Mostrando postagens com marcador Política. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Política. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Não vamo deixar ninguém chegar com sacanagem

Após um breve interregno de uma tristeza broxa, uma frescurinha nervosa, um chilique enrustido, eis que volta o batente aquele esperançoso, otimista ogro que vosotros conhecem.

Gonzaguinhando em plena segunda-feira e achando muito bom sacudir a poeira e imbalançar, como aconselhava o poeta em "Agalope" do disco "Coisa mais maior de Grande: Pessoa" .

Para o retorno do ogro concorreram pequenas pitadas de Borboletras nos olhos, noções de Caipiragem malasarteana do Violeiro de Lorena, Ogrices pelotenses beudas, um Toque galináceo belorizontino, Lilesquices Novalimenses e por fim, Serpenteios da Liga de Bueno.

E como já tô com um pé nessa estrada, qualquer dia a gente se vê, mas enquanto isso o discurso do rei, ops, da rainha, decretando fantasias, e que causou mais um da série de desenganos diários que saíram no xixi,  foi percebido como clara resposta aos bardos acadêmicos da ordem verde, cuja perspectiva por vezes passeia no perigoso terreno da oportunidade e receberam um troco nada leve, truculento até, mas no mesmo nível de redução de papéis. Coisas da política nacional e de sua lógica de conflitos de conquistas de reputação.

Pensei até em escrever sobre isso sob o ponto de vista do octágono MMA, mas achei sacanagem com o esporte.

Aproveitando que estou aqui para bater palmas para maluco dançar e ainda entendo que a política pode ser mais do que uma coisa séria feita com os punhos verbais sem ser a nobre arte, não poderia deixar de  pedir à banda para tocar um dobrado enquanto voltamos ao picadeiro para elogiar novamente as ações de esculacho público aos torturadores, como arma sim de pressão e de resposta diante de agressões diárias, de negação do estado de lidar com o problema e buscar de alguma forma a resolução. Comparar isso a linchamento, sorry, não dá, vamos contextualizar inclusive o histórico das ações, o motivo delas existirem em toda a América latina, etc... 

Ah, vão fazer isso com os militantes de esquerda? Jura? Já o fazem, sempre fizeram, até com quem começou depois da ditadura, não notaram? Menos legalismos, por favor.

Na mui leal um ex-jornal em atividade diz que o Emir do Paesquistão é um excelente funcionário público porque voltou pra trabalhar quando podia esticar em Paris e dá ideia pros funças que não podem ir além da Praça Paris e que ralam todo dia para, sei lá, evitar darem uma esticada num churras em Bangu na segunda-feira pré-feriadão, já que fazer sua obrigação qualifica o sujeito como bom profissional.

Do lado ensolarado do espectro político partidário há um sopro de frescor na candidatura dos Marcelos para a prefeitura, que ajuda aos eleitores como eu, que tavam com nojinho das eleições no Paesquistão, a terem candidato. Há também um sopro de negror com a atuação fedorenta do Senador Randolfe no caso DEMóstenes Cachoeira. 

Pô Senador a gente sabe que a luta política é dura, a gente perdeu, mas não esculacha,viu?

E assim se desenha o quadro da mesmice da política cotidiana onde aqui e ali aparecem sinais legalzinhos de que podemos sair do rame rame da luta do bem contra o mal, do moralismo versus o "Vamo comê", da geladeira versus o mato e do museu novidades estranhas pregadas como peça nos doutorados e feitas verdades mezzo embusteiras sob o pano Ecocarola do novo Circo "republicano".

Aqui e ali esculachos, minas pirando na biscatagi, acadêmicos que vão de trem, descendentes de escravos desescravizando no rap (tá ligado?), e funks da periferia vão dando cor às ruas por onde o ogro passa. Por isso o verso do poeta filho de Gonzagão torna-se fundamental: "Não vamo deixar ninguém atrapalhar a nossa passagem. Não vamo deixar ninguém chegar com sacanagem!".

E quarta tem Flu x Boca, nada é mais importante.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Solucionáticas?


No texto abaixo eu meto uns paus, faço umas críticas e reclamo de umas coisas, entendi que estava também incluindo algumas solucionáticas enrustidas no apontamento da problemática. Seguidor das leis de Rei Dadá esperava e entendia que alguns apontamentos incluídos sub repticiamente no texto ficariam claros, mas amigos bem sacadores não sacaram e resolvi escrever as propostas num “Que fazer?” caboclo meia boca.

Primeiramente acho que é bom explicar, embora seja óbvio, que de Lênin eu não tenho nem a careca. Segundamente não tenho experiencia forte em administração pública, ou seja, jamais atuei no poder então meus pitacos são especificamente de fora, cometendo obviamente deslizes no que foge à minha alçada.

As críticas que coloco relativas aos posicionamentos partidários são simples de esclarecer o que proponho: Fortalecimento das instancias internas com nucleação forte, nucleação de base com relações inter núcleos via plenárias regionais frequentes e com isso levantamento de questões à plenárias de direção que encaminhem diretrizes às executivas partidárias. O uso de um falso centralismo democrático travestido de colegiado de correntes e tendencias é golpe imediato na democracia interna de partidos como PT e PSOL.

O PSTU e PCB já partem do centralismo democrático clássico, críticas à parte sobre a existência ou não de burocratização neles, mas partidos como PSOL e PT se colocam como partidos de correntes de de núcleos, se você interrompe o oxigênio partidário com enfraquecimento dos núcleos você amplia a burocratização e mata o partido, ao menso a diversidade e se bobear sua inclinação socialista, ainda mais se a opção pelo eleitoralismo levar à filiação de grupos que nunca foram parte da esquerda, nem mesmo na proximidade pontual.

Pra sair da armadilha de comportamento olímpico com relação ao povo sem uma relação direta de convencimento acredito que o primeiro momento é abandonar a ideia da população não ter consciência e ir no caminho antropológico de “etnografia”, ou seja, viver com a população e dialogar, colocar as ideias no pano, ver qualé, passear pelos locais, discutir, interagir e sim, ser convencido também. Atividades e pesquisa são fundamentais, entender a dimensão das relações sociais e de parentesco nas comunidades idem, entender o que significa honra, palavra, dádiva,etc, mais ainda.

É fundamental desconstruir a ideia de povo como algo dado e cuja definição de Marx é tomada como regra e não o como Marx chegou a esta definição. Nada é menos materialista do que pegar uma ideia construída fora do dia a dia político brasileiro como fundamento para análises nossas. E mesmo em muitas análises feitas por brasileiros a ideia de povo é tomada via “bancada”, ou seja, o povo é visto do alto de uma análise de classe média/alta ou mais ainda mesmo quando vista in loco trabalhada com o arquétipo de povo. Sem contar que devíamos escrever “povo” dada a diversidade do que significa esta categoria.



De que povo estamos falando? Como ele respira, ouve, lê, anda, fala? Tem sotaque? Que sotaque? De onde vem esse sotaque? Como são as relações de gênero deste povo? Como são as relações entre fenótipos diferentes? Como são suas construções? Como eles veem e querem suas casas , ruas, escolas, trabalho, sexo, música? São perguntas abertas, e é óbvio que são feitas também da “bancada”, porque as perguntas mudam de acordo com o campo. É preciso que a “prática como critério da verdade” seja algo além de um discurso e algo além de pesquisas quantitativas e observação abertas, cheias de estereótipos de uma população variada país afora. É preciso abandonar o anti-intelectualismo e o medo da ciência e largar de mão dogmas pseudocientíficos e filosóficos que por vezes travam e são atualizados até mesmo dentro das tradição ideológicas por outras formas de abordagem do real. 


É preciso para nossas relações políticas irmos além do aparato e arcabouço puramente ideológico e acrescentar a ele o que se produz como ciência. Dessa forma talvez tenhamos menos comunistas com elitismo cultura ou machistas. Talvez com isso tenhamos menso comunistas que tem um belo discurso, mas reproduzem os mesmos preconceitos culturais, de gênero e raça que dizem combater.


Não precisamos gostar de funk ou de ruas apertadas ou de pagode ruim, ou de letras de música dizendo que a mulher tem de chupar pirocas pras entender que isso é sim culturas e é tão legítima e válida quanto Chico Buarque. E é preciso menos moralismo cultural, menos rotulação sobre como deve ou nãos e comportar o diferente.

Muitas vezes lemos que o que diz a Tati Quebra Barraco é reforço no machismo, mas é mesmo? Lá no ambiente onde foi construído grito da Tati é reforço ao machismo ou ofende o machismo local? Aposto na segunda opção. A mulher dizer claramente que faz sexo como quer e não é vagabunda é como queimar sutiãs naquele ambiente. Podemos discutir o quanto isso na nossa concepção de comportamento é reprodução e nessa viagem inter grupos sociais como o conceito exposto pela Tati é por nós entendido, mas antes de usar esse entendimento para explicar universalmente o significado da música convém ir lá e ver in loco como essa música funciona na cabeça de quem fez e de quem ouve primeiramente, antes da viagem da favela pras boites da zona sul carioca.

Comunista que chama funk de sub música tá numa redoma, e pior, reproduz um preconceito que diz que música é apenas uma música aprovada pelas classes dominantes, cujo gosto foi assumindo pelas classes médias. No início do século XX essa sub música, também originada fora do país, era o samba. Nas décadas de 1950 a 1970, iniciozinho, essa sub música era o rock.

Da mesma forma é preciso ações de conquista de diálogo horizontal como uma juventude que anda por ai doida por um 15-M tupiniquim. E acredito que do mesmo jeito da relação com o “povo” é preciso entender que rapaziada é essa. É preciso entender que determinadas construções da forma partido cuja horizontalização e trajetória das discussões e processos decisórios é interrompida são o fim da picada pra uma multidão de pessoas que estão expostas à fragmentação da comunicação n cotidiano chamada Internet. E essa fragmentação não é quebra, é diversidade, é polifonia, a ideia de síntese, cujas discussões determinam um ponto de convergência pode estar sendo substituída na prática pela ideia de polifonia, onde todos os grupos e desejos se materializam na ação direta, onde não é preciso esperar a revolução pra discutir o problema de gênero, por exemplo.

Há problemas nas manifestação espontâneas de Madri ao Cairo, na primavera árabe e na rebeldia europeia? Claro, e esses problemas são menso da diversidade e mais da ausência de organicidade. Essa organicidade não significa que todos tem de empunhar a mesma bandeira, mas talvez da organização dessas diversas lutas no sentido de também derrubar o inimigo. Não necessariamente focar numa bandeira única, mas ampliar as lutas diversas, todas nas ruas, todas com solidariedade mútua e todos sufocando o inimigo numa batalha em várias frentes, mas ao mesmo tempo agora.

Para combater a crise da esquerda é preciso antes de mais nada entender o “público alvo”, depois entender que estamos em crise e perder o saudosismo da unidade perdida. A partir desses passos talvez tenhamos muito mais ganho do que estamos tendo e podemos enfrentar a ideia do estado à nossa frente, inimigo ainda, e também do governo que deve sim ser pressionado para a realização dos desejos desse “público”.

Com isso talvez a esquerda possa ir além do que está sendo feito. Um exemplo é a luta pelos 10% do PIB para a educação, fundamental, mas que para na luta por verbas e que pode e deve usar as mais diversas experiencias de esquerda para a educação, da “Escola do Aluno Caminhador” à “Escola Possível” de Miguel Arroyo, iniciativas que partiam da realidade do aluno para construir um processo educacional que minimizasse a violência da “socialização” via educação. Paulo Freire tá aí pra isso.

Será que a escola que queremos é só a escola com 10% do PIB pra educação? Como é o professor na escola que queremos? Como é o aluno? A educação já é um assunto tão periférico, cuja importância merecia aspas, pois fica mais no discurso do que na prática de entendimento crítico de seu papel, porque os profissionais da educação não levam pra rua o papo sobre a escola onde estudam os filhos da sociedade? Porque nós os lutadores não vamos pra rua pressionando a sociedade a entender o que ela está fazendo apoiando bravamente a luta de bombeiros e ignorando a luta dos professores de seus filhos, que são tão massacrados e proletarizados quanto os vermelhinhos e tão vítimas quanto os alunos de uma escola que deforma, que humilha, que entedia e que destrói o indivíduo o tornando em geral um mero repetidor? Qual o medo e ir além do econômico e também repensar publicamente e em conjunto com a sociedade o próprio sistema de educação? Será que enfrentar o pai da criança, que foi aluno da mesma escola deformadora e por isso também tem uma péssima ideia do professor como inútil é tão difícil?

Além disso, que governo queremos para nós? É apenas um governo bacaninha que faz o “bem pro povo” ou é um governo que amplie a imersão do “povo” nos processos decisórios? Cadê a ideia do Orçamento participativo e sua adaptação para meios de interferência popular direta e embate político constante na sociedade que seja federal? E que estado queremos? É esse ai adaptado ou outro? O Outro mundo possível é um mundo velho com Botox?

Enfim, na busca pela solucionática acabei criando outras problemáticas e nem paro no ar que nem beija-flor.

Algumas sugestões estão ai e podemos sim avançar a partir delas, indo além do discurso, colocando o assunto à baila e na prática. Talvez com isso comecemos a disputar a hegemonia das consciências coma direita, sem levar luz, sem tentar pagar de “orientador”, mas debatendo e discutindo, colocando soluções práticas, debatendo soluções práticas, de baixo pra cima, à esquerda de quem entra.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A vida em livros

Falo em geral de política neste espaço, que pouco é , digamos, pessoal. Porém ao ver Niara de Oliveira no Twitter e em seu ótimo Pimenta com Limão comentar o desafio de 30 livros em um mês, cocei pra escrever algo. Até porque livro é um treco que eu curto até de olhar.

A vida contada em livro é engraçada, faz a gente lembrar que leu quando criança a "Enciclopédia Disney" da Abril e que cuidava da "Enciclopédia do Escoteiro Mirim" como se fosse um bichinho de estimação. Lembrar na adolescência dos  e livros do Erich Von Daniken e seus "Eram os Deuses Astronautas?" assustando a percepção de "normalidade" fazendo ver que muita coisa era escondida e que havia algo não contado no mundo. E mesmo que depois toda aquela bobagem anti-científica e meio racista tenha se mostrado isso, uma imensa bobagem, ficou a sensação de entender que havia segredos no mundo que podiam ser desvendados.

Na mesma época comecei a ler Quintana e poesia, que junto com os Gibis de Super-Herói ocupavam minhas fantasias não eróticas. Lembro de não-livros como "V de Vingança" e "Watchmen" de Alan Morre me ensinando a ser um anarquista adolescente.Os X-Men iniciaram o que depois seria o entendimento de Malcom X e Martin Luther King.  Mas o  que tomou meu espírito e alma foi ver na TV a minissérie da Maldita "O Tempo e o vento" e depois mergulhar nos livros "O Continente", "O Retrato", "O Arquipélago", "Ana Terra" e "Um Certo Capitão Rodrigo" (Estes dois parte do primeiro) de Érico Veríssimo.


O Efeito de Érico Veríssimo naquele adolescente que pretendia ser cientista social só foi levemente equiparado na faculdade ao ler os clássicos Marx, Weber e Durkheim , mais Roberto da Matta e Levi Strauss desandando a noção de cultura, país, estado, e toda a segurança de conceitos aprendidos no velho e bom lar do Seu Gilson Policial Anarquista e coração mole. Érico Veríssimo me ensinou que "Nos grandes eu dou de prancha e nos pequenos eu dou de talho".E embora um carioca da gema como eu não seja nada parecido com um gaudério entendi e calou fundo aquele Rodrigo Cambará abusado, depois seu sobrinho Toribío e a idéia de um pampa mítico.


Guimarães chegou mais tarde, na juventude que já achava que o mundo era seu e ia por ai morar em Minas e depois voltar pra ver como o Rio andava.Seu "Grande Sertão: Veredas" abalou Madureira na minha cabeça me mostrando que eu não precisava me transformar no mauriçola e falar empolado pra ver o universo. Guimarães fez a antropologia fazer sentido. A Antropologia beijou Guimarães na boca.

Quando descobri Rubem Fonseca o Rio de Janeiro pra mim era menos lindo do que 40º, o que pra mim continuava foda e maravilhoso. "A Grande Arte" me chegou aos 30 anos como um anuncio de que eu podia ver o mundo e o Rio sem frescura e com amor, com coração e com força, mas sem a suavidade falsa do falso sorriso, do falso desejo, do falso canto de sereia. Renascer carioca me fez um bem danado. E neste período minha politica mudava eu repensava a mistura de marxismo e anarquismo que tinha na cabeça, detestava a caretice Stalinista, a sede de máquina e também a falta de concretude e discussão de outros planos de existência que via no Anarquismo prático. Malatesta era o máximo e Trotski chegava chegando via "Literatura e Revolução".

Ainda hoje passeio pelo que li em Trotski e pelo que li em Malatesta, no pouco que li do Toni Cliff, Calinicos,etc.

Quando voltei a estudar o que me libertou foi ler March Bloch, Sidney Chalhoub e seu belíssimo "Trabalho, Lar e Botequim", "Footballmania" de Leonardo Afonso Pereira, o Grande "O Negro no Futebol Brasileiro" de Mário Filho e finalmente os dois livros que mexeram mais comigo nos últimos anos: "A Formação da Classe Operária Inglesa" de E.P. Thompson que mudou minha visão de política, teoria marxista e de História, o que é claramente uma mudança e tanto num sujeito de 37 anos e pelo lado do humor "O Guia do Mochileiro das Galáxias" de Douglas Adams, livros que me deram um equivalente literário ao meu próprio humor non sense, negro, mau humorado e sordidamente inspirado em TV Pirata e Monty Python.

É um bom passeio contando a vida em alguns livros que li, ao menso os mais importantes. Tem o Deepak Chopra em "O Retorno de Merlin" que li aos 26 anos e que me interessou pela abordagem de uma forma meio "quântica" do tempo e muitos outros mais, fora os quadrinhos que ocupariam linhas e linhas.

Chorei muito em muitos livros, ri demais em outros. Mas o mais importante é que ainda tenho, hoje, a mesma relação que tinha com a "Enciclopédia dos Escoteiros Mirim", são meus amigos, trato-os como ouro.

PS: Uma das coisas que os livros muito mudaram na minha vida foi a percepção que eu tinha na adolescência e juventude de que tinha chegado às mesmas conclusões que os gênios por mim mesmo, quando as coisas eram sedimentadas pro muitas coisas, de conversas com amigos a leitura de livros, panfletos e outras coisas. Hoje acho um barato ter aprendido  com muita gente, livro e coisas e ter entendido um tanto de cosia que me permite ler um Thompson, não por eu ser um gênio, mas pelos gênios terem me ensinado, muitos destes apenas mecânicos, porteiros, amigos e irmãos que eu ouvi e não li.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Fome tem que ter raiva pra interromper, a raiva é a fome de interromper

A política é por vezes a arte de negociar com extremos, a arte de engolir sapos, pra muitos a forma mais importante e por vezes os fins justificam os meios,  num uso limitado de Maquiavel. 

A política dentro dos domínios burgueses, das instituições, muitas vezes é uma política cuja forma é mais importante que o conteúdo ou, para não cair no vitimismo da incompetência, cuja forma é tão importante quanto o conteúdo e cujo leque de negociações é por vezes mais amplo do que o que sugere àqueles que entendem política como parte da luta de classes.

Um de meus maiores defeitos para a politica é minha raiva. Diante de situações onde a meu ver princípios inegociáveis baseados em julgamentos de valor e com valores que não podem ser rompidos são negociados, sob pena de transformar relações políticas em mero reflexo de relações comerciais ou tradicionalmente negociáveis no balcão da política burguesa, a raiva é libertada. Não quero que todos partilhem de meus valores, isso me faria autoritário, algo que desconheço em minha prática política e que me causa espécie ser chamado de tal, a ponto de rompimento pessoal. Mas entendo que qualquer relação política baseada na troca que não seja também baseada em um conjunto de valores que incluem a honra interpessoal, a honestidade, a lealdade e o "olho no olho" correm o risco de serem apenas "troca".

A raiva é fruto da impotência diante de movimento cuja percepção de vosso escriba é a da "bola nas costas", algo comum em política, mas facilmente perceptível quando do "olho no olho", e talvez compreensível e mais ainda, aceitável diante da necessidade de sacrifícios em uma luta árdua. Quando no mundo virtual, esse protetor radical de covardes e vaidosos, a cosia aperta. O teclado impede o risco físico de um pau no pé do nariz diante de uma trairagem. Por isso a política real, a prática, a da assembléia tem tantas regras não ditas, baseadas em geral na proteção dos direitos de fala, de integridade física, da integridade política de processos,etc, e pouco se sai da ausência da intimidação física e/ou jurídica, em caso de uma ou outra aparece naturalmente seu inverso, pois os limites forma rompidos, as práticas degringolaram.

Se tudo é permitido não é a revolução, mas o caos que se instala e tudo começa a ruir.

Talvez uma incompetência de leitura me impeça de entender na política virtual a facilidade que entendo na política diária.E talvez por uma certa ingenuidade não consiga aceitar cálculos em política que não sejam frutos de um entendimento sincero e honesto da necessidade de sacrifícios e mais ainda, de ação de forma transparente para com o sacrificado para que este entenda seu papel no jogo. Sem que o combinado seja feito, tudo fica caro, e romper combinação é traição da grossa.

Ser o novo na política não é parecer o novo e nem buscar uma adaptação de práticas políticas diante de novas ferramenta,s mas transformar o velho. E o que o "novo" tem feito é usar o velho com roupa nova, matando seu melhor e ficando com o rescaldo do pior. Assim como se burocratizaram partidos e movimentos o virtual em breve será alvo de nova onda de burocratização, já se inicia com as medidas institucionais, isso deve ser acompanhado de uma reação de movimentos e partidos no sentido de barrar a ação estatal, mas até que ponto a reação não será uma ação burocrática, negociada e pelega do espaço virtual. As alternativas não parecem promissoras em negar a burocratização. Quando movimentos priorizam o processo, o processo burocrático, em relação à rompimentos de acordos tácitos, como a concretização de ameaças em ambiente de debate político, a cosia tá feia e aponta seriamente para uma repetição do que se condena no dia a dia político.

Percebendo ou não o movimento, o grupo, o partido, caminham para a "profissionalização" das relações políticas e para a burocratização.

Qualquer relação política cuja confiabilidade, no que me baseei para colocar a honra como valor primordial, é substituída pela burocratização e profissionalização, que impede a emocionalidade, bane a raiva, mas deixa o demolir dos códigos mínimos de convivência, não me parece ter vida longa.

Por isso a raiva é inimiga, hoje da política, e mais ainda, da política virtual, porque a raiva é rompedora, a raiva não consegue calar-se diante do que a causa, a raiva tem fome de interromper. Pra muitos é um defeito, pra mim é uma de minhas maiores qualidades. Antes mal educado do que opaco, antes ogro do que vaselina, antes honrado do que traíra.

Ainda acho que os fins justificam os meios, desde que a prática como critério da verdade seja amparada numa prática de construção coletiva com honra, com lealdade e respeito mútuo, algo tão presente no cotidiano da tal classe operária que buscamos representar que fico assustado dos nobres colegas da esquerda não entenderem o quanto é básico, para uma galera onde o compadrio ainda pesa como laço forte de solidariedade entre pessoas de um grupo, a lealdade, o respeito mútuo, a amizade, o desarmar e a proximidade no dizer, no sentir e no olhar, olho no olho, juntos para frente.

Em uma vila, um morro, quando o os laços de confiança são quebrados, a primeira coisa que acaba não é a opressão, mas a capacidade de resistência à ela. Toda reação à opressão, toda indignação, é santa, para acalmá-la só , antes de mais nada, a confiança, sem essa é melhor separar.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Pede a banda pra tocar um dobrado, olha nóis outra veiz no picadeiro!

Seattle
Solução é algo complexo, não existe panaceia, não existe política velha ou política nova, existem métodos,eixos ideológico-teóricos e atos, tudo isso pode ser utilizado de forma a gerar avanços ou recuos.

A política 2,0 é a comuna de Paris com Internet, o que significa que algo velho a dar com pau,que rolou em 1871, era novo na época e é novo hoje e pode hoje ser usado com ferramentas poderosas, mas a política é a mesma. O que é chamado de velho tem nome e sobrenome: Liberalismo Capitalista ou capitalismo liberal, Política Burguesa clássica, escolham. 

Atenas
Isso existe faz tempo e não realizou nem suas próprias bandeiras, adotadas por nosotros esquerdopatas levadas a cabo na porradaria cotidiana, como direitos civis amplos pra gays, negros, mulheres,etc..

O que rola hoje é a ressurreição do discurso veemente da abolição do estado, algo meio morto desde o fim do século XX, mas arrisco a dizer que desde o meio quando o sovietismo escolheu manter um estado a superar capital. O discurso voltou com pau na mão após negozinho perceber no fim da década de 1980 que a formula"partido operário" como la era colocada tinha ido pro brejo abraçada coma vaca. Daí que os partidos mais fodões em geral são frentes, como o PSOL e como foi o maior partido de esquerda da América Latina, O PT. Na Europa eu não tenho arcabouço teórico pra dizer, mas arrisco dizer que ocorre o mesmo.

Madrid
São Paulo


Isso rola emulando o século XIX quando nego percebe que do mato da Igualité Fraternité não saia mais coelho e foi pegar lebre a tapa com organização horizontal. Daí surge a Comuna de Paris, depois vai dando zebra aqui e acolá e explode 1917 com um comunão de Paris macho pra caceta e disposto a recompensar o mundo com muito mais revoluções por minuto.  

Os momentos são semelhantes, a novidade é que a forma partido que surge nas mãos de Lênin foi para a casa da tia Joana brincar de ver as meninas com seu amor assim descontraído e deixou a rapaziada que queria molotovs na veia, que tinha sangue de gasolina e coração de sal de frutas fervendo num copo dágua, chupando o volumoso dedão.

Aí os negos pretos foram às ruas e tão aí enchendo o saco do universo desde Seattle, e tamo nós aqui enfrentando a primeira grande decepção com a forma Partido à véra, com a vaselina do Lula ou a areia da Dilma e principalmente depois que esta forma partido adota a fofa organização vertical, mais centralizada, com cada vez menos discordancia e veneno monótono.
Aqui o eco do pau na mesa da política vleha de guerra comunarda ainda não rolou e nem sei se vai rolar porque sou historiador e não mãe Dinah, mas torçamos, porque a Marcha pela liberdade foi sinal de que el grande sacón está cheio e o Governo Dilma ajuda pelo outro lado mostrando que a alternativa ao cassetete do PSDB é o veto do PT.

Então pede a banda pra tocar um dobrado, olha nóis outra veiz no picadeiro!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fofocalismo, Futebusiness e Boatolítica

 Chamar de jornalismo o que é feito em política e futebol é como chamar de música o que é tocado em banda militar. Com o perdão da repaginada piada de Groucho Marx sem a mesma qualidade, a idéia de jornalismo como apuração de fatos ganha novo significado com a mistura deste com o Showrnalismo (Valeu, mestre Arbex!) e com o Fofoconalismo, mais presente no futebol, criando a análise Boatolítica.

A cobertura de todas as áreas do jornalismo, talvez com ressalvas ao jornalismo economico, é de um nível de desprezo pela inteligencia do leitor que eu vou te contar. Jornalista não apura mais, ele pega uma informação crua e publica, com os Blogs isso ficou mais claro. Jornalista esportivo pega um perfil fake do Twitter e queima um jogador contundido, outro diz que dizem que viram um outro jogador bebendo e surfando e publicam, uma "analista", que tá mais pra canalhista,  diz que o Governo dá dinheiro pra publicidade em blogs vinculados ao partido da presidenta e é desmentido com informações que são de livre acesso na SECOM e ninguém diz nada, uns dizem que é fato que "acontecerão medidas impopulares" criando o divertido momento de criação da categoria "Fato Futuro". E por aí vai...
Aquele tal jornalismo que eu curtia ler com Mino Carta, Gaspari, Márcio Moreira Alves, e tantos outros por aí que davam notícia, e com seriedade, até no futebol com o Oldemário Touguinhó dando furo, investigando, correndo atrás, o PVC analisando taticamente, cobrindo clubes mesmo estando no colunismo e dando furos, investigando antes de publicar, Mauro César Pereira, Rodrigo Vianna na Política, Azenha e por aí vai, morreu assassinado por uma lógica que curte mais corrigir português, na linha de professores pasquales que nem sempre conhecem tanto quanto acham, do que fazer o básico da área: Pesquisar, investigar.

Mas pra que? Informação é dada como novela, como se o publico não precisasse da informação, mas da adrenalina da notícias, esta coisas que deixou de ser informação e virou isca de peixe. A busca da informação de impacto foi substituída pelo impacto e só.

Na ânsia do Entretenimento pela informação a galera paga mico atrás de mico, na festinha Globológica de sorrisos e amizades com as fontes e vai na farra da desmoralização da profissão de jornalista. No Futebol temsdo a figura do Personal Jornalismo, na Política a Boatologia Especializada por cientistas políticos que não leram os clássicos, na cultura a jabazificação da análise...

Enfim o fofocalismo boatista só melhorará quando a informação for passada por um viés democrático, que só a tomada dos meios de comunicação pela população e a diversificação de fontes for uma arma. A internet, ainda livre, é um meio de mantermos isso e ampliarmos. Lutar pela liberdade de comunicação e democratização horizontal é um meio de devolvermos à informação seu status de conhecimento e não de balangandã no pescoço da indústria que a vende como show e não como notícia.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Militancia e apoiadores

A polemica atual é o da militância paga, da qual o PT foi acusado pelo Vampiro Serra, o mentiroso. Claro que foi uma provocação, baseado na acusação de mercenários, de milícia armada, mas há uma questão nisso que pode e deve ser discutido, o aumento do uso de elementos pagos nas campanhas do PT nas grandes cidades.

A militância do PT existe, é óbvio, é o maior partido de centro-esquerda do Brasil e acredito que tenha um milhão de filiados e se deste milhão metade for de militantes diários é muita coisa. Juntos dos partidos da esquerda radical, que possuem aguerrida militância, não devem chegar a esta metade e de filiados.A questão é que começa no Rio e em São Paulo e acredito que na maioria das cidades do Brasil o uso pelo PT de funcionários de campanha, e isso aponta pra um problema.

O problema o uso de funcionários (Uso este termo pra diferenciá-los de militantes alertado pela @maria_fro) é que isto informa que o número de participantes diretos da campanha, organizados, orgânicos, reduziu-se e foi preciso a contratação de mão de obra para substitui-los. Não se discute aqui popularidade ou mesmo questões político-morais a respeito do certo ou errado desta utilização, mas a perda de atores cotidianos nos partidos.

A popularidade do PT e do governo que lidera é enorme, é óbvio e constatado, e ainda possui ex-filiados, simpatizantes e apoiadores diretos que se mobilizam em momentos necessários, mas estes atores não participam full time da vida do partido, em alguns momentos, mesmo numa campanha polarizada como essa, nem mesmo podem ou possuem estímulo de participar diretamente da campanha, levando ao partido em algumas cidades a usar funcionários temporários. O problema disso não está na acusação imbecil de formação de milícia, mas na percepção da redução de participação diária no partido, com o aumento da influencia dos setores burocratizados.
O apoio eleitoral não se traduz na participação orgânica, então o discurso de "Esquerda" a respeito do governo fica solto em retórica, pois a influencia direta na cosntuçõ do partido, guinando-o, à esquerda não acontece ou se busca acontecer pela redução da política à questão do apoio e da participação "na campanha". Assim o apoio ao governo e ao partido fica assim, na superfície do discurso, ele não se traduz na disputa por diretórios, por programa, por influencia em governos,mandatos, etc.

A militância valorosa, e nervosa, do PT, tá aínda ai, menor, como a de todos os partidos de esquerda, mas ainda aí, o problema é que fora da burocracia ela é composta cada vez mais de gente que apoia, mas não está disputando  o partido e construindo-o, e essa gente é a que hoje pode dar sentido ao discurso que faz do PT uma opção real de esquerda e não a saída melhorzinha.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A idade média contra-ataca

 O surto medieval da campanha, com padres e pastores assumindo o protagonismo do atraso ao atacar a legalização do aborto e a união civil de homossexuais, não é um fato isolado diante de uma correlação de forças hostil para avanços do campo da esquerda.  A neo-idade média é filha direta do avanços das forças conservadoras após 16 anos de ataques contra trabalhadores e movimentos sociais, guinadas constantes à direita em nome da conquista do governo pelo PT, do surgimento de partidos ligados diretamente à igrejas e ampliação da militância religiosa nos partidos, com ampliação do lobby religioso no congresso.

 Enquanto o combate a movimentos sociais e organizações de esquerda se intensificou, com redução de quadros inclusive, ampliou-se a presença de religiosos conservadores nas grandes cidades, com ampla organização, militância ativa e controle de meios de comunicação. Além disso a igreja católica assumiu o protagonismo na redução dos quadros de esquerda de suas igrejas, com ataques constantes que reduziram tanto os religiosos, padres e leigos, de esquerda, quanto as comunidades eclesiais de base e fiéis, com investimento direto e apoio à grupos conservadores, como a Canção Nova, e à movimentos "carismáticos" de conduta despolitizada e conservadora. Também ancorados tanto em mídia própria como apoio de grandes meios de comunicação, como a Globo e o uso do Padre Marcelo, estes grupos influenciaram fortemente a maioria dos fiéis, que bombardeados pela mensagem que reduz a fé a seu modus operandi conservador e à interpretação das escrituras baseada em fundamentalismos, misturam o ato de crer com a defesa de valores que estão além da religião e militam na política direta.



 Outro importante elemento é o da postura das organizações de esquerda e partidos de adaptação à um "jogo" político que se pretende "mediado". Assim o confronto contra posturas e idéias não-laicas, buscando avanços democráticos e construindo uma sociedade baseada em conceitos de igualdade, foi substituído pelo cálculo político eleitoral de não desagrado a determinados setores sem qualquer compromisso com a construção democrática, mas importantes sob o ponto de vista eleitoral. O lado da esquerda isso produziu a opção da negação do contraponto à ideais conservadores que pelo outro lado encontravam amplo terreno e oxigênio para a tonarem-se hegemônicos nos partidos da ordem. Assim os partidos de centro e direita tinham quadros cada vez mais ligados ao conservadorismo e a religiosidade reacionária enquanto a esquerda calava-se na opção de não desagradar eleitores, substituindo a luta diária pela luta eleitoral puro e simples.


 Neste contexto, a estagnação dos movimentos sociais e seu imobilismo cooptado diante do governo atual, o moralismo que grassou na esquerda socialista, a negativa da percepção da centralidade de lutas como a da legalização do aborto e união civil, em paralelo com as lutas de caráter classista, se juntaram a uma ofensiva das igrejas pela retomada do protagonismo político criando o palco perfeito pro desfile reacionário a que testemunhamos hoje. O debácle do laicismo tomando o PSDB, imobilizando o PT e fazendo parte da agenda de figuras públicas como Marina Silva e Heloísa Helena, tidas como progressistas causa estragos enormes em um quadro de avanços democráticos dos últimos 20 anos. O não enfrentamento da questão da comunicação permite que a concentração midiática da burguesia tenha aliados fortíssimos  no uso do aparato ideológico representados pelas igrejas e seus programas diários na TV aberta, rádio, jornais e revistas. Ou seja, templos e meios de comunicação unidos no bombardeio diário de ideais conformistas e reacionários, que tipificam indivíduos, negam direitos civis e se pretendem guerreiros de uma pureza moral que remetem a fascismos carolas.

 O medievalismo na eleição é um crime contra a democracia e precisa ser derrotado, combatido sem tréguas e com plena consciência de seu papel na derrota de qualquer projeto progressista, de qualquer partido, mas é preciso também entender em que condições históricas se dá o avanço de uma direita religiosa com poderes suficientes para serem mais que beatas em ladainhas aborrecidas. É preciso entender que o avanço conservador é também fruto de uma política deliberada de "governabilidades" e "coalizões" que não enfrentaram forças que barravam avanços democráticos inegáveis, além disso é preciso assumir que os moralismos udenistas da oposição de esquerda, a ausência de fortalecimento de concepções de partido que priorizassem a democracia radical em oposição ao personalismo, ajudaram na criação de um terreno fértil para  um retorno de uma inquisição eletrônica e seus meios canalhas de manipulação, via medo, da opinião pública.
 É hora da esquerda reocupar os espaços perdidos, dos movimentos sociais fugirem da cooptação, de ampliar os debates e as intervenções, ampliar a disputa de consciências, para além de governos, sob pena de assistirmos ao crescimento do fascismo de batina enquanto nos digladiamos na disputa de votos e "governabilidades".