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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Das resistências e primaveras

Quando a gente fala em resistência se pensa imediatamente em resistência armada, pedras, tiros, coquetel molotov. 

A resistência tem imediatamente a marca de impedir sob quaisquer meios que o outro, o opressor, nos estupre, avilte, domine. Ela é a marca da ação, ela é a marca da força em sentido invertido, mesmo que derrotada, esmagada.

Essa percepção não está incorreta, não parte de uma visão tosca, míope ou reducionista, resistir é também combater e o ato do combate tem em si mesmo a eloquência visual e filosófica, é claro, tem efeito imediato.

O combate no entanto não é a única forma de resistência. A resistência se dá também pela afirmação de identidade, pela negociação, pela organicidade e organização de grupos.

Estudando a escravidão no Brasil a gente percebe que a visão do combate como forma de libertação parte da visão da liberdade como um horizonte perceptível para o escravo, como se um objetivo a ser alcançado, quando em um sistema escravista a concepção de liberdade só era possível para quem algum dia foi livre antes. 

Ou seja, o africano ao chegar tinha a ideia de liberdade clara, por ter sido livre, mas o escravo, nascido na escravidão, não tinha em seu horizonte um conceito de liberdade como opositor à seu estado de escravo, a escravidão era para ele natural.

A ideia de liberdade era tida como um conceito universal, mas esse conceito universal partia da concepção alienígena ao escravo, especialmente o crioulo, e também partia do princípio que havia uma identidade negra concreta, uma consciência "negra" que unificava africanos e  crioulos em um só desejo de se libertar do jugo do senhor.

A própria ideia de uma consciência unificada parte de uma natural união entre africanos e crioulos a partir da unidade fenotípica, ou seja, a partir da ideia de que por serem negros se uniriam por uma identidade de cor de pele, ignorando diferenças entre nações africanas e mesmo entre concepções de realidade entre africanos, nascidos livres e transpostos à força para a condição de escravos, e crioulos, nascidos escravos e imersos na naturalização da escravidão, no entendimento da escravidão como algo dado.

Mesmo a liberdade como um conceito unificador parte do princípio que coletivamente era algo claro no horizonte da razão da diversidade do povo preto aqui vivente. O que se esquece é que quando o Malê falava em liberdade não incluía automaticamente o Mina ou o Nagô, nem tampouco entendia o crioulo como não escravizável, sendo todos negros.

Por isso o escândalo em torno da descoberta de negros escravos possuidores de escravos ou negros forros que adquiriam novos escravos ou de revoltosos escravos africanos que entendiam a escravização de escravos crioulos em um reino africano na América como algo extremamente natural se sua nação fosse liberta. Esse escândalo parte da ideia da liberdade como valor universal para aquela população e não como o contrário, como a liberdade sendo um valor alienígena dentro de um sistema existente durante mais de trezentos anos.

Além disso, o escândalo de negros escravizando negros, usado de forma hipócrita para justificar a escravidão pela direita moderna, também parte da ideia de que a cor da pele unificaria naturalmente as nações africanas aqui escravizadas ou que um sistema longevo que permeava todas as camadas da sociedade durante trezentos, mundialmente falando,  não seria entendido como um sistema que construísse  uma leitura do real, reproduzida geração a geração e criando muros invisíveis nas cidades e nas consciências de negros, brancos, livres ou escravos.

A própria ideia de que a cor da pele produz identidade automática é de certa forma racista, pois não parece perceber que Alemães, Portugueses, Espanhóis, Catalães, Bascos, Irlandeses e Ingleses podem ser brancos, mas não esquecem suas diferenças nacionais e culturais.

Dentro desse entendimento a lógica da resistência muda de eixo para toda e qualquer ação que permitisse algum tipo de cunha no mecanismo de opressão a que estava exposto o escravo, africano ou crioulo, e por isso que o escravo crioulo tendo a escravidão como fator natural, dado, constituía essa resistência nas confrarias religiosas, nas associações que lhes permitisse via união organizada, organicidade, mecanismos de minimização da opressão e ganhos reais, inclusive de status social, e de ação coletiva que inclusive tomasse para si a tarefa de libertação de alguns dos associados escravizados sob o jugo de senhores especialmente cruéis.

Pelas irmandades e associações os escravos conquistavam inclusive uma humanidade retirada deles em sua condição de peças, de um tipo de vida com status análogo do de um animal de carga, de trabalho. Demarcavam também diferenças entre crioulos, nascidos no Brasil, e  africanos e como essa diferença era entendida no plano social, com os Crioulos tendo proeminência nas associações.

Neste aspecto se não podemos unir no mesmo saco de gatos africanos e crioulos, nem mesmo as diversas nações de africanos, a consciência da situação de sofrimento e de necessidade de colocação, inclusive como humanos, em uma sociedade escravista fez dos pretos crioulos mestres em um tipo de resistência que lutava entrincheirada na própria sociedade que o escravizava e utilizando os mecanismos dela para a conquista de espaços próprios de ação, de melhoria de vida, inclusive de uma libertação dentro da concepção pertinente ao tempo e à sociedade: Tornando-se senhor de escravo.

Essa ideia de resistência era uma ideia concebida no interior da sociedade, não se entendia fora dela, aliás a própria ideia de uma outra sociedade era um horizonte distante, a sociedade dada, escravista, era aquela e a resistência construída em seu interior entendia-se como a resistência possível.

A resistência enquanto rompimento era uma lógica de pensamento que se excluía de uma sociedade que era, ela mesma, estruturada na lógica da escravidão como algo dado, era como se se exilasse do cotidiano, das relações sociais presentes, sem no entanto uma utopia estruturadora de uma nova sociedade, no máximo uma busca de reprodução dos também escravistas, e parte do sistema internacional que mantinha a escravidão, reinos africanos.

Em um paralelo analógico, forçado inclusive, podemos dizer que a lógica de resistência enquanto construção da revolução socialista, dentro da sociedade Brasileira, mesmo com uma utopia estruturadora, se encaixa mais no âmbito da exclusão do discurso do cotidiano do diálogo popular, da lógica de convencimento do povo e não porque a resistência não é possível, mas porque o discurso se exclui da possibilidade imaginada, da ideia de construção de algo que avance mais, pois a própria ideia de sociedade se baseia na ideia que o capitalismo é dado, de que nosso cotidiano não é possível fora da lógica de capital.

Neste entendimento podemos, também analogicamente, entender que o horizonte do consumo como alcance libertador possível é análogo ao da conquista do direito de ser senhor de escravo na sociedade escravista. 

Esse fator hoje ocorre não porque é impossível de ser mudado, mas porque a sequência de derrotas do discurso e pensamento de esquerda no âmbito da política, com inclusive a opção preferencial pela acomodação feita pelo PT a partir de 1996/98, tornou o discurso hegemônico neo-liberal como algo dado, natural, eterno e imutável, sendo impossível alcançar mudanças fora dele.

É primordial nesse sentido entender que para a reconquista do horizonte utópico que permita no longo prazo um avanço político estruturado para a superação do sistema é primeiro necessário reconhecer que hoje a utopia precisa de um horizonte reconstruído ainda dentro dos marcos possíveis, reformistas mesmo, mas construídos pela radicalização da cidadania e da democracia, pela ampliação da participação popular e re-estatização do estado. 

É preciso a reconquista do universo da utopia, a reconstrução da possibilidade de se pensar o novo, de se construir o novo. 

Para que se entenda que nada deve parecer impossível de mudar é preciso que consigamos romper a barreira da naturalização do capitalismo no horizonte, de redução do impacto do capitalismo no horizonte da sociedade, no horizonte popular. 

Para que se entenda que nada deve parecer impossível de mudar é imprescindível que consigamos convencer o mundo de que nada deve parecer natural.

Assim como para o escravo a escravidão era dado, mesmo assim a resistência era feita pela construção de mecanismos de organização é pela organização e superação das barreiras intestinas da sociedade, dos muros invisíveis, que podemos construir novamente o horizonte da utopia e assim como o abolicionismo, abrir as portas para a liberdade como horizonte possível.


Para que a revolução se torne um valor cotidiano é preciso que reconstruamos o cotidiano político, esfacelado pelo ethos neoliberal.

Para construirmos o verão é preciso tornar possível a primavera, no Rio, no Brasil, no mundo.

sábado, 1 de setembro de 2012

A quem interessa a polêmica do Horto/Jardim Botânico em plena campanha eleitoral do Rio?



Publicação e divulgação amplamente autorizada e recomendada.

Os ataques mentirosos e de caráter ideológico lançados por um pequeno número de moradores do bairro do Jardim Botânico, mas com poderosos e nada ingênuos apoios de corporações privadas de comunicação, representam mais um lamentável episódio do histórico de Racismo Ambiental e de limpeza étnica que tem ganhado força e legitimidade no Rio de Janeiro nos últimos anos. 

Mas não é estranho, nem surpreendente, numa questão tão séria e complexa, que inclui um polêmico Projeto de Lei municipal assinado por dois vereadores do PT (incluindo o atual candidato a Vice-Prefeito Adilson Pires), os petardos só sejam apontados para as candidaturas do PSOL à prefeitura e à câmara dos vereadores.

Trata-se de um movimento muito claro de setores do PV e do próprio PT, a quem interessa largamente a perpetuação do regime de exceção e das práticas de remoção proto-fascistas já amplamente documentadas na própria câmara de vereadores e denunciadas em nível nacional e internacional por diversas instituições de inabalável credibilidade. Denúncias que essa mesma mídia corporativa nacional tem feito questão de tornar invisível, pois é sócia de todos os grandes projetos que visam tornar o Rio de Janeiro um playground privilegiado das classes mais abastadas do mundo.

Esse lamentável período de nossa história dá margem a declarações como a que vimos nesta sexta, em entrevista à Folha/UOL, onde o atual prefeito destila o seu cinismo e maucaratismo afirmando que nenhum "escândalo" de corrupção surgiu em seu governo. Decanta, o ignóbil governante, essa vergonhosa conclusão como se o fato decorresse de suas aptidões pessoais, já não suportadas sequer pelo seu staff pessoal. Omite, com isso, o débil alcaide, a fulminante blindagem institucional perpetrada por seus fiadores políticos junto ao Poder Judiciário (com as famosas pressões "não-republicanas") e a diversos promotores públicos estaduais que, por uma mera questão ideológica, de um conservadorismo que remonta ao período da República do "Café-com-Leite", simplesmente abdicam das suas atribuições constitucionais e calam-se de forma vexatória diante dos mais graves crimes ambientais e contra os direitos humanos já empreendidos nesta cidade desde a abertura democrática dos anos 1980.

Que fique claro, para os militantes das causas sociais, dos direitos humanos e pela Justiça Ambiental que ainda titubeiam sobre suas opções no Rio: a luta política não cessa durante a campanha eleitoral. Muito ao contrário, para os que detém o poder da imprensa e o caráter da impudência, esse é o melhor momento para aproveitar nosso refluxo momentâneo e avançar vigorosamente sobre lutas centenárias. A omissão neste momento não pode ser tolerada.

Jorge Borges 
Publicação e divulgação amplamente autorizada e recomendada.


Nota da Superintendência de Patrimônio da União: Esclarecimento sobre o Jardim Botânico
A propósito da matéria “Jogando no time adversário” publicada no jornal O Globo de hoje, 19.08, a Secretaria de Patrimônio da União do Ministério do Planejamento esclarece que: 

A SPU não defende interesses privados, mas sim a efetivação da função social da propriedade pública federal – patrimônio de todo o povo brasileiro. Foi solicitada a suspensão das ações de reintegração de posse na área da União para trazer tranqüilidade às cerca de 500 famílias de baixa renda que nela vivem, algumas há mais de 100 anos.

Está em curso um projeto de regularização fundiária de interesse social que inclui tanto a regularização das famílias de baixa renda como a dos limites do próprio Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 

A ocupação na área remonta à própria criação do Instituto. As ações de reintegração de posse foram iniciadas na década de 80. A execução destas ações trouxe insegurança às famílias de baixa renda que estão em processo de regularização fundiária (Lei 11.481 de 2007), amparada na Constituição Federal e no Estatuto da Cidade. 

Não é uma ação inédita, nem é um caso isolado. Em outubro de 2007, a SPU, em providência similar, pediu a suspensão de ações de reintegração de posse à Procuradoria Geral da União de famílias que ocupam imóveis residenciais da extinta Rede Ferroviária Federal em todo o território nacional, para proceder a um estudo das condições das famílias que residem nesses locais e promover a regularização fundiária de interesse social. 

A ação de regularização fundiária do Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro e da comunidade do Horto está sendo implementada pela SPU – Secretaria do Patrimônio da União em parceria com a UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro e apoio do ITERJ – Instituto de Terra do Estado do Rio de Janeiro. 

A parceria resulta na produção de dois instrumentos: um cadastro sócio-econômico (já em fase de conclusão) que permitirá identificar as famílias por seu perfil social e de ocupação; e um cadastro físico que possibilitará identificar as ocupações existentes dentro da área de interesse do Jardim Botânico e discutir soluções para a realocação de famílias que vivem em área considerada atualmente de interesse ambiental. 

A SPU implementa ações para reorientar a gestão do patrimônio para cumprir sua missão institucional de “conhecer, zelar e garantir que cada imóvel da União cumpra sua função socioambiental em harmonia com a função arrecadadora, em apoio aos programas estratégicos para a nação”. Atenciosamente, Eliana de Araújo Chefe da Assessoria de Comunicação Social do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.


 
Jorge Borges
Geógrafo, Assessor Técnico

Twitter: @jorgeborgesrj

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Valor da Merenda Escolar

Depois da repercussão diária das falas de Freixo, tratadas de forma reles e desonesta por uma milicia organizada que apoia o atual prefeito, com táticas inclusive similares aos vários apoiadores virtuais de Dilma pós-2010, resolvi escrever um texto curto a respeito da lógica presente na maior parte dos argumentos.

A merenda escolar é parte do investimento em educação, faz inclusive parte importante dos investimentos em inclusão social e saúde, dado que é fundamento da alimentação de milhões de crianças pobres, muitas vezes tendo sido a única refeição garantida da maioria.

Esse quadro de única refeição se alterou com o bolsa-família, programa de sucesso do governo Lula, mantido pelo governo Dilma e até o momento único programa literalmente popular mantido por este governo mesmo em meio à violenta marcha conservadora a que abraçou.

Lula sabia da importância da alimentação para que algum tipo de programa popular tivesse sucesso de ser implementado e com algum ganho de qualidade de vida à população. Por isso investiu inicialmente no programa Fome Zero, que fracassou, e que gerou o que posteriormente tornou-se o Bolsa-Familia após intervenção de gestão qualificada do atual candidato a prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias.

Parte do Fome Zero que não foi levado a cabo após a transferência da gestão do programa para a direção dos programas de renda mínima era o estímulo à agricultura familiar e o uso de alimentos por ela produzidos na merenda escolar.

No programa de Governo da candidatura Marcelo Freixo esse eixo retorna com o acréscimo salutar da defesa de subsídios à agricultura familiar para a produção de alimentos orgânicos para consumo na merenda escolar após sugestão de apoiadores na plataforma colaborativa de debate do programa. 


- O Rio de Janeiro propôs isenções fiscais para instalar a indústria da CSA, em Santa Cruz. Se fizesse isso para estimular a tradição pesqueira, artesanal e agrícola da região geraria muito mais empregos. E, como se não bastasse, a prefeitura está cobrando IPTU de área agrícola. Não vamos fazer isso porque não tem sentido — disparou Freixo. — Propomos um diálogo com os municípios vizinhos para que a produção de orgânicos abasteça a rede municipal de educação e ainda sirva como forma de trabalhar a educação alimentar nas escolas. Esta é uma política que a prefeitura pode adotar para profissionalizar e organizar a agricultura familiar.

Qual o que? Os ataques nos comentários e nas redes sociais foram dos mais desqualificadores aos mais delirantes, utilizando uma colocação prática, um programa de governo para o acusar de "delírio de candidato zona sul".

Existem algumas pérolas que convido aos leitores a irem nos coments da matéria para se divertirem com o grau de selvageria tragicômica da situação.

Engraçado que a promessa demagógica do atual prefeito de colocar o Rio de Janeiro em primeiro no Ideb até 2016 não é tratada como delirante, não é tratada como "promessa".

Interessante também é que os subsídios às empresas de ônibus que praticam um serviço de péssima qualidade, tratam os usuários como gado, aumentam de preços sem melhorar o serviço, reduzem o número de ônibus mesmo com redução de custo via BRS, nada disso é questionado, mas alimento pra criança em escola pública, a maioria pobre, é "delírio zona sul" na ponta dos dedos dos que, pasmem, se dizem defensores de um governo "popular".

Mais interessante ainda é que os subsídios à implementação da TKSA, siderúrgica que possui denuncias contra si que vão de trabalho escravo a uso de milícias como segurança de suas obras e agora de suas instalações além de mais de uma autuação por crime ambiental devido à lançamento de partículas metálicas na atmosfera, algo que atinge diretamente a população de Santa Cruz, nada disso é questionado, mas subsídio ao desenvolvimento da agricultura familiar para melhorar a merenda de crianças pobres? Qual o que? anátema!

Os subsídios à TKSA a princípio são estaduais, mas será que a Prefeitura do Rio de Janeiro não tem nenhum tipo de forma de pressão para buscar  o impedimento dos subsídios e até a suspensão da instalação de uma siderúrgica cuja relação emprego gerado/Danos sócio ambientais tem péssima relação custo-benefício para a cidade e sua população? 

Será que à prefeitura do Rio de Janeiro interessa mais se omitir diante do descalabro que foi a implementação deste câncer em forma de siderúrgica e responsável pelo aumento de 67% das emissões de carbono da Capital conforme a Fundação Osvaldo Cruz, e ainda foi subsidiada pelo Governo do Estado do rio de Janeiro cujo timoneiro é o companheiro de PMDB de Paes, o Senhor Sérgio Cabral Filho?

Será que o que mais ofende aos partidários do Governo Paes, aos partidários do Governo do PMDB, aos Petistas aliados ao PMDB é o subsídio à agricultura familiar para a merenda escolar e não o subsídio à máfia dos transportes e À empresas que ampliam os gastos com reparação ambiental e com saúde do Município?

Será que a guinada ideológica ou a salvaguarda do aparato estatal é mais importante que um norte de princípios ideológicos, éticos até, e cuja priorização é diretamente dada ao povo e suas crianças, sem intermediários?

Diante do que li, diante do que se põe à mesa pelos comentários nas redes sociais e sites de notícia  mais vale subsidiar empresários que crianças pobres para a massa de apoiadores do Governo Paes, petistas incluídos, o que diz muito sobre eles e sobre o governo.

A lógica de cidade espetáculo e capitalistizada, amplamente liberal, com um estado gerenciador de eventos a substitui o princípio ético do governo e  do estado pata a população, detentora do poder e em cujo nome o poder deve ser exercido.

Subsídios à agricultura familiar, que provavelmente são menores e mais eficientes que à máfia dos transporte ou à siderúrgica envenenadora, são tratados como "promessas" comparáveis à levar a praia à Tijuca. Já dizer que dobrará a nota do Ideb do Rio de Janeiro, sem nenhum tipo de investimento assinalado, sem nenhuma guinada do programa em atual execução (dado que o prefeito é candidato, mas não deixa de ser prefeito) é tratado como "proposta".

A lógica da defesa irracional dos governos se prende no "preço" dos alimentos para crianças, mas não "preço" (De financeiro a socio-político) de mega empreendimentos ancorados em remoções, subsídios à empresas de transporte sem nenhum compromisso com o cidadão e a empresas poluidoras, (Da TKSA às empresas do Grupo Eike Batista).

Encontro de Marcelo Freixo com educadores
As prioridades dizem muito sobre a política.

O Valor da merenda escolar é parte definidora dos valores dos grupos políticos e entender seu valor talvez seja mais importante que saber seu preço.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

As distorções que as opções causam

A campanha eleitoral no Rio de Janeiro já começa a causar alguns efeitos estranhos no comportamento militante e midiático da situação.

Diante de uma explanação clara do candidato Marcelo Freixo em critica ao Minha Casa, Minha vida , onde ele critica a construção dos conjuntos habitacionais em locais sem infra-estrutura de saneamento, transporte, saúde e educação e em áreas sob o controle do crime organizado para-estatal, mais conhecido como milícias, a tropa de choque virtual governista adotou a tática do "Vai dizer isso pra quem foi beneficiado pelo programa", desviando a crítica sobre o planejamento descuidado (Pra ser bonzinho) e mal executado para o eixo do emocional "caridoso" do "Olha as pessoas que ganharam sua primeira casa", ocultando também que foram removidas de suas casas de maneira ilegal para serem enviadas para locais ermos e sob vulnerabilidade que a política de segurança do PMDB, a quem apoiam, em quase oito anos não deu conta de resolver. 

E fazem isso a partir do que Marcelo Freixo coloca na seguinte análise presente na matéria do jornal: 

                 — O programa Minha Casa, Minha Vida estimula o crime organizado. Cerca de 87% do empreendimentos estão nas partes mais afastadas da Zona Oeste, sem acesso a transportes, saneamento e emprego. São condomínios em regiões dominadas por milícias — disparou o candidato ao apresentar suas propostas de governo para o sindicato. 

Ou seja, a distorção é total e sem nenhum tipo de filtro, é orquestrada, não é ausência de entendimento, é uma busca de desqualificação do candidato porque é proibido para essas pessoas uma critica a qualquer programa do governo. E pior, quando o Candidato mantém a critica e a qualifica ainda mais saem com o adágio: "Teu partido é o que te enterra". 

Essa última observação diz muito sobre quem substitui o Partido dos Trabalhadores por um condomínio de adoração fanática da Luis Inácio Lula da silva. O partido, programas, debates, correntes internas, divergência, construção coletiva? "O Partido é o que te enterra" respondem. Baseado nisso avaliam que tudo o que é parte da construção da figura pública e é coletivo, que sai do controle autoritário é anátema, sejam parlamentares, militantes, intelectuais, qualquer coisa que crie um coro de diversidade, organizada ou não, é ameaça ao ethos e ao logos do neoPTcostalismo.

Vejam bem, os neopetistas não ligam pra apoiarem um prefeito do PMDB "por contingencia" mesmo ele sendo supostamente ligado a milicias e tendo suposta ação com grupos criminosos que pressionam moradores da Zona Oeste já agora para que nem façam campanha para adversários e muito menso votem neles, sob ameaça do clima "ficar mais sinistro" nas palavras de moradores. 

Se não ligam pra isso, imagina para o fato dos governos federal, estadual e municipal construírem condomínios sem infra estrutura mínima em locais dominados pelo crime organizado e sem nenhuma intervenção que garanta a segurança das pessoas, quanto mais sua qualidade de vida. Se a ligação com milícias é aceitável, construir em área de milícias também o é, não é verdade?

Pra completar a distorção do noticiário, culpam o PSOL de acordos com a Veja, diante de capa da mesma revista elogiando o governo que dizem popular pelas ações de fomento ao capitalismo dizendo se tratar de um benéfico (para a revista) "choque de Capitalismo" levado a cabo por aquela a quem Eike Batista corretamente chamou de "Margareth Tatcher Brasileira" e diante do fato do PSOL ainda nem ter votado pela convocação do diretor da revista e o que já havia decidido fazer. 

Ao culpar o PSOL talvez façam o serviço sujo de ocultar que o PMDB do aliado Paes é parte da tropa do acordo com a Veja que evita a convocação do diretor da revista à CPMI do Cachoeira. Além do aliado PMDB, há o aliado PDT na figura de Miro Teixeira, representante do PDT de Brizola Neto, atual ministro do trabalho, atuando como uma espécie de advogado de defesa da mídia, a quem os cínicos chamam Golpista (a tal PIG), em especial da Veja e das organizações Globo.

A tudo isso o silêncio é a resposta e a criação do PSOL como espantalho, talvez por este partido ter anualmente parlamentares eleitos como melhores do congresso, é a mágica que faz com que o véu de fanatismo do que se tornou a militância do PT seja mantido na base da mentira, do cinismo e da truculência.

Esse novo modus operandi inclusive nos leva a indícios a respeito da autoria de ataques baixos sobre Marcelo Freixo e sua defesa da legalização do aborto e da legalização da maconha , reproduzindo oque o tucanato e seus aliados conservadores religiosos fizeram com Dilma em 2010 e que, pasmem, hoje são feitos por apoiadores da chapa do PT/PMDB, outrora alvo, contra Marcelo Freixo.

As opções pela distorção, a opção pela satanização do adversário, pela construção de espantalhos baseados em mentiras e irracionalidade fanática acaba por gerar um movimento de autodestruição da imagem de quem buscava-se "iluminado salvador dos povos". 

A opção pelo caminho fanático, com tintas stalinistas, agressivo, irracional, que para "vencer" o adversário acaba por demolir qualquer limite ético, e não estou falando de moralismo lacerdista, levou aos alvos da mais suja e difamadora campanha da história, 2010, a reproduzirem métodos serristas contra um candidato que ameaça de alguma forma o domínio de parte do campo da esquerda, e quiçá ameaça a manutenção da prefeitura do Rio de Janeiro (Leia-se cargos), em mãos aliadas.

Essa mesma opção leva a massa de apoiadores irracionais a ignorarem ataques cotidianos aos direitos dos trabalhadores federais em greves, atacados pela mídia, pelo PT e pelo governo repetindo o que faziam antes os tão odiados tucanos.

Talvez por tornarem o partido um problema diante da necessidade de sacralização das lideranças e figuras públicas do PT, o governismo acéfalo irracional insuflado pela burocracia das migalhas tenha perdido a dimensão do que é a política de esquerda, do que é o coletivo e a necessidade de algum tipo de ethos que nos diferenciem do que chamamos de direita e que combatemos, ou dizemos combater. Ao esquecer isso a militância neoPTcostal se assemelha a um bando de Bolsonaros, aliado ao governo federal, alguns muito parecidos até na misoginia homofobia e racismo.

As distorções que as opções causam não ocorrem só no discurso, na tática ou na ação consciente, acaba por levar à distorções de caráter, sejam eles perceptíveis por quem assim age ou não, e a distorções de forma de pensar. Por isso vemos a opção pelas mega obras em detrimento do ser humano, pelo tratamento de índios como "Nômades", de mulheres, idosos e gays como lixo.

As distorções que as opções causam acabam por irem além de ser uma opção tática da política partidária e vira traço de caráter e este traço de caráter diz muito sobre o homicídio do PT pós-2006.

Diante destas distorções nos cabe rebatê-las com política, pois política enche praças.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O nome é Utopia, mas pode chamar de esperança.

A dimensão da utopia na política é também a dimensão da transformação.

A lógica dos tempos céticos em que vivemos, tempos forjados na destruição da razão como geradora da redenção do homem como ente controlador de seu destino para além do jugo da divindade, é a lógica da práxis, do cotidiano árduo e da conquista do direito ao controle da vida através do combate. 

A redenção não é bem vista no pós-1945. Se Deus morreu em Nietzsche, a razão saiu estropiada depois do racionalíssimo holocausto e das bombas extremamente científicas que caíram sobre o Japão. 

As duas saídas do homem, ou via pensamento mágico ou pensamento científico, aprontaram das suas e deixaram o pobre filho de Adão ao léo.

Se a fé recebia o poderoso dedo da razão ao clamar "inquisição!", teve sua revanche aos gritos de "holocausto!".

No meio deste Fla x Flu, uma humanidade atônita se entregava ao ceticismo, ao consumismo, ao hedonismo e por vezes deixava a dimensão da utopia como formadora de esperanças e de energia transformadora largada num canto qualquer de seu quarto de dramas e decepções.

A utopia no entanto, residente no plano das transformações, se debatia desesperada diante das paulatinas surras que tomava desde 1924 quando a hegemonia do pragmatismo Stalinista exilava-a em Gulags concretas ou psíquicas, auxiliando a construção de um tipo de mundo onde o resultado imediato e concreto, testado, sustentava a lógica política em detrimento da inovação e da transformação. 

Todo pensamento que buscasse um tipo de ação que rompesse com o limite do imediato, confundido propositalmente com práxis, era tratado como tolice.

Anarquistas? Nefelibatas! Trotkistas? Sonhadores histéricos!

E tantas outras denominações políticas, tantos outros grupos foram reduzidos à "irrelevância" por uma "práxis" que se colocava como "transformadora" enquanto sustentava ações de curto prazo, de resolução imediata,de pouco rompimento e muito etapismo, de pouco confronto e  muita construção de aparato que contivesse a massa partidária à mão.

Foi assim no Stalinismo e é assim agora novamente.

O Stalinismo foi além dos limites da URSS, se manteve em partidos denominados comunistas, mas também penetrou na maior experiencia de esquerda mundial do pós-1980, o PT, e hoje sustenta a lógica militar, anti-utópica, desqualificadora e rebaixadora da política, ultra-fanática e formadora de um irracionalismo clubista que beira o patético.

É nesse momento que qualquer movimento de reconstrução da dimensão utópica na política, com todas as falhas possíveis de qualquer ação plena de diversidade, é tratado por simpatizantes e militantes do "maior partido de esquerda da América Latina" que conduz o leme do governo que "mudou a história deste país" como ação da direita, mesmo quando o governo que apoiam age de forma truculenta com trabalhadores em greve repetindo os feitos do governo neo-liberal do PSDB nos idos dos anos 1990.

É nesse momento em que a ação truculenta da militância petista, das direções petistas que se afastam das bandeiras originais do partido em nome da manutenção de cargos e salários na burocracia e de simpatizantes carentes do carisma sebastianista de uma liderança forte (Seria melhor com boots do exército, mas na ausencia...) vê diante de si algum tipo de alternativa surgindo.

Diante de uma alternativa que apesar de recuperadora da dimensão do sonho e da utopia, tem respostas claras, técnicas, baseadas na busca da inovação pela ação coletiva, politicamente coletiva e embasada por especialistas das maiores universidades do país; tem ações concretas politicamente relevantes e prática parlamentar de alta densidade; tem penetração, capilaridade, na juventude e na inteligentsia; tem apoio de artistas, sindicatos e professores, diante de tudo isso o outrora "maior partido de esquerda da América Latina" age como infante e junto com sua horda de "simpatizantes" das redes sociais só consegue balbuciar o rebaixamento político.

Diante do que deveria ser um constrangimento, que é o apoio a um ex-adversário nada confiável e que tem contra si indícios do apoio nada velado ao crime organizado para-estatal (As famosas milícias), o Partido dos Trabalhadores age como uma horda ameaçada. Ao invés de debater democraticamente as dissenções internas, a direção ameaça militantes de expulsão por se recusarem ao apoio a um ex-adversário que atacou virulentamente o partido e sua máxima figura pública. 

Ao invés de buscarem reduzir o prejuízo político múltiplo de seguirem apoiando figuras "aliadas" como Maluf e Sérgio Cabral, buscam construir espantalhos que se valem de artifícios que vão da mentira à irracionalidade infantilóide.

Como não conseguem um debate de pulso sobre política de esquerda diante das trapalhadas do ministério da Educação com os profissionais federais de educação, diante da capitulação e absorção da prática da privatização que tanto condenavam, preferem incentivar uma mitologia sobre os "votos do PSOL com o PSDB/DEM", enquanto o PT age como PSDB, vota com o DEM e PSDB várias vezes (Enquanto o PSOL nenhuma ou rara vez calhou de votar) e se alia eleitoralmente a DEM e PSDB em diversos lugares, em especial em São Paulo e Rio grande do Sul.

Como não há para onde fugir diante da guinada de centro-direita do governo do PT, os coordenadores das ações virtuais e cotidianas preferem agir como incentivadores da impossibilidade de qualquer discurso ou debate que possibilite um retorno à dimensão da utopia como incentivadora da inovação.

É por isso o esforço cotidiano de satanização do PSOL e nítido apavoramento diante das denuncias de Jean Willys, que expõe as omissões (Pra dizer o mínimo) do Governo Dilma/Lula diante da questão LGBT, das ações de Chico Alencar na questão da educação e no combate à corrupção, do exímio trabalho de Ivan Valente na questão do código florestal e na educação na câmara e de Randolfe tanto no combate à corrupção quanto nos debates sobre educação no Senado.

É por isso que as candidaturas de Renato Roseno e  Marcelo Freixo, especialmente esse, leva-os ao ápice da irracionalidade cotidiana e ao ataque sistemático baseado em mentiras, em deturpações e na impossibilidade de enxergarem a própria incompetência diante da dimensão transformadora da inovação, da utopia.

Porque a utopia, ainda mais a utopia que aposta em inovações, que aposta no papo reto, que aposta na horizontalização e na busca do impossível como meio de levar o improvável ao plano da realização, como um certo partido fez em 1989, essa utopia, apavora quem se agarra no limite, no quadrado mágico da estagnação

A utopia para o burocrata é como a luz para os habitantes da caverna de Platão: cega e intimida.

Porque a utopia, caracterizada como impossibilidade pelo "realista", é na verdade a dimensão da transformação e da construção coletiva, da destituição dos "sábios" e "líderes", do destronar de reis e construção da ponte do poder nas mãos do coletivo, do todo, do horizontal.

A utopia para o socialista é a ideia de que juntos construímos qualquer coisa e não a ideia de que há um sonho a ser alcançado, porque o poeta já dizia: Um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Sonho que se sonha junto é realidade.

E a realidade transformada, a retirada de âncoras, o vislumbre da liberdade possível, palpável, concreta e construída por mais mãos que o costumeiro, construída pela infinitude de mãos que caracteriza a utopia, esse descontrole organizado chamado democracia radical; A realidade transformada, a ameaça de transformação, apavora o burocrata, apavora o autoritário. 

Por isso a dimensão da utopia na política é também a dimensão da ameaça e por isso por menor que esta seja ela é tratada como um dragão e combatida diuturnamente com a ânsia dos que buscam castrar o sonho para manter os muros altos pintados do cinza da imutabilidade.

Diante da ameaça da utopia a burocracia apavorada ostenta o orgulho ufanista, a estatística de "popularidade" enquanto a utopia só tem às mãos as fotos de gente nas ruas, o sorriso no rosto e a certeza de que, mesmo se perdermos, estamos no caminho certo.

O nome é Utopia, mas pode chamar de esperança.

domingo, 12 de agosto de 2012

A Política e a Esquerda que a direita Gosta

O que é política? Como definimos política? Ao que nos referimos ao falarmos de política?

Parecem perguntas com resposta óbvia, imediata, pode a própria indagação ser vista como um ato de ausência de pés no chão e noção de concretude e/ou uma busca de dogmatizar a percepção do que é política. Porém a pergunta é mais uma aporia, questão sem uma resposta única ou um problema interminável, que outra coisa.

A política é uma gama tão grande de percepções que seria simplório e reducionista defini-la sob conceito A ou B. A própria ideia de uma grande ou pequena política, conceito muito caro ao companheiro Deputado Chico Alencar, é de certa forma uma imposição de categoria, uma imposição de um conceito construído e aceitado como "normal" por uma parcela da população e não por outra.

Não quero dizer com isso que a noção x ou y de política seja superior às outras ou o inverso, mas sim que temos de entender a extensão do problema da nomenclatura da política, inclusive para que o diálogo, esse saudável conviver entre diferenças, não seja substituído pelo dogma.

A política é tanto eleitoral quanto de movimento, é tanto trocar voto por cimento quanto a busca do convencimento pelo diálogo, é tanto o raciocínio dialógico quanto o fanatismo babador de gravata. Provavelmente a noção de consenso em política tenda a ser também o atestado de óbito da sociedade, dado que a diversidade da sociedade é imensamente mais dinâmica e poderosa que modelos de convivência, formatos teóricos e lógicas de comportamento ao ponto de um consenso político levar quase que de forma causal à um certo autoritarismo da substituição de uma forma de ver o cotidiano por outros ou outro. 

O consenso tende a eliminar a discordância e salvo raras exceções tende a ser mais uma conquista de hegemonia com vítimas e um presente cheiro de autoritarismo.

Há quem entende política como um somatório de elementos que incluem o eleitoral, o movimento social, o cotidiano de lutas menores que constroem mudanças de forma paulatina e o conjunto de pequenas ações que tornam possível um ideal de estado baseado em isonomia, ou seja, a tão falada democracia, neste campo se enquadra a ideia de Chico Alencar da "Grande Política".

Há outros no entanto que entendem política como a conquista de hegemonia pura e simples, dentro de uma ação brutal de eliminação das oposições, seja pelo voto ou pela prática "pragmática" de aparatismo do estado, de organizações ou entidades, seja pela via de um processo "revolucionário" burocratizados, seja pela conquista de governos e alianças que mantenham postos de controle nestes governos.

Há a população também que lida com a  política com uma mistura ampla de pragmatismo com organização, que pode ao mesmo tempo aceitar o tijolo em troca de voto como organizar movimentos de resistências a remoções.

A direita entende o poder como algo vinculado à política e ao controle do estado, assim como parte da esquerda e tende a concordar em partilhar o estado com adversários se isso for útil a seus interesses imediatos.

Todas as definições de política são legítimas, mesmo que ilegais, são lógicas de prática, de defesa de ideais, de luta política. A questão é que tipo de estratégia abraçamos e para que entendemos a política. 

Se for pra garantir a sobrevivência cotidiana, manter o pouco que se tem coberto não vejo porque um surto moralista para condenar o morador de comunidade carente, onde o estado jamais vai, por vender seu voto por telha e tijolo. Cada um sabe onde o calo aperta.

Se for pra garantir um rigor de ação que possibilite avanços e quiça um processo revolucionário que altere o estado, que amplie a formação política da população via luta política, a mais perfeita escola, entendo até as limitações de dividir a política entre Pequena e Grande, entendo até determinados surtos autoritários do cotidiano político de entidades, organizações e partidos maiores ou menores. Entendo e posso até defender, mesmo discordando aqui e ali e achando moralista ou sectário aqui ou ali.

O problema é quando a lógica de política, a ideia de política vira parecida, irmã até, da ideia de manutenção de um estado e de interesses idênticos ao da direita que se diz combater, e chega ao ponto de emular, imitar, mimetizar comportamentos desta para manter sob controle uma massa de votos que garante a ocupação do estado, organização ou entidade. 

Quando a eleição vira a medida de todas as coisas, úncia forma de fazer política, única ideia possívle de intervenção para a transformação do mundo,quando o eleitor vira o amior juiz da ação política, maior e único, o que nos separada mais velha, cruel e  tacanha direita? Talvez nada, como o govenro Dilma gosta de nos provar diariamente em suas práticas que vão desde o abandono da questão LGBT até ao tratamento de grevistas como criminosos com uma inflexibilidade em negociar só comparável a FHC.

Quando a "popularidade" vira o único valor e o "Transformar o país" se parece cada vez mais com apenas ampliar o abismo de direitos e desigualdade que já temos, mascarado por "benesses" que não mudam estruturalmente nada e são só um choque de capitalismo, podemos definir este governo e partido como de esquerda? Podemos entender esta politica como diferente da política de direita?

Talvez parte da esquerda só consiga a prefeitura das redes sociais, mas a obtenção de prefeituras, governos de estado e governo federal para agir como ferramenta de opressão de movimentos sociais, de remoção de pobres, de tratamento da educação como sub-nitrato de excremento, de tratamento de professores como imbecis, serve exatamente para que no sentido estratégico? Serve pra que tipo de melhora qualitativa no sentido político com relação à direita mais obscurantista e tosca?

A política é também reputação, é também símbolo, é também signo e quando os signos servem para confundir Esquerda e Direita, Amarelo e Vermelho, tucano e Estrela a política entre em um obscuro véu onde no fim o fascista e o progressista acabam parecendo o mesmo, e o desserviço desta política tende a corroborar com a "Pequena política" a que o companheiro Chico Alencar se refere como principal alvo de nosso combate, porque torna a política uma mistura de elementos que não permitem que se enxergue nenhum tipo de luz no fim do túnel que não seja um trem.

Quando Lula abraça Collor e Maluf, um muro de referências erguido com lutas cai e o norte que ele significava torna um fluido elemento de confusão para quem o observava.

Quando o governo  do partido dos trabalhadores trata trabalhadores como a direita tucana tratava esta confusão se torna maior e mais grave, porque confunde referências e práticas e acaba por igualar Bolsonaro a Suplicy.

E à população que por vezes entende que nada muda, pois a opressão só se renova, a lógica da imutabilidade o endossa a continuar na prática do benefício imediato, se apegando a toda e qualquer mudança de curto prazo, que seja a da venda do voto, dado que no horizonte turvo da política institucional as diferenças tênues não permitem uma construção de caminhar claro e decidido diante da própria consciência da realidade obscurecida pela igualdade entre "diferentes".

Aos "diferentes", a quem se constrói de outra forma, a própria dificuldade de se diferenciar é uma perda de tempo e de espaço que acaba por levar à luta política de convencimento à parâmetros novos, especialmente a partir da perda de identificação clara do que é esquerda.

A quem busca uma política de convencimento, conscientização ( no sentido de depurar a informação, a formação e de auxiliar à auto-organização para a auto-consciência), o véu que se ergue pelo "pragmatismo" institucional se torna também um problema imperativo, pois a cultura que se constrói,a  tradição que se reforça é a da legitimidade pelo cargo e não pela construção ideológica me torno de programas e projetos políticos.

A política que se busca "grande política", ainda no sentido defendido por Chico Alencar, como uma política republicana e ética, tem de dobrar os esforços para se legitimar primeiro como política para depois se tornar "grande" em comparação com a política do imediatismo e do curto prazo mantida pela relação entre as necessidades da população e a política de manutenção de cargos e aparatos.

Quando esta política é tida pelo principal partido da república, atualmente governando o país, tratando servidores como bandidos e conduzido por um partido originado na esquerda e que hoje atua como seu principal inimigo na direita, como um "desserviço", como uma "ilusão", o caminho que se entende é que se abandonou totalmente qualquer traço de busca de mudanças em nome de apenas conquistas de mais e mais espaços para a burocracia que se mantém internamente e de uma massa de idólatras que trocaria a mãe pela vitória de seu time, ops, partido na competição chamada eleição que rola a cada dois anos.

A política tem muitos nomes, muitos conceitos, todos legítimos, porém optar pela confusão política em prol da manutenção de aparato burocráticos ao invés de bancar ampliação de direitos e redução real, estrutural, da desigualdade, o Partido dos Trabalhadores e seus apoiadores, a despeito dos slogans, confundem só se são a esquerda que a direita gosta ou já não são apenas intermediários.