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terça-feira, 17 de julho de 2012

O Tempo da Política

A política no brasil, é notório, é definida popularmente como detentora de um tempo próprio, de um período onde é dado a ela o papel fundamental na vida das pessoas e onde a discussão política ganha um espaço privilegiado. 

Este tempo é, óbvio, o tempo das eleições, onde inclusive há a lenda do aparecimento, do avistamento, dos políticos, que são entidades disciplinadas pela periodicidade de quatro anos e pela oferenda da representatividade de do prestígio local no "fazer", também conhecido como "construir".

Os políticos são também tidos como entidades limiares, ou seja, cuja ética e moral não obedece ao padrão coletivo ou "superior" e cuja manifestação tem uma cara e um cheiro específico que relembra o lado negro da força.

Ironias à parte, essa visão é tanto uma construção de uma tradição baseada na experiencia cotidiana, empírica, pela população como resultado da redução da política ao voto e à participação nas eleições como atores, cabos eleitorais, elementos de prestigio nas comunidades pelas relações com quem "traz benefícios" para a comunidade,etc. Essa redução é uma carona que parte do aparato midiático pega na tradição da política anti-democrática tradicional no Brasil (diria que no mundo) para reduzir a participação popular ao ato de votar e inibir ações concretas de transformação via ativismo.

A ação que transforma a política em ação restrita dos políticos e afastada do cotidiano da ação popular direta é também vista na noticia das greves como privilégios, das manifestações como atrapalhadores do trânsito, de reajustes salariais como "Bônus" e não como direitos e que comparam salários como se um trabalhador melhor remunerado fosse  um "marajá nomeado" e não um trabalhador que vende sua força de trabalho em troca de salário como o gari, o guarda, o balconista, todos com direito à greve.

O tempo da política da sabedoria popular é uma análise da sazonalidade da presença do estado via poder legislativo e executivo nas comunidade, mas também é usado como referência da política como algo afastado do cotidiano e com trânsito impossível pro popular, especialmente nas grandes cidades onde a circulação do poder nas ruas é restrita.

Esse afastamento da vinculação de greves, manifestações e ativismo do que é chamado de política e que leva às pessoas  entenderem a política em espaços "de relaxamento" como uma afronta, dado que para muitos existem espaços "alheios e independentes da política", e por isso aparecem nas redes sociais, festas e praças reclamações sobre a presença de manifestantes e militantes como invasores, dado que para a maioria da população o militante não é um defensor de um ideal, mas um cabo eleitoral pago para a propaganda política e ou diretamente interessado pro razões pecuniárias ou de influência na eleição de x ou y, como s1e a política fosse apenas a apropriação do aparato do estado para fins privados.

A visão sobre a apropriação do estado pelas forças políticas em disputa não é nada contrária à realidade cotidiana, inclusive fortalecida pela ação inclusive de forças de esquerda neste aspecto, só que restringe a política à reprodução da privatização do estado pelas forças hegemônicas da política cotidiana que vive em nossa história desde sempre, mantendo a tradição monárquica que sustentou a  formação do estado nacional brasileiro. 

Este estado, formado a partir da lógica de laços sanguíneos como fundadores da tradição política nacional, foi mantida inclusive pelo estado republicano que ampliou o caráter liberal do estado brasileiro redesenhando a correlação de forças interna a ele apenas quanto à redivisão do poder no seio da oligarquia e não ampliando democraticamente o controle do poder para o todo da população. 

Caia o imperador, mas não se alterava significativamente em que mãos se assentava o poder, tampouco se alterava a lógica de tutelação da população e de identidade deste como um mero observador do cenário político. Dá pra perceber que a ideia do povo como protagonista da história ainda permanece como anátema nas colocações deste como um mero bestializado cotidiano, especialmente e infelizmente nos círculos da elite que se pretende esclarecida, lógica de bestialização que ainda considera a população como distante do esclarecimento necessário para a ação política.

A construção desta lógica é feita tanto pelo trabalho cotidiano do aparato ideológico de manutenção da dominação de uma elite por sobre a população e que constrói a história ocultando as lutas cotidianas que levaram pela pressão grevista ou pelas revoltas contra remoções à conquistas de direitos pela população ( como a CLT, a construção de movimentos sociais de resistência às remoções, partidos e sindicatos) quanto pela opção tradicional de formação da memória brasileira que preferiu a personalização da história à crítica que incluísse democraticamente todos os atores da formação do Brasil no cenário da Grande História. 

O resultado desse processo é o Tempo da Politica, ser um tempo institucional, dado externamente ao cotidiano popular e onde se entende o espaço popular de obtenção junto aos políticos  do que não conseguirão ao fim deste tempo.

À Esquerda cabe não só a ação cotidiana e o redefinir da participação política neste período e também à ampliação do circulo de ação política para além da demarcação eleitoral, mas também a redefinição de seu papel "educacional", não como um tutelador de um povo bestializado que precisa de "consciência", mas como um reprodutor do que se entende por História, como um ampliador das discussões que revelam ao povo sua tradição de lutas e que lhe permitirá a construção de sua consciência pela consciência de seu próprio passado. Esta consciência sendo não a "doação de luz", mas um retirar dos véus que a história tradicional usa para ocultar o DNA do povo na formação de um país cujo DNA é mais seu do que da elite que se apresenta como "proprietária" do Brasil, quando no máximo parasita um país formado pela força popular, pela força da cultura popular.

O Tempo da Política é o tradicional período de eleições, mas cabe nele a ampliação que só pode ser feita pelo trabalho cotidiano de quem entende este tempo como o respirar cotidiano, também chamado Vida.




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Vou sacudir, eu vou zoar toda a cidade...

Carnaval e Futebol volta e meia sussurram por goelas canhotas, e canhestras, como "ópio do povo". Ficam ali no elitômetro intelectual marxotário tal e qual a namorada pobre do mauriçola, que saca das coisas sem diploma, beija bem, manda bem, é boa de papo, mas não fez Socila.

Deu mole e vem uma longa e estranha conversinha amarrotada em botecos de origem duvidosa a respeito da "alienação" do samba e do futebol, esta conspiração da CIA tão bem feita que começa antes do Império do Mal virar gente.  Aquele jogo maroto, camisa de time, cervejinha antes? Ópio do Povo. Bloco de carnaval, chuva, suor, cerveja, mulatas marotas? Ópio do Povo. 

Já teve pregação querendo trocar o Carnaval por Dostoiévski, e tome baile!

A lógica da redução da cultura a seus filtros estéticos de cunho elitista ganha um adendo marxeteiro nada moleque, mas muito mecânico, que faz que vai e não vai, mas acaba fondo. Primeiro porque a rapaziada pelo jeito anda lendo orelha demais de livro e menos o conteúdo, porque tirar frases de contexto em  geral é obsessão do Ministério do Vai dar Merda, criado pelo Mega Guru Chico Buarque. Segundo porque o conceito estético do Carnaval reduzido a uma mistura de nojinho da desordem com afetação bibliófila em geral é coisa de quem é ruim da cabeça e doente do pé.



Não gostar é direito constitucional! Não gostar de muvuca, calor, samba, mulher, homem, bloco, escola de samba, cerveja, bola, jogo, estádio, é estranho, mas é constitucional e válido. Fingir que não vê o que é, o tamanho disso sob o ponto de vista histórico-cultural e ,porque não, político, é um tanto quanto problema de vista.

Especialmente no país de nosotros, em que três das capitais de estados importantes param completamente para sacudir o esqueleto movimentando economia em tantos níveis que dá até vergonha de citar. Esse fator por si só era coisa de parar de afrescalhamento teórico e tentar entender. Fora isso é de se considerar que nunca teve revolução na nada carnavalesca Suécia, ou seja, o carnaval se não ajuda na revolução também não atrapalha. 

Futebol? Minha nossa! além de mexer com a cultura Brasileña ao ponto de expressões idiomáticas vinculadas ao mesmo, como "embolou o meio de campo", serem de uso correntes até pra não amantes do ludopédio, é parte integrante da vida política a tal ponto de existirem membros em todas as correntes ideológicas amantes do dito cujo, fora a possibilidade levantada pelas organizações de torcedores como parte dos movimentos de libertação da Primavera árabe.

Pra completar, ambas as manifestações são de tal forma entranhada na construção da identidade do país, em sua imensa diversidade, que fica-se pensando se não rola uma vontade inconsciente de importar parte do povo da Áustria e mandar essa plebe ignara alienada e sambante, com camisa de time, pra torrar na Palestina. A súbita ojeriza coletiva ao balacobaco é sempre acompanhada por uma sugestão de leitura, por uma indicação de vinho e por uma busca do Escargot perdido.
É nessa que eu vou na pergunta: A rapaziada quer mesmo mudar o mundo ou só paga de revolução porque as  mina pira?

Sem povo não se chupa nem um Chicabon.