Mostrando postagens com marcador Futebol. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Futebol. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 29 de maio de 2012

A esquerda odeia futebol

A esquerda não joga bola.

Sim, a esquerda odeia futebol. Ela o declara diariamente, ela diz todo dia, toda hora: , "é o 'ópio do povo'". Ela o culpa pelo estádio ser construído de forma sacana pelos governos e entregue à iniciativa privada depois. É clara a culpa, é do Futebol. O futebol, quando aceito, tem de ser o Futebol "antigo" e não o "moderno", ignorando que o futebol é moderno por excelência, como a arte moderna, como o rock ou a coca-cola. 

O Futebol, senhores, é filho dileto do capitalismo. Não tem choro nem vela, negada! A bola é da modernidade! O futebol é peão de fábrica!

Quando Marx escrevia o velho "Das Capital", boleiros ingleses e Alemães batiam sua pelada antes de irem pro sindicato, se bobear com o velho Karl bizoiando.

O negócio é que para a esquerda o espantalho simplista é uma necessidade. Pra que lidar com o fato do proletário ir com fome ver o Mengão, o Flusão, o Timão, o Porco ou o Bambi batendo sua bola nas tardes de domingo, explicar o fato, lê-lo como parte da vida, lê-lo como alimento da alma de comunistas e fascistas, de homofóbicos, machistas, feministas e libertários? 

Pra que pensar nele como um elemento de mais que lazer, mas de adaptação de diversos fatores culturais e de diversas culturas diferentes? 

Pra que pensar no futebol como um fenômeno que consegue agrupar Turcos que fazem lembrar rivalidades da idade média entre torcidas de corrida de biga; Brasileiros que parecem fazer um mix de rituais antropofágicos indígena com procissão religiosa portuguesa e pitadas de capoeira, samba, tarantela, quibe e cachaça; Alemães, Italianos, Ingleses, Angolanos, Egípcios, Sauditas, Iraquianos, Chineses, Japoneses?

Pra que fazer isso se posso reduzir o futebol ou ao "ópio do povo" ou a um fruto proibido da árvore da vida da pureza popular roubado por mãos capitalistas esfaimadas?


E ai é que está.. A esquerda não sabe ir além do esquemático, da equação mais simplista baseada de forma longínqua no marxismo mais reles. E ai pega o Futebol, que leva mais gente no estádio do que a esquerda consegue convencer a ir na assembléia e o elege como vilão. Fez isso com o Samba e faz com o Funk também. 

O Futebol tem uma longa família de "ópios do povo" a ele irmanados no preconceito e na estranha sensação de que no fundo a esquerda tem medo do povo, de entender o povo para fora do manual prático do leninista fornecido no PC mais próximo, emulado pelos trotkistas e às vezes por anarquistas que constroem suas ilhas de autonomia, suas ilhas da fantasia externa ao mundo real que domingo vai no maracanã.

O Futebol, o Funk,  e por vezes o Samba, são ofensas a uma Esquerda criada, gerada, alimentada pela ideia de que "é preciso evoluir" , é preciso sair da "ignorância da pobreza". São ofensas porque esta esquerda busca que o "novo homem" seja uma imagem e semelhança de sua visão, de sua educação, de  seu modus operandi. 

O "novo homem" da esquerda é o velho pequeno burguês janota que ouve Chico Buarque e tem nojod e Michel Teló... Enquanto isso o povo...

A esquerda não joga bola, a esquerda não ouve funk, a esquerda às vezes não gosta de samba, talvez seja doente do pé ou ruim da cabeça.

O papel do futebol no dia a dia das pessoas, que utilizam-no inclusive para enfileirar metáforas utilizando seus termos, como "embolou o meio de campo" ou "não vou ficar no zero a zero", é solenemente ignorada por uma esquerda que se coloca como defensora do povo, e como quem luta por interesses "populares", mas de que povo estamos falando?

A esquerda não leninista diz que luta contra um "futebol Moderno" que "rouba a essência do futebol", mas como ela trabalha com o fato de toda a construção do Futebol no Brasil, por exemplo, ter sido feita em seu germe da mesma elite que levou seu ethos às torcidas que até hoje repetem mantras emitidos pela nata da sociedade que fundou Fluminense, Corinthians, Palmeiras, Flamengo? Como se funda um novo futebol "lúdico" em um mundo capitalista sem notar que o futebol é tão filho dele quanto a linha de montagem? E que "essência do futebol" é essa? Tem fadinha sininho?

O que faz o futebol ser esse fenômeno? Quem o compartilha? Como se dá o torcer? Como se dá a filiação a um time? Por que ele é popular? A Esquerda se pergunta isso ou prefere criar fábulas, contos da carochinha ditas seriamente, com a sisudez bolchevique que transforma piadas em atos solenes, e a pasmaceira do monólito vivo de 1917 em uma pedra fundamental de papelão, cenográfica? Aposto na segunda pergunta.

Ignorar que o futebol é popular, tem raízes profundas nas diversas nações. culturas e populações é miopia grave, especialmente para quem se reivindica marxista e alinhado a uma avaliação do concreto que lida com o real de forma dialética e nunca construtora de monólitos teóricos imutáveis.

Falar em nome de um povo que ama futebol sem sabê-lo e torná-lo um opiáceo pra esse povo é só burrice mesmo.

A esquerda não usa óculos.








sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sem Fantasia

Ontem a primeira mulher a presidir o país, chamada de "A Cara" pelos apoiadores mais ufanistas do longo governo Lula/Dilma, controlado pelo PT e pela coligação mais ampla desde a criação da torcida do Flamengo, disse que "Pessoas contrárias a hidrelétricas na Amazônia vivem 'fantasia'". Ela disse isso para defender Belo Monte, aquela mesmo, onde o povo em greve foi ameaçado, tem sido demitido, onde os índios viraram nômades nas línguas de uma claque virtual de apoio irrestrito,etc. 

No mesmo dia surge a notícia da morte de mais uma trabalhadora rural para entrar no rol dos mártires Chico Mendes, irmã Dorothy, Ze Claudio e Maria, 19 trabalhadores do MST mortos em Eldorado e reecoar nos ouvidos ogros a belíssima e triste Saga da Amazônia de Vital Farias e causando mais e mais desilusão em um mundo cada vez menos afim de algum tipo de papo, conversa e avanço. 

Sempre fantasiei muito, sempre, sempre fui utópico e sempre perdi muito mais do que venci nas lutas cotidianas, ditas políticas. E também acho que contribui com meu radicalismo agressivo, apaixonado e meio surdo pro naipe de debate político, e diria social, onde tudo se parece com discussões de colégio onde o mais macho tem a maior pica argumentativa. 

Confesso que ando cansado disso, que ando cansado de perder meu tempo criando uma rede de argumentos, linhas, versos, sons, cores, imagens e vê-las transformadas em um muro de impedimentos, em um muro de silêncio gargalhado como escárnio. Confesso que a cada vez o homem "intelectual" se parece menos com o que nasci achando que era e mais com um sujeito arrogante, grosso, tosco, tolo, burro e em geral analfabeto funcional.

Dói saber que a gente lendo pode ficar assim e dói , e isso é uma auto-crítica, perceber que minha impaciência é também uma parte disso.

Não sei não sentir, não ter raiva, não me envolver ao sangue, não ferver. Não sei não emputecer ao ver que toda a história criada, contada e argumentada pode ser apenas um alvo de uma cusparada verbal, ignorada, mijada pela arrogância de gente que por algum pedaço da História que perdi acaba de entrar num rumo de leitura do mundo que me ofende por calar o diverso e reduzi-lo a lixo. Eu, que não sei debater, prefiro ir embora, prefiro silenciar, bloquear o acesso deles a mim.E talvez me perder como arma de convencimento, mas me ganhar como leitor isolado do mundo e partilhador do que vejo, e por vezes mal e porcamente.

Acho que só sei dar aula, falar , tentar raciocinar junto. Acho que vivo sim numa fantasia onde o que eu digo pode mudar as pessoas e talvez o mundo. Acho que vivo numa fantasia onde não sei competir politicamente, sou fraco, sou um raivento tolo que ainda tenta ser humano numa disputa onde o coração foi jogado às traças.

Eu, e talvez uns outros ai que ficam se questionando como machistas quando percebem que são conservadores depois de milênios se achando a última bolacha do pacote por apoiar feminismos e a luta lgbtt, somos anacrônicos, espécimes raras e em vias de extinção. Não, não somos especiais, talvez sejamos fracos. 

Nos questionamos e urramos e doemos e somos incompetentes e temos crises e apanhamos e crescemos e temos medo de morrer e de perder o amor, não servimos. Gritamos quando todos estão frios, somos obsoletos.

Não sei ver gente sofrer e ficar calmo. Não sei ver quem oprime ou usa a opressão como arma pra seu sucesso pessoal ou de sua ideia achar graça de argumentos sobre o como foi construído sua "hegemonia", e isso nem é o problema, o problema é que não sei mais o que fazer.

Ai vemos pessoas, inclusive muitas que outrora estavam do mesmo lado, sofrendo as mesmas dores, sofrendo as pancadas das polícias nas privatizações, defendendo uma presidente que chama gente que estuda anos a questão das hidrelétricas, engenheiros, militantes, indigenistas, antropólogos, estudantes, tudo isso e a mim, de "viventes em fantasia". Da mesma forma quando você discute que o dinheiro da Televisão priorizando Flamengo e Corinthians é uma criação de desigualdade e inclusive a transmissão dos jogos a reforçam e vê seu argumento tratado de "Argumento fraco e choro porque seu time tem trauma do meu". Ou quando você fala da questão do aborto e depois de linhas e linhas lê "Você só falou do direito da mulher, mas e do feto?".

Não sei o que fazer. Não sei para onde ir além do mundo dos arquivos e jornais velhos pra falar da escravidão ou da Coluna Prestes ou da história do Futebol, me perder na academia falando do mundo que escolhi falar, da fantasia que abracei. Me declaro derrotado.

Me declaro derrotado por não saber mais falar de futebol com mais do que um circulo pequeno, porque não sei falar de política com o adverso sem enlouquecer de raiva, porque prefiro as pessoas mais simples da padaria do que os "companheiros" acadêmicos que rasgam suas cátedras ao assumir o papel do mesmo celerado a soldo de governos e partidos ou do torcedor maluco da geral perdida.

Me declaro derrotado porque me interessa menos convencer o seu Juca da Padaria a votar em A ou B ou a pensar em A ou B, do que simplesmente conviver com ele e rir dele e com ele.

Me interessa mais falar do meu futebol preferido com quem consegue ver além do gol do Deivid perdido ou da contusão do Deco do que ir pra selva dos argumentos abaixo da linha da cintura. 

Não sou durão, talvez nem seja ogro mais, talvez seja apenas um fraco, cuja sensibilidade cansou de reagir com urros e mordidas a um mundo cada vez mais imbecil. Me declaro derrotado e alheio a este mundo sem fantasia e perdido na fantasia da mulher que amo um dia me beijando quando eu passar em um concurso.

Não sei mais ver o mundo sem voar, me desculpem. Não vou fazer deste blog um lugar onde a realidade da Dilma seja a única forma possível de existência.


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Velho, violento e homofóbico esporte bretão

Richarlyson é bom jogador. Volante duro, marcador implacável, boa saída de bola, alguma ausência de  noção pra perceber os limites de sua habilidade, mas uma seriedade imensa. Richarlyson foi convocado algumas vezes para a seleção Brasileira pelo técnico Dunga, foi tri-campeão Brasileiro pelo São Paulo (único time que o fez de forma consecutiva) e foi muitas  vezes parte da seleção do Campeonato Brasileiro sendo em geral companheiro de Hernanes, outro talentoso volante hoje na Lazio de Roma.


Richarlyson, hoje no Clube Atlético Mineiro, o famoso Galo, de Belo Horizonte, é o que considero um atleta, e um atleta que chegou ao auge de sua carreira, tanto em títulos, quanto pelo fato de ter jogado em grandes clubes e ter uma carreira consolidada no mercado. Richarlyson também é filho de Lela, ídolo da  década de 1980 do Coritiba, e irmão de Alecsandro, centroavante que joga no Vasco.

Richarlyson tem muitas vertentes de análise de sua existência no mundo, porém ele é lembrado quase sempre como gay, embora jamais tenha se declarado como tal. Seja pelas torcidas, organizadas ou não, seja pela imprensa, a sugestão da homossexualidade de Richarlyson é um fato, um notório e repetitivo fato, que nos lembra a cada segundo a homofobia no esporte, em especial  no velho e violento esporte bretão.

O atleta em si, sua qualificação, seus títulos, suas convocações são menores que a sombra de sua virtual homossexualidade, ao ponto de uma possibilidade de sua contratação pelo Palmeiras ter gerado em parte da torcida um movimento que inclusive produziu uma faixa cuja frase "A homofobia veste verde" revela um orgulho da estupidez que até impressiona.

Não raro esta lógica é fruto do comportamento "masculinizante" radical do futebol, como se a "masculinidade" fosse hetero e masculina, e só. A energia necessária para a ação esportiva é , na cabeça de mula dos "machões", restrita ao macho hétero, os demais são fracos. Mulher no futebol? Anátema! Gay? não pode, não dá! 

Mas dá, dão e dão muito.  A própria lógica de concentração de homens em um mesmo espaço é margem óbvia e lógica do surgimento de amores, paixões, flertes, da supressão da lógica limitadora da sexualidade a partir de formatos rígidos, e não faltam histórias a respeito seja na bola, seja no exército ou em  mosteiros,né? Precisa desenhar? A própria idéia das masculinas torcidas organizadas, mesmo com a presença de namoradas, acabam por reproduzir a partir da estética marombada sem camisa a estética gay do corpo do homem como supra sumo da beleza mangalarga marchador.

E é a partir dai que a necessidade atávica do repetir ad infinitum que ali só tem macho se torna lei e se torna  homofobia e reação agressiva a idéia de um gay ser um atleta competente, duro, forte em uma posição que exige cojones e senso de porrada. Porque ali a masculinidade imensa do gay se torna reveladora. E um gay revelar que por trás de cada macho tatuado sem camisa pode ter mais um membro da arte dá nó em cucamonga.

A própria rejeição ao futebol feminino passa pela consideração de que se mulher pode entrar no jogo duro em que lugar fica meu corpo malhado machão que abraça o marombado ao lado?

A homofobia na bola, o recurso à macheza como forma de diferenciação entre torcedores, a recusa ao gay e á mulher, tudo isso é reação ao medo da complexidade do corpo e da relação dos limites de sexualidade em um campo como o esporte onde o corpo exposto é mote, ali, em ação, expondo o suor, o esforço, a rigidez, o tesão mesmo.  Ao ver um corpo másculo em ação, revelando enrustimentos, o marombado cria uma barreira de proteção ao fiofó piscante e torna o que é apenas uma reação física em um problema.

Um problema criado no medo de que o ver, o sentir e o reagir se torna permanente, se torne "desvio". O que é apenas sentido, vira tesão e o tesão vira recalque.

Por isso Richarlyson é um problema, um problema dos bons, um problema volantão porrador que sabe sair com a bola e usa calças justas e brincos.

Richarlyson e a libertação do invólucro do marombado.

Isso nem a bola marca.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Vou sacudir, eu vou zoar toda a cidade...

Carnaval e Futebol volta e meia sussurram por goelas canhotas, e canhestras, como "ópio do povo". Ficam ali no elitômetro intelectual marxotário tal e qual a namorada pobre do mauriçola, que saca das coisas sem diploma, beija bem, manda bem, é boa de papo, mas não fez Socila.

Deu mole e vem uma longa e estranha conversinha amarrotada em botecos de origem duvidosa a respeito da "alienação" do samba e do futebol, esta conspiração da CIA tão bem feita que começa antes do Império do Mal virar gente.  Aquele jogo maroto, camisa de time, cervejinha antes? Ópio do Povo. Bloco de carnaval, chuva, suor, cerveja, mulatas marotas? Ópio do Povo. 

Já teve pregação querendo trocar o Carnaval por Dostoiévski, e tome baile!

A lógica da redução da cultura a seus filtros estéticos de cunho elitista ganha um adendo marxeteiro nada moleque, mas muito mecânico, que faz que vai e não vai, mas acaba fondo. Primeiro porque a rapaziada pelo jeito anda lendo orelha demais de livro e menos o conteúdo, porque tirar frases de contexto em  geral é obsessão do Ministério do Vai dar Merda, criado pelo Mega Guru Chico Buarque. Segundo porque o conceito estético do Carnaval reduzido a uma mistura de nojinho da desordem com afetação bibliófila em geral é coisa de quem é ruim da cabeça e doente do pé.



Não gostar é direito constitucional! Não gostar de muvuca, calor, samba, mulher, homem, bloco, escola de samba, cerveja, bola, jogo, estádio, é estranho, mas é constitucional e válido. Fingir que não vê o que é, o tamanho disso sob o ponto de vista histórico-cultural e ,porque não, político, é um tanto quanto problema de vista.

Especialmente no país de nosotros, em que três das capitais de estados importantes param completamente para sacudir o esqueleto movimentando economia em tantos níveis que dá até vergonha de citar. Esse fator por si só era coisa de parar de afrescalhamento teórico e tentar entender. Fora isso é de se considerar que nunca teve revolução na nada carnavalesca Suécia, ou seja, o carnaval se não ajuda na revolução também não atrapalha. 

Futebol? Minha nossa! além de mexer com a cultura Brasileña ao ponto de expressões idiomáticas vinculadas ao mesmo, como "embolou o meio de campo", serem de uso correntes até pra não amantes do ludopédio, é parte integrante da vida política a tal ponto de existirem membros em todas as correntes ideológicas amantes do dito cujo, fora a possibilidade levantada pelas organizações de torcedores como parte dos movimentos de libertação da Primavera árabe.

Pra completar, ambas as manifestações são de tal forma entranhada na construção da identidade do país, em sua imensa diversidade, que fica-se pensando se não rola uma vontade inconsciente de importar parte do povo da Áustria e mandar essa plebe ignara alienada e sambante, com camisa de time, pra torrar na Palestina. A súbita ojeriza coletiva ao balacobaco é sempre acompanhada por uma sugestão de leitura, por uma indicação de vinho e por uma busca do Escargot perdido.
É nessa que eu vou na pergunta: A rapaziada quer mesmo mudar o mundo ou só paga de revolução porque as  mina pira?

Sem povo não se chupa nem um Chicabon.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Futebol e democratização da mídia

 O futebol é estranhamente tratado como coadjuvante nas pautas jornaleiras no que ele tem de político, não internamente, mas na relação entre o esporte mais amado do país e o poder real, aquele que usa faixas, e o poder da hegemonia cultural, especialmente na relação da mídia com a comunicação democrática.

 Esse papel de coadjuvante dado a algo que culturalmente marca percepções da realidade, jargões, ditos, e em que a população em peso tem algum tipo de posicionamento, para o bem ou para o mal, é algo que surprende, ainda mais quando parte do aparato midiático o trata como "apenas um jogo", como algo que sai da "seriedade" e é "pra se divertir". O futebol, é café com leite, primo das novelas e do cinema, é tratado como algo que é apenas um show. Tal percepção não é uma limitação intelectual, mas um desprezo solene pela determinação popular da importância do esporte em suas vidas e pela rede de relações que o esporte tem nos meandros políticos oficiais, e sua importância na manutenção de impérios de comunicação, como eixo de poderio que obviamente influencia nos usos e costumes destes impérios e sua influencia em outras áreas.

 O futebol elege pessoas, mantém uma importante parte da economia, gera receita, gera com uma grande capilaridade uma teia de membros que formam maiorias, bancadas e tem poder de influencia direta em votações no congresso, na geração de receitas para empreiteiras, ainda mais em período próximo a mega-eventos esportivos,  e outras áreas da economia. O futebol é um grande negócio, e pai de vários grandes negócios. A relação da mídia, especialmente televisiva, como futebol é diretamente ligada a estes grandes negócios, mas também se relaciona com o tamanho do poder de influencia das redes determinado pela concentração de audiência e pela tradição de transmissão esportiva como meio de manutenção desta audiência. Este segredo de tostines guarda uma relação de ganho de poder e de concentração de mídia, que paulatinamente se transforma no domínio da Globo sobre o esporte a ponto de determinar que sua programação é determinante dos horários de jogos, em uma inversão de valores onde o conforto e o direito de milhares de pessoas são inferiores às necessidades de transmissão pela primadona.

 A possibilidade da grande Vênus Platinada tomar um olé e perder o direito de transmissão do campeonato Brasileiro não é  algo que afeta apenas o esporte, o horário dos jogos ou a relação de poder entre os clubes e a CBF, amiga íntima da Globo, mas que abala mais que isso, abala a relação comercial da Vênus com diversos grandes negócios relacionados com o futebol, causa um terremoto no poder da emissora e a leva a outro patamar na busca pela manutenção da audiência, e isso afeta o poder de influencia, fora o financiamento da máquina da rede. 

A perda dos direitos por parte da Globo abre uma brecha para um ganho de democratização na mídia, pois regulamenta em parte , distribui o poder das redes, reduzindo a concentração de audiência e os plenos poderes da Vênus sobre não só o esporte, mas sobre o que se discute no dia a dia, o que é ou não notícia, pois a audiência vai ter de ser reconquistada e com força e isso não se faz apenas com filmes, dado o peso que o futebol tem na cultura, no dia a dia do brasileiro.

 Por essas e outras que a CBF mexeu-se e ataca a união dos clubes no clube dos 13, já abalada pelas peraltices de seus cartolas, através de medidas de agrado a clube a ou b, como os reconhecimentos dos títulos de antes de 1971 e agora do título do Flamengo em 1987, títulos esses que parece que precisavam de reconhecimento cartorial, quando o histórico bastava. A ação da CBF é um meio de pressionar para que não se rompa o eixo de contratos firmados entre os clubes e a Vênus, aliada da Confederação em obscuros negócios e assuntos, e impeça o surgimento de outro player de peso na área, que possa fortalecer os clubes ao ponto destes não necessitarem mais beijar as mãos do Capo di tutti capi Teixeira...

O peso do "coadjuvante" futebol nos negócios, audiências e infraestrutura política é algo fundamental para entender como o "Jogo", o "divertimento", tem uma importância superior à sua redução à uma paixão "leve". Entender o quão influencia no peso das pautas jornalísticas das emissoras, e com isso na audiência às idéias defendidas por emissora A ou B, é fundamental, assim como entender a importância comercial para as emissoras e a importância de barrar movimentos de maior independência dos clubes é necessário para manter uma rede de relações políticas que vão além da manutenção do poder da rede e da cartolagem, e se relacionam diretamente com outros interesses, interesses esses que elegem pessoa,s formam bancadas,etc..

 A democratização da mídia hoje pode passar pelo futebol, por isso que o Imperador Teixeira se une à Globo e suas ações fomentam uma divisão que poderia enfraquecer ambos. É a união de forças para impedir abalos na carcomida estrutura.
 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fofocalismo, Futebusiness e Boatolítica

 Chamar de jornalismo o que é feito em política e futebol é como chamar de música o que é tocado em banda militar. Com o perdão da repaginada piada de Groucho Marx sem a mesma qualidade, a idéia de jornalismo como apuração de fatos ganha novo significado com a mistura deste com o Showrnalismo (Valeu, mestre Arbex!) e com o Fofoconalismo, mais presente no futebol, criando a análise Boatolítica.

A cobertura de todas as áreas do jornalismo, talvez com ressalvas ao jornalismo economico, é de um nível de desprezo pela inteligencia do leitor que eu vou te contar. Jornalista não apura mais, ele pega uma informação crua e publica, com os Blogs isso ficou mais claro. Jornalista esportivo pega um perfil fake do Twitter e queima um jogador contundido, outro diz que dizem que viram um outro jogador bebendo e surfando e publicam, uma "analista", que tá mais pra canalhista,  diz que o Governo dá dinheiro pra publicidade em blogs vinculados ao partido da presidenta e é desmentido com informações que são de livre acesso na SECOM e ninguém diz nada, uns dizem que é fato que "acontecerão medidas impopulares" criando o divertido momento de criação da categoria "Fato Futuro". E por aí vai...
Aquele tal jornalismo que eu curtia ler com Mino Carta, Gaspari, Márcio Moreira Alves, e tantos outros por aí que davam notícia, e com seriedade, até no futebol com o Oldemário Touguinhó dando furo, investigando, correndo atrás, o PVC analisando taticamente, cobrindo clubes mesmo estando no colunismo e dando furos, investigando antes de publicar, Mauro César Pereira, Rodrigo Vianna na Política, Azenha e por aí vai, morreu assassinado por uma lógica que curte mais corrigir português, na linha de professores pasquales que nem sempre conhecem tanto quanto acham, do que fazer o básico da área: Pesquisar, investigar.

Mas pra que? Informação é dada como novela, como se o publico não precisasse da informação, mas da adrenalina da notícias, esta coisas que deixou de ser informação e virou isca de peixe. A busca da informação de impacto foi substituída pelo impacto e só.

Na ânsia do Entretenimento pela informação a galera paga mico atrás de mico, na festinha Globológica de sorrisos e amizades com as fontes e vai na farra da desmoralização da profissão de jornalista. No Futebol temsdo a figura do Personal Jornalismo, na Política a Boatologia Especializada por cientistas políticos que não leram os clássicos, na cultura a jabazificação da análise...

Enfim o fofocalismo boatista só melhorará quando a informação for passada por um viés democrático, que só a tomada dos meios de comunicação pela população e a diversificação de fontes for uma arma. A internet, ainda livre, é um meio de mantermos isso e ampliarmos. Lutar pela liberdade de comunicação e democratização horizontal é um meio de devolvermos à informação seu status de conhecimento e não de balangandã no pescoço da indústria que a vende como show e não como notícia.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Futebol playboy, vulgo "Moderno".

A modernização do futebol, que gera discussões que vão desde a elitização do público ao futebol entretenimento, com criação de estrelas que parecem artistas globais hollywoodianos, é também a abertura de novos mercados, na sanha de globalizar um produto que a todos encanta, e a muitos ajuda a faturar mais do que  se encontra normalmente. As escolhas de Catar e Rússia para sedes de copa do mundo não são fatos isolados da construção de estádios ditos arenas, com poltronas no lugar de assentos de arquibancada, diminuição de público, aumento do preço dos ingressos, transformação do estáido numa grande sala de estar pro público cde classe média consumidor de pay per views, são fatos primos, irmãos.

O grande poder da Fifa é o poder da grana, é o poder da modernização excluysiva, com lucros estorsivos, também exclusivos a quem pode se dorbar para triplicar o lucro e dobrar leis, tradições, vontades.
A Europa, sem tanto encanto ou brilho das moedas, e mais contestadora, perde espaço para quem tem muito o que gastar e nada a explicar.Por isos em sequencia Brasil, Rússia e Catar serão hospedeiros do Parasita Fifa, chamado Futebol internacional.
 
Tudo isso é parte de um projeto de futebol, um projeto onde o futebol é apenas a fumaça que esconde o transito da economia entre pernas, gols e paixões.
O preço dos ingressos, por exemplo, é relativo a um projeto de público e de futebol. Grana, por exemplo, tem com ingresso barato e super público e com ingresso caro e publico menor.

O tal conforto, que é muito mais uma elitização e operização do futebol, é frescura demais, com dvd na poltronas, bundinha almofadada,etc. Com a elitização que exclui o povão que vê globoesporte e lê o dia na banca, sem comprar, pra ver quem o time contratou.Inclui o torcedor de sala de estar, que transforma templos na sala de estar de quem pode pagar.

O ingresso é caro pra financiar frescura, ele financia menos o clube do que a frescura do torcedor que tá acostumado com a bunda de poltrona.

E aí se tem uma concepção, o futebol enquanto entretenimento, apartado de sua história, de sua cultura, numa cultura quase que universal "moderna", capitalista, tal qual os filmes, as boites, as músicas, na pasteurização da aldeia global.

Não é algo alheio ao futebol, é parte do que o futebol foi, abraçado pelas elites pra educar um povo "insalubre", como ela o via, negro demais, pobre demais. Porém agora pela força da grana que ergue e destrói coisas belas se está conseguindo tirar o comum, o pobre e o negro do estádio.Em seu lugar torcedores modernos, iguais, seja na Inglaterra, seja no Maraca.

Torcedores modernos que são quem pode e quer financiar um enttretenimento globalizado, igual ao cinema, ao teatro, ao show da Maddona. Sem a maior preocupaçaõ com oque se faz daquilo que é a paixão de tantos, sem  muita preocupação em como se faz o prato que lhe é servido, feito à custa de dinheiro do memso povo que é excluido do estádio.
O que fica é a imagem internacional, é o título, é a alegria sazonal que alegra tanto Blatters, Havelanges, Horcades, Ricardos Teixeiras.

Esse Futebol é o Futebusiness, primo do Futebol Sanitário de Pereira Passos e da elite fluminense que queria se ver livre dos Sururus da Gamboa. Hoje ela se alimenta do sacrifício da grande do mesmo povo do sururu, lucra com ele, construi com seu dinheiro estádios que o excluem, elevam seus gerentes a cargos onde o Futebusiness seja encarado como motivo de alegria e de desvios de verba, de ostentação de elites sem controle.

Enquanto o Futebusiness ilude a patuléia cada vez mais furtada na verba e na cultura, absorvida e devorada sem cerimonia pela destruição pasteurizada chamada Entretenimento, os direitos de quem criou esta cultura, quem alimentou instituições com seu grito, bandeiras, movimentos e grana é calado e transformado numa ópera chinfrim que segue preceitos televisivos.

É preciso combater este furto, esta destruição das culturas futebolísticas locais em troca da venda da alma à televisão e à estádios vazios, mas chiques, ricos e que não cantam.
É preciso saber o que se faz com as verbas e uqal projeto de inclusão e devolução de públicos aos estádfios, com ingressos a preços que permitam lucro com público e sme sacrificios. Que os estádios sejam limpos, acessíveis, mas com espaço pra quem quer torcer em pé, espaço pra quem quer sentar e que ele seja fruto da cultura local, sem os fast foods, a cerveja sem álcool e as redes globalizadas que sugam dinheiro sem oferecer qualidade aos torcedores.

É preciso construir uma barreira que liberte o Futebol do Futebusiness e que reverta o lucro absurdo dos marajás da Fifa e Federações para a ampliação do que o Futebol deve ser, uma arma de inclusão, para além da também também uma ferramenta de acesso à educação física, saúde, debates sobre o que é um time na vida das pessoas, o que é a paixão, a união de uma equipe rumo a uma vitória. Que o futebol, assim como todo o esporte, seja usado também para transformar a sociedade e não ser roubado dela para que uma classe de playboys se entretenha.

Precisamos do Futebol nas ruas e nos estádios, na vida das pessoas, não só como uma paixão centenária, mas como uma força que seja mais democracia corintiana e menos plutocracia Fifense.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

A bola da modernidade

Em torno de 1908 o alvissareiro prefeito Pereira Passos, o homem do "Bota Abaixo" ( ídolo de Dudu  "Pereira" Paes, o homem do Choque Desordem), afirmava seu entusiasmo com o Futebol como arma de "educação" do populacho, que passaria a se organizar como os times e seus Sportsmen se organizavam. O esrporte como arma sanitária, de vida saudável, nascia como paradigma da diferença entre a sociedade saudável, vulgarmente chamada de elite ou "os ricos", e a sociedade doente, vulgarmente chamada de povo ou "os pobres". A elite praticava esportes, trazia o vento do moderno Futebol, filho dileto da revolução industrial, ao um Rio colonial que tentava ser uma Paris dos trópicos. 

A empolgação de Pereira Passos era eco da empolgação de uma elite que se entendia como superior por branca, por rica e por uma naturalidade óbvia em seu pensamento: Somos o mais puro extrato da evolução, diferente do populacho negro e mulato que emporcalha a cidade!

A leitura de "Footballmania" de Leonardo Affonso Pereira e "Trabalho, lar e Botequim" de Sidney Challub são boas formas de entender um processo que juntava o trator como instrumento de remodelação da cidade e arma ideológica da divisão da cidade em duas, prévia da "Cidade Partida" de Zuenir Ventura e das UPPs da Dupla Cabral-Paes. A percepção da popularização do Futebol como forma de purificação social era clara, só esbarrou na estranha mania de romper com planos que o povão tem. O moderno Futebol dos Sportsmen que iria varrer a indolência ibérica e incluir na alma do povo a civilização Inglesa e Francesa foi antropofagicamente transformada nos "sururus" esportivos das praças, terrenos baldios e  praias, ofendendo o nariz empinado de uma elite que se pretendia burguesa e controladora de uma cidade que teimava em se virar pra sair do cordão de isolamento que separava a cidade Aquilombada da Cidade Aburguesada. E um dos meios utilizados pela população foi o irônico e moderno Futebol.

Mais de cem anos depois a ironia se torna uma espécie de 18 Brumário do Rio de Janeiro, com a farsa ganhando forma de realização de antigos sonhos, com a ordem sendo distribuida a pontapés seletivos na bunda de uma população cada vez mais lançada nas distancias higienizadoras dos subúrbios, a cidade sendo pontuada de fronteiras económicas via aluguéis e preços e até o moderno e popular Futebol tornando-se artigo de luxo para uma elite que tem nojo de trem, de hora do rush e acha que transporte público é ofensa pessoal.Nas vésperas de eventos esportivos que serão o "bota-abaixo" pós-moderno de Pereira Paes, com Vilas Taboinhas e Gamboas sendo tomadas por uma burguesia saudosa da antiga cidade aburguesada, da proximidade de uma corte inexistente, a cidade e o país vivem a retomada pela elite de seu sonho de consumo, o Futebol dos Sportmen, dos negros e pobres sendo atores somente no palco, mas fora das arquibancadas, com o fim das gerais, dos ladrilheiros, do Beijoqueiro e de outros personagens populares que invadiam maracanãs sem a pompa e a circunstância dos playboys de Playstation.

Enquanto o mundo explode com buchas negras e mulatas na guerra por uma cidade una contra a cidade aburguesada, desigual e elitista, com quilombos sendo erigidos com a fragilidade de nossa divisão, o Futebol retorna como arma de exclusão e de uma educação que nos torna base hierárquica de uma sociedade centenária e cruel.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quando a torcida é mais que organizada...

A iniciativa de Marcos Alvito junto com outros militantes de criar a Associação Nacional de Torcedores é um belo dia de sol no nublado mundo onde a "política séria" se faz fora dos estádios ou quando fala se futebol se veste de Eurico Miranda ou Ricardo Teixeira. Com manifestações ocorridas em dois clássicos cariocas(Clássico Vovô e Fla x Vasco) a Associação ganha o apoio de diversos militantes do Futebol e da esquerda Brasileira ou adeptos progressistas da organização do Futebol com povo e com menos frescurinhas elitistas. 

Em um mundo onde Torcida Organizada é um grupo que oscila entre festivo e violento, com um grande campo aberto pra aproximação de ideologias nem sempre amigas da democracia, o surgimento de uma Organização de Torcedores, no sentido de organicidade, que vai além da luta por melhoria na venda de ingresssos e por derrubada de técnicos abre espaço para a inclusão do Futebol como um campo de luta pra a esquerda, principalmente a socialista. Afinal socialista curte bola, pô!

Os movimentos de cidadania clubística não incluíam entre suas discussões o papel do Futebol como parte da vida social do País, parte de sua história e cultura, e não disputavam a política para além dos clubes e contra políticas que incluem um futebol espetáculo, entretenimento e menos humano, que exclui os pobres e as gerais dos estádios e da vida dos clubes.

A associação permite que discutamos politicamente tanto a política de futebol no Brasil e no mundo, o chamado "Futebol Moderno" quanto os eventos esportivos e seu impacto na vida da cidade, sejam as Olimpíadas ou a Copa do Mundo, coisas que abraçam a modernidade ,"mãe do Futebol", em seu aspecto excludente, ecoando os apoios à moderna urbanização do Rio de Janeiro no início do século XX, que criou cordões de exclusão da pobreza das áreas ricas.

A mesma modernidade do Pereira Pssos, hoje emulada no "moderno" Pereira Paes, é a modernidade do Futebol Entretenimento que cria "Arenas", anfiteatros de elite, que exclui o Torcedor da Geral e precisa de promoções pra ter povo no estádio.

A boa notícia da Associação é que com ela podemos ter armas que unem amor, ideologia e ação, ao invés de conversas sobre um mercado que torna o torcedor um consumidor de Pay per views.