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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Da cidade Febril à cidade partida

Para quem milita contra a criminalização da pobreza e os projetos higienistas presentes ainda hoje no discurso da "modernidade" que grassa nas bocas, mentes e corações de políticos "jovens" do PT, PMDB e mais classicamente Tucanos do velho e bom PSDB de Guerra, o livro "Cidade Febril" de Sidney Chalhoub, publicado pela Companhia das Letras, é uma importantíssima ferramenta de acumulo de informações sobre a invenção da tradição do discurso higienista como embasador da perseguição, criminalização e justificação de atentados aos direitos humanos das pessoas pobres.

Ao nos apresentar o fato notório que desde o Império há um discurso que culpa a pobreza (Nada coincidentemente ligada à pele preta) tanto pela sua condição quanto pelos perigos das grandes cidade, assim como por doenças e problemas de saneamento, Chalhoub nos dá precioso meio de identificarmos como se cria um discurso "modernizante" que através dos tempos ecoa velhos preconceitos e nada "modernos" ou "novos", métodos de construção de uma modernização conservadora, de uma modernização de fundo tecnocrático, tecnicista, que despolitiza o cotidiano e a vida da sociedade, em nome de verdades absolutas "cientificistas" que consideram tudo o que estiver fora de sua "verdade" um absoluto inexistente.

Embasados pelo discurso que culpava a moradia das pessoas pobres como culpadas pelo contágio da Febre Amarela, vilã escolhida sob o manto da omissão com que tratavam a mortandade dos pobres e pretos por tuberculose, os motores da construção da nova cidade burguesa, construída sobre os escombros da cidade "colonial", iniciavam sua fome de derrubada de um "velho" muito similar ao pobre e no erguer de um "novo" muito similar à interesses de um já nascente mercado imobiliário.

No discurso dos médicos higienistas estava a base cientifica que muito interessava a construção civil da época e a indústria de transportes, assim como o embasar de um discurso de controle social que usaria um trabalho feito por um alto funcionário da polícia de Paris, M.A.Fregiér, pra justificar a construção de uma ideia de "classes perigosas" perigosamente vinculada, pra não dizer ostensivamente e conscientemente, à noção de "classes pobres", que no Brasil ganham o adendo de "população negra".

Também havia muito interesse dos mesmos especuladores para sustentar uma ação que continha a limpeza social, a sanitária e a "estética" da cidade, em nome de um conceito de civilização que tinha como ideia da cidade perfeita uma cidade sem negros, sem pobres e sem o contágio que para os philosophos  da época (Usando um termo do próprio autor) eram quase inerentes a pobres e pretos e suas moradias.

A própria opção pelo combate à febre amarela, doença que vitimava muito mais imigrantes e brancos do que negros, em detrimento de uma política de combate à tuberculose, que vitimava mais negros que os demais, dadas as condições de alimentação e abrigo das pessoas pobres, em sua maioria negros, tem em si a opção quase óbvia e sinceramente assumida de tentar facilitar à natureza o branqueamento da população.

Há inclusive uma declaração abertamente neste sentido emitida surpreendentemente por Rui Barbosa, autor de monta e vinculado a uma ideia de liberdade e república (que parece para ele não significar a mesma coisa com negros) e que é um poço de afirmação de que para a sociedade brasileira da época, e ouso dizer que ainda hoje, o branqueamento era não só preciso, como necessário e a qualquer custo.

Rui Barbosa dizia sobre a febre amarela:

                          É um mal que só a raça negra logra imunidade, raro desmentida apenas no curso das mais violentas epidemias e em cujo obituário, nos centros onde avultava a imigração européia, a contribuição das colônias estrangeiras subia a 92 por cento sobre o total de mortos. Conservadora do elemento africano, exterminadora do elemento europeu, a praga amarela, negreira e xenófoba, atacava a existência da nação em sua medula, na seiva regeneratriz do bom sangue ariano, com que a corrente imigratória nos vem depurar as veias da mestiçagem primitiva, e nos dava, aos olhos do mundo civilizado, os ares de um matadouro da raça branca. (CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril. Companhia das Letras. Rio de Janeiro,2011. página 95).

Esses dizeres, se não repetidos com esta clareza que a um homem de seu tempo como Rui Barbosa era permitida, são a fundação de um discurso de culpabilidade de parte da população no que diz respeito aos "dramas da civilização", leia-se civilização branca, repetidos até hoje. 

Se antes o uso da febre amarela como um problema aos planos de branqueamento da população era farto e com isso se sustentava uma política que unia o bota abaixo, o derrubar das casas de pobres, o policiamento indicando que pobres e negros eram a classe perigosa, como forma de ação civilizatória, este mesmo discurso retorna com o mesmo tipo de cerco quando as remoções sob alegação de "salvar vidas em área de risco", a pacificação das áreas onde vivem os mais pobres (e pretos), levando com elas a similaridade de uma especulação imobiliária que ocupava as áreas demolidas dos cortiços (preocupantemente ocupadores de valorizadíssimas áreas para os planos dos empreendedores), a internação compulsória das vítimas da epidemia do crack.

E em tudo isso há um leve cheiro de um tradição reinventada e cuja diretriz é uma percepção de uma noção de civilidade sem direitos humanos estendidos a quem não for branco.

É impressionante também como operações de guerra se assemelham. Em 1892 a vítima foi o Cortiço "Cabeça de Porco", e em 2011 foi o Pinheirinho, em 2012 está sendo a Providência, o Terreirão e outros tantos cantos onde os interesses do estado mal ocultam interesses poderosos privados. 

A tradição inventada para a corte no século XIX, não se resume à ela em pleno século XXI, como não se resumia no século XX, e ocupa cadeiras que vão desde os famigerados tucanos até os ex-esquerdistas e hoje neoPTistas do antigo Partido dos Trabalhadores.

À esta tradição é que deve ser feita nossa resistência para que a "modernidade" e o "aprendizado" que o sistema procura nos convencer ser um avanço em direção a um "progresso" demolidor de civilizações e direitos, não nos torne vítimas de um cientificismo tecnocrático que mal oculta seu racismo, seu horror ao povo que diz defender e suas ações de "melhoria da vida" que são tão parecidas com as ações dos elitistas racialistas do Império que parece que não se segue apenas uma tradição, mas na verdade uma compreensão do mundo que hoje se tornou crime ser repetida em voz alta.


terça-feira, 17 de julho de 2012

O Tempo da Política

A política no brasil, é notório, é definida popularmente como detentora de um tempo próprio, de um período onde é dado a ela o papel fundamental na vida das pessoas e onde a discussão política ganha um espaço privilegiado. 

Este tempo é, óbvio, o tempo das eleições, onde inclusive há a lenda do aparecimento, do avistamento, dos políticos, que são entidades disciplinadas pela periodicidade de quatro anos e pela oferenda da representatividade de do prestígio local no "fazer", também conhecido como "construir".

Os políticos são também tidos como entidades limiares, ou seja, cuja ética e moral não obedece ao padrão coletivo ou "superior" e cuja manifestação tem uma cara e um cheiro específico que relembra o lado negro da força.

Ironias à parte, essa visão é tanto uma construção de uma tradição baseada na experiencia cotidiana, empírica, pela população como resultado da redução da política ao voto e à participação nas eleições como atores, cabos eleitorais, elementos de prestigio nas comunidades pelas relações com quem "traz benefícios" para a comunidade,etc. Essa redução é uma carona que parte do aparato midiático pega na tradição da política anti-democrática tradicional no Brasil (diria que no mundo) para reduzir a participação popular ao ato de votar e inibir ações concretas de transformação via ativismo.

A ação que transforma a política em ação restrita dos políticos e afastada do cotidiano da ação popular direta é também vista na noticia das greves como privilégios, das manifestações como atrapalhadores do trânsito, de reajustes salariais como "Bônus" e não como direitos e que comparam salários como se um trabalhador melhor remunerado fosse  um "marajá nomeado" e não um trabalhador que vende sua força de trabalho em troca de salário como o gari, o guarda, o balconista, todos com direito à greve.

O tempo da política da sabedoria popular é uma análise da sazonalidade da presença do estado via poder legislativo e executivo nas comunidade, mas também é usado como referência da política como algo afastado do cotidiano e com trânsito impossível pro popular, especialmente nas grandes cidades onde a circulação do poder nas ruas é restrita.

Esse afastamento da vinculação de greves, manifestações e ativismo do que é chamado de política e que leva às pessoas  entenderem a política em espaços "de relaxamento" como uma afronta, dado que para muitos existem espaços "alheios e independentes da política", e por isso aparecem nas redes sociais, festas e praças reclamações sobre a presença de manifestantes e militantes como invasores, dado que para a maioria da população o militante não é um defensor de um ideal, mas um cabo eleitoral pago para a propaganda política e ou diretamente interessado pro razões pecuniárias ou de influência na eleição de x ou y, como s1e a política fosse apenas a apropriação do aparato do estado para fins privados.

A visão sobre a apropriação do estado pelas forças políticas em disputa não é nada contrária à realidade cotidiana, inclusive fortalecida pela ação inclusive de forças de esquerda neste aspecto, só que restringe a política à reprodução da privatização do estado pelas forças hegemônicas da política cotidiana que vive em nossa história desde sempre, mantendo a tradição monárquica que sustentou a  formação do estado nacional brasileiro. 

Este estado, formado a partir da lógica de laços sanguíneos como fundadores da tradição política nacional, foi mantida inclusive pelo estado republicano que ampliou o caráter liberal do estado brasileiro redesenhando a correlação de forças interna a ele apenas quanto à redivisão do poder no seio da oligarquia e não ampliando democraticamente o controle do poder para o todo da população. 

Caia o imperador, mas não se alterava significativamente em que mãos se assentava o poder, tampouco se alterava a lógica de tutelação da população e de identidade deste como um mero observador do cenário político. Dá pra perceber que a ideia do povo como protagonista da história ainda permanece como anátema nas colocações deste como um mero bestializado cotidiano, especialmente e infelizmente nos círculos da elite que se pretende esclarecida, lógica de bestialização que ainda considera a população como distante do esclarecimento necessário para a ação política.

A construção desta lógica é feita tanto pelo trabalho cotidiano do aparato ideológico de manutenção da dominação de uma elite por sobre a população e que constrói a história ocultando as lutas cotidianas que levaram pela pressão grevista ou pelas revoltas contra remoções à conquistas de direitos pela população ( como a CLT, a construção de movimentos sociais de resistência às remoções, partidos e sindicatos) quanto pela opção tradicional de formação da memória brasileira que preferiu a personalização da história à crítica que incluísse democraticamente todos os atores da formação do Brasil no cenário da Grande História. 

O resultado desse processo é o Tempo da Politica, ser um tempo institucional, dado externamente ao cotidiano popular e onde se entende o espaço popular de obtenção junto aos políticos  do que não conseguirão ao fim deste tempo.

À Esquerda cabe não só a ação cotidiana e o redefinir da participação política neste período e também à ampliação do circulo de ação política para além da demarcação eleitoral, mas também a redefinição de seu papel "educacional", não como um tutelador de um povo bestializado que precisa de "consciência", mas como um reprodutor do que se entende por História, como um ampliador das discussões que revelam ao povo sua tradição de lutas e que lhe permitirá a construção de sua consciência pela consciência de seu próprio passado. Esta consciência sendo não a "doação de luz", mas um retirar dos véus que a história tradicional usa para ocultar o DNA do povo na formação de um país cujo DNA é mais seu do que da elite que se apresenta como "proprietária" do Brasil, quando no máximo parasita um país formado pela força popular, pela força da cultura popular.

O Tempo da Política é o tradicional período de eleições, mas cabe nele a ampliação que só pode ser feita pelo trabalho cotidiano de quem entende este tempo como o respirar cotidiano, também chamado Vida.




sábado, 8 de outubro de 2011

Quem serão os Intelectuais do pós-lulismo?


Maravilhado pelo Artigo "Os intelectuais no pós-lulismo" encasquetei com um ponto: O Pro-Uni e as cotas nas universidades públicas.

Os pontos de cultura fazem o surgir do intelectual orgânico? tá,pode ser,mas este tende a ser desprezado pela "tenda dos milagres" dos Especialistas. Este tende a ser ignorado, a não ser em casos especiais ou em grandes feitos.

Os caras que estão na universidade via programas levados a cabo pelo governo tendem a ser simpáticos a ele e, querendo ou não professores mais ou menos alinhados à  critica da mídia (que na minha experiencia pessoal são poucos, mas existem), lerão aqui e ali intelectuais que independente de serem de direita ou esquerda  ajudam com novas ferramentas ao pensar. Isso tem mais impacto em áreas como História, Comunicação, Pedagogia, do que em Administração e Engenharia,mas terá impacto. ninguém lê Thompson e Burke impunemente, Levi -Strauss, Umberto Eco, idem.  E negozinho sai do "lumpem" pra ter contato com isso e passa a ter ferramentas pro pensar o real, e vai usar a ferramenta e assim surgem intelectuais.

O 1% , numa perspectiva pessimista, que sair dali com este impacto fará uma diferença enorme e terá mais chances de ser ouvido porque passou pelos critérios meritocráticos da "Intelectualidade amestrada", não vai ser facilmente desqualificado. E mesmo que seja ignorado pela mídia, são formados 1% anualmente em ao menos 5 anos pra cá. A Evasão é alta? é, mas mesmo assim é menor do que era antes, porque o cabra conseguiu chegar ali e se agarra  com unhas e dentes. Então há uma geração de gente que começará a produzir conhecimento vindos de uma outra ótica, de um outro parâmetro social de percepção cultural. 

Essa rapaziada pode ser conservadora, mas se o for será de outra forma onde o elitismo, se houver, não será igual ao clássico. Notadamente se houver o elitismo ele o será paradoxal e talvez combatido pela mesma comunidade do qual o cara saiu,e sabemos que não é exatamente fácil sair de uma comunidade e ir pra um outra comunidade, especialmente uma "mais branca", ou seja,a  tendência é o cara não ir de encontro ao que ele chama de casa..

Então o que defendo é que estão sendo construídos intelectuais que pensarão o Brasil a partir de uma perspectiva pessoal de mudança via Governo Lula. Estes são os intelectuais do pós-lulismo.

A perspectiva do pós-lulismo vai além do que acreditamos ser certo ou errado em seu governo e vai além dos "planos" seja da mídia ou do governo e seus apoiadores.  Idelber aponta um questionamento perfeito e coloca algumas questões sob o ponto de vista de tentar perceber o que a intelectualidade já em ação fará, pensará ou agirá. Entendo que numa perspectiva de "pós-lulismo" temos de pensar na intelectualidade formada por ele, sob suas políticas e sob a lógica do debate político levado a cabo durante esta era.

O impacto da entrada de mais gente nas universidades muda a própria lógica da formação "técnica" dos cursos formados sob este ponto de vista. A formação de professores, por exemplo, como é feita? que professores gerarão?  O que eles lêem? E os universitários que foram mais longe e inundarem mestrados e doutorados, que produção terão? como ela influenciará o pensamento dos próximos?

Independente de classificações ideológicas cabíveis ou não sobre o governo a realidade produzirá um quadro a ser lido e analisado, e esta realidade terá um impacto, como já tem e foi exemplificado pelo Idelber ao citar os pontos de cultura, sobre a intelectualidade não só para a intelectualidade que já está  na ativa, mas na própria cara do que será a intelectualidade em um futuro próximo.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A Classe Operária vai à Padaria

No texto anterior tento discutir a questão da chamada política 2.0 e menciono uma galera que não tá no mundão 2.0, mas tá no dia a dia e é alvo de politicas,. Assunto de políticas e personagem principal de discussões, algumas que querem trocar de povo, inclusive são,de forma indireta, atacados quando genericamente as pessoas se referem pejorativamente a evangélicos, católicos, burros, pobres,entre outros substantivos e adjetivos nem sempre de bom tom.

Mas o que é esse povo, o que é essa classe operária, porque é tão difícil entender o que ela quer e porque é tão difícil que nossa discussão fofa e lindona sobre ativismo digital e praça Tahrir, política 2.0 e assuntos críticos como a questão de gênero e LGBTT seja uma discussão que vá além da pequena e isolada aldeia da virtualidade? Talvez porque fazemos da virtualidade um bantustão de ideologia avant garde.

A classe operária quando invade a virtualidade quase nunca se parece com nossas amizades descoladas que se junta a nós na defesa do fim do machismo e da homofobia. E isso não ocorre porque ela é burra e desentendida, mas porque ela não é convencida, não nos recebe em sua casa pra tomar café e nem é ouvida em diálogos francos sobre os assuntos. Uma moça outro dia foi tida como heroína da raça por, de forma bem simples, colocar questões hiper fodas em uma passeata homofóbica de fundamentalistas cristãos. Virou ídolo fácil e automático da galera hype da Internet. Mas no dia seguinte ela, como todos os iguais a ela, foi incluída nos diversos xingamentos aos "evangélicos", essa espécie parecida com povo, despersonalizada e amorfa. Dona Jovelina é evangélica, como muitos outros e outras.

A virtualidade, conhecida nos lugares mais legais do planeta como política 2.0, também acha que o povo vota no Bolsonaro porque é ignorante e tudo fascista, e acha que é o fim da picada eleger Tiririca. Fico me perguntando como a gente faz então pra inverter a demanda de base de esquerda, e não de partidos de esquerda necessariamente, no congresso. Se o povo é esse ai e ele vota no Tiririca e no Bolsonaro e não no Rui Kureda, companheiro socialista bom pra diabo , não era com ele que a gente tinha de ir lá e dialogar? Adianta a gente fazer marcha pela paz, pela maconha, pelo direito de voar de costas ou pelo tetra do Flusão se essa marcha for feita apenas por milhares de modernos jovens que em sua maioria nem sequer lembram o nosso amado amigão porteiro ou padeiro? Nossa Praça Tahrir teria povo ou apenas uma classe média descolada, pós moderna e cheia de amor pra dar?

Essas perguntas não querem em momento algum desqualificar qualquer movimento ou pensamento e nem botar gasolina na falsa dicotomia de que ter o povo a nosso lado a qualquer custo é o mote, reduzindo obviamente povo a voto.O que eu quero é propor o debate sobre que politica fazemos cujo 2.0 reproduz o preconceito contra a população que vai à padaria, construindo um muro onde nós, os iluminados, levamos o conhecimento, o movimento, a verdade e a vida a um bando de gente estúpida que recebe bolsa família.

Discorremos sobre o voto "consciente" em deputados de esquerda e não somos capazes de aceitar e compreender que o voto no João da Pipoca, que faz benfeitorias no bairro do cabra, ou no Zeca do Tijolo, que doou tijolo pra o cara terminar a casa dele que estava quase sem teto, com goteira e estragando seus parcos bens, como votos conscientes, completamente entendidos. Cobramos uma ideia de "civilidade" e uma relação com a sociedade que contemple um dever para com uma sociedade que na maioria dos casos nunca cumpriu dever algum com as pessoas de classes para além túnel rebouças, por exemplo, os tais pobres.

Cobramos uma consciência da população, que já há, mas temos nós consciência do que ocorre, do que é a vida diária de um povo que em geral toma porrada, perde a casa e só pode confiar realmente na sua rede de relações criadas a partir do parentesco, dos laços de amizade, dos políticos locais, que ajudam essas amizades e laços? Dificilmente. Às vezes nossa classe "consciente" parece entender mais os Nuer ou o cálculo da mais valia do operário da Volks no Cazaquistão do que a classe operária que ele quer levar ao paraíso, mas só se for de acordo com suas regras.

A esquerda, essa mesmo que se propõe porta-voz da classe operária,  faz algum tipo de esforço para ir na classe operária, entendê-la, ouvi-la, sê-la, participar dos laços, ser contra-hegemônica no seu dia a dia, dialogar na padaria? E este esforço vai além do aceno simpático, do abraço, da conversa cujo teor está impregnado do desejo de iluminar mentes e menos de compreender o intrincado sistema de classificação baseado em honra, em compadrio? A classe operária gostava do Brizola por ele ser um "líder carismático" ou por ele honrar o desejo das massas e ser confiável à elas?  O Carisma do cara vinha de sua fala e magnetismo ou da percepção da galera que ele ia cumprir, e energicamente se preciso, os compromissos assumidos com ela "na palavra". Lula é carismático por ser carismático ou por ser um de nós, mais um nessa vida e um que tava lá em cima e olhou pra baixo, não cuspiu no prato que comeu. Esse tipo de relação não é simples, não é fácil, não é jogo e ninguém nela é estúpido. Sabemos tudo sobre a formação da classe operária inglesa, e da nossa? E como saber? Formatando-a em conceitos genéricos e internacionalistas que jamais fogem de modelos que quase obrigam a  comportamentos idênticos entre ingleses e Baianos?

Gritamos alto sobre a cassação de direitos dos homossexuais e recuos nos avanços disponíveis, mas disputamos a hegemonia do debate com o povo da padaria? Vamos lá e conversamos com os caras? dizemos pra eles que médicos do mundo inteiro pesquisaram e sabem que gay não é safadeza? Dizem os pra eles que o casamento é um troço que deve valer pra todo mundo, mas não o da igreja, o do cartório? Procuramos ver e ouvir que existem gays mais respeitados na favela, no bairro  e no sertão baiano do que na paulista? Sabemos e discutimos as diferenças entre a homofobia da Paulista e certos medos de que tradições sejam esculhambadas por "modernidades" trazidas por gente que é de outro mundo pra eles, e em geral é de um mundo que grila suas terras e passa o trator em suas comunidades? Quando vivemos em um mundo onde ateus reivindicam o direito de desqualificar quem não é ateu, acho que não.

Qualquer se humano atento a software sabe que pra se ter um 2.0 precisamos antes viabilizar o modelo 1.0 ou talvez caiamos no erro de abandonar o esqueleto anterior sem um futuro estar pronto. Enquanto isso nossos amigos fascistas tão lá compreendendo entendendo, conversando e tomando café.

É importante usarmos todas as ferramentas, digitais ou não, de atuação, mas temos de saber fazer política com a moçada 2.0 e com a classe operária, que não vai ao Facebook, mas vai na padaria.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

URGENTE Despejo e criminalização de mais de 400 famílias nesta TERÇA 09/11 Vila Taboinha pede Socorro

Recebi do amigo Jorge Borges



Camaradas,

A comunidade Taboinha tem uma questionável ordem de despejo para esta TERÇA 09/11/2010.
A Taboinha fica no Recreio dos Bandeirantes, próxima ao túnel da Grota Funda, no final da
Avenida das Américas. O endereço "formal" é Estrada dos Bandeirantes, 29.503, mas a comunidade aparece no Google Maps através da busca "R. Onze de Maio - Vargem Grande, Rio de Janeiro - RJ". 
Apesar de estar sendo acusada de "área de milicianos" (ver reportagem ao final), a comunidade vem participando do Conselho Popular e do Movimento União Popular (MUP), desde o início do processo de reintegração de posse. Nos três anos em q lutam pela permanência naquela terra, nenhum miliciano apareceu para dar qualquer "apoio" ou se manifestar sobre aquelas famílias humildes que ali vivem.

São centenas de casas cujo "arruamento" foi feito pelos próprios moradores, tentando preservar as determinações do loteamento original vendido para as famílias como "legal", mas cujos responsáveis desapareceram poucos meses depois. A prefeitura recusou-se sistematicamente a dar qualquer suporte à regularização fundiária das famílias que buscam até hoje o reconhecimento dos valores pagos para os grileiros e as taxas de serviços públicos cobradas. Quem garante que tais bandidos não estivessem inclusive a serviço destes que, agora, reivindicam a propriedade do terreno?

O processo de reintegração de posse está eivado de inconsistências (não identifica sequer o lote que está sendo pleiteado, não qualifica os réus) e de omissões por parte da juíza Érica Batista de Castro, da 1ª Vara Cível da Barra da Tijuca.

Alexandra, presidente da associação de moradores da Taboinha informa que mais de 30 oficiais de justiça e muitos policiais panfletaram a comunidade informando o prazo de 48h para que todos se retirassem "pacificamente". Obviamente, a comunidade está em pânico com mais um atentado ao Estado Democrático de Direito, agora partindo do próprio Poder Judiciário.

Durante toda a 2a feira, 08/11/2010, defensores públicos do Núcleo de Terras e Habitação, insistiram junto ao plantão judiciário e à assessoria da própria juíza que poderia retornar o processo à legalidade, mas, neste dia, ela não compareceu ao trabalho.

Os movimentos sociais e seus apoiadores em todo o Rio de Janeiro estão convocados a um mutirão de solidariedade aos moradores da Vila Taboinhas. Quem não puder participar diretamente da resistência na comunidade fica instado a reproduzir essa denúncia por todos os meios possíveis. Quem tiver acesso aos órgãos da Magistratura, OAB, Ministério das Cidades e quaisquer outros órgãos públicos atinentes à questão que o faça com rapidez. 

SÃO 400 FAMÍLIAS, MAIS DE MIL PESSOAS SENDO DESPEJADAS NUMA ÚNICA OPERAÇÃO!

Cada comunidade deve promover sua própria manifestação. 

AS REMOÇÕES SÓ SERÃO FREADAS NO DIA QUE TODAS AS COMUNIDADES SE MANIFESTAREM CONTRA A REMOÇÃO DE QUALQUER COMUNIDADE! 

CADA DIA DEVE SER UM DIA D CONTRA A REMOÇÃO!

NÃO ESPEREM LIDERANÇAS HERÓICAS! FAÇA SUA PRÓPRIA RESISTÊNCIA CONTRA MAIS UM ATENTADO AO DIREITO INALIENÁVEL DE MORAR DIGNAMENTE!

Maiores informações liguem:  Alexandra 7863-6495  Jorge Henon 9725-7702
"Obrigado queridos e que Deus nos traga uma solução antes de amanhã."


Outras notícias:

Defensoria diz que moradores de Vila Taboinhas não tiveram direito à defesa

http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/moradores-de-vila-taboinhas-nao-tiveram-direito-a-defesa-diz-defensoria-20101109.html

Famílias protestam contra remoção de terreno no Recreio dos Bandeirantes

 http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/familias-protestam-contra-remocao-de-terreno-no-recreio-dos-bandeirantes-20101109.html

Aparato do estado e da prefeitura se prepara para despejar Vila Taboinhas (RJ) 

http://antonioribeironoticias.blogspot.com/2010/11/aparato-do-estado-e-da-prefeitura-se.html
 
http://www.anf.org.br/tag/taboinha/
A quem interessa a remoção:

Nova favela começa a crescer em Vargem Grande

http://ademi.webtexto.com.br/article.php3?id_article=21282

 



quinta-feira, 28 de outubro de 2010

As UPPs e a cidade de Pereira Passos

Marcelo Freixo em entrevista recente ao Repórter de Crime de O Globo (Aqui) afirmou que "As UPPs são um projeto de cidade. Basta ver o mapa com os locais onde foram instaladas.  As UPPS precisam ser percebidas junto dos muros, da barreira acústica e das remoções".O nobre Parlamentar foi corretíssimo, não só pela avaliação do quadro atual, mas por ressaltar uma característica da cidade do Rio de Janeiro ao menos desde o início do Século XX com as reformas urbanas de Pereira Passos.

Gizlene Nader em seu artigo "Cidade, Identidade  e Exclusão Social" (aqui) afirma que: "As preocupações com o controle da massa de trabalhadores pobres revelam o medo branco, ainda presente (...)". Este medo branco persistente  se revelava em 1908 através de uma  política de controle das “classes perigosas”. Essas classes perigosas precisavam ter um espaço de trânsito controlado, serem vigiadas para que a "ordem" se manifestasse de forma absoluta, permitindo às Classes "bem nascidas" e "educadas"  a liberdade de ocupação da cidade, do melhor da cidade, com o mínimo de contato com o que consideram inferior. 

Esta idéia foi colocada em prática através das reformas urbanas de 1908 quando foi criado um cordão "sanitário" da Lapa até o Rio Comprido, evitndo a circulação das classes populares na slocalidades de moradia da Elite 

Alguma semelhança com as UPPs? Confome  entendemos sim! As UPPs  são a mais nova face d política de secessão urbana, feita através do controle rídigo de transito das classes pobres, tornando a polític de policiamento radical das áreas pobres uma forma de restrição de movimentos que torna as áreas ricas mais "seguras". 

O sacrifício da liberdade dos moradores das UPPs é considerado dano colateral aceitável diante da necessidade de afastar dos centros da elite qualquer forma de convivência com os males da cidade e com a população. Assim como foi aceitável o isolamento da violência nas comunidades periféricas mais pobres com o acirramento do preconceito da vinculação de pobre com o significado de bandido é aceitável manter  as mais próximas da riqueza afastadas de incursões violentas, com o tráfico desarmado, mas  castradas na liberdade de ir e vir, de conviver.

As UPPs são a evolução da cidade aburguesada de Pereira Passos, são a versão da redução da cidade quilombada a pequenas áreas sob controle rígido policial, enquanto a violência é afastada do centro pela periferização e aumento das milícias.A cidade de Pereira Passos dá lugar à cidade olímpica de Pereira Paes. É a modernização da exclusão do pobre.