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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A bestializada resistência de um povo

Fruto de um golpe militar, a República sempre teve em sua fundação a lógica de ter sido feita em cima de cavalos, com os punhos de renda de uma elite política.

A ideia de um governo sem povo transitava claramente na lógica positivista que reproduzia um simulacro de platonismo na ideia de uma ala iluminada da sociedade, uma ala intelectualizada e civilizada,  como "naturalmente" líder  da massa insalubre, negra, patética, bárbara.

A esta gente cabia ser liderada e acatar as decisões daqueles que embebidos dos ares e águas da Europa, tradutores de um positivismo higienista, seriam os naturais condutores da imensa nação mulata nos rumos de uma civilização branca e culturalmente europeia.

Faltou combinar com os russos, diria Mané.

Já nos primeiros três aninhos da recém promulgada república Canudos aparece como um fantasma pra lá de complicado ante olhos republicanos que achavam que se impõe um estado de cima pra baixo assim na mão grande.

Sertanejos liderados pro Antonio Conselheiro demonstravam que negros, mulatos, cafuzos, eram um pouco mais que frágeis vítimas da barbárie, sendo inteligentes resistentes às forças do coronelato do interior da Bahia e a um exército noviço que logo de início perde um de seus maiores ídolos à época.

Canudos demonstrou com quantos paus se faz uma resistência popular até o massacre final levado a cabo com extrema violência e crueldade por um exército apavorado.  Pavor este que durou até o alagamento da região pela criação do açude de Cocorobó (E acredito que ainda dure).

De 1893 até o massacre de 1897, Canudos escreveu uma sangrenta página na história do país e do Exército Brasileiro, onde a palavra resistência não pode mais se apagada. A inspiração de Canudos fez inclusive que o Exército Brasileiro centrasse prodigiosos esforços na ocupação da região do vilarejo para evitar que a Coluna Prestes ali passasse em sua grande marcha nordeste a dentro.

A resistência e o símbolo de Canudos fazia com que o Exército temesse que Prestes e sua coluna dele se alimentassem e conquistassem fôlego extra pra seu movimento revolucionário.

Os Bestializados de 1889 na verdade nem foram tão bestializados assim (como inclusive aponta José Murilo de Carvalho, autor do livro homônimo), pois resistiam aqui na luta contra os atropelos da recente república na implantação da política higienista com especulação imobiliária de remoções de pobres com demolição de cortiços, de movimentação sutil pelo branqueamento da população, de repressão feroz das "classes perigosas" (Já aquela época feitas de gente pobre e preta) e de pancada em cima do nascente movimento operário.

Já nos primeiros anos da república essa gente pobre e preta tida como perigosa saia de suas casas pra tornar difícil a vida dos governos de uma elite platônica doida pra tornar europeu um país pobre, preto, índio e com muito mais raça do que queria a elite branca lotada nos palácios.

Resistindo às vacinas, antes mesmo da revolta, à desocupação de cortiços, à criminalização da vadiagem, do samba, da capoeira, essa bestializada malta criava as raízes de uma cultura brasileira que tem mais de "Zumbi" que de "Pai João".

Foi essa gente que em 1904 resistiu à uma vacinação compulsória que trazia consigo um amplo arco de testes com métodos de vacinação que incluía a variolização e a morte como modus operandi. Foi essa gente que quebrou meia capital resistindo à uma política que tinha resistência inclusive entre as elites e à medicina da época e que também sabia que por trás do desejo de por um fim nas doenças havia um desejo de por um fim na ocupação de áreas valorizadas do centro da nova cidade aburguesada daquela gente cuja tez não condizia com a cor preferida da Belle Epoque.

Essa gente também resistiu bravamente aos desmandos  dos governos de Paraná e Santa Catarina e de 1912 a 1916  fez na guerra do contestado um movimento de resistência de uma massa de expulsos da terra para mais uma ferrovia do onipresente Percival Farquhar, movimento que se juntou ao monge José Maria e buscou uma saída coletiva para a miséria e o desalojo.

Claro que para a república e sua federação pobre quando se junta é motivo pra tomar bala. E assim foi, mas não sem resistência. E com isso nas mãos da jovem república repousa o sangue de seu próprio povo.

E durante toda a república os Bestializados resistiram a todo um conjunto de governos que se formaram em nome de uma política de cima pra baixo, alimentada de sangue preto e pobre, reprimido nos seus terreiros, sambas, festas, greves. De Deodoro a Dilma um sem número de assassinatos de operários, índios, mulheres, camponeses mancha as mãos de uma república que bestializa seu povo não na sua alienação, mas na sua transformação pela barbárie naquele que só consome, consumido pela falta de amplos direitos.

sábado, 3 de setembro de 2011

A Copa do Mundo não é nossa!



Quando foi anunciado que a Copa do Mundo de 2014 seria realizada no Brasil e as Olimpíadas de 2016 no Rio as notícias foram saudadas como panaceia para a modernização do país e a ideia do “Brasil Grande”.Tudo daria certo e o barco do desenvolvimento nos permitia comprar mais geladeiras e participar de festa antes só possível em países ricos. Jornais e TVs avisavam que “agora” ia e estávamos rumo a um novo lugar no mundo e depois da copa de 2010 na África do Sul e da “democratização” da escolha das sedes dos megaeventos, havia chegado a nossa vez.

Esqueceram de avisar que os convites da festa são restritos. Os Megaeventos anunciados com pompa e circunstâncias pela mídia e governos escondem sob a máscara da festa o trator da especulação imobiliária, remoção e exclusão de pobres e seu lançamento para longe do centro urbano e com infraestrutura precária de transporte, saneamento, etc.

Esta reforma urbana compulsória e nunca é ligada às necessidades do povo é já ocorreu na África do Sul quando, segundo a Rede de Educação Cidadã, removeram mais de 20 mil famílias para regiões empobrecidas da cidade.

 Na Grécia o maior legado da Olimpíada de 2004 foi o aumento do passivo ambiental do país e ampliação da dívida pública de forma avassaladora, com o nada desprezível indício de ter sido uma das razões da enorme crise por que passa o país nos dias de hoje. E o modelo Grego parece ser o utilizado tanto na África do Sul quanto no Brasil, especialmente no Rio, hoje em dia, quando o financiamento de estádios e obras obedece a um foco que exclui benefícios sociais diretos em nome de opções discutíveis como o investimento em estádios em detrimento de hospitais e de investimentos na educação. 

Não à toa o Rio de Janeiro que gasta 30 milhões para sediar o sorteio dos grupos das eliminatórias da Copa do Mundo tem professores e Bombeiros em conflito com o Governo Estadual, com ambos tendo salários baixíssimos. Os professores, em greve, ganham por vezes menos que o salário mínimo e os Bombeiros têm o mais baixo salário do País.

E os governos ainda consideram as remoções como naturais, pois “A vida é assim”. Só no Rio podem atingir a cerca de 20 mil pessoas conforme o comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro sem que os governos digam a verdade sobre a quem as remoções servem. Segundo a observadora da ONU para assuntos de moradia, Raquel Rolnick, a realização de mega eventos traz consigo o desrespeito aos direitos humanos e encarecimento do preço da terra e com isso o aumento da especulação imobiliária.

Isso não é exclusivo do Rio de Janeiro, no Ceará o Governador Cid Gomes segue política de remoção semelhante à carioca em São Paulo as remoções atingem a população de Itaquera, local onde está sendo construído o estádio conhecido com “Isentão” dada a quantidade de isenções fiscais fornecidas aos seus proprietários.

Esse processo de junção dos Megaeventos com reforma urbana exclusiva e especulação é uma das faces do capitalismo que poucos dizem. Por trás dos Megaeventos existe uma rede de especulação internacional, que lucra, e muito, com a remoção dos pobres e valorização da terra, mesmo que isso amplia a bolha imobiliária que pode ser o calcanhar de Aquiles de nossa economia, como que uma continuação aqui do que ocorreu nos EUA a partir de 2007. 

Só no último ano o preço dos imóveis subiu cem torno de 25% no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, não coincidentemente as cidades são sedes da futura Copa do Mundo. Hoje um imóvel nestas cidades pode custar mais que em Nova Iorque e Miami. De 2008 até hoje o valor dos imóveis subiu 96% no Rio e em São Paulo e não coincidentemente o ritmo das remoções nas favelas e a criação de UPPs aumentaram.

É por isso que a copa do mundo não é nossa e vai nos retirar de nossas casas, nos impedir de ir aos jogos e deixar a economia cada vez mais frágil com aumento do desemprego e com prejuízo de hospitais e escolas cada vez piores. A única solução para isso é lutarmos para impedir que a Copa seja uma cortina de fumaça para ataques ao nosso povo, por isso é preciso ir às ruas e mostrar a cara suja dos eventos que só enriquecem os velhos e gordos cartolas e políticos.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Encontro de Estruturação do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio - 2 de julho

Encontro de Estruturação do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio
Dia 2 de julho, sábado, das 9h30 às 16h30
Local: SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ)
Rua Evaristo da Veiga, 55 - 8º andar - Centro - Rio de Janeiro


Programação
9h30 - Apresentação dos vídeos sobre a missão da plataforma DESCA
10h - Apresentação dos Presentes
10h – Debate sobre Identidade e Princípios do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas (“Nossos objetivos e nossas lutas” – item III do documento do Vainer)
11h – Manifestação Pública – Construção da plataforma; articulação com outras Frentes e movimentos sociais; e estratégias de mobilização e visibilidade
12h – Almoço
14h – Organização e funcionamento do Comitê
- Definição dos GTs
- Plenárias e Coordenação
- Representação do Comitê em debates, seminários, etc.

15h - Mobilização e Organização
- Agenda de mobilização e ações estratégicas
- Posição e agenda do Comitê frente à Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa
- Proposta do Portal Nacional dos Comitês Populares

16h - Encerramento

Outras atividades do comitê no mês de julho ver emwww.comitepopulario.wordpress.com

sábado, 4 de junho de 2011

Agosto? Não, Maio!

Pra qualquer caboclo que não substitui sua inteligência pelo desejo pelo IPAD Primário ou ache que grama pode ter bom sabor se banhada com molho inglês, este mês de Maio chega a Junho detonando tudo até a última ponta.

Há uma longa lista de absurdetes rolando que poderiam muito bem povoar pesadelos da rapaziada se ela não tivesse já criado uma casca grossa, quase Cascadura ali do ladinho de Madureira. 

As garras de fora do mais profundo conservadorismo chumbrega vão desde a proibição absurda da marcha da maconha como apologia ao crime, com uma cínica ignorada na sutil ao direito à livre expressão e defesa na mudança das leis, à aprovação ao código florestal e veto ao kit anti-homofobia.

Nesse meio tempo, sem que a imprensa soubesse, morreram ao menos cinco ativistas no Norte do país, vítimas do eterno conflito por terras que nunca acabará enquanto todas as medidas para regulamentar o acesso à Terra sejam inócuas diante da manutenção do modelo da Lei de Terras de 1850. E vão morrer mais, porque tá aberta a temporada de caça. A rapaziada percebeu que tinha força no governo e  no congresso e viu que o desmate anistiado pode virar MATE anistiado pelas costas quentes provadas em rede nacional na votação do código floresta (Rimou!).

As remoções olímpicas do Paes continuam rolando soltas e nosso amado Cabral fecha o mês e inicia o Junho, que pelo jeito quer entrar na boca de parecer Agosto, com o BOPE invadindo o quartel de bombeiros que em greve por receberem o pior salário do país tomam um piau bonito com direito a tiro de fuzil.

Cabral, todos sabem ou deveriam saber, é queridinho do Governopetismo, e eu nunca vou deixar de lembrá-los disso, e tem entre seus secretários vários quadros do PT, que ao menos até o momento não se pronuncia ou cogita se pronunciar a respeito.

Cabral sempre foi truculento, sempre, nas invasões pra criação de UPPs sempre deixava um rastro incontido de violência e assaltos, na proximidades do Pan fez uma das ações mais festejadas no Alemão com o capitão trovão do BOPE deixando corpos e mais corpos, torturas e o cacete a seus pés louvados pela mídia e pelo silencio Lulista. Mas calma que tem mais, na última invasão "Patriótica" do Alemão,com exército do Governo Federal do Lula e o escambau,  as denuncias de roubo foram sumidas, não se sabe no que deram, as denuncias, várias, de truculência idem, mas tudo bem, a cidade olímpica precisava mesmo de uma faxina.

Ontem a invasão do quartel dos bombeiros foi mais uma das trapalhadas desse turminha que apronta muita confusão no seu dia a dia. Em nome da manutenção da hierarquia nego passou o rodo na bolacha e com tiro em uma manifestação por melhores salários de uma das mais vitais categorias. Cês sabiam que o poderoso Estado do Rio de Janeiro, o Estado da abertura da copa, da Olimpíada, que gasta 1 Bilhão na terceira hiper reforma do Maracanã, paga o pior salário do país aos Bombeiros? Quer até a humilde Alagoas, flagelada pelos deuses, paga mais?

Mas claro a hierarquia em primeiro lugar! A hierarquia tem o apoio da classe média, da TV, do PT, da Dilma, da mãe Dinah, do Bolsonaro,do Malafaia, do Crivela, do Sarney e é fundamental a hierarquia para legitimar a ordem. A Ordem de quem é salvo por gente mal paga é o que tem de ser mantido, e a classe média fica satisfeita vendo a cidade Maravilhosa sob proteção de gente fudida e mal paga, mas isso não importa porque o filho dela aprendeu a dirigir e tem uma gatinha linda e nossa viagem pra Europa tá combinada,né?

Só fico grilado quando a ordem, a  hierarquia justificam que gente que me salva a vida ganhe menos que um técnico de informática na iniciativa privada.Mas de novo isso não importa, porque a hierarquia pra quem não sou eu tem de ser mantida,né?

O silencio "progressista" diante de diárias manifestações de algo muito errado acontecendo no país e nas bases do que apoia é constrangedor, mas não surpreende.

Maio acaba fazendo concurso pra Agosto, Junho inicia sendo um Agosto com balas de borracha, mas tá tudo bem, vamos como bons "progressistas" avançando na direção de um abismo cada vez mais conservador, mas tudo com muita inclusão social via Bolsa Família.