quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Sambista não precisa ser membro da academia


Mestre Candeia não tinha este título por nenhuma conquista em nenhuma instituição de pós-graduação. Mestre Elomar não é assim chamado por anos dedicados ao estudo formal ou alguma tese escrita nos moldes da ABNT. Assim como Mestre Chicão projetava casas e prédios e como outros tantos mestres pelo mundo se espalham e encantam, por vezes cantam, por vezes montam.

O conhecimento é um amplo mar com miríades de rios que o alimentam: dos sambas na Pedra do Sal ao livro de Foucault; da discussão de Marx à leitura das Cobras; do Funk da atoladinha ao Cantoria com Elomar, Vital Farias, Geraldo Azevedo e Xangai.



A percepção do real é amplamente registrada no pensamento mágico ou no pensamento científico. A arte é registrada nas paredes de cavernas ou no Louvre, tocada na Ópera de Milão ou no Boteco do Irajá. A construção do pensamento, portanto, é feliz proprietária de uma variedade legítima de construção de interpretações do real que não facilitam em nada pra analistas tresloucados do dia a dia a partir de tantas teorias existentes sobre praticamente tudo, de Deleuze ao Joca da Padaria.

No entanto é mais difícil perceber nos "intelectuais" a dimensão do respeito à construção do outro do que no Sambista. E aí é mato construírem teses fudidaças cheias de rococós e metonímias carpadas sobre Criminalização da homofobia ou sobre "conscientização" do povo ou mais legal ainda, sobre o "empoderamento" da população. Teses fudidaças que em geral partem do mesmo problema e do mesmo equivoco fundamental: A negação do Sambista como ente pensante, ou dizendo em "Antropologuês" Fajuto, no desprezo das  categorias e motivações "nativas".

A criminalização da homofobia só é um erro sob o ponto de vista dos que a defendem como panacéia, sob o ponto de vista óbvio do combate imediato aos crimes de ódio é simplesmente o que deve ser feito, sem , obviamente, negligenciar-se o lado mais importante, que é o debate diário pra derrubadas de barreiras de preconceito. Enveredar pela criminalização da criminalização à homofobia chamando quem a defende de "direitista enrustido" é dose pra baleia grávida e  de um arrogância Intelectual que não é pra poucos, dada a especialização. 

Primeiro porque junta cu com bunda na inclusão de quem defende a criminalização automaticamente  na ala de quem é partidário desta como panaceia que tudo resolve em relação à homofobia, segundo porque descontextualiza toda  a ideia desta criminalização, os movimentos anti-crime de ódio e tira a criminalização da homofobia do cotidiano, do contexto e a leva pro terreno pedregoso e diáfano do mundo teórico fofo e lindinho.

É basicamente a tese de que é preciso levar luz aos tolos que iniciam um movimento e constroem algo que dentre outras coisas sustentam a proteção dos lutadores, assim com é preciso "conscientizar" a população e lhes "dar poder', ou "empoderar", porque a população, por óbvio, não possui a especialização necessária para saber a realidade ao seu redor, ou seja não possui consciência, e nem tem poder pra  mudar sua realidade e precisa de um ente externo para dar esta concessão, seu empoderamento.

Da mesma forma, por esta linha de conduta é preciso mudar o eixo de luta dos LGBTT porque o direito penal não resolve problemas sociais, como se a maioria dos defensores da criminalização da homofobia se pautasse nesta  bandeira como forma de resolução do problema social. Partido desta lógica não é difícil chegar no ponto de que a criminalização do machismo via Lei Maria da Penha ou do Racismo via Lei Caó são igualmente um absurdo.

As categorias "nativas", as lógicas construtoras dos movimentos o conhecimento do que historicamente e cotidianamente levam a cabo o movimento de criminalização da homofobia, ou seja, a abordagem via o conhecimento da ponta, do dia a dia dos defensores de que a homofobia seja crime, levando a cabo um combate ao crime de ódio com algum arcabouço legal de proteção são solenemente ignoradas em meio a uma abordagem um tanto quanto nefelibata que parte de uma lógica até Foucaltiana , mas sem a profundidade necessária pra demandar a sugestão ao menos de um caminho menos simplista do que armar pessoas de tacape pra levar a discussão política para o plano do "vamos ter culhão" com o culhão dos outros.

Ai o Sambista, que sem ser membro da academia sabe de algumas coisas, pergunta porque o samba é atravessado por essa opera toda quando valia um miudinho.Talvez por isso tenha povo que lhe faça imortal.

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