação imobiliária que ocupava as áreas demolidas dos cortiços (preocupantemente ocupadores de valorizadíssimas áreas para os planos dos empreendedores), a internação compulsória das vítimas da epidemia do crack.

E em tudo isso há um leve cheiro de um tradição reinventada e cuja diretriz é uma percepção de uma noção de civilidade sem direitos humanos estendidos a quem não for branco.

É impressionante também como operações de guerra se assemelham. Em 1892 a vítima foi o Cortiço "Cabeça de Porco", e em 2011 foi o Pinheirinho, em 2012 está sendo a Providência, o Terreirão e outros tantos cantos onde os interesses do estado mal ocultam interesses poderosos privados. 

A tradição inventada para a corte no século XIX, não se resume à ela em pleno século XXI, como não se resumia no século XX, e ocupa cadeiras que vão desde os famigerados tucanos até os ex-esquerdistas e hoje neoPTistas do antigo Partido dos Trabalhadores.

À esta tradição é que deve ser feita nossa resistência para que a "modernidade" e o "aprendizado" que o sistema procura nos convencer ser um avanço em direção a um "progresso" demolidor de civilizações e direitos, não nos torne vítimas de um cientificismo tecnocrático que mal oculta seu racismo, seu horror ao povo que diz defender e suas ações de "melhoria da vida" que são tão parecidas com as ações dos elitistas racialistas do Império que parece que não se segue apenas uma tradição, mas na verdade uma compreensão do mundo que hoje se tornou crime ser repetida em voz alta.


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Vai ter segundo turno.

Eu queria falar da construção da tradição da guerra aos pobres, da criminalização da pobreza, das classes perigosas, aprendizado lido no livro "Cidade Febril" de Sidney Chalhoub.

Também queria questionar o combate ao fundamentalismo religioso em busca de uma razão neo-iluminista que no fim e ao cabo é a reprodução da lógica de que tudo e todos que possuem fé são imbecis.

Também pensei em escrever sobre a permanência de proto-intelectuais num nicho de lógica, se é que podemos chamar de lógica, que manifestam seu entendimento do real como superior ao de outrem, especialmente se estes outros não são doutos,letrados, e que definem o que não é científico, entendendo-se o científico  com uma fé enrustida na neutralidade da ciência que faria inveja nos intelectuais do século XIX, como subalterno, imbecil, idiota, como se o conhecimento tradicional (ou o conhecimento mágico) não fosse ele mesmo muitas vezes tão ou mais racional e empírico quanto o pensamento e conhecimento científico. 

Também pensei em retomar a lógica do vanguardismo, da defesa de uma antevisão que parte da sociedade tem que sua percepção do real lhe garantiria uma liderança automática por sobre os demais, ou em termos mais rudes, por sobre o gado, o populacho, a choldra.

Tudo isso foi pensado para ser escrito como tema de minhas atualizações do blog, que se buscam semanais, porém foram todos, um a um descartados, não por não serem temas importantes ou se não fosse possível escrevê-los, mas porque um misto de cansaço, sensação de dever cumprido e encanto se apoderou de mim ao fim desta belíssima campanha para tentar eleger Marcelo Freixo e Renato Cinco neste pleito de Sete de Outubro de 2012.

Durante todo o tempo de campanha lidei com novas pessoas, entendi novas paixões, novas razões, novos meios de entender o cotidiano, vivi, ri, chorei, tomei chuva; panfletei superando minha aversão ao panfletar; sai de casa para além das obrigações e da diversão superando um desejo e uma preguiça de quase nunca sair do teto; monitorei redes; enlouqueci de raiva a partir de ataques rebaixados de adversário, ex-companheiros e até ex-amigos; Sofri com raiva do fogo amigo que infelizmente se torna comum na esquerda; aprendi novas leituras; aprendi novas pessoas e realcancei a utopia, mesmo tímida, de mudar o mundo.

Foram quase três meses de muito trabalho diário nas redes, algum trabalho no cotidiano das ruas, de muito papo com colegas de faculdade, de muito texto, muito debate, muito sangue doado, muito suor e muito amor doado pra uma campanha. Só não doei dinheiro porque não tenho.

Foram quase três meses após mais de seis meses afastado do PSOL por divergências internas, por uma necessidade de reformulação interna minha de repensar o político pra mim, a política, a ideologia. Foram quase três meses onde a busca pela retomada da dimensão da utopia para a cidade e o país coincidiam no mesmo movimento para a retomada desta dimensão em mim.

Uma campanha onde deixei pendurada na porta uma vaidade minha, um desejo de ser vanguarda que sempre atrapalhou e que me impedia de aprender com tanta gente que hoje faz parte dessa tanta gente que trago em mim onde quer que eu vá.

Uma campanha onde reouvi canções minhas, eternas, nossas, de coração aberto, razão aberta, de estudo aberto, onde estudei a cidade para transformá-la e pra pesquisá-la, onde vi as cidades e a luta contra a construção do projeto de secessão nela no discurso do meu partido, da candidatura majoritária, do meu candidato a vereador, em meu projeto de pesquisa e mergulhei nisso, nessas convergências, convencido que nada deve parecer natural e nada deve parecer impossível de mudar.

Esse texto é o que eu consegui fazer para agradecer a todos, ao candidato e companheiro Marcelo Freixo, ao candidato e companheiro Renato Cinco, aos candidatos e companheiros Eliomar Coelho, Mc Leonardo, Babá, Futuro e tantos outros que tão ai e estarão tentando construir o PSOL e enfrentar a barra de combater milícias, empreiteiras, tratores, oportunistas, nesse cotidiano de tanta pancada que a gente leva como trabalhadores, com os trabalhadores, com os movimentos sociais. 

Esse texto é também um agradecimento ao Leo Uchoa, à Luisa Côrtes, Pedro Souto, Raoni Tenório, Paulo Cople, Cássio Venturi, Jorge Borges, Bid Teixeira, Luciene Lacerda, Luiz guilherme Santos, Silvio Pedrosa, Gustavo Ribas e tantas outras pessoas que fui de alguma forma conhecendo e achando bom e lidando com elas da tarefa de tentar fazer das redes e das ruas um espaço nosso, de uma campanha nossa, alegre, militante, amorosa, entregue à luta. Agradeço também a todos eles por me reapresentarem uma forma de fazer política, aguerrida, brigada, mas sorridente e feliz.

A gente agradece enquanto espera e descansa depois de um dia panfletando, guardando forças para abraçar o Maracanã amanhã dia 06/10 às 11:00 hs da manhã e pra depois refazer todo esse percurso no segundo turno.

Cês sabem,né? Vai ter segundo turno!