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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Palavras, Palavras

Uma das coisas boas de militar é o sentimento  de pertencimento, de mudança, de ação para a tal transformação do  mundo. Um dos problemas da militância é  envolvimento que acaba por cegar, que  acaba por esquecer que há mais elementos  que o manual não prevê na coisinha mundo e que nem todo mundo tá nessa no entendimento da  mudança e da transformação como desejo e dever humano de dar-se ao mundo social como ator protagonista da história. Tem uma rapaziada que quer fazer carreira, quer ir pra Roliúde. E nem é problema isso, viver de política é tão legítimo quanto viver de sexo, de fazer pão ou de balconista de farmácia.

O mundo exige posturas e a tal realidade cobra-as, e cobra-as com uma percepção da tal coerência e isso é fundamental pra qualquer Juarez da vida saber e viver no dia a dia. Em caso de política a tal coerência  é o tal  fio de bigode que se transformou, pela mudança da tal tradição inventada de cada dia, em algo que podemos chamar de honra à "calça que veste", de não deixar o interlocutor "vendido", de saber que se não sabe brincar não brinca, ou na visão pleiba, não desce pro play.

No contexto atual da esquerda e de minha vida rolou uma crise no relacionamento entre o Militante, o Carioca e o Historiador. Os dois últimos tavam de saco cheio com o tempo perdido pelo Militante em causas que estavam nítidas que não rimavam lé com cré com a teoria do Historiador e mais ainda, ofendiam solenemente o tal orgulho do raivento Carioca que "não tem otário escrito na testa".

O Marxismo do Militante era de tal forma "adaptado' que fazia o historiador ficar puto com as acrobacias teóricas pra fazer o que este estuda caber no que o militante tinha de aceitar e defender como Marxismo em Partidos e causas. O Carioca ficava puto quando ouvia que tinham de levar "Consciência à classe trabalhadora" imaginando se ele tava maluco e o Rio tinha sido ocupado por zumbis do Romero e só ele não via. 

Nesse ínterim rolou uma reunião pra arrumar o esquizofrênico e quizumbeiro Ego e tudo deu certo na transformação do militante em serviçal dos demais. Assim o Gilson saiu dessa entendendo melhor a consciência da relação política das  rapaziadas chamadas por vezes de "classes trabalhadoras" por gente que mal a  entende ao ponto de chamá-las de "sem consciência". Saiu dessa pela leitura e a velha e boa empatia da discussão ,que vem depois da zoação clássica de um torcedor de time A sobre o do time B, ao entendimento de como é consciente e clara a relação da troca de voto por cimento, e como se dão as relações entre poderes, lideranças nas favelas, bairros,etc...

Nessa brincadeira chega a ser hilário chamar de "sem consciência" quem sabe exatamente como se dá sua relação de troca, invariavelmente existente em toda forma de relação de poder. E quem acha que tem consciência vive embananado em teorias pra justificar o injustificável  troca-troca cujo resultado palpável  ao ser dito tem menor chance de justificativa do que a laje construída pelo cimento trocado por voto.

Porque quem troca voto por cimento pra fazer sua laje tem menos consciência do quem apoia a troca de "Capital Político Diferenciado" pelo cálculo eleitoral imediato? O primeiro tem o cálculo claro da construção de sua laje, o segundo tem o calculo eleitoral volátil cuja unica segurança é a necessidade de justificar isso pro teor de seu programa político caber na manobra.

O Seu Juca quando troca seu voto por cimento sabe  que vai levar, sabe que o político nem sempre é seu aliado. Embora pela via das relações de parentesco e proximidade, até vizinhança, é mais fácil este político ser seu aliado do que o mauriçola "levador de consciência" que chega de vez em quando e nem uma quadra pras crianças faz.

O que ganha o PSOL quando troca seu capital político de "alternativa de esquerda" pelo voto e eleição de vereadores com aliança com o PV? Algo menor do que ganharia se se construísse como Partido, ganhasse lá na frente o status de alternativa e conquistasse cadeiras de vereadores com solidez e com uma política definida. Assim fez o... PT. O PT fez isso e depois fez suas alianças pragmáticas pra conquista do poder e ai está ele fazendo das suas com criticas e elogios aplicáveis aqui e ali, mas deixando como herança um capital político que ainda o mantém como topo da cadeia alimentar das opções da esquerda. Já o PSOL preferiu pegar e cortar a curva e tentar a malandragem do atalho. Só que não tem consciência que o seu Juca tem que em política não tem atalho.

O Seu Juca sabe o preço que vai pagar pelo cimento, inclusive público, pelo tribunal das ruas, da boca, da padaria, do boteco. O PT pagou e paga seus preços indo de "queridinho da América" a "Bandido Oficial". Terá consciência o PSOL do preço de uma aliança com o PV? Terão consciência seus militantes que a filiação do Paulo Pinheiro foi a cabecinha pra entrar a aliança e a perda que isso fará no Partido? Se não tem, terão quando ocorrer. 

Os organizadores e teóricos da aliança, que são Milton temer, Chico Alencar, Marcelo Freixo,  Janira Rocha, Jean Willys, entre outros, tem consciência e sabem quanto pagarão e quanto receberão  (não preciso dizer que isso é em capital político, não em grana,né?).  Se os militantes acham bom eu não sei, mas se acham devo lembrar que o nome Benedita da Silva tem algum sentido nessa trama e quando a beneditização ocorreu, no PT, atingiu exatamente quem urdiu agora seu retorno como farsa no PSOL.  

Não é interessante que quem sofreu com a Beneditização do PT a repita agora no PSOL? Será que a ideia pra eles era não construir uma alternativa ao PT, mas uma maquina própria que havia perdido no PT? Terão eles consciência? Seu Juca tem.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Solucionáticas?


No texto abaixo eu meto uns paus, faço umas críticas e reclamo de umas coisas, entendi que estava também incluindo algumas solucionáticas enrustidas no apontamento da problemática. Seguidor das leis de Rei Dadá esperava e entendia que alguns apontamentos incluídos sub repticiamente no texto ficariam claros, mas amigos bem sacadores não sacaram e resolvi escrever as propostas num “Que fazer?” caboclo meia boca.

Primeiramente acho que é bom explicar, embora seja óbvio, que de Lênin eu não tenho nem a careca. Segundamente não tenho experiencia forte em administração pública, ou seja, jamais atuei no poder então meus pitacos são especificamente de fora, cometendo obviamente deslizes no que foge à minha alçada.

As críticas que coloco relativas aos posicionamentos partidários são simples de esclarecer o que proponho: Fortalecimento das instancias internas com nucleação forte, nucleação de base com relações inter núcleos via plenárias regionais frequentes e com isso levantamento de questões à plenárias de direção que encaminhem diretrizes às executivas partidárias. O uso de um falso centralismo democrático travestido de colegiado de correntes e tendencias é golpe imediato na democracia interna de partidos como PT e PSOL.

O PSTU e PCB já partem do centralismo democrático clássico, críticas à parte sobre a existência ou não de burocratização neles, mas partidos como PSOL e PT se colocam como partidos de correntes de de núcleos, se você interrompe o oxigênio partidário com enfraquecimento dos núcleos você amplia a burocratização e mata o partido, ao menso a diversidade e se bobear sua inclinação socialista, ainda mais se a opção pelo eleitoralismo levar à filiação de grupos que nunca foram parte da esquerda, nem mesmo na proximidade pontual.

Pra sair da armadilha de comportamento olímpico com relação ao povo sem uma relação direta de convencimento acredito que o primeiro momento é abandonar a ideia da população não ter consciência e ir no caminho antropológico de “etnografia”, ou seja, viver com a população e dialogar, colocar as ideias no pano, ver qualé, passear pelos locais, discutir, interagir e sim, ser convencido também. Atividades e pesquisa são fundamentais, entender a dimensão das relações sociais e de parentesco nas comunidades idem, entender o que significa honra, palavra, dádiva,etc, mais ainda.

É fundamental desconstruir a ideia de povo como algo dado e cuja definição de Marx é tomada como regra e não o como Marx chegou a esta definição. Nada é menos materialista do que pegar uma ideia construída fora do dia a dia político brasileiro como fundamento para análises nossas. E mesmo em muitas análises feitas por brasileiros a ideia de povo é tomada via “bancada”, ou seja, o povo é visto do alto de uma análise de classe média/alta ou mais ainda mesmo quando vista in loco trabalhada com o arquétipo de povo. Sem contar que devíamos escrever “povo” dada a diversidade do que significa esta categoria.



De que povo estamos falando? Como ele respira, ouve, lê, anda, fala? Tem sotaque? Que sotaque? De onde vem esse sotaque? Como são as relações de gênero deste povo? Como são as relações entre fenótipos diferentes? Como são suas construções? Como eles veem e querem suas casas , ruas, escolas, trabalho, sexo, música? São perguntas abertas, e é óbvio que são feitas também da “bancada”, porque as perguntas mudam de acordo com o campo. É preciso que a “prática como critério da verdade” seja algo além de um discurso e algo além de pesquisas quantitativas e observação abertas, cheias de estereótipos de uma população variada país afora. É preciso abandonar o anti-intelectualismo e o medo da ciência e largar de mão dogmas pseudocientíficos e filosóficos que por vezes travam e são atualizados até mesmo dentro das tradição ideológicas por outras formas de abordagem do real. 


É preciso para nossas relações políticas irmos além do aparato e arcabouço puramente ideológico e acrescentar a ele o que se produz como ciência. Dessa forma talvez tenhamos menos comunistas com elitismo cultura ou machistas. Talvez com isso tenhamos menso comunistas que tem um belo discurso, mas reproduzem os mesmos preconceitos culturais, de gênero e raça que dizem combater.


Não precisamos gostar de funk ou de ruas apertadas ou de pagode ruim, ou de letras de música dizendo que a mulher tem de chupar pirocas pras entender que isso é sim culturas e é tão legítima e válida quanto Chico Buarque. E é preciso menos moralismo cultural, menos rotulação sobre como deve ou nãos e comportar o diferente.

Muitas vezes lemos que o que diz a Tati Quebra Barraco é reforço no machismo, mas é mesmo? Lá no ambiente onde foi construído grito da Tati é reforço ao machismo ou ofende o machismo local? Aposto na segunda opção. A mulher dizer claramente que faz sexo como quer e não é vagabunda é como queimar sutiãs naquele ambiente. Podemos discutir o quanto isso na nossa concepção de comportamento é reprodução e nessa viagem inter grupos sociais como o conceito exposto pela Tati é por nós entendido, mas antes de usar esse entendimento para explicar universalmente o significado da música convém ir lá e ver in loco como essa música funciona na cabeça de quem fez e de quem ouve primeiramente, antes da viagem da favela pras boites da zona sul carioca.

Comunista que chama funk de sub música tá numa redoma, e pior, reproduz um preconceito que diz que música é apenas uma música aprovada pelas classes dominantes, cujo gosto foi assumindo pelas classes médias. No início do século XX essa sub música, também originada fora do país, era o samba. Nas décadas de 1950 a 1970, iniciozinho, essa sub música era o rock.

Da mesma forma é preciso ações de conquista de diálogo horizontal como uma juventude que anda por ai doida por um 15-M tupiniquim. E acredito que do mesmo jeito da relação com o “povo” é preciso entender que rapaziada é essa. É preciso entender que determinadas construções da forma partido cuja horizontalização e trajetória das discussões e processos decisórios é interrompida são o fim da picada pra uma multidão de pessoas que estão expostas à fragmentação da comunicação n cotidiano chamada Internet. E essa fragmentação não é quebra, é diversidade, é polifonia, a ideia de síntese, cujas discussões determinam um ponto de convergência pode estar sendo substituída na prática pela ideia de polifonia, onde todos os grupos e desejos se materializam na ação direta, onde não é preciso esperar a revolução pra discutir o problema de gênero, por exemplo.

Há problemas nas manifestação espontâneas de Madri ao Cairo, na primavera árabe e na rebeldia europeia? Claro, e esses problemas são menso da diversidade e mais da ausência de organicidade. Essa organicidade não significa que todos tem de empunhar a mesma bandeira, mas talvez da organização dessas diversas lutas no sentido de também derrubar o inimigo. Não necessariamente focar numa bandeira única, mas ampliar as lutas diversas, todas nas ruas, todas com solidariedade mútua e todos sufocando o inimigo numa batalha em várias frentes, mas ao mesmo tempo agora.

Para combater a crise da esquerda é preciso antes de mais nada entender o “público alvo”, depois entender que estamos em crise e perder o saudosismo da unidade perdida. A partir desses passos talvez tenhamos muito mais ganho do que estamos tendo e podemos enfrentar a ideia do estado à nossa frente, inimigo ainda, e também do governo que deve sim ser pressionado para a realização dos desejos desse “público”.

Com isso talvez a esquerda possa ir além do que está sendo feito. Um exemplo é a luta pelos 10% do PIB para a educação, fundamental, mas que para na luta por verbas e que pode e deve usar as mais diversas experiencias de esquerda para a educação, da “Escola do Aluno Caminhador” à “Escola Possível” de Miguel Arroyo, iniciativas que partiam da realidade do aluno para construir um processo educacional que minimizasse a violência da “socialização” via educação. Paulo Freire tá aí pra isso.

Será que a escola que queremos é só a escola com 10% do PIB pra educação? Como é o professor na escola que queremos? Como é o aluno? A educação já é um assunto tão periférico, cuja importância merecia aspas, pois fica mais no discurso do que na prática de entendimento crítico de seu papel, porque os profissionais da educação não levam pra rua o papo sobre a escola onde estudam os filhos da sociedade? Porque nós os lutadores não vamos pra rua pressionando a sociedade a entender o que ela está fazendo apoiando bravamente a luta de bombeiros e ignorando a luta dos professores de seus filhos, que são tão massacrados e proletarizados quanto os vermelhinhos e tão vítimas quanto os alunos de uma escola que deforma, que humilha, que entedia e que destrói o indivíduo o tornando em geral um mero repetidor? Qual o medo e ir além do econômico e também repensar publicamente e em conjunto com a sociedade o próprio sistema de educação? Será que enfrentar o pai da criança, que foi aluno da mesma escola deformadora e por isso também tem uma péssima ideia do professor como inútil é tão difícil?

Além disso, que governo queremos para nós? É apenas um governo bacaninha que faz o “bem pro povo” ou é um governo que amplie a imersão do “povo” nos processos decisórios? Cadê a ideia do Orçamento participativo e sua adaptação para meios de interferência popular direta e embate político constante na sociedade que seja federal? E que estado queremos? É esse ai adaptado ou outro? O Outro mundo possível é um mundo velho com Botox?

Enfim, na busca pela solucionática acabei criando outras problemáticas e nem paro no ar que nem beija-flor.

Algumas sugestões estão ai e podemos sim avançar a partir delas, indo além do discurso, colocando o assunto à baila e na prática. Talvez com isso comecemos a disputar a hegemonia das consciências coma direita, sem levar luz, sem tentar pagar de “orientador”, mas debatendo e discutindo, colocando soluções práticas, debatendo soluções práticas, de baixo pra cima, à esquerda de quem entra.