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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Velho, violento e homofóbico esporte bretão

Richarlyson é bom jogador. Volante duro, marcador implacável, boa saída de bola, alguma ausência de  noção pra perceber os limites de sua habilidade, mas uma seriedade imensa. Richarlyson foi convocado algumas vezes para a seleção Brasileira pelo técnico Dunga, foi tri-campeão Brasileiro pelo São Paulo (único time que o fez de forma consecutiva) e foi muitas  vezes parte da seleção do Campeonato Brasileiro sendo em geral companheiro de Hernanes, outro talentoso volante hoje na Lazio de Roma.


Richarlyson, hoje no Clube Atlético Mineiro, o famoso Galo, de Belo Horizonte, é o que considero um atleta, e um atleta que chegou ao auge de sua carreira, tanto em títulos, quanto pelo fato de ter jogado em grandes clubes e ter uma carreira consolidada no mercado. Richarlyson também é filho de Lela, ídolo da  década de 1980 do Coritiba, e irmão de Alecsandro, centroavante que joga no Vasco.

Richarlyson tem muitas vertentes de análise de sua existência no mundo, porém ele é lembrado quase sempre como gay, embora jamais tenha se declarado como tal. Seja pelas torcidas, organizadas ou não, seja pela imprensa, a sugestão da homossexualidade de Richarlyson é um fato, um notório e repetitivo fato, que nos lembra a cada segundo a homofobia no esporte, em especial  no velho e violento esporte bretão.

O atleta em si, sua qualificação, seus títulos, suas convocações são menores que a sombra de sua virtual homossexualidade, ao ponto de uma possibilidade de sua contratação pelo Palmeiras ter gerado em parte da torcida um movimento que inclusive produziu uma faixa cuja frase "A homofobia veste verde" revela um orgulho da estupidez que até impressiona.

Não raro esta lógica é fruto do comportamento "masculinizante" radical do futebol, como se a "masculinidade" fosse hetero e masculina, e só. A energia necessária para a ação esportiva é , na cabeça de mula dos "machões", restrita ao macho hétero, os demais são fracos. Mulher no futebol? Anátema! Gay? não pode, não dá! 

Mas dá, dão e dão muito.  A própria lógica de concentração de homens em um mesmo espaço é margem óbvia e lógica do surgimento de amores, paixões, flertes, da supressão da lógica limitadora da sexualidade a partir de formatos rígidos, e não faltam histórias a respeito seja na bola, seja no exército ou em  mosteiros,né? Precisa desenhar? A própria idéia das masculinas torcidas organizadas, mesmo com a presença de namoradas, acabam por reproduzir a partir da estética marombada sem camisa a estética gay do corpo do homem como supra sumo da beleza mangalarga marchador.

E é a partir dai que a necessidade atávica do repetir ad infinitum que ali só tem macho se torna lei e se torna  homofobia e reação agressiva a idéia de um gay ser um atleta competente, duro, forte em uma posição que exige cojones e senso de porrada. Porque ali a masculinidade imensa do gay se torna reveladora. E um gay revelar que por trás de cada macho tatuado sem camisa pode ter mais um membro da arte dá nó em cucamonga.

A própria rejeição ao futebol feminino passa pela consideração de que se mulher pode entrar no jogo duro em que lugar fica meu corpo malhado machão que abraça o marombado ao lado?

A homofobia na bola, o recurso à macheza como forma de diferenciação entre torcedores, a recusa ao gay e á mulher, tudo isso é reação ao medo da complexidade do corpo e da relação dos limites de sexualidade em um campo como o esporte onde o corpo exposto é mote, ali, em ação, expondo o suor, o esforço, a rigidez, o tesão mesmo.  Ao ver um corpo másculo em ação, revelando enrustimentos, o marombado cria uma barreira de proteção ao fiofó piscante e torna o que é apenas uma reação física em um problema.

Um problema criado no medo de que o ver, o sentir e o reagir se torna permanente, se torne "desvio". O que é apenas sentido, vira tesão e o tesão vira recalque.

Por isso Richarlyson é um problema, um problema dos bons, um problema volantão porrador que sabe sair com a bola e usa calças justas e brincos.

Richarlyson e a libertação do invólucro do marombado.

Isso nem a bola marca.