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sábado, 28 de julho de 2012

Das primaveras

Uma cidade que precisa de sua primavera.

Essa foi a  primeira frase que pensei há dias para um texto político que desse conta de uma ideia que toma forma a cada dia mais: O Rio de Janeiro é o carro-chefe da construção de um país cuja história faz o estado brasileiro ser especialmente liberal, um marco do liberalismo não em sua face utópica, mas em sua face concreta, real, de gerente do capital para o capital e cuja população é ou alimento pra máquina de produção ou anátema,barreira, e estorvo.

A historia do Rio de Janeiro se confunde com a história do Brasil por motivos óbvios, sendo uma de suas primeiras capitais e tendo sido distrito federal até a construção de Brasília em 1961, foi no Rio de Janeiro que a face do estado como gestor do capital se fez de forma clara, principalmente em suas administrações municipais, que de Pereira Passos a Eduardo Paes pouco transformaram a opção preferencial pela ausência de pobres à vista.

Se de início com Pereira Passos foi sob a alegação da "higienização" do Rio de Janeiro, considerado inóspito para os diplomatas que vinham ao distrito federal em missão oficial e temiam aqui residir, para que as doenças como a febre-amarela se findassem, hoje é para a "modernização" da cidade para recebimento de mega-eventos que "internacionalizam" a cidade como cidade-palco perfeita. Em ambos os casos a dinâmica de administração do estado para sua população é tomá-la como coadjuvante do processo de mudanças urbanísticas e sociais em que o povo em sua maioria é apenas espectador inativo, muitas vezes de seu difícil deslocamento e da remoção de sua casa para a construção de algum empreendimento imobiliário onde ele nãos erá beneficiado.

Em sua caminhada histórica de representante maior do liberalismo enquanto aparato estatal gerente do capital, o estado Brasileiro em suas três esferas fez do Rio de Janeiro o lugar onde o presidente dizia que os problemas sociais eram problema de polícia e nomeava Pereira Passos para que erguesse uma nova cidade sobre os escombros do bota abaixo e baseada nas botas de uma polícia colocada estrategicamente em um corredor polonês que impedisse a invasão da população pobre à área de residência dos ricos (assunto do qual já tratei aqui e que também pode ser visto neste artigo de Gizlene Neder) e que hoje o mesmo estado utiliza a cidade como laboratório das políticas de benefício à empreiteiras e de beneficio duvidoso à população pobre que é removida de sua casa sob alegações de área de risco para locais longínquos e sem infra-estrutura adequada de transporte, por exemplo e muitos apresentando problemas sérios. 

O Minha Casa, Minha vida não apresenta nenhuma variação digna de nota dos programas habitacionais anteriores e obedece a lógica de afastamento da população de seu local de moradia de origem.

Além disso, as UPPs acabam entrando só em sua face repressora, longe do prometido pelo poder público que insistia que haveria a ocupação social pelo estado, reeditando a opção pelo policiamento da pobreza e criação de um corredor, desta vez olímpico, de vigilância da população pobre que se por um lado se vê livre do tráfico, por outro é vigiada cotidianamente e tem sua liberdade de ir e vir, de manifestação cultural severamente reduzida pela força de ocupação do estado como se vê na proibição do funk nas áreas sob ocupação.

A população do Rio se vê assim cotidianamente e historicamente como coadjuvante na sua própria cidade, vitima de sua divisão entre as zonas habitadas pela classe mais alta, que concentra serviços e equipamentos urbanísticos e fiscalização constante da prefeitura, e as zonas habitadas pelas classe trabalhadora, onde transporte, saúde, educação, lazer são parcos, onde a fiscalização da prefeitura é ausente, onde ônibus e carros agem como querem e desejam, onde não há espaço organizado para o transito da população e onde o poder público só aparece pela via de cabos eleitorais, ou coisa pior, e onde o clientelismo é o mote da ação política.

Se na zona sul, cenário preferencial de "venda" da cidade, a limpeza urbana, o transporte público, a fiscalização da ocupação do espaço público são funcionais e rígidos, nas zonas norte e oeste a lei do mais forte é por vezes quase literal e a ação da prefeitura vai de conivente a omissa e até lixeiras nas ruas são uma honraria e uma raridade.

A própria lógica de intervenção urbana parte do princípio do embelezamento e de priorização de "melhorias" que andem lado a lado com investimentos privados no mercado imobiliário, opta-se por mega empreendimentos de construção civil e menos investimentos em transporte coletivo e público, com redução da presença de carros, opta-se sempre por benefícios ao capital antes do benefício ao cidadão e assim se constroem menos metrôs e mais "transoestes" reforçando a opção rodoviária engarrafadora, se faz mais corredores de ônibus com transporte sobre trilhos cada vez piores e mais caros.

É assim no Rio de Janeiro, mas isso é uma referência para o país e não só hoje.

A lógica de "estamos utilizando o estado para transformar a vida das pessoas" e que tem do lado anúncios de mega obras, esquece que a mudança na vida das pessoas é muito mais superficial e ligada ao consumo do que estrutural, já que as pessoas continuam morando mal, se deslocando mal nas cidades, tendo péssimo ensino (Inclusive superior nos PROUNIs e às vezes nas Universidades públicas), péssima saúde  e uma segurança pública que trata o pobre, o negro, o mulato, como criminoso de per si e a ocupação do espaço público como ofensa.

É nesta conjuntura, em que regredimos nos avanços cidadãos para sermos cada vez mais reféns da mesma velha lógica de estado liberal de Rodrigues Alves a Dilma Roussef e de Pereira Passos a Eduardo Paes, e onde a primeira ideia de primavera sob foi a liderança mítica de um Lula pré-abraço em Maluf, que temos a chance de levar a cabo um movimento que contamine a política de novo com o impeto da mudança onde a frase de Brecht em que "nada deve parecer impossível de mudar" seja muito mais que um ornamento em uma bela camisa, mas que seja um refrão de mudança na prática, no cotidiano, no dia a dia, na vida, na alma, nos olhos das pessoas.

Precisamos da primavera para sair da cidade partida rumo a um repartir da cidade entre todos os seus moradores. 

Precisamos desta primavera para retomar a cidade, ocupá-la de cidadania, de orçamento participativo, de opção preferencial pela vida e não pela civilização do automóvel, por uma saúde e uma educação debatida, definida, construída pelo todo da população.

Precisamos desta primavera para que até nossos adversários esqueçam da opção preferencial pelo voto a qualquer preço e retomem a defesa de bandeiras que não permitam a presença de Bolsonaro no parlamento.

Precisamos da primavera carioca, nós do Rio, vocês de São Paulo, todos nós do país todo.




quarta-feira, 4 de julho de 2012

Em qual cidade do Rio de Janeiro você vive?

Loja de carros em Vila Valqueire
Hoje ao circular em Botafogo sem carros na calçada quase, com guardas municipais circulando, com obediência de motoristas a sinais (Com exceções raras) limpeza urbana, lixeiras em toda a rua, percebi com mais ênfase que a tal cidade partida sobre a qual teorizava Zuenir Ventura e que mencionei aqui indicando outras fontes que discutiam o problema da divisão não só social da cidade do Rio de Janeiro, é não só um fato, mas uma opção do poder público.

Há, por exemplo, lojas de automóveis tanto na zona sul do Rio quanto na zona norte, especialmente onde moro, em Vila Valqueire, mas o respeito levado a cabo pelos lojistas na área nobre da cidade é completamente diverso do que se vê no cotidiano do subúrbio, onde a prefeitura só aparece para retirar camelôs das praças  e multar carros particulares deixando os carros das lojas ocuparem às vezes  a mesma calçada ou lado da rua onde os carros particulares estavam estacionados.

Loja de carros em Vila Valqueire
Se na zona sul há um certo respeito levado a cabo pelos utilizadores de veículos não é exatamente pela bondade humana, mas pela presença ostensiva do aparato do estado, seja a policia militar seja a guarda municipal, pelas ruas. 

Em Vila Valqueire o que se vê é a Guarda Municipal conversando com lojistas, parceiros que são, seja lá qual for o eixo de união entre o poder público e o empresariado local que tem o bairro como seu e ocupa os espaços das calçadas impedindo doentes, cadeirantes, mães com bebês e o transeunte comum de passar sem ter de pedir licença aos senhores do espaço.

O choque de ordem? A secretaria de ordem pública? Estão do Méier e Tijuca pra frente impedindo o vendedor ambulante de trabalhar, a cervejinha ao redor do estádio e claro atuando pelo lado bom que é dar Às calçadas ao pedestre, coma  exceção de locais onde o restaurante "tradicional" tem uma liberação "branca" de ocupar a calçada.

Loja de carros em Vila Valqueire
Já em Valqueire o choque de ordem é dirigido ao senhor que mantinha brinquedos para as crianças em uma praça mal aparelhada e mal cuidada, ao vendedor de pastel tradicional, ao comerciante popular de ervas e outros atores cujo peso em relação ao shopping de automóveis é semi nulo. O lojista das lojas de automóveis tudo pode, esse não é incomodado e reza a lenda que por associações estranhas é avisado quando da atuação da tal "secretaria da ordem pública" e do "choque de ordem" com antecedência que o permita fingir que não burla as leis.

Lixeiras? No subúrbio não precisa conforme o prefeito. Se na zona sul é uma a cada poste no Valqueire é uma a cada duas quadras.

A ordem pública segundo a prefeitura é localizada nas proximidades de onde reside o prefeito e a rede de televisão que o apoia.

Além de não ser discutida com a população e obedecer a ditames relacionados à valorização da mesma velha zona sul e aos pontos apontados pela Rede Globo, o tal choque de ordem não tem nenhum cuidado de esconder preferências por uma ordem que restrinja a cidade a quem não mora nela ou a quem consome, especialmente se for turista ou morar nos bairros onde a ordem significa limpeza de pobres da linha de visão.

Aqui no Valqueire e ao redor de Madureira constroem belos parques, removendo favelados, e fazem obras de última hora de recapeamento enquanto o sujeito pra ir pro trabalho fica mais de três horas no ônibus, recebendo poeira de obras executadas como que feitas sem planejamento e sabendo que todo o embelezamento tem o período tradicional de duração até no máximo alguns meses apos as eleições.

Em qual cidade do Rio de Janeiro você vive?

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Por que apoio a candidatura de Marcelo Freixo/Yuka?

Apoiar Marcelo Freixo/Yuka pode parecer natural, pode parecer um caminho quase que automático para quem veio do PSOL e participou dele até o último ano, mas não é.

Não é difícil apoiar Freixo, muito pelo contrário, a admiração pelo caráter do deputado, pelo caráter do Militante e pela sua participação no partido, inclusive sendo o defensor da tese da defesa da legalização do aborto no primeiro congresso do partido, confrontando a posição da então figura pública-mor Heloísa Helena, é enorme e a defesa da tese em si já o qualificava como quadro, tanto pela brilhante defesa como pela postura de respeito ao militante.

O apoio natural, no entanto, tende a ser visto como apoio acrítico e não é o caso. Freixo também comete erros crassos na sua participação no partido a meu ver, se aliando a uma linha partidária que no fim engessa o PSOL em uma estrutura estritamente parlamentar, onde as decisões de cúpula tornam-se decisões de partido. Freixo também comete erros de avaliação, a  meu ver, ao apoiar a filiação de pessoas que não qualificam o PSOL à esquerda, muito pelo contrário, por melhores parlamentares que sejam não tem um histórico de defesa das mesmas bandeiras e já ladearam, assim como Gabeira, candidaturas semi-eugenistas como a de Denise Frossard, como é o caso de Paulo Pinheiro.  Outro equivoco é a lógica de aliança com o PV, que inclusive em seus melhores quadros não é exatamente o sonho de consumo da militância do PSOL e menos ainda da militância ambientalista e ecossocialista do PSOL.

Divergências com Freixo e mesmo com o partido não são poucas, a maioria listada acima, porém o apoio, se não é natural, é quase inevitável sob o ponto de vista do contexto, da conjuntura, do papel político e do simbólico que a candidatura carrega em si.

Freixo representa a resistência a um conjunto de transformações da cidade, e do estado, do Rio de Janeiro que vão desde o avanço do crime organizado como poder paramilitar do estado (milícias) à transformação da cidade em cidade espetáculo, cidade voltada para o lucro empresarial e que reduz a ordem à opressão das camadas mais pobres, das franjas da sociedade e de trabalhadores que tiram seu sustento do comércio ambulante. A candidatura representa também as lutas omitidas, largadas, as bandeiras rasgadas pelo Partido dos Trabalhadores e metade mais um das esquerdas agrupadas no governismo como a luta LGBTT, a luta anti-racista, pelos direitos humanos, as lutas de gênero, contra a criminalização da pobreza.

É por isso também que é inacreditável o naipe dos ataques feitos ao candidato e ao entorno de sua candidatura, que vão desde a desqualificação do candidato como "inventor" de ameaças de morte até uma lógica semi-infantilóide que repete frases outrora lançadas contra o PT tal como " O PSOL vai governar só com artistas?" e acham interessante esse tipo de lógica eleitoral, lógica primada pela manutenção de uma governabilidade onde o povo removido pelo companheiro Bittar aparece no discurso, mas é esquecido depois.

É inacreditável porque são ataques emitidos por ex-companheiros, por gente que viu Erundina receber este tipo de ataque e viu ataques aos pobres feitos pelo PMDB de Moreira Franco (O mesmo de Paes e Cabral), viu remoções  e bolsa-faroeste para policiais que matavam bandidos feitas por governos tucanos, viu César Maia com suas ações repressivas a camelôs e favelas a ponto de dizer que as ruas tinham de ser lavadas com criolina para expulsar moradores de rua, viu Paes, quando era do DEM do mesmo César Maia,  meter trator em casas de pobres e hoje apoiam governador e prefeito que são da mesma linhagem política.

É inacreditável porque essas pessoas ao invés de buscar uma defesa consciente e firme de suas convicções preferem, por medo do crescimento de Freixo junto à sua base de esquerda, ir mais fundo em sua aliança com a  direita adotando o discurso desta em nome de uma governabilidade que mal esconde um profundo interesse na manutenção de máquinas que financiam atores, blogueiros, sociólogos e sei lá o que mais em sua vida cotidiana.

Esse é mais um motivo para o apoio à candidatura Freixo, porque o elemento simbólico não é aqui apenas de forma tangencial, de verniz de uma candidatura conservadora como foi na eleição de Dilma, mas  que representa também a manutenção de bandeiras de esquerda e de conquista de direitos civis, de direitos humanos e de combate à mercantilização da cidade, da criminalização da pobreza e um vento de esperança em um quadro de continuo avanço das forças conservadoras mal oculto pela retórica ufanista de governistas  que cometem o crime de ocultar derrotas sérias no campo ideológico com inclusive falsificação estatística de novas classes médias.

A candidatura Freixo/Yuka também representa o combate à economização do discurso político de tal forma que o ganho de poder de compra e emprego pelas classes C e D representam um patamar máximo de conquista pelo povo, e para o povo, e que permite que se largue de mão avanços necessários na transformação da sociedade que vá além da manutenção de geladeiras e máquinas de lavar, que permita redução de violência contra gays e mulheres, finalização de um modelo de policia cuja função é proteger menos vidas e mais propriedades e que se sustenta  numa lógica onde o spray de pimenta é  o argumento político por excelência.

A candidatura Freixo/Yuka é um vento necessário, que retoma discussões que a esquerda amontoada ao redor do e da Cara parece ter optado por esquecer esforçada que está em desviar qualquer atenção sobre  erros do governo com a retórica mais chulé que estiver a mão. 

A candidatura Freixo/Yuka é uma necessidade em uma cidade que por receber Copa e Olimpíada parece ter dado a seus governantes a carta branca pra remover, humilhar, mentir e destruir comunidades,laços, casas. É uma necessidade para toda a esquerda, inclusive a que não apoia ou é participante do PSOL, mesmo dos mais radicais, porque abre um espaço público de discussão política com um tensionamento nítido de esquerda e socialista.

É por isso que apoio a candidatura de Marcelo Freixo/Yuka.


terça-feira, 15 de maio de 2012

Humano, demasiado humano

É comum chamarmos de monstros os vilões, os estupradores e ladrões, os assassinos. É comum também animalizarmos os adversários e os canalhas, eles são cachorros, burros, amebas, assim como  pessoas violentas e assassinos são feras.

É comum, muito comum. É humano sair, é humano interpretar o outro como o não-eu, como um externo a mim. É humano também devorar o outro, aquele não-eu,, destruí-lo, exclui-lo do espaço legitimo de convivência e debate político, seja pela via da violência, seja pela via do fundamentalismo, da interrupção do diálogo, pela mentira. 

A defesa do espaço conquistado, seja ele uma caverna ou uma sinecura governamental é quase um elemento atávico no humano. A defesa de uma posição politica, de um ponto de conquista de espaço, de território de ação política imediata, mesmo que imaginário, leva a embates e muitas vezes em coisa pior.

É por isso que é comum  a intolerância, a loucura coletiva em torno de posições, de espaços fechados, de debates interrompidos, de uma busca de soluções definitivas para essa rede de complexidades chamada real. O fundamentalismo e a intolerância são tão humanos e cotidianos, frequentes quanto a poesia, o amor e o desejo de paz mundial.

Eu mesmo não sou dos mais tolerantes entes humanos a passear por essa rocha, não sou muito fã de debates acalorados com golpes abaixo da linha da cintura, de polianices ou delíriuns tergiversandis construídos em torno do que considero mentira das brabas. 

A política não é a mãe das boas maneiras e nem filha da pureza, é uma selva bacana onde eu e minha laia rolando na relva (rolava de tudo) brigamos com piratas pirados. 

A política não é pura, nunca foi, é luta, considero que de classes, é pancada, é briga por espaço. A tal ética política ou "grande política" é a meu ver uma escolha baseada em limites humanos do chafurdar no eixo de um dos mais humanos elementos presentes na sociedade: A busca pelo poder. 

Ou seja a "Grande política" busca o poder tanto quanto os Serviçais da Grande ordem Vermelha, às vezes pelo mesmo método, mas em geral rola uma tentativa de não viajar na maionese e embarcar na canoa do poder de certa forma esquecendo pra onde ia. 

Porque é comum a  rapaziada ir com tanta sede ao pote no "Vamo mudar a porra toda!" que quando chega lá ,ao atravessar o rubicão da feérica luta do "bem contra o mal" do imaginário da trupe, acaba se perguntando "Que que a gente veio fazer aqui mesmo?" e ai pergunta pro PMDB. 

Todo mundo sabe que o PMDB, a Morte e os impostos são coisas inevitáveis na vida humana, nem que seja pra produzir medo, mas o comum ato de torná-lo conselheiro já é aquele transtorno por esforço repetitivo que faz esse demasiado humano mundo da política  um terreno que oscila entre o perigoso e o perigoso terreno da galhofa.

Então a rapaziada da "Grande Politica" é no fundo o "Movimento de evitar o PMDB" e tenta assim manter algumas bandeiras humanistas e tradicionalmente arrebatadas das mãos burguesas pela esquerda no alto, longe da mão do PMDB, que tem mania de tomar tudo.

Tudo muito humano, demasiado humano. 

E é nessa bagaça, nessa busca interminável pelo PMDB, ops, pelo poder que a galera fica, numa disputa interminável onde a esperança equilibrista parece professor municipal do Rio, sobrevive, mas ninguém sabe muito bem como.

Este escriba entende a disputa, respeita polianas, respeita a necessidade de defesa do ganha pão por políticos, parlamentares, assessores e aspones virtuais, só não entende a PCdoBzação do PT, a transformação dessa massa politizada que tomou as ruas e elegeu a Erundina em 1988 em uma galera com discurso de quinta série, com uma "argumento" que começa com "disputem eleições e ganhem para que eu possa discutir política com vocês" e termina com aquela sensação no interlocutor que o PT virou a maior UJS do mundo.

Tudo muito humano, tudo muito tipico e talvez tudo muito sintomático do motivo pelo qual o PMDB é uma espécie de igreja católica apostólica romana do mundo político, que parece estar ai desde Noé, dominando tudo e transformando tudo à sua volta em pequenos simulacros menos competentes de sua arte de sobrevivência.

Sei que deve ser difícil, complexo e brabo pro petista médio, aquele que compra pão na padaria, que veste as havaianas da humildade, que mete o pé na estrada pra fazer o seu,o meu, o nosso, trabalho de militância (No caso deles desconfio que com mais sustança financeira, digamos assim), votar no PMDB, ser base do PMDB, balançar bandeirinha do PMDB, dizer que é bom, que faz tchu, que faz tcha, que balança a pema, balança sem parar.

Sair do "Lula lá brilha uma estrela" pro "Agora é Paes" deve doer, especialmente nos mais velhos, alquebrados pelas dores do pragmatismo. Mas confesso que surpreende que estes mesmos, estes que se mexeram pra eleger a Erundina, o Patrus, o Tarso, o Olivio, pra por o Chico Alencar como fenômeno eleitoral, pra construir a candidatura Vladimir Palmeiras driblando o Zé Capiroto, desafiando o mal, estes mesmos sujeitos que tavam lá, que viram que era bom, não se contentam somente em ir lá balouçar a pema do PMDB, mas também enveredaram no perigoso terreno da vergonha alheia ao chamar de aventura algo que é muito similar a seu passado.

Chamar uma opção inclusive de agregação de valores à esquerda como um todo de "Santo das esquerdas" desagregadas, como se essa desagregação destas fosse bom, fosse legal,é de doer as bolas.

Surpreende que a tática atual destes seres tenha sido o ad hominem a Marcelo Freixo, tenha sido a escolha pela infantilização do debate, pela arma do medo de chamar uma candidatura que se busca de esperança como "aventura" (Regina Duarte, quem diria, transferiu o medo a sue algoz), como uma "Sebastianisse" de uma esquerda abandonada e "irrelevante". 

Surpreende mais ainda porque Freixo, sua candidatura, não se constituem como um discurso revolucionário de esquerda, que fuja tanto assim do discurso governista em seu cerne, no que se propõe, como "Salvadores do povo", apesar de ser um discurso radical que aponta as contradições deste discurso de "salvamento" pelas geladeiras e "carinhos".

Surpreende por ver um partido usar contra adversários, que inclusive tem em si seu dna, o discurso usado contra ele, apontado contra ele, quando da constituição do que seria o maior partido de esquerda da Ameŕica Latina.

Terá o PT, e seus correligionários, como Greta Garbo, acabado no Irajá?

A opção preferencial pelo PMDB deixou de ser um ato pragmático para ser um ato simbiótico, como a opção em BH pelo PSB em uma espécie de Dona Flor e seus dois maridos com o PSDB?

Será que esse humano, demasiado humano, desejo de conquista do poder tenha tornado o PT e sua militância uma espécie de Smeagol a falar para si mesmo em um delírio lisérgico que o inimigo de sua conquista do "precioso" domínio global da cena política é qualquer coisa que lhe lembre quem ele foi?

A política não é pura, nunca foi, e nem é justa, ou doce, ou adulta, ela é feroz, humana, demasiado humana, mas acho que já teve mais compostura.





terça-feira, 13 de setembro de 2011

Hipocrisia, Discurso, Tática e Estratégia

O discurso em política é mato, ou seja, tá a todo momento rolando pelas tabelas. A questão é como ele se adéqua às posturas táticas e à estratégia dos partidos.

Não adiante você dizer que é contra Belo Monte se na hora do "vamo ver" o governo do teu partido constrói Belo Monte, sua vontade foi de vala diante de uma opção tática do sue partido. Você ser contra não mudou em picas o real.

E tem outra seu discurso não se adéqua à opção tática do seu partido, usada para atingir o objetivo estratégico de gerenciar o estado capitalista com um perfil de inclusão social optando pela tática do investimento estatal como forma de fomento ao crescimento econômico e políticas sociais para minimizar a desigualdade. Sua participação dentro da maquina de desenvolvimento de uma política rumo à estratégia final corrobora com a estratégia apontada.

Porque disse isso? Porque li no Twitter figuras públicas do PSOL criticando ações do PT chamando-o de "Tucanos de Bico Vermelho" pelo apoio à questão das OS na administração da saúde do Rio de Janeiro implementada pelo Governo do PMDB.

O Discurso está corretíssimo, sem sombra de dúvida,s porque a ação é escabrosa e via prejudicar mais uma vez a população com uma privatização enrustida da saúde. O problema é como esse discurso se enquadra na opção tática e na estratégia do PSOL e como isso tudo lhe dá ou não "moral" pra detonar o PT.

A opção do PT é dada, ele não quer mudar e tem apoio popular pra ela, sua estratégia é brigar no jogo institucional via alianças políticas com parte das máquinas partidárias  conservadoras pra se manter como gerente do capital de uma forma que essa gerencia permita o "desenvolvimento" ou sejam uma política de fomento estatal da economia com redução de desigualdade via políticas compensatórias. A estratégia é a gerencia do capital via estado, a tática é a atuação via institucionalidade e alianças com partidos conservadores.

Alianças pedem apoio e nisso ele abre mão de certos princípios para perder os anéis e manter os dedos, o apoio às OS foi um. Mas o PT não esconde sua estratégia e pouco fica hoje em dia com discurso pra ocultá-la, o mesmo vale pras suas táticas. Não tem nenhum mistério ai, goste ou não delas, é esse o jogo, está dado.

É legítimo o PSOL combater isso, mas é hipócrita fazer isso partilhando de parte da estratégia e mesmo das táticas.  Qual a  real diferença estratégica do PSOL para o PT? Cês sabem? Nem o PSOL deve saber porque se recusa a fazer esse debate interno e defini-la preocupado com a intervenção na institucionalidade e montagem de máquinas e aparatos político eleitorais ao invés de construir o tal "partido necessário" que se auto-proclama. 


A Tática do PT  de usar aliança eleitoral para construir sue projeto estratégico muda de siglas e nem sempre com qualidade quando falamos das opções do PSOL que salvo rebelião interna para alavancar a candidatura Plínio faria aliança político eleitoral com o PV que sustentava o PSDB  em meio Brasil. Então chamar o PT de tucanos de bico vermelho é hipócrita quando o partido queria se aliar com tucanos auxiliares de bico verde. E a lógica de detonação dos canais A esquerda que foi feito no PT encontram eco na destruição da democracia interna no PSOL via burocratizações que levam à filiações estapafúrdias, golpes de executiva,etc.. Ou Paulo Pinheiro agora é o ápice do socialismo? Ele vem do Ex-
PPS base do PSDB e apoiador de César Maia e Denise Frossard, o PSOL acha que seus tucanos são melhores que o dos outros?


O PSOL tem um belo discurso de alternativa ao PT que a cada dia vai mais para a direita, mas suas práticas definem uma tática e uma estratégia política mais semelhantes do que diferentes do tão criticado PT.  

O que o PT faz é danoso, mas o PSOL repete tantas coisas que é quase palpável o dia em que o chamarão de tucanos de Bico solar.  É hora do discurso ficar parecido com as práticas ou seu eco será só o dos ouvintes murmurarem o quanto ele parece hipócrita.

sábado, 3 de setembro de 2011

A Copa do Mundo não é nossa!



Quando foi anunciado que a Copa do Mundo de 2014 seria realizada no Brasil e as Olimpíadas de 2016 no Rio as notícias foram saudadas como panaceia para a modernização do país e a ideia do “Brasil Grande”.Tudo daria certo e o barco do desenvolvimento nos permitia comprar mais geladeiras e participar de festa antes só possível em países ricos. Jornais e TVs avisavam que “agora” ia e estávamos rumo a um novo lugar no mundo e depois da copa de 2010 na África do Sul e da “democratização” da escolha das sedes dos megaeventos, havia chegado a nossa vez.

Esqueceram de avisar que os convites da festa são restritos. Os Megaeventos anunciados com pompa e circunstâncias pela mídia e governos escondem sob a máscara da festa o trator da especulação imobiliária, remoção e exclusão de pobres e seu lançamento para longe do centro urbano e com infraestrutura precária de transporte, saneamento, etc.

Esta reforma urbana compulsória e nunca é ligada às necessidades do povo é já ocorreu na África do Sul quando, segundo a Rede de Educação Cidadã, removeram mais de 20 mil famílias para regiões empobrecidas da cidade.

 Na Grécia o maior legado da Olimpíada de 2004 foi o aumento do passivo ambiental do país e ampliação da dívida pública de forma avassaladora, com o nada desprezível indício de ter sido uma das razões da enorme crise por que passa o país nos dias de hoje. E o modelo Grego parece ser o utilizado tanto na África do Sul quanto no Brasil, especialmente no Rio, hoje em dia, quando o financiamento de estádios e obras obedece a um foco que exclui benefícios sociais diretos em nome de opções discutíveis como o investimento em estádios em detrimento de hospitais e de investimentos na educação. 

Não à toa o Rio de Janeiro que gasta 30 milhões para sediar o sorteio dos grupos das eliminatórias da Copa do Mundo tem professores e Bombeiros em conflito com o Governo Estadual, com ambos tendo salários baixíssimos. Os professores, em greve, ganham por vezes menos que o salário mínimo e os Bombeiros têm o mais baixo salário do País.

E os governos ainda consideram as remoções como naturais, pois “A vida é assim”. Só no Rio podem atingir a cerca de 20 mil pessoas conforme o comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro sem que os governos digam a verdade sobre a quem as remoções servem. Segundo a observadora da ONU para assuntos de moradia, Raquel Rolnick, a realização de mega eventos traz consigo o desrespeito aos direitos humanos e encarecimento do preço da terra e com isso o aumento da especulação imobiliária.

Isso não é exclusivo do Rio de Janeiro, no Ceará o Governador Cid Gomes segue política de remoção semelhante à carioca em São Paulo as remoções atingem a população de Itaquera, local onde está sendo construído o estádio conhecido com “Isentão” dada a quantidade de isenções fiscais fornecidas aos seus proprietários.

Esse processo de junção dos Megaeventos com reforma urbana exclusiva e especulação é uma das faces do capitalismo que poucos dizem. Por trás dos Megaeventos existe uma rede de especulação internacional, que lucra, e muito, com a remoção dos pobres e valorização da terra, mesmo que isso amplia a bolha imobiliária que pode ser o calcanhar de Aquiles de nossa economia, como que uma continuação aqui do que ocorreu nos EUA a partir de 2007. 

Só no último ano o preço dos imóveis subiu cem torno de 25% no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, não coincidentemente as cidades são sedes da futura Copa do Mundo. Hoje um imóvel nestas cidades pode custar mais que em Nova Iorque e Miami. De 2008 até hoje o valor dos imóveis subiu 96% no Rio e em São Paulo e não coincidentemente o ritmo das remoções nas favelas e a criação de UPPs aumentaram.

É por isso que a copa do mundo não é nossa e vai nos retirar de nossas casas, nos impedir de ir aos jogos e deixar a economia cada vez mais frágil com aumento do desemprego e com prejuízo de hospitais e escolas cada vez piores. A única solução para isso é lutarmos para impedir que a Copa seja uma cortina de fumaça para ataques ao nosso povo, por isso é preciso ir às ruas e mostrar a cara suja dos eventos que só enriquecem os velhos e gordos cartolas e políticos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A guerra, as UPPs e Xanadu, o Paraíso perdido

Após o espetáculo de midia e público da ocupação do Alemão, com apoio quase incondicional de várias faixas da população, as UPPs ganharam mais que apoio, alcançaram o lugar da modernização do mito de Eldorado.

Sem querer ser chato e já sendo, a lógica da politica de segurança que culminou na mega operação do Alemão tem tantas pontas soltas que fica complicado bater bumbo e ficar feliz com o ocorrido. E não estou falando de "desvios" da corporação que se repetem há vários anos, basta lembrar de 2007, estou falando do todo da política de combate, de "guerra", apoiada numa visão da mídia que se apoia na exclusão e na criminalização como meio de angariar apoio baseado no medo.

 Não se pode reduzir o apoio populacional à ação da mídia, inclusive porque parte do apoio vem exatamente dos diretamente atingidos, os moradores das favelas, mas não se pode ignorar que o apio da classe média, que inclui os admiradores do Capitão nascimento e do body count do alheio, é fortemente ligado à visão de guerra ecoada por jornais e Tvs.

A cobertura da mídia inclusive continha "sustos" com traficantes com dinheiro construírem casas assemelhadas ao sonho de consumo da classe média, como se esse sonho, hegemonicamente estabelecido pela ideologia dominante na sociedade, onde o consumo e a posse de bens causam distinção das pessoas na sociedade, fosse restrito aos membros "legais" da sociedade capitalista e como se dinheiro e sonho só fossem permitido a quem "anda na linha" ou se grana tivesse pedigree.

Do outro lado, o lado onde a bala nem sempre é perdida, a população pobre dá um basta na manutenção de sua situação como vitima do ilegal, mesmo se ele for parceiro, e  se apoia na presença do estado, mesmo só de farda, exigindo com razão a permanência das forças de ocupação.

Este novo aspecto da coisa é que deve ser anotado e pensado, porque a população preferiu apoiar o estado que sempre lhe abandonou no medo e na carência de polícias sociais, entregue ás baratas e ao domínio dos traficantes. 

Nessa chuva de informações arrisco a dizer que o que garantiu o apoio da população da favela foi a possibilidade de um estado que chega sem ser só policial, e isso vem da política das UPPs. A possibilidade de uma polícia que respeita a população ganhou a idéia do medo duplo, do tráfico e do estado.

Esse avanço não pode ser ignorado, mas não pode ser tratado levianamente como um Xanadu moderno que a tudo resolve, porque não resolve. 

As UPPs até o momento são um brilhante caminho para a redução da criminalidade, mas por si só não garantem o estado na favela, como um todo, pela saúde, esporte, educação, cultura e respeito a cidadãos que não residem em apartamentos maneiros ou viviem uma atmosfera artificial de medo, mas o medo em si, medo da fome, da dor, do tráfico, da polícia, do desemprego e do futuro. Até hoje as UPPs instaladas tem problemas que vão desde a ausência do estado como um todo até o exagero do caráter de ocupação, quando os limites da invasão de privacidade, do direito de ir e vir e da repressão são ultrapassados por uma política de "sindico" das comunidades, politica essa oculta pela mídia, que só se interessa pelo aspecto "responsável' das lições de arte marcial, bailes de Quinze anos,etc.

A polícia pacificadora  funciona à perfeição na pacificação das regiões limítrofes às favelas, reduz o risco ao cidadão que recebe o estado em sua casa, mas não garante pleno direito às áreas ocupadas. Ao levar o mínimo a quem precisa do máximo, causa temporariamente a sensação de perfeição nas regiões ocupadas e a seu redor, mas não solucionam nem a longo prazo a ausência do estado e a marginalização das populações faveladas. É uma variação da política do bode na sala pras favelas e de salvaguarda do direito das classes médias ao ir e vir e consumir sem medo do assalto e da violência que o "descontrole" lhe dava.

O paraíso perdido retorna, mas com riscos  de ser ilusão ao se defrontar com problemas mais sérios e que podem ocorrer a curto prazo a partir de causas não resolvidas do problema: A ausencia de uma política de segurança consistente e duradoura que permita a redução da criminalidade para além do enfrentamento do varejo nas áreas de favela; A ausência de uma política de inteligencia que reduza o avanço do tráfico de drogas e armas no estado, atingindo não só a ponta do varejo, mas todo o sistema, inclusive seu financiamento; A impossibilidade momentânea de ocupação de todas as favelas do rio por UPPs, dado o problema de escala; A ausência de combate real às Milícias, outras formas de ocupação das regiões pobres pela ilegalidade; A ausência de um plano de ocupação cidadã que mude a lógica da relação entre população pobre, polícia e estado, com real formação de núcleos de integração das favelas ao asfalto, mudando a lógica histórica desta relação na cidade do Rio de Janeiro.

As UPPs são uma ótima idéia conduzia por um estado ainda refém de uma lógica de cidade que a parte em duas, que a mantém refém de uma visão onde a "segurança" é só minimizar o medo do asfalto e controlar as áreas pobres dentro de uma lógica de participação mínima e democracia limitada.

Hoje as UPPs são uma excelente forma de propaganda para a classe média "apavorada", muito mais com o que via na Tv do que com  que sofria na realidade e relaxada com novos "heróis" ocupando "aqueles lugares" que lhe davam pavor, e menos uma forma de participação ativa do Estado na vida de uma parte da população mantida sobre opressão multipla durante mais de um século.

Não é possível ignorar, é óbvio,que são um avanço, diante da lógica atávica de combate aos pobres, e redução de sua participação no dia a dia , mas não podem ser pensadas como panacéia sem que cumpram um papel de real demolição do muro que separa a cidade burguesa da cidade "quilombo".

Não podemos esquecer que  política de segurança das UPPs é a mesma que levou á necessidade do combate que custou à sociedade 45 vidas, contabilizadas até agora, pela opção do enfrentamento à possibilidade de estrangulamento financeiro e de uso da inteligencia e pelo levar até o limite a possibilidade de ataques pelas facções do tráfico a partir da redução de sue poder pelas UPPs.

Não podemos ignorar também que os ataques são cogitados pela Secretaria de segurança há meses, e tudo o que foi feito foi uma suspeita postura de espera, como se aguardando fatores que permitissem uma ação espetacular à feição de uma cobertura midiática acrítica e propagandística.

Enfim, são vários elementos a serem observados para que não criemos uma atmosfera de apoio a rambos modernos, que ignora falhas, abusos, como o de assaltos à membros da comunidade feitos por policiais, à mitos como o de eldorado e paremos de cobrar uma política de segurança ampla, segura, cidadã. Não podemos ignorar os avanços, mas não é seguro crer que a mesma política que nos deu a invasão do Alemão em 2007 se tornou uma política de segurança cidadã, séria e completamente justificada.


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

As UPPs e a cidade de Pereira Passos

Marcelo Freixo em entrevista recente ao Repórter de Crime de O Globo (Aqui) afirmou que "As UPPs são um projeto de cidade. Basta ver o mapa com os locais onde foram instaladas.  As UPPS precisam ser percebidas junto dos muros, da barreira acústica e das remoções".O nobre Parlamentar foi corretíssimo, não só pela avaliação do quadro atual, mas por ressaltar uma característica da cidade do Rio de Janeiro ao menos desde o início do Século XX com as reformas urbanas de Pereira Passos.

Gizlene Nader em seu artigo "Cidade, Identidade  e Exclusão Social" (aqui) afirma que: "As preocupações com o controle da massa de trabalhadores pobres revelam o medo branco, ainda presente (...)". Este medo branco persistente  se revelava em 1908 através de uma  política de controle das “classes perigosas”. Essas classes perigosas precisavam ter um espaço de trânsito controlado, serem vigiadas para que a "ordem" se manifestasse de forma absoluta, permitindo às Classes "bem nascidas" e "educadas"  a liberdade de ocupação da cidade, do melhor da cidade, com o mínimo de contato com o que consideram inferior. 

Esta idéia foi colocada em prática através das reformas urbanas de 1908 quando foi criado um cordão "sanitário" da Lapa até o Rio Comprido, evitndo a circulação das classes populares na slocalidades de moradia da Elite 

Alguma semelhança com as UPPs? Confome  entendemos sim! As UPPs  são a mais nova face d política de secessão urbana, feita através do controle rídigo de transito das classes pobres, tornando a polític de policiamento radical das áreas pobres uma forma de restrição de movimentos que torna as áreas ricas mais "seguras". 

O sacrifício da liberdade dos moradores das UPPs é considerado dano colateral aceitável diante da necessidade de afastar dos centros da elite qualquer forma de convivência com os males da cidade e com a população. Assim como foi aceitável o isolamento da violência nas comunidades periféricas mais pobres com o acirramento do preconceito da vinculação de pobre com o significado de bandido é aceitável manter  as mais próximas da riqueza afastadas de incursões violentas, com o tráfico desarmado, mas  castradas na liberdade de ir e vir, de conviver.

As UPPs são a evolução da cidade aburguesada de Pereira Passos, são a versão da redução da cidade quilombada a pequenas áreas sob controle rígido policial, enquanto a violência é afastada do centro pela periferização e aumento das milícias.A cidade de Pereira Passos dá lugar à cidade olímpica de Pereira Paes. É a modernização da exclusão do pobre.