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domingo, 11 de dezembro de 2011

Para além da Grande Religião Vermelha


Às vezes me parecem os textos da esquerda, especialmente da marxista, de um formalismo analítico que quase segue uma fórmula imutável.

É tipo assim: Se A se deslocar para B, teremos C.. e de boa, nem sempre teremos C, o deslocamento muda diante das realidades, mas as análises por vezes se enrolam numa forma que as identifica como pertencentes ao mesmo corte "Teórico", ou seja, salvo raras exceções, todas propõem uma mesma solução ao fim da análise seja ela falando de tsunami ou falando  da praça Tahir, ou do 11 de Setembro ou da relação sexual dos macacos...

É claro também que as análises vindas da academia sob a perspectiva Marxista não cometem este erro, mas esse rigor acadêmico não se espalha, não vai além das fronteiras da academia, não se tornam parte de um modus operandi analítico que opere uma transformação no olhar da realidade e não no formalismo da análise. Grosseiramente falando: Falta formação pros Marxistas.

Conseguiu-se nas fileiras marxistas um modelo de discurso, mas não um modelo de análise. E pior, produziu-se um modelo de discurso estratificado, existem graus hierárquicos deste modelo, de maior ou menor complexidade, mas em todos eles existe uma linha de raciocínio que acaba igualando-os. Todos eles são quase repetidores de uma fórmula de análise do real que mal compreende a idéia de contexto.

No topo da piramide hierárquica estão os acadêmicos ou assemelhados da burocracia dos partidos que produzem sim análises com riqueza teórica, com profundidade analítica e estes sendo os exemplos de que há uma fuga do monolitismo dogmático no marxismo.

Só que esta fuga é aparente, é até falsa, porque o marxismo militante  não tem acesso a este grau de reflexão e de ensino teórico, ensino mesmo, como se faz nas universidades. Ai você tem no dia a dia o mesmo e velho, modorrento e inútil marxismo de galinheiro cotidiano, que no fundo é a repetição de mantras proto-ideológicos inspirados em Lênin, segundo a interpretação semi-religiosa de algum marxista mecânico qualquer espalhado no vasto mundo da burocracia militante.

A riqueza da teoria em Marx, que propõe muito mais do que os manuais práticos, e por vezes patéticos, do "militante bolchevique" se perde ai,neste ralo e  pirâmide que separam não só o joio do trigo, mas o rei da teoria do mais besta peão da Grande Religião Vermelha.

É por isso que quando aparece o Zizek ele vira tábua de salvação, mesmo que ele no fim da vasta conta não tenha sido muito, digamos, novidadeiro em nada. Zizek saindo do lugar comum do mecanicismo vira gênio. Calinicos, Gonzales, Chris Harman idem.

 E ainda fingem não ver Marcuse, Thompson,etc, que tornam esses ai, na humilde opinião do blogueiro, os Diguinhos do Meio campo do Marxismo, põe eles no banco fácil.

Não citei Trotski, Rosa, porque estes são hoje mais mitologicamente repetidos do que lidos ou alvo de reflexão, salvo pelos sumos sacerdotes do Mosteiro bolchevique.

Não entrei também no universo teórico que vai além da Grande Religião Vermelha porque isso aí é uma discussão mais ampla, muito mais ampla e faz parte da própria revisão do que é a ação da teoria Marxista no mundo pós-moderno ( foi o que me veio,desculpem a má palavra, ok?).



A Esquerda perde terreno a olhos vistos, a esquerda marxista idem. Existem diversas possibilidades de explicação do fenômeno, todas elas a meu ver se cruzam quando analisam a burocratização dos movimentos e a perda do humanismo central à qualquer ideologia de esquerda. Desta forma é fulcral que avancemos na demolição dos muros que nos prendem a um formalismo teórico que gangrena o tal adjetivo "científico" que acompanhava a palavra socialismo.

É mais que hora da Esquerda se rever teoricamente, sob pena de tornar-se cada vez mais uma Grande Religião Vermelha e cada vez menos uma ferramenta de transformação do mundo.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Política, Politica 2.0 e o fetichismo da ferramenta

Volta e meia no maravilhoso mundo do dia a dia político surgem novidades, novidadeiros, "novos" e "velhos" no Fla x Flu interminável e imponderável da imaginação humana, do slogan e do blabláblá festivo nosso de cada dia.

Com o advento da tecnologia ao alcance de todos a Politica ganhou sua versão High Tech com o "política 2.0" nova panaceia que ao utilizar ruas movidas a Facebook transformavam a  experiencia prática de marchas que percorre o seio das lutas da humanidade a partir do século XIX em uma obsoleta Política 1.0, que é a política sem twitter.

Nunca antes na história desse país se inflamou tantas discussões com mais um Fla x Flu interminável sugerindo hierarquizações "novas" entre métodos "novos" e métodos "velhos". Como o excelente texto do Passa Palavra já adianta procês um breve apanhado histórico das lutas da humanidade e das lutas desta contra os processos estagnadores e burocratizadores desta mesma luta, passo adiante pra analisar um pouco o fetichismo da ferramenta, questão que roda o cérebro pós-moderno dos defensores desmemoriados de uma nova política mais velha que andar pra frente.

Um velho e grande amigo costuma dizer que precisamos na esquerda ler mais Gilberto Freire e menos Marx, não desmerecendo nosso amado barbudão, mas ao contrário, incluindo a análise de cunho mais antropológico e com o intuito de conhecer o povo brasileiro, e porque não, travar uma nova abordagem do dia a dia político, substituindo dogmas que analisam o político via macro por uma bem encaminhada rede de relações entre macro e micro que ao fim daria a esta esquerda uma percepção do global com noção de escala, e mais ainda, com uma percepção acurada da realidade a ponto de nos permitir táticas e estratégias novas para o derrubar do capital. Da mesma forma sugiro a leitura de Thompson, Foucault, Evans-Pritchard e dos Brasileiros Karina Kuschnir e Moacir Palmeira, por exemplo, como forma de melhorarmos nossa dura caminhada para a emancipação da classe trabalhadora, ou das classes trabalhadoras (Ou outros ous que ficam por aí  por fora da limitação teórica). Essa defesa a meu ver é um dos principais eixos que podem fomentar uma real novidade no cenário  das organizações políticas, partidárias ou não partidárias, uma mudança do eixo analítico, não porque eu suprima Marx, que o alimente com novas ferramentas teóricas e que nos permita um ampliar o de análise do real para, nas palavras do velho comunista, "mudar o mundo" e não só interpretá-lo, como bem diz nosso velho barbudo quando zoa teoricamente Feuerback.

Há, obviamente, outros tantos caminhos, como o multifacetado mundo digital a  nos permitir ampliar o alcance da horizontalização e entender como funciona o ritmo da transmissão das mensagens e sua captação, aí entra talvez um método analítico da comunicação 2.0, o que talvez explique o charme da "política 2.0" a seduzir nossos amados comunicólogos. Há também ainda, neste mesmo aspecto o curioso caso dos nossos amigos Filósofos que tem viários caminhos a seguir a partir dessa percepção da relação do homem com uma ferramenta que o coneta a outros homens, mas sem os fios carnais da existência, entre outras coisas  que não cabem no texto.

A única questão é o doispontozerismo como nova panaceia política que a tudo substitui, e isso baseado mais na ferramenta que na linguagem e ainda atribuindo a esta "novidade" o partido das ruas e suas ocupações. Aí o slogan vira um Novo, mas um novo de agencia de publicidade, cujo reflexo no real e do real é duvidoso, não por feio, sujo e malvado, mas porque falha ao propor alternativas realmente novas, inclusive de qualificação e análise do real no mundo à volta.

Definir o que é novo e velho é tão arriscado e complexo quanto acertar na loteria esportiva. Porque sem o devido cuidado ignoramos redes de relações de parentesco como influencia permanente na política do Brasil, e isso é tão novo quanto a roda, chamamos passeata de marcha e a tornamos como construído nos anos 2000, chamamos o Facebook de companheiro e não lidamos com os bloqueios constantes deste à mensagens de ativistas e páginas idem e, por fim, fingimos que toda a história do movimento operário e da luta de classes mudou a partir de novas ferramentas de comunicação e repetindo a Comuna de Paris tomamos a cidade, mas não ocupamos o Banco.

Estamos em um momento em que a primavera dos povos parece se repetir, e o novo disso é que a fúria de transformação volta, e isso não é novo, mas é muito bom. A verdadeira Política 2.0 está na percepção do que quer este povo,o das ruas e o mais importante, o que não está nas praças, mas a apoia, um povo que não tem perfil no Facebook e mal usa o Twitter, mas vai na padaria e vota no candidato indicado pelo primo, alguém de confiança. O novo está aí, em permanente disputa com um velho que é mais velho que os métodos carcomido de burocracias partidárias, e mais perigoso,o verdadeiro inimigo: A rede de relações capitalistas e o que ela herdou do antigo regime. As burocracias partidárias e sua luta contra a espontaneidade das massas é razão pra uma ferrenha e nada nova disputa entre Rosa Luxemburgo e Lênin e por aí vai e passa por Frankfurt, não preciso me prender nisso. A tal Classe trabalhador,a um elemento estanque da teoria Marxista surpreendente teve a história de sua formação na Inglaterra contada nos anos 1960 e um dogma era posto abaixo, pois que classe é essa universal que é formada? Esses movimentos teóricos colocaram a novidade das ruas nas cabeças, papéis e cartas e tornaram o novo algo que vem e faz a demolição, mas não foi o livro o que causou a transformação, foi a ideia. A ideia e não o papel. Todos sabia que a ideia de Thompson, de Lênin e Rosa, as questões de Marcuse, Gramsci, as criticas à burocracia de Toni Cliff, tudo isso foi e é transformador, como outros são e podem ser, as redes são transformadoras e um ressurgimento de métodos políticos talvez semi sepultados por décadas de burocracia partidária e metodologias cerceantes de uma esquerda que sim é velha e que tem como companheira a lutar contra seu efeito mumificador uma esquerda tão velha quanto, mas que aplaude ao ser chamada de libertária a usa o Facebook em diálogo com os "2.0" espalhados por aí. A questão é que as redes são transformadora,s não o Facebook, não o Facebook, não o Twitter, parte que são da  estrutura capitalistas e de propriedade de uma burguesia que não tem a mínima vergonha de atacar, censurar e meter bronca contra todo aquele que por acaso tentar mudar realmente o status quo.

O novo é o vento do povo na rua, não o povo na rua, a rua é dele, é historicamente dele e é esforço de toda a esquerda, com 18 ou 50 anos, levá-lo até lá. Se ele é convocado pro Facebook ou telefone é outra história, e deve-se ter cuidado de não entender o telefone ou o computador como deuses de um novo mundo, quando eles são apenas ferramentas. Transformar o diferente em velho e hierarquizá-lo como inferior é tão novo quanto retirar Trotski da foto. E neste ponto a Política 2.0 se parece com a burocracia, se aferra a dogmas, reduz o arco de alianças, desqualifica discordantes e a partir de razões mais parecidas com publicidade que teoria, abrem mão de propor soluções, propondo apenas "novidades".