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terça-feira, 24 de julho de 2012

Se o que nos consome fosse apenas fome...

Eu queria falar sobre a cidade do Rio e a concepção de cidade construída desde 1902 quando Pereira Passos assumiu a prefeitura da cidade e de lá pra cá poucas vezes enfrentada, se é que o foi, e tem em Eduardo Paes um representante quase que puro sangue, mais ainda que seu criador, o ex-prefeito e atual candidato a vereador César Maia.

Queria escrever um texto focado inclusive na grata percepção do fato de meus candidatos Marcelo Freixo e Renato Cinco (este candidato a vereador) compartilham da ideia da concepção da cidade do Rio ter sido construida como um paraíso liberal e cuja função do poder público é garantir lucro, gerir bem a parte da cidade partida onde vivem os ricos e vender a ideia de cidade-cenário.

Queria também falar sobre muitos outros assuntos, sobre a campanha, sobre a necessidade de qualificar a campanha virtual, sobre o positivo da campanha Freixo no interior do PSOL, na própria alma da esquerda,etc. 

Mas para escrever isso eu teria de manter uma calma e uma paz interna, uma alegria que os temas exigem e que infelizmente não tenho como manter diante de ter-me descoberto subitamente como preconceituoso.

Até dois meses atrás ignorava a questão da Cissexualidade e continuo receoso sobre a a aplicabilidade da lógica que gira em torno da construção da categoria, diante de dificuldades que tenho a partir do caráter "eurocêntrico" desta "revisão" de categorias de explicação do mundo a partir da sexualidade "biológica" ou seja, pela redivisão da categorização entre homem e mulher para entre cissexuais e transsexuais.

A ideia toda parte do legítimo princípio da redução de opressão sobre uma minoria, sua defesa parte do legítimo princípio da defesa das minorias, mas as questões levantadas sobre essa súbita reorientação de discurso também contém uma carga enorme de legitimidade, porque é muito possível que no afã de "adequação" das categorias militantes se cometam erros metodológicos e até de julgamento de aliados, de membros e se ignora, pela tutelação, a necessidade concreta da militância de rua que por vezes nem tá por dentro das "novas ordens" que o mundo virtual abraça com a fome dos que precisam da nova etiqueta pra não serem chamados de brega na festa.

Não está claro pra mim se essa reorientação é válida, no sentido prático, e legítima, no sentido de ser uma demanda real, concreta, dos atingidos, e muito me incomoda a lógica de tutelar movimentos, me lembra por demais os defensores da "elevação da consciência da classe trabalhadora" de cima pra baixo à esquerda de quem entra. 

A lógica que me parece presente é a de considerar que os "ignorantes" que não compreendem que existe um universo que PRECISA ser redefinido entre Cissexuais e Transsexuais são o anátema da humanidade e não 'Tem consciência" e precisam ser iluminados. Não sei se a redefinição é precisa, necessária e cada vez menos sou simpático aos que defendem a necessidade e precisão.

Talvez estejam certos, talvez, mas meu recente caminho na academia me diz que "muita calma nessa hora" é um bom conselho, porque se o discurso já contém problemas, sua execução pode conter também e mais ainda, muitas vezes a ênfase na ignorância alheia pode afastar mais do que agregar no duro trabalho de construção da resistência ao mar de conservadorismo que abunda em  nossas plagas mundiais.

Enfim, aprendi que sou cissexista, só que este aprendizado está longe de ter percebido conscientemente um preconceito do que um sentimento de injustiça advinda da rotulação como preconceituoso de quem apenas discorda da categorização e da redefinição súbita de terminologia baseado em questões não atendem concretamente uma demanda real a seu redor. A menos a meu ver, esta questão é um assunto para profundo debate antes de virar dogma.

A questão toda, o incomodo todo, nasce do que recentemente tive contato via redes sociais sobre a questão da "transsexualidade x cissexualidade" especialmente retratados aqui no Biscate Social Clube onde escrevia e me afastei ao perceber que estava de alguma forma, e pela primeira vez, deslocado como preconceituoso e portador de uma "defesa de privilégios". E o incômodo chegou a lugares nunca antes atingidos ao ver as reações nas redes sociais a este texto em que, parece, reproduzi alguma espécie de preconceito grave contra os transsexuais.

É a primeira vez, repito, que sou acusado disso e especialmente da forma como estou sendo acusado. Nunca tive sequer de longe a ilusão de minha perfeição, mas sempre me honrei com a capacidade de superação de todo e qualquer comportamento preconceituoso com medidas conscientes de percepção clara de que sou privilegiado sim por ser homem, branco, alto, com educação superior,etc.

Em suma: onde havia dúvidas a serem sanadas se construiu um afastamento por  preservação, até porque a covardia fala muitas línguas.

A lição fica: Sempre há um flanco a ser atingido e sim, eu posso estar errado. 

Porém continuo com a pequena desconfiança acadêmica (que conquistei com um parco, porém focado, caminho) onde a inquietação investigativa é prima dileta dos ouvidos abertos, e muito me vem atiçando a curiosidade do quanto o discurso atinge o cotidiano das pessoas as quais se diz defender. 

Talvez por um empirismo exagerado prefiro não cometer açodamento antes de abraçar uma categoria explicativa, talvez por ser um historiador aplicado e não ter ainda contato com outros ramos das ciências humanas onde parece que o rigor metodológico não atinge esta necessidade.

Até que entenda como demanda do movimento feminista concreto, real, cotidiano, e da militância LGBT e Transsexual, fico de molho aguardando novas notícias a respeito da questão "Cissexual x Transsexual" e me ausento temporariamente da discussão sobre gênero,LGBT e Trans* no mundo virtual.

Enquanto isso continuo lendo, estudando, como tenho costume, e tentando aprender mais sobre o mundo, já que longe das torres de marfim é preciso ir além do blablablá tradicional, ao menos pra quem quer ir além do título e ser um cientista de verdade, concreto, real e respeitado por isso.E o mesmo vale pra quem, como eu, se pretende militante e atuar para mediar o contato entre o mundo acadêmico e o cotidiano d@s lutador@s e não acredita que isso seja possível pela via do erguer de barreiras, sejam elas terminológicas, raciais, de gênero, religião, linguagem ou de classe.

Se o o que nos consome fosse apenas fome...





quinta-feira, 15 de março de 2012

Mulher pra casar, Mulher pra trepar

Biscate?
Amo uma mulher pra casar. 

Amo uma mulher pra trepar.

Adoro bundas e fico hipnotizado por elas, por seios também. Adoro inteligência, livros, sexo, comida, fico hipnotizado por isso também. 

Só não me encanta a estupidez. À esta costumo levar no bolso um tantinho de desprezo pra dar para alimentá-la e talvez fazer crescer o ácido e solitário limbo onde seu cérebro está, se é que existe.

Amo uma biscate e tenho orgulho disso, muito. Amo e  amarei outras caso por algum acidente do destino meu caminho divirja do da mulher livre com quem busquei um relacionamento. Já amei outras biscates, que contrariando os "adágios" das "pitonisas" do moralismo a dois passos atrás do troglodita de plantão nunca engravidaram de jogadores de futebol.

Mulher pra casar?
Aliás devo dizer que quem curte engravidar é "mulher pra casar", este tipo sobre o qual o rótulo cairia como uma luva caso eu optasse por dividir mulheres em grupos de etiquetas mal cheirosas. Gravidez em geral atrapalha a liberdade de ir e vir, adiciona responsabilidade exige da mulher uma solidez na opção que vai além do "se arrumar".

Um ponto interessante é a constante presença de mulheres "pra casar" atacando blogs, em especial o Biscate Social club, que de alguma forma defendem a liberdade da mulher de ser inclusive biscate e mais, colocando no fundo (ui!) a pergunta: porque  não o são todas, as "pra casar" e as "pra trepar"? E o mais legal é que a vulgaridade das criticas às Biscates inclui uma ladainha modorrenta mofada do "biscates dão pra todo mundo e querem engravidar de jogadores de futebol", coisa que não se vê, lê, ou cheira em se convivendo com mulheres completas que se auto intitulam biscates e estão por ai borboletando, xavanteando, seiláoqueando.

A meu ver é clara a "transferência" com o fim de sublimação que as moças casadoiras mantém, nesta relação "competitiva" com as biscates, como se fosse  necessário que uma prevalecesse sobre a outra em uma competição feroz rumo à manutenção do nicho de mercado sobre nós, os pobres homens. Isso me lembra o "dividir pra conquistar" do capital e como acho isso uma ferramenta feroz de manutenção da situação de opressão que opõe mulheres que podem ser tudo (mães, putas, monogâmicas ou surubentas) a mulheres que optam por serem o binômio casadoiro na sua, na sombra, em silencio, ocultando seus desejos e com medo de quem se assume completa. 

Cada um faz absolutamente o que quer, mas me surpreende que a vulgaridade dos ataques venham de quem se propõe lado claro da força, surpreende a violência terminológica vulgarizadora do outro em nome de sei lá que impulso político-psicológico entubado nas entranhas de mulheres que optam opor verem a si mesmas, e transferirem à outras essa visão, como bundas e peitos, só que usados só no papai e mamãe cotidiano.

Surpreende porque ao atacar com virulência quem se  propõe exatamente a discutir a questão do feminino  com liberdade, deixando  as camisas de força da opressão pelo mundo, estas mulheres não defendem a si mesmas, mas defendem o papel que lhes  obriga a manutenção de uma bunda que o marido goste, a ter filhos educados para não amarem com responsabilidade de maturidade, sabendo escolher as pessoas pelo que são e não pelo papel que executam.

Amo uma biscate, amo, amei outras e amo muitas biscates irmãs, mães, amigas. A "mulher pra casar" me cansa. Me cansa a divisão binária, estúpida, oprimida, subserviente, servil e moralista destas mulheres que abdicam do poder de serem a si mesmas para serem cinderelas sem sapato do sub-macho moderno.

Mulher é substantivo, substância, não cabe em rótulos. Homem digno do nome sabe disso, como foi me ensinado por um dos grandes que dizia que mulher sem nome, garra e vontade é antes de mais nada um apêndice da mediocridade.