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domingo, 22 de janeiro de 2012

É chegada a hora da reeducação de alguém #Pinheirinho

O que acontece no Pinheirinho em São José dos Campos é a ultrapassagem final do limes do fascismo que São Paulo ensaia fazer já há algum tempo nestes vinte anos de PSDB no poder local.  Além disso, a omissão do Governo Federal concorre para este imenso ato de violência, desrespeito à federação e desumanidade em um ataque direto aos direitos humanos em prol da locomotiva do capital especulativo e da prevaricação tucana. Ao agir com excesso de zelo, o Governo Federal foi cúmplice indireto neste imenso crime tucano.  Se falasse grosso como fala com os movimentos sociais em Belo Monte talvez o massacre tivesse sido evitado.

Mesmo assim é impossível ignorar o tamanho do crime cometido em São José dos Campos. E isso reflete não só sobre o modus operandi Opus Deis proto-fascista do PSDB, mas também o imenso passo dado na direção do desafio ao poder judiciário, do desafio ao poder central, à união e aos direitos civis e humanos da população pobre. Ao ignorar medida judicial do TRF, e se utilizar de um impasse de competências,  o Governo de São Paulo faz chacota dos trâmites democráticos e age como chefete local.

Nomear o Governo como Juca ou Geraldo é personalizar um modus operandi gestado sob as barbas do príncipe dos sociólogos e tomado como eixo político pelo todo do partido, seja em Goiás, seja no Paraná. O Castelo erguido em São Paulo faz deste estado o condutor do pior do país, desde o auge da homofobia, até o auge do ódio aos pobres, da ausência de políticas públicas que não sejam as de gerar lucros aos capitalistas mais vis e da violência opressora contra pobres, negros, estudantes e todo e qualquer ser humano (humano?) visto como marginal.

São Paulo foi longe demais, São Paulo ultrapassou os limites da decência, legalidade e democracia. E queima as caravelas.

Sob a batuta do PSDB o Estado de São Paulo ameaça a democracia em todo o país, é chegada a hora da reeducação de alguém, do pai, do filho, do espírito santo, amém.

PS: Lamentável o uso por quadros da campanha Marinista  do massacre em São José dos Campos como eixo de propaganda político-eleitoral do mais baixo nível. É preciso sim apurar responsabilidades dos governos petistas pela escalada fascista e pelo excesso de zelo e até omissão relativa no que tange á ocupação, mas é igualmente irresponsável ignorar as prioridades na crítica, e mais ainda, que o próprio governo federal buscava acordo pra evitar o caso. Não é preciso para fazer oposição usar de oportunismo para levar a cabo o combate, aprioridade era a defesa dos oprimidos e não o uso de seus infortúnios como combustível para ganhos eleitorais.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

De que me vale ser filho da Santa?

Tem dia que de noite é assim mesmo. Ainda mais em tempos onde a política sem rancor te ameaça de processo em debate político; em que a Fundação Nacional do Índio, herdeira do Serviço de Proteção ao Índio, é cúmplice, mesmo que por omissão, de assassinatos e de exploração ilegal de madeira em terras indígenas; em tempos onde um dos principais partidos de esquerda do país, ou ex-esquerda, faz acordo pra manter arquivos da ditadura que vitimou grande parte de seus quadros dirigentes ocultos nas sombras do tempo e do "pragmatismo" político mais servil; em tempos onde os "cordiais" Brasileiros acham  normal barrar Haitianos porque "vão roubar nossos empregos" e acham que gay e mulher tem de ser castrado e postos em jaulas, oprimidos, esmagados.

Nestes dias turbulentos e tenebrosos a mulher é um alvo fácil da manutenção do conservadorismo e da  opressão sem maiores culpas pelas alas conservadoras, e crescentes, da sociedade. A escalada do conservadorismo atinge primeiro onde a tradição mantém um longo arcabouço de sofismas pra justificar a supremacia do macho adulto branco, sejam eles baseados em versículos bíblicos, teorias "cientificas" ou aspectos legais de interpretação dúbia. 
Primeiro os gays, depois as mulheres e os negros, paulatinamente a política segue a trajetória avant garde do atraso traduzido em Redes cegonhas, incentivos fiscais para o aumento do capital e expansão de igrejas que pregam homofobia e criminalização do aborto e por ai vai. O fim das cotas no país do "Não somos Racistas" não é algo tão improvável, embora custe mais votos do que recuar na questão LGBTT e de gênero.

Neste momento me causa espécie ainda ver no discurso de quem se quer alternativa e resistência o louvor a uma "grande política" ou a um discurso de purificação da luta política como se a questão fosse moral e não de cunho nitidamente de disputa feroz por espaço. 

Como que uma questão política de resistência se prende na  moralidade dos atos de políticos quando o que está em jogo é a democracia e o próprio humanismo atacados cotidianamente por jornais, partidos, governos? Como tratar a questão politica como centralizada na moralidade quando, em suas ações e omissões, os governos atuam na defesa desde cadastro de grávidas que acaba por servir como arma de punição por aborto, até a violenta ação contra dependentes químicos na cracolândia em São Paulo, sem nenhuma estrutura de tratamento ou orientação e às margens de toda a ciência envolvida no estudo do tratamento a dependentes, e que assinam a nível federal medidas que permitem a internação compulsória destes? Como tratar o cerne da ação da alternativa humanista (nem é mais uma questão de Esquerda) como centrada na moralidade pública quando gays e mulheres são hostilizados por amarem, seja pelo epíteto de "putas", seja pelo estupro, agressão ou morte?

A cada dia mais vozes se ouvem louvando com justiça implacável a libertação feminina e o direito e orgulho gays, negros, indígena, mas as vozes que se erguem contra essas conquistas não falam baixo e nem são  poucas e também usam o discurso da moralidade pra desqualificar não só os políticos, mas também a própria democracia. Então focando toda a resistência política no  foco moral acaba-se pro fazer coro indireto ao paulatino desejo de destruição da democracia em prol da destruição em seguida do humanismo e  de suas conquistas que foram sangrentamente levadas a cabo juntamente com o suor dos movimentos de trabalhadores anarquistas e socialistas e não foram dados por algum pai dos povos benevolente.

A cada dia é mais presente a sola do coturno em nossos rostos e principalmente no rosto das mulheres, gays, negros e pobres que morrem e sofrem violências cotidianas, basta de alguma forma saírem do que a opressão designa como seu papel, às vezes nem isso.

A cada dia a PM é mais e mais violenta e não só onde a "direita" tucana reside em seus ninhos de poder. A cada dia uma nova atrocidade é cometida e as vozes que divulgam a luta de direitos são mais atacadas, especialmente, repito, as que lutam pelos direitos LGBTT e das mulheres.

Para parte crescente da sociedade mulheres e gays devem ser como Ângela RoRo critica em sua música "Mônica": "Morreu violentada por que quis!  Saía, falava, dançava. Podia estar quieta e ser feliz Calada, acuada, castrada".

Há uma nova classe média? sim, há, ela consome e vive melhor do que no passado, mas ela absorve e concorda em geral com os mesmos valores conservadores da velha classe média. 

E porque isso? porque abrimos mão de buscar a ampliação dos valores humanistas junto à população, optando por absorver seus votos, alcançar seus votos, dialogar sim, mas como plano de conquista de votos e não como um meio de diálogo aberto político que ousasse enfrentar o arcabouço conservador que é parte intrínseca do pensamento do todo da sociedade, preferimos ignorar isso por medo de perder os malditos votos. Chamamos a população de alienada por ignorar valores que por vezes nunca forma conversados ou mesmo identificados entre nossos "votantes". Optamos por deduzir que o caminho mais fácil era evitar o confronto "ideológico" e conquistar os governos, "Depois a gente vê o resto". Acabou que não vimos o resto e aumentamos um exército que também não tá muito afim de ver. 

A estrada para a busca de um novo mundo ficou mais longa, mais áspera, mais dura, e continuamos perdidos, perdemos o link da mudança, não sabemos que povo mora no país, não o conhecemos, não conhecemos suas experiencias que podem ser a liga p ara que os valores humanistas sejam fertilizados na terra fértil. Preferimos desprezá-los como antas conduzidas a convencê-los de nossos valores os tratamos como o que são: Seres conscientes.

Mas o que esperar de quem mal vê seu próprio machismo, racismo, elitismo e homofobia?

Diante disso precisamos resistir e avançar, precisamos resistir com força ao avanço do conservadorismo e avançar numa busca de diálogo supra partidário e sério com a população que agora atinge o acesso à internet e a bens de consumo, mas não tem ciência de seus direitos e entende por normal o que é o  mais puro preconceito e opressão, como a supremacia do macho que pode bater na mulher e que ser homossexual é ser "sem vergonha".

Diante disso é preciso abandonar o moralismo que mistura o prefeito que desvia verba com o favelado que aceita telha ou cimento em troca de seu voto. É hora de parar de moralismo e ser realmente pragmático e para além do voto, mas pelo diálogo que constrói avanços políticos reais e isso só se dá com povo na rua.
De que me vale ser filho da santa? Nestas horas é preciso ser filho da outra.



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Nada mais civilizado do que o genocídio

Pra escrever este texto primeiro pensei em discutir o Civilizado usando aspas, mas abri mão. Embora o civilizado tenha trazido junto consigo a espada de Cortéz e o poema de Cervantes, o uso de Civilizado com aspas para demonstrar a presença física, patente e incontestável da espada reduziria civilização apenas a seu melhor, faria análise cair por terra.

A discussão sobre o que é civilizado ou não é antiga, ouso dizer, sem o rigor acadêmico necessário, que desde que los Hermanos Gregos Platão e Aristóteles, ou mesmo antes, discutiram o que era ou deixava de ser humano. No século XIX o "Fla x Flu" entre Kultur e Civilización para definir o que era Cultura (Grosso modo uma discussão entre o arcabouço global de mitos, lendas, modos de fazer somado à língua,Kultur, e o aspecto mais focado nos usos e costumes aparentes e patentes era, civilización), também era  uma disputa pela demarcação do que era Civilização, ou do que era Humano.

Em todo este processo a civilização era o limes, era a fronteira entre o humano e o bárbaro, este que não sendo EU meu diferente, meu antípoda e, porque não, meu adverso, meu contrário.

Claro que do mesmo modo a definição do humano, do civilizado criou a definição de humanidade, de variedade, de cultura como um bem universal,  de direito como algo a ser ampliado e estendido universalmente. Dai nasceu desde a luta pela declaração universal dos direitos do homem até a moderna antropologia e a percepção do homem como mais do que o Europeu Branco, o civilizado.

O Civilizado criou desde o trem do progresso que segue em frente continente a continente levando sua marca ao todo como a resistência ao trem. E é neste contexto que novamente a civilização encosta na barbárie, que o limite entre ambos, tido como claro pelas trombetas ufanistas do "progresso", que proclamam em várias línguas a necessidade de "seguir  em frente", fica tão tênue como difuso. A Civilização é a mesma que defende os oprimidos e os queima, como fizeram com a criança indígena no Maranhão . Ao queimar o "bárbaro" , aquele pequeno ser isolado, os civilizados rompem com o que seria a clara diferença entre "nós" e "eles". 

A espada de Cortéz volta a nos lembrar que assim como o poema de Cervantes é parte do processo de avanço de uma cultura sobre as outras na voracidade da conquista, na demonstração que sem vigília o genocídio é parte intrínseca da civilização dos direitos do homem.  A barbárie então deixa de ser o contrário de civilização, sendo apenas seu braço armado.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Admirável ano novo

Depois de mais uma temporada de músicas natalinas, covers de John Lennon e Simone cantando "Então é natal!", finalmente chega 2012 que aos trancos, barrancos e muita chuva se inaugura com a mesma velha esperança quase tão clichê quanto a própria passagem do tempo e seu aviso da inexorável mortalidade.

Confesso que me incomodam os desejos de paz, prosperidade, saúde e outras demonstração de "humanidade bondosa" explícita, nem tanto pelo "teor" dos desejos, mas pelo que ocultam.

A "ditadura da felicidade" e do "bom mocismo" mal escondem o competitivo mundo do qual se originam, mal escondem a "obrigatoridade" da sanção social à felicidade, saúde, paz e outros penduricalhos  que os "bons moços" TEM de trazer em seu pescoço sarado.

Somos obrigados a desejar o melhor, a ter boa postura, a sermos aceitos, a rirmos, a andarmos por ai cheios de uma paz falsificada, de plástico, plenos de desejo do "melhor ao outros", mas um "melhor" que não se furta a rosnar quando o coletivo é posto acima do individual.

Do lado do "Boas Festas" encontramos e-mails que chamam nosso povo de "apático", e louva protestos londrinos e gregos, que por serem longe não "atrapalham o trânsito" e não são feitos por "vagabundos" como os do MST, MAB, Sem teto,etc.

Na Europa ou EUA os ocupadores de praças e prédios vazios são "heróis", os daqui são "monstros", criminosos. Essa atitude é prima-irmã do "Não tenho nada contras homossexuais, mas tenho nojo, tenho até amigos gays", se substituir "gay" por "preto" serve também.

"Então é natal e ano novo também", o que não significa que o tal "espírito natalino" demore muito a ser substituído por espíritos de porco.

A paz dos desejos então se transforma num desejo continuo de uma "paz de condomínio", uma "paz de playstation", que é apenas o que a música do com Rappa diz: Não é paz, é medo!

A "paz de condomínio" e a "prosperidade" podem ser traduzidas como "Não morra assaltado" e "ganhe dinheiro pra caramba", o que, convenhamos, é apenas um desejo apavorado de que a existência vire um dia algo parecido com um mundo onírico e polianesco, irreal,  o contrário do qual todos tem um profundo medo.

A vida de "plástico" é mãe dos corpos de plástico, do cotidiano de plástico, da realidade competitiva de uma juventude eterna, de uma beleza falsa, de uma "sensibilidade" artística que não faz questão de esconder que quer se parecer com uma erudição de revista Caras, cujo corte crítico é facilmente resumível em "Se é branco, é bom" ou "Se a elite aceita, então é arte".

 Então é 2012, mais um ano, mais um ciclo, mais um dia, que como todos é admirável por ser em si concreto, real, palpável, mutável. Mais um ano e mais uma temporada de uma legítima festividade, especialmente pros que não são de plástico, a comemorar um novo inicio do cotidiano. Muitos apenas pedem para que nada mude ou que algo mágico aconteça, outros pedem apenas pra não mais sofrerem. 

Prefiro pedir que o riso continue vivo e presente, sem desprezar a dor  sua importância. Vamos acordar pra uma nova semana de vida, trabalho, realidade,amor e  horror. 

Então é 2012, mais um admirável ano novo que contém pessoas assim.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O mundo tá ficando difícil de ser encarado sóbrio


O mar não tá pra peixe, o mato não tá pra cobra.

Diante da necessidade do "desenvolvimento" ontem se aprovou um Código Florestal que é pior que o votado na câmara. Perdemos essa, Esquerda, my friend!

No dia a dia do mundo Belo Monte é discutida até na padaria agora e "precisamos de energia" é o mote, e a qualquer preso, porque é "besteira essa obsessão indígena pelo espaço sagrado". A Obsessão branca e cristã pela buceta, feto e fígado sagrado é plausível, a "obsessão indígena" é coisa de bugre.

Diante disso o combate pela democratização das comunicações, pela lei de médios ainda é uma pauta,né? Não, não é. Porque além do silencio do Governo a respeito, o que é repetido pela Imprensa governista, simbolizada no movimento dos Blogueiros Progressistas, é só uma propaganda de seminários e discussões extra-oficiais a respeito, onde aparecem aqui e ali membros do Governo pra dissolver em sua baba de lagarto as velhas platitudes nunca concretizadas a respeito dessa necessidade.

Imprensa governista? Existe? sim, claro, é uma imprensa alternativa centrada nos "progressistas' e cuja única função é repelir os ataques da "PIG" que vem a ser o "Partido da Imprensa Golpista" criado pelo mesmo Paulo Henrique Amorim que apoia Belo Monte e chama de mentiroso o movimento Xingu Vivo e a CIMI quando estas se opõem a Belo Monte.

Aliás o silencio dos Blogueiros progressistas em torno de qualquer medida de recuo conservador do Governo do qual dependem é sintomático. Procurem Belo Monte, Código Florestal, Kit-Antihomofobia, PLC 122, alguma coisa dessas nos principais membros do movimento e você vai encontrar um nada absoluto.  Nem pra bater nas inverdades, putarias, canalhagens de Veja a respeito. Aliás, a Veja anda fazendo capas com as quais os "Progressistas" concordam.

Ah, esse admirável mundo novo! "Vamos mudar o país! Rumo ao progresso!" diziam há dez anos., e hoje defendem barragens cujo projeto começa na ditadura e condenadas pela maioria do mundo científico, militâncias indigenista, antropólogos, ambientalistas, ecossocialistas, o escambau! 

Outro dia muitos defenderam a ocupação da USP pela polícia porque o povo estava radical demais. ou porque usavam drogas. Índios viraram nômades e não haverá remoções e nem prejuízos a eles com a  construção da barragem. Pra manter a base parlamentar fecham acordo com Ronaldo Caiado e Kátia, Abreu  além do Blairo Maggi, e votam um Código Florestal que devia se chamar Desflorestal.

Como disse um amigo, o Governo entendeu que nada menos popular na maior parte do Brasil que defender índio e árvore. Etendeu também que defender homossexual é impopular, aborto e mais direitos pras mulheres idem.

 "Quem quer um bando de viadinhos ensinando nossos filhos a serem gays? " ou "Aborto legalizado pra que? pra essas putas darem as bucetas e poderem tirar a qualquer hora?", é assim que pensa o mundo. E o Governo entendeu, seus defensores idem. 

É preciso manter o governo, são muitos os companheiros que precisam dele.

Enquanto isso na oposição de esquerda se busca ampliar a presença neste mesmo estado e talvez começar disputar o governo para seguir este mesmo caminho e se cogita aliança com o PV, se filia egressos do PDT e PPS.

Em Vila Valqueire um morador foi assassinado pela milicia porque não pagou o Gatonet. Um deputado teve de sair do país por ameaças da mesma milicia, uma juíza foi assassinada.

O mundo tá ficando difícil de ser encarado sóbrio, mas podia ser pior, porque no Recife foi aprovada uma lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas em espaço público de 18:00 às 06:00 hs. Lá você só pode encarar o mundo sem ser sóbrio se não sair de casa.

sábado, 3 de setembro de 2011

A vida não está a venda

A vida não está a venda, mas parece que governos, empresários, jornais e TVs discordam. 

A ideia de educação posta na mesa é a de treinamento para o trabalho; Jornais e revistas publicam "estudos" e "orientações" de "especialistas" que dizem que quem muda de emprego é mais infeliz, que temos de dizer por patrão quando namoramos pessoas do trabalho, que temos de confiar na empresa nossos assuntos pessoais, que a empresa tem todo o direito de fuçar nossa vida pessoal, inclusive nas redes sociais; Telefônicas e Operadoras de TV e banda larga tratam nossa comunicação como se fosse uma dádiva pela qual pagamos pra ter, permitindo toda sorte de abusos que impedem nossa livre utilização da tecnologia e do serviço, público e sob concessão diga-se de passagem,  a contento, como agravante de atendimento e prestação de serviços piorarem se o cliente é de baixa renda; Os Governos e agencias "reguladoras" ignoram toda a sorte de mau atendimento e prestação de serviço e aumentam a presença das teles e outras concessionárias  como a Light, no mercado, priorizando a presença de empresas privadas e péssimas fornecedoras em planos como o PNBL ou o Luz pra todos. 

Esses são apenas alguns elementos elencados pelas recentes experiencias pessoais com os assuntos de cada chiadeira. A vida em vários níveis é posta sob o tacão de uma tecnocratização do viver e sob o critério do mercado, cujo serviço é prestado de acordo com o pagamento e de acordo com os interesses da prestadora.

Como eu vendo a força de trabalho a empresa tem o direito de usufruir minha vida como lhe convém, dando pitacos, "orientando" o viver. Com eu pago pouco meus serviços de luz, telefonia e internet, quando existem, podem ser piores e com atendimento pior. Comi eu não moro nos grandes centros ou nos centros dos grandes centros posso ter os planos de governo terceirizados para que a execução seja feita de forma mais barata e de qualquer jeito, já que conto menos no bolo de faturamento e não tenho muita noção de como é um serviço bom, seja de energia elétrica ou banda larga. Como eu sou só voto não preciso, e nem posso, reclamar do que acontece no dia a dia do governo com relação à regulação de serviços que atingem meu dia a dia, pois o mais importante é o "progresso" do país.

Daí Belo Monte tem de acontecer porque o país precisa, e o país pode mandar miseráveis e índios para a casa do famosíssimo caralho, eles são restos e perdas aceitáveis para o desenvolvimento. Assim o Plano Nacional de Banda Larga pode ser entregue às mesmas Teles que tratam o cidadão como um estorvo, o atendem de forma ridícula, lhe dão serviço falho, porque é pra pobre que nunca teve acesso e nem vai perceber que é tratado como lixo. Da mesma forma a Copa 2014 tem de acontecer porque é melhor para a imagem do pais no exterior, foda-se se pobres tem de sair da frente, serem jogados que nem lixo na casa do famosíssimo caralho, sem transporte, água, luz, internet, nada. E por um parcial fim eu tenho de aceitar que meu patrão seja uma mistura de pai com grande irmão, porque cê sabe,né? Emprego tá difícil.

 A educação que deveria ser a formadora de pessoas, cidadãos para uma sociedade justa, plena e com consciência do que é é um produto secundarizado, um treinamento de trabalhadores, uma formatação de não-gentes suscetíveis à crença imediata na palavra de especialistas e pastores, patrões, deputados e prefeitos e dóceis e obedientes cordeiros na fila indiana do dia a dia. Os professores são proletários das letras, que ao invés de serem uma massa crítica de formação são treinados de modo geral a serem uma massa de repetição da negação do esforço intelectual do aprendizado para a criação de robôs programados, jesuiticamente orientados à decoreba irrefletida.  Massacrados os professores, proletários da educação, são todos os dias mau pagos, mau vistos, tidos como párias, tidos como mercadorias indesejáveis, porém necessárias, nesse mundo supermercador de ilusões.

A escola é uma necessidade chata voltada apenas pra tornar o individuo apto a ser mandado e por isso ele odeia aquele que todo o dia vai a ele encher o saco. E por isso ama os heróis do fogo, os heróis da pátria em suas manifestações, enquanto o professor é um sujeito que quando não reclama é péssimo e quando reclama atrapalha o transito.

A vida é vendida por várias esferas da sociedade, governos, empresários, jornais e revistas. Nossa vida é vendida e viramos boiada caminhando a esmo.  A escola que deveria nos formar virou curso de especialização em ser boi, os jornais e revistas são meios de propaganda da ideia de que somos bois, nossa luz e internet são geridos por empresas que nos tangem como gado quando nos presta seu mau atendimento, os governos nos tratam ou como idiotas ou como sacos de pancada quando reclamamos. A obrigação dos governos virou dádiva, a obrigação das empresas virou produto, a obrigação dos jornais virou exceção.

A resistência a isso ainda existe, está por ai, mesmo que partidos de esquerda ainda permaneçam achando que são a luz a um povo que precisa ser "conscientizado", mal sabendo perceber que a inconsciência está nas cúpulas burocratizadas que não vêem nem seu povo filiado quanto mais o grande povo que está aí só precisando ser ouvido. A resistência à venda das vidas está nas ruas, na nossa cultura, na nossa polifonia. 

Para ouvir a resistência é preciso cuidado e calma.Cuidado pra não cair nos cantos das sereias que com belos discursos, e por vezes atuações, escondem autoritarismos e hierarquias que nos aprisionam e Calma para não assustar com o desconexo barulho que vem a nossos ouvidos. Não, não é caos, é a voz da vida, da polifônica vida coletiva, onde a síntese é autoritária e cujo objetivo maior é ser múltipla.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A Classe Operária vai à Padaria

No texto anterior tento discutir a questão da chamada política 2.0 e menciono uma galera que não tá no mundão 2.0, mas tá no dia a dia e é alvo de politicas,. Assunto de políticas e personagem principal de discussões, algumas que querem trocar de povo, inclusive são,de forma indireta, atacados quando genericamente as pessoas se referem pejorativamente a evangélicos, católicos, burros, pobres,entre outros substantivos e adjetivos nem sempre de bom tom.

Mas o que é esse povo, o que é essa classe operária, porque é tão difícil entender o que ela quer e porque é tão difícil que nossa discussão fofa e lindona sobre ativismo digital e praça Tahrir, política 2.0 e assuntos críticos como a questão de gênero e LGBTT seja uma discussão que vá além da pequena e isolada aldeia da virtualidade? Talvez porque fazemos da virtualidade um bantustão de ideologia avant garde.

A classe operária quando invade a virtualidade quase nunca se parece com nossas amizades descoladas que se junta a nós na defesa do fim do machismo e da homofobia. E isso não ocorre porque ela é burra e desentendida, mas porque ela não é convencida, não nos recebe em sua casa pra tomar café e nem é ouvida em diálogos francos sobre os assuntos. Uma moça outro dia foi tida como heroína da raça por, de forma bem simples, colocar questões hiper fodas em uma passeata homofóbica de fundamentalistas cristãos. Virou ídolo fácil e automático da galera hype da Internet. Mas no dia seguinte ela, como todos os iguais a ela, foi incluída nos diversos xingamentos aos "evangélicos", essa espécie parecida com povo, despersonalizada e amorfa. Dona Jovelina é evangélica, como muitos outros e outras.

A virtualidade, conhecida nos lugares mais legais do planeta como política 2.0, também acha que o povo vota no Bolsonaro porque é ignorante e tudo fascista, e acha que é o fim da picada eleger Tiririca. Fico me perguntando como a gente faz então pra inverter a demanda de base de esquerda, e não de partidos de esquerda necessariamente, no congresso. Se o povo é esse ai e ele vota no Tiririca e no Bolsonaro e não no Rui Kureda, companheiro socialista bom pra diabo , não era com ele que a gente tinha de ir lá e dialogar? Adianta a gente fazer marcha pela paz, pela maconha, pelo direito de voar de costas ou pelo tetra do Flusão se essa marcha for feita apenas por milhares de modernos jovens que em sua maioria nem sequer lembram o nosso amado amigão porteiro ou padeiro? Nossa Praça Tahrir teria povo ou apenas uma classe média descolada, pós moderna e cheia de amor pra dar?

Essas perguntas não querem em momento algum desqualificar qualquer movimento ou pensamento e nem botar gasolina na falsa dicotomia de que ter o povo a nosso lado a qualquer custo é o mote, reduzindo obviamente povo a voto.O que eu quero é propor o debate sobre que politica fazemos cujo 2.0 reproduz o preconceito contra a população que vai à padaria, construindo um muro onde nós, os iluminados, levamos o conhecimento, o movimento, a verdade e a vida a um bando de gente estúpida que recebe bolsa família.

Discorremos sobre o voto "consciente" em deputados de esquerda e não somos capazes de aceitar e compreender que o voto no João da Pipoca, que faz benfeitorias no bairro do cabra, ou no Zeca do Tijolo, que doou tijolo pra o cara terminar a casa dele que estava quase sem teto, com goteira e estragando seus parcos bens, como votos conscientes, completamente entendidos. Cobramos uma ideia de "civilidade" e uma relação com a sociedade que contemple um dever para com uma sociedade que na maioria dos casos nunca cumpriu dever algum com as pessoas de classes para além túnel rebouças, por exemplo, os tais pobres.

Cobramos uma consciência da população, que já há, mas temos nós consciência do que ocorre, do que é a vida diária de um povo que em geral toma porrada, perde a casa e só pode confiar realmente na sua rede de relações criadas a partir do parentesco, dos laços de amizade, dos políticos locais, que ajudam essas amizades e laços? Dificilmente. Às vezes nossa classe "consciente" parece entender mais os Nuer ou o cálculo da mais valia do operário da Volks no Cazaquistão do que a classe operária que ele quer levar ao paraíso, mas só se for de acordo com suas regras.

A esquerda, essa mesmo que se propõe porta-voz da classe operária,  faz algum tipo de esforço para ir na classe operária, entendê-la, ouvi-la, sê-la, participar dos laços, ser contra-hegemônica no seu dia a dia, dialogar na padaria? E este esforço vai além do aceno simpático, do abraço, da conversa cujo teor está impregnado do desejo de iluminar mentes e menos de compreender o intrincado sistema de classificação baseado em honra, em compadrio? A classe operária gostava do Brizola por ele ser um "líder carismático" ou por ele honrar o desejo das massas e ser confiável à elas?  O Carisma do cara vinha de sua fala e magnetismo ou da percepção da galera que ele ia cumprir, e energicamente se preciso, os compromissos assumidos com ela "na palavra". Lula é carismático por ser carismático ou por ser um de nós, mais um nessa vida e um que tava lá em cima e olhou pra baixo, não cuspiu no prato que comeu. Esse tipo de relação não é simples, não é fácil, não é jogo e ninguém nela é estúpido. Sabemos tudo sobre a formação da classe operária inglesa, e da nossa? E como saber? Formatando-a em conceitos genéricos e internacionalistas que jamais fogem de modelos que quase obrigam a  comportamentos idênticos entre ingleses e Baianos?

Gritamos alto sobre a cassação de direitos dos homossexuais e recuos nos avanços disponíveis, mas disputamos a hegemonia do debate com o povo da padaria? Vamos lá e conversamos com os caras? dizemos pra eles que médicos do mundo inteiro pesquisaram e sabem que gay não é safadeza? Dizem os pra eles que o casamento é um troço que deve valer pra todo mundo, mas não o da igreja, o do cartório? Procuramos ver e ouvir que existem gays mais respeitados na favela, no bairro  e no sertão baiano do que na paulista? Sabemos e discutimos as diferenças entre a homofobia da Paulista e certos medos de que tradições sejam esculhambadas por "modernidades" trazidas por gente que é de outro mundo pra eles, e em geral é de um mundo que grila suas terras e passa o trator em suas comunidades? Quando vivemos em um mundo onde ateus reivindicam o direito de desqualificar quem não é ateu, acho que não.

Qualquer se humano atento a software sabe que pra se ter um 2.0 precisamos antes viabilizar o modelo 1.0 ou talvez caiamos no erro de abandonar o esqueleto anterior sem um futuro estar pronto. Enquanto isso nossos amigos fascistas tão lá compreendendo entendendo, conversando e tomando café.

É importante usarmos todas as ferramentas, digitais ou não, de atuação, mas temos de saber fazer política com a moçada 2.0 e com a classe operária, que não vai ao Facebook, mas vai na padaria.