A complexidade de amar não é passível de manuais, retóricas reducionistas ou bambolês retóricos aplaudidos pelas claques e ruas do comum. Amar é intensamente ser o outro . É dois sendo um e um terceiro, o caminho feito de trocas entre seres que se amam.
Em suma: amar não é pra principiantes.
Amar concebe caminhos de cores, jeitos, odores e humores diferentes e em geral surpreende. Quem ama costuma não matar, e também é em tese o exemplo perfeito da abnegação para com o outro. Quem ama não falha.
Amor se virtualiza, se concretiza, dança, rebola, diz, reclama, amor é. Amor não assume infalibilidades ou se constrói na onipotência monolítica. Amor é de filho a pai, de pai pra filho, de mãe a pai, de filho a filha, de homem a mulher, de homem a homem, de mulher a mulher, de homem a bicho.
O natural do amor nasce antes dos Deuses dizerem-se legisladores, antes da definição castradora de qualquer fé. O amor nasce com o Homem. Deus eu não sei.
A História do amor pode ser divertidamente explicada na historiografia a partir do advento da concepção de indivíduo, o que grosso modo se dá no período clássico e depois novamente no pós-renascimento. Após a compreensão do ser humano como passível de ser um, também se percebe a ideia da existência do outro. O Um é pai do Outro, e o amor nasce da percepção da completude da união de ambos.
O amor, seja ele explicado pelo instinto do autor por por seus parcos conhecimentos de História, ao definir-se encontro não delimita quem se encontra. O encontro é a percepção da junção de dois, seja lá quem forem e como se dá o encontro.
É ai que a porquinha fofa torce o volumoso rabo diante da retomada de um aparato formatador, castrador e, no popular, coxinha, na rotulação de comportamento seja via concepção funcionalista yuppie ou fundamentalóide cristã.
Pra generosos seres dito humanos que compreendem que códigos de importância específicas aos seus fiofós são obrigatoriamente de uso geral, o amor homo-afetivo, o amor advindo de encontros virtuais, o amor concebido como para além das receitas caseiras do que é bunda gostosa ou não, o amor inter racial, ou seja lá que tipo outro de amor, tudo isso é anátema dos brabos e alvo de ações lindinhas que vão da ridicularização à violência.
Dai que amar em tempos de hóstia adquire um aspecto mais complexo do que o fato claro do amor não ser coisa pra crianças, ele vira também um espaço de combate e de reforço corajoso à diversidade como uma bandeira necessária. Amar é também molotov.
Um beijo, um ir, um vir, um amor de mãe que faz sexo, um amor de quem se lê e se apaixona, um amor de homens irmãos ou homens que se comem, tudo é também um enfrentar e um conquistar ao diverso o espaço de hegemônico.
O amor de moças entre moças, de gentes que se amam, o poli-amor ou até a mais perversa perversão, a monogamia, são bandeiras políticas também, assim como a legalização do aborto e a luta anti-homofobia.
A luta diária contra a camisa de força das forças mal amadas é quase uma luta pela legalização do amor.
É preciso buscar a expansão do amor, do amor como arma, como o dito por aquele que hoje é convocado pra sustentar atrocidades, mas que trazia como palavra de fé o Amor: Não é hora de trazer a mansidão é preciso trazer a espada.
Se só o amor constrói é preciso a virada à esquerda para antes de um novo alicerce ser construído sejam destruídos os muros de uma moralidade retrógrada, de uma compartimentação comportamental e de um fundamentalismo delirante e atroz assassino do diferente.
É preciso fazer do amor um aríete que impeça que as Borboletas fiquem sem janelas.
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