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sábado, 17 de março de 2012

O delírio do geral

Estou cansado dos Explicadores Gerais, adeptos de um todo explicativo e universal a partir de leituras de orelha de livro.

Cansei mesmo! E foi a partir de determinadas percepções teóricas não explicadas pela panaceia, a não ser que se forçasse à teoria uma adaptação a um real dois números maior. Da Coluna Prestes não ser percebida pelo popular como libertadora, e para muito além das "limitações de percepção do povo pobre e mal educado", até a confusão do laicismo com o antirreligioso  e inclusive exclusão do religioso do espaço laico em todos os momentos, e não tô falando do óbvio da retirada de crucifixos de tribunais, mas da condenação de canções ou manifestações religiosas em espaços de uso laico em momento de homenagem acordada a uma das religiões presentes no país.

Estou cansado da democracia ser um valor só levado a cabo quando alguma postura politica sofre enfrentamento de outra que percebe nela o impulso autoritário, mesmo que com jargão libertário, de condenação do outro como anátema por este não caber no invólucro racional cartesiano de Bakunin, Marx ou Genghis Khan.

Cansei da alegação do direito à estupidez como argumento em favor do expor barbaridades. Não acho ridículo a religião, a roupa, o corpo, a fé, o gosto musical, e não, não acho de direito acharem ridículo a musica, o cheiro, o cabelo, a religião, a fé, sua ausência, o corpo, o amor, o tesão e a arte de quem quer que seja.

Se engolir o direito à exclusão pela ridicularização é ser anti-democrático me abstenho da democracia como valor. 


Os explicadores gerais, universais, tem o hábito de manter um corte civilizacional que acaba por reproduzir as binaridades clássicas entre Racional x Irracional; Mulher x Homem; Cultura x Não Cultura; Música Boa X Música Ruim; Negro x Branco. Ai acaba chamando de música só o Chico Buarque e achando Teló sub-canção, amando Marisa Monte e achando o "som de  preto e favelado que quando toca ninguém fica parado" o fim da civilização ocidental.

Não me ofende o outro, me ofende o que nega o outro. Não me ofende o povo votar no Cabral, me ofende que achem que ele o faz por ser idiota.

Não me ofende que deputados em uma sessão em homenagem ao centenário da Assembléia de Deus na Câmara cantem hinos religiosas dessa denominação religiosa, assim como não deveria ofender que sessões solenes ao centenário do Rock tivesse Bill Halley ou deputados candomblecistas em sessão em homenagem à Mãe Menininha tocassem pra Oxum. Me ofende a retirada da legitimidade dos Evangélicos de se posicionarem culturalmente, politicamente e filosoficamente. 

Impor uma explicação racionalista cartesiana para de uma forma absurda legitimar que por terem posições conservadoras uma parte da sociedade seja excluída do direito legitimo à representatividade política me ofende.  E me ofende ao mesmo tempo que uma postura anti-laica por parte das mesmas denominações religiosas se coloca. Porque ambas as atitudes são anti-laicas, por serem excludentes e ignorarem que o espaço público é aberto à ocupação legítima por TODAS as formas de crença, ideologias,etc.

A defesa do laico não pode jamais cair no erro de incluir a anti-religião como mote. O Estado é laico e não anti-religioso.

Da mesma forma que o marxismo político pediu demissão de mim pela infeliz lógica coletiva de entender que a população precisa de algum tipo  de guia genial dos povos para entender sua realidade cotidiana, o "New Ateísmo on the Block" me perdeu como  defensor de  seu direito à estupidez ao se tornar o sinal inverso do que combate e virar mais uma denominação religiosa preconceituosa, elitista, classe média coxinha, intelectualóide e defasada teoricamente.

Entre a generalização Marxista de Galinheiro e o Menochio eu vou tomar um vinho com queijo e vermes com o velho moleiro. Entre o "Ateísmo" proto Hitchenista  ignorantão, cartesiano zé ruela fico com o Marx de Thompson e seu entendimento da fé como parte da formação da classe operária inglesa.

As explicações gerais são o colchão de ar do  salto mortal carpado do falso teórico. É o para-quedas analítico de muita gente, que salta pro nada usando-o para evitar os choques coma s pedras reais e assim cair manso no eruditismo estéril e citador de nosotros.

Sei que é muito mais fácil e divertido pegar um conceito geral e irrefletido da "alienação" e "religião é anti-racional" e ir pra galera, mas sugiro que o povo vá curtir uma real, um papo reto com o Seu Manel da Padaria, com o Tio Joca da Farmácia,com Dona Doquinha do Borel e se entenda com aquela realidade e suas racionalidades surpreendentes que pululam entre dentes, ladeiras, morros e estações derradeiras.

A lógica do global, da panaceia teórica que a tudo abraça e explica, essa  generalização irrefletida e tosca é a versão do "onde esse mundo vai parar!" das vovós donaldas das novelas das seis. O povo repete o senso comum assustado com a  realidade das Tias Zicas de bob no cabelo, mete um Foucault refogado em Deleuze e vamo que vamo.

Sob pena de ser a intelectualidade que matou o velhinho inimigo que morreu ontem, temos uma produção de bobagem elitista e estreita que pouco deixa de se parecer com seu oposto conservador, ou seria melhor dizer "Seu oposto conservador de direita"?



Estou cansado das explicações gerais, talvez seja peso de nossas cabeças.




terça-feira, 16 de novembro de 2010

A bola da modernidade

Em torno de 1908 o alvissareiro prefeito Pereira Passos, o homem do "Bota Abaixo" ( ídolo de Dudu  "Pereira" Paes, o homem do Choque Desordem), afirmava seu entusiasmo com o Futebol como arma de "educação" do populacho, que passaria a se organizar como os times e seus Sportsmen se organizavam. O esrporte como arma sanitária, de vida saudável, nascia como paradigma da diferença entre a sociedade saudável, vulgarmente chamada de elite ou "os ricos", e a sociedade doente, vulgarmente chamada de povo ou "os pobres". A elite praticava esportes, trazia o vento do moderno Futebol, filho dileto da revolução industrial, ao um Rio colonial que tentava ser uma Paris dos trópicos. 

A empolgação de Pereira Passos era eco da empolgação de uma elite que se entendia como superior por branca, por rica e por uma naturalidade óbvia em seu pensamento: Somos o mais puro extrato da evolução, diferente do populacho negro e mulato que emporcalha a cidade!

A leitura de "Footballmania" de Leonardo Affonso Pereira e "Trabalho, lar e Botequim" de Sidney Challub são boas formas de entender um processo que juntava o trator como instrumento de remodelação da cidade e arma ideológica da divisão da cidade em duas, prévia da "Cidade Partida" de Zuenir Ventura e das UPPs da Dupla Cabral-Paes. A percepção da popularização do Futebol como forma de purificação social era clara, só esbarrou na estranha mania de romper com planos que o povão tem. O moderno Futebol dos Sportsmen que iria varrer a indolência ibérica e incluir na alma do povo a civilização Inglesa e Francesa foi antropofagicamente transformada nos "sururus" esportivos das praças, terrenos baldios e  praias, ofendendo o nariz empinado de uma elite que se pretendia burguesa e controladora de uma cidade que teimava em se virar pra sair do cordão de isolamento que separava a cidade Aquilombada da Cidade Aburguesada. E um dos meios utilizados pela população foi o irônico e moderno Futebol.

Mais de cem anos depois a ironia se torna uma espécie de 18 Brumário do Rio de Janeiro, com a farsa ganhando forma de realização de antigos sonhos, com a ordem sendo distribuida a pontapés seletivos na bunda de uma população cada vez mais lançada nas distancias higienizadoras dos subúrbios, a cidade sendo pontuada de fronteiras económicas via aluguéis e preços e até o moderno e popular Futebol tornando-se artigo de luxo para uma elite que tem nojo de trem, de hora do rush e acha que transporte público é ofensa pessoal.Nas vésperas de eventos esportivos que serão o "bota-abaixo" pós-moderno de Pereira Paes, com Vilas Taboinhas e Gamboas sendo tomadas por uma burguesia saudosa da antiga cidade aburguesada, da proximidade de uma corte inexistente, a cidade e o país vivem a retomada pela elite de seu sonho de consumo, o Futebol dos Sportmen, dos negros e pobres sendo atores somente no palco, mas fora das arquibancadas, com o fim das gerais, dos ladrilheiros, do Beijoqueiro e de outros personagens populares que invadiam maracanãs sem a pompa e a circunstância dos playboys de Playstation.

Enquanto o mundo explode com buchas negras e mulatas na guerra por uma cidade una contra a cidade aburguesada, desigual e elitista, com quilombos sendo erigidos com a fragilidade de nossa divisão, o Futebol retorna como arma de exclusão e de uma educação que nos torna base hierárquica de uma sociedade centenária e cruel.

domingo, 31 de outubro de 2010

Dilma: A primeira mulher eleita, os desafios da esquerda e a agenda conservadora.

 A eleição de Dilma Roussef  ao mesmo tempo que aponta avanços, indica preocupações que a esquerda socialista tem de ter de enfrentar . A importância da eleição da primeira mulher para o cargo de presidente é extremamente importante, como o foi a eleição do primeiro operário, da mesma forma que o governo do PT ser pautado por uma conduta democrático é de animar.Não podemos ignorar a preocupação com a melhoria da vida da população pobre, mesmo com as limitações da política de gerência do capital.

 No entanto não podemos esquecer que ocorreram recuos constantes com relação à questões de extrema importância para a esquerda em geral e em especial para a esquerda socialista. A questão da comunicação foi tratada de forma negligente sob a capa da uma CONFECOM que nunca foi tratada com a seriedade que merece, o que aconteceu foi a negativa de enfrentamento da mídia hegemonica, o partido do capital do qual falava Gramsci. Outra questão é  questão da reforma agrária de de relação com o MST, também tratada de forma tímida e inclusive contando com negativas por parte dos partidários do governo de relações profundas com o MST  outros movimento de base.As questões listadas no PNDH3 que vão da legalização do aborto ao combate da homofobia e a luta pela divulgação dos arquivos da ditadura e punição dos torturadores foram tratadas como secundárias e rifadas na primeira manifestação de enfrentamento que as forças conservadoras e seus gurus midáticos deram em um frenesi de obscurantismo assustador e que veio a se repetir de forma preocupante no fim do primeiro turno das eleições.

 As próprias conferencias, que seriam uma ferramenta interessante de diálogo entre sociedade, movimentos sociais e governos, foram um fiasco e na verdade uma ferramenta útil de cooptação e de desmobilização de movimentos ao invés de uma ferramenta de ação dos movimentos junto ao governo. Não podemos esquecer que em nome da derrota do PSDB se elegeu um governo que é supervalorizado no que tem de esquerda e inclusive é colocada de forma acrítica uma postura de aceitação de limitações do governo e do partido que o capitaneia em um quadro de governo de coalizão, ignorando que a ala dominante do Partido dos Trabalhadores não parece ter uma motivação especial em avançar em bandeiras históricas da esquerda como as supracitadas, lembrando mais do que nunca uma estrutura burocratizada de partidos socialistas que tendem a social democracia de estilo europeu, como um PSOE Espanhol. 

 Os desafios da esquerda socialista, e também da esquerda governista, socialista ou não, é o de construir consensos possíveis com os movimentos sociais de forma a agir em bloco para tensionar o governo para avanços reais à esquerda e dar o sangue para criar uma opção real de esquerda socialista que avance para além do discurso e que exija que o governo eleito vá para além da gerência qualificada do capitalismo, que seja uma ferramenta de transformação social do país, inclusive para avanços que nem são socialistas, são apenas democráticos, como os direitos civis dos LGBTT, legalização do aborto, legalização das drogas, reforma agrária e urbana radicais, controle social da mídia,etc.

A esquerda com todos os equívocos que ocorreram nas últimas eleições sai mais forte, sai da eleição com avanço de diálogo entre partidos da esquerda socialista e com ampliaçaõão da representação da esquerda radical nos parlamentos e com um importante diálogo criado com a juventude. Não se pode esquecer o elemento simbólico da eleição de Dilma, que é uma poderosa ferramenta de atração de militantes para a luta da esquerda e que sim, pode ser um meio de luta sólida pelo avanço da esquerda na sociedade brasileira, que ainda demonstra alto grau de conservadorismo.

É hora de arregaçar as mangas e irmos além do mito e do simbólico, sem no entanto desprezá-los. É preciso não ser o pessimistas que olha os números da esquerda radical, sem olhar as campanhas de filiação, nem o otimista do "Oba Oba" do abraço ao simbolíco da primeira mulher sem olhar o contexto desta eleição.