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terça-feira, 16 de novembro de 2010

A bola da modernidade

Em torno de 1908 o alvissareiro prefeito Pereira Passos, o homem do "Bota Abaixo" ( ídolo de Dudu  "Pereira" Paes, o homem do Choque Desordem), afirmava seu entusiasmo com o Futebol como arma de "educação" do populacho, que passaria a se organizar como os times e seus Sportsmen se organizavam. O esrporte como arma sanitária, de vida saudável, nascia como paradigma da diferença entre a sociedade saudável, vulgarmente chamada de elite ou "os ricos", e a sociedade doente, vulgarmente chamada de povo ou "os pobres". A elite praticava esportes, trazia o vento do moderno Futebol, filho dileto da revolução industrial, ao um Rio colonial que tentava ser uma Paris dos trópicos. 

A empolgação de Pereira Passos era eco da empolgação de uma elite que se entendia como superior por branca, por rica e por uma naturalidade óbvia em seu pensamento: Somos o mais puro extrato da evolução, diferente do populacho negro e mulato que emporcalha a cidade!

A leitura de "Footballmania" de Leonardo Affonso Pereira e "Trabalho, lar e Botequim" de Sidney Challub são boas formas de entender um processo que juntava o trator como instrumento de remodelação da cidade e arma ideológica da divisão da cidade em duas, prévia da "Cidade Partida" de Zuenir Ventura e das UPPs da Dupla Cabral-Paes. A percepção da popularização do Futebol como forma de purificação social era clara, só esbarrou na estranha mania de romper com planos que o povão tem. O moderno Futebol dos Sportsmen que iria varrer a indolência ibérica e incluir na alma do povo a civilização Inglesa e Francesa foi antropofagicamente transformada nos "sururus" esportivos das praças, terrenos baldios e  praias, ofendendo o nariz empinado de uma elite que se pretendia burguesa e controladora de uma cidade que teimava em se virar pra sair do cordão de isolamento que separava a cidade Aquilombada da Cidade Aburguesada. E um dos meios utilizados pela população foi o irônico e moderno Futebol.

Mais de cem anos depois a ironia se torna uma espécie de 18 Brumário do Rio de Janeiro, com a farsa ganhando forma de realização de antigos sonhos, com a ordem sendo distribuida a pontapés seletivos na bunda de uma população cada vez mais lançada nas distancias higienizadoras dos subúrbios, a cidade sendo pontuada de fronteiras económicas via aluguéis e preços e até o moderno e popular Futebol tornando-se artigo de luxo para uma elite que tem nojo de trem, de hora do rush e acha que transporte público é ofensa pessoal.Nas vésperas de eventos esportivos que serão o "bota-abaixo" pós-moderno de Pereira Paes, com Vilas Taboinhas e Gamboas sendo tomadas por uma burguesia saudosa da antiga cidade aburguesada, da proximidade de uma corte inexistente, a cidade e o país vivem a retomada pela elite de seu sonho de consumo, o Futebol dos Sportmen, dos negros e pobres sendo atores somente no palco, mas fora das arquibancadas, com o fim das gerais, dos ladrilheiros, do Beijoqueiro e de outros personagens populares que invadiam maracanãs sem a pompa e a circunstância dos playboys de Playstation.

Enquanto o mundo explode com buchas negras e mulatas na guerra por uma cidade una contra a cidade aburguesada, desigual e elitista, com quilombos sendo erigidos com a fragilidade de nossa divisão, o Futebol retorna como arma de exclusão e de uma educação que nos torna base hierárquica de uma sociedade centenária e cruel.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quando a torcida é mais que organizada...

A iniciativa de Marcos Alvito junto com outros militantes de criar a Associação Nacional de Torcedores é um belo dia de sol no nublado mundo onde a "política séria" se faz fora dos estádios ou quando fala se futebol se veste de Eurico Miranda ou Ricardo Teixeira. Com manifestações ocorridas em dois clássicos cariocas(Clássico Vovô e Fla x Vasco) a Associação ganha o apoio de diversos militantes do Futebol e da esquerda Brasileira ou adeptos progressistas da organização do Futebol com povo e com menos frescurinhas elitistas. 

Em um mundo onde Torcida Organizada é um grupo que oscila entre festivo e violento, com um grande campo aberto pra aproximação de ideologias nem sempre amigas da democracia, o surgimento de uma Organização de Torcedores, no sentido de organicidade, que vai além da luta por melhoria na venda de ingresssos e por derrubada de técnicos abre espaço para a inclusão do Futebol como um campo de luta pra a esquerda, principalmente a socialista. Afinal socialista curte bola, pô!

Os movimentos de cidadania clubística não incluíam entre suas discussões o papel do Futebol como parte da vida social do País, parte de sua história e cultura, e não disputavam a política para além dos clubes e contra políticas que incluem um futebol espetáculo, entretenimento e menos humano, que exclui os pobres e as gerais dos estádios e da vida dos clubes.

A associação permite que discutamos politicamente tanto a política de futebol no Brasil e no mundo, o chamado "Futebol Moderno" quanto os eventos esportivos e seu impacto na vida da cidade, sejam as Olimpíadas ou a Copa do Mundo, coisas que abraçam a modernidade ,"mãe do Futebol", em seu aspecto excludente, ecoando os apoios à moderna urbanização do Rio de Janeiro no início do século XX, que criou cordões de exclusão da pobreza das áreas ricas.

A mesma modernidade do Pereira Pssos, hoje emulada no "moderno" Pereira Paes, é a modernidade do Futebol Entretenimento que cria "Arenas", anfiteatros de elite, que exclui o Torcedor da Geral e precisa de promoções pra ter povo no estádio.

A boa notícia da Associação é que com ela podemos ter armas que unem amor, ideologia e ação, ao invés de conversas sobre um mercado que torna o torcedor um consumidor de Pay per views.