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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Ter fé é anátema?

O fanatismo religioso é um problema, e dos grandes, um de seus maiores erros é ultrapassar os limites da religião, elemento de foro íntimo, e impor uma crença como majoritária e por isso com, o direito de eliminar as outras. Não só isso, a imposição do fanatismo de suas regras religiosos a quem não professa a mesma fé ou quem não professa fé alguma tem embutido o elemento de perseguição do que considera pecado. 

É aí que temos a perseguição por religiosos cristãos a gays e a mulheres que fazem aborto, e não só, a tudo o que é considerado anátema, como religiões afro e até à sexualidade humana hétero que não coaduna com uma ideia de amor relacionada a uma moral extremamente conservadora.

Com os recentes esforços do congresso em retirar a punição do Conselho Regional de Psicologia à "psicóloga" Marisa Lobo que se esforça em defender a "cura" para gays, contrariando definições da Organização Mundial de Saúde e consenso científico a respeito da homossexualidade não ser doença a reação da população LGBT e militantes pelo laicismo, ateus ou não, foi imediata diante de mais um passo do conservadorismo na direção de um ataque à pluralidade religiosa.

E ai é que temos um enorme problema.

Há uma espécie de consenso entre os militantes LGBT e Ateus que incluem no mesmo saco o religioso fanático que sustenta atrocidade, menos por ser religioso e mais por ser conservador, ao religioso que não ataca nenhum principio de laicidade ou minorias, muitos inclusive ladeiam com a militância pelo laicismo no combate ao fanatismo. Incluem no mesmo saco católicos da teologia da libertação que não concordam com companheiros seus que mantém ainda uma espécie de conservadorismo relacionado aos LGBT, budistas, candomblecistas, umbandistas e por ai vai.

Ao dizer que o religioso ou o católico tem renda inferior aos Ateus a mensagem sutil é clara:  religioso é pobre por ser burro, o ateu, esperto, é de classe média ou mais por ser inteligente. Claro que detalhes da pesquisa onde se vê que a maioria dos que tem fé são de classe pobre ou média baixa e a maioria dos ateus e agnósticos serem de famílias de classe média alta/classe alta, o que impõe fatalmente, se incluirmos a luta de classes como conceito válido, os ateus ironicamente como parte do aparato social que sustenta o que os marxistas ortodoxos chamam de aparato de controle ideológico, que inclui a religião.

Ou seja, considerando que é mais difícil mudar de classe do que de religião podemos considerar que os ateus e agnósticos em geral possuem uma "herança" econômica e talvez até cultural que os permite com mais facilidade sair do enredo da religião, entendedores prévios via uma educação superior em qualidade que a religião é um elemento de controle que só deve ser direcionado aos mais pobres, e subalternos sociais a eles.

Optando por essa lógica poderíamos afirmar que os Ateus que idolatram a razão e consideram todos os religiosos estúpidos são ao mesmos tempo que críticos parte do problema da dominação cultural via religião, já que como controladores dos bens de produção, sendo o extrato econômico superior, são também sócios do controle ideológico.

Só que ao optar por esta linha de raciocínio acabaria pro cometer o mesmo erro de reduzir religião ou falta dela, fé ou falta dela a categorias imóveis, estagnadas e absolutas, fora de contexto cometido pelos fanáticos religiosos ao tratar de orientação sexual, questões de gênero ou de saúde pública como o aborto ou variações da sexualidade humana ou de comportamento, cultura ou até etnia sob a lente do dogma irrefletido, arcaico e generalizante.

Optar pela lógica reducionista seria afastar da luta pelo laicismo o ateu que entende que a generalização é estúpida, assim como optar pelo tratamento de todo religioso como um estúpido afasta quem tem fé e mantém claro o raciocínio e a luta para a emancipação do todo do gênero humano, tenha ele fé ou não.