quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Valor da Merenda Escolar

Depois da repercussão diária das falas de Freixo, tratadas de forma reles e desonesta por uma milicia organizada que apoia o atual prefeito, com táticas inclusive similares aos vários apoiadores virtuais de Dilma pós-2010, resolvi escrever um texto curto a respeito da lógica presente na maior parte dos argumentos.

A merenda escolar é parte do investimento em educação, faz inclusive parte importante dos investimentos em inclusão social e saúde, dado que é fundamento da alimentação de milhões de crianças pobres, muitas vezes tendo sido a única refeição garantida da maioria.

Esse quadro de única refeição se alterou com o bolsa-família, programa de sucesso do governo Lula, mantido pelo governo Dilma e até o momento único programa literalmente popular mantido por este governo mesmo em meio à violenta marcha conservadora a que abraçou.

Lula sabia da importância da alimentação para que algum tipo de programa popular tivesse sucesso de ser implementado e com algum ganho de qualidade de vida à população. Por isso investiu inicialmente no programa Fome Zero, que fracassou, e que gerou o que posteriormente tornou-se o Bolsa-Familia após intervenção de gestão qualificada do atual candidato a prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias.

Parte do Fome Zero que não foi levado a cabo após a transferência da gestão do programa para a direção dos programas de renda mínima era o estímulo à agricultura familiar e o uso de alimentos por ela produzidos na merenda escolar.

No programa de Governo da candidatura Marcelo Freixo esse eixo retorna com o acréscimo salutar da defesa de subsídios à agricultura familiar para a produção de alimentos orgânicos para consumo na merenda escolar após sugestão de apoiadores na plataforma colaborativa de debate do programa. 


- O Rio de Janeiro propôs isenções fiscais para instalar a indústria da CSA, em Santa Cruz. Se fizesse isso para estimular a tradição pesqueira, artesanal e agrícola da região geraria muito mais empregos. E, como se não bastasse, a prefeitura está cobrando IPTU de área agrícola. Não vamos fazer isso porque não tem sentido — disparou Freixo. — Propomos um diálogo com os municípios vizinhos para que a produção de orgânicos abasteça a rede municipal de educação e ainda sirva como forma de trabalhar a educação alimentar nas escolas. Esta é uma política que a prefeitura pode adotar para profissionalizar e organizar a agricultura familiar.

Qual o que? Os ataques nos comentários e nas redes sociais foram dos mais desqualificadores aos mais delirantes, utilizando uma colocação prática, um programa de governo para o acusar de "delírio de candidato zona sul".

Existem algumas pérolas que convido aos leitores a irem nos coments da matéria para se divertirem com o grau de selvageria tragicômica da situação.

Engraçado que a promessa demagógica do atual prefeito de colocar o Rio de Janeiro em primeiro no Ideb até 2016 não é tratada como delirante, não é tratada como "promessa".

Interessante também é que os subsídios às empresas de ônibus que praticam um serviço de péssima qualidade, tratam os usuários como gado, aumentam de preços sem melhorar o serviço, reduzem o número de ônibus mesmo com redução de custo via BRS, nada disso é questionado, mas alimento pra criança em escola pública, a maioria pobre, é "delírio zona sul" na ponta dos dedos dos que, pasmem, se dizem defensores de um governo "popular".

Mais interessante ainda é que os subsídios à implementação da TKSA, siderúrgica que possui denuncias contra si que vão de trabalho escravo a uso de milícias como segurança de suas obras e agora de suas instalações além de mais de uma autuação por crime ambiental devido à lançamento de partículas metálicas na atmosfera, algo que atinge diretamente a população de Santa Cruz, nada disso é questionado, mas subsídio ao desenvolvimento da agricultura familiar para melhorar a merenda de crianças pobres? Qual o que? anátema!

Os subsídios à TKSA a princípio são estaduais, mas será que a Prefeitura do Rio de Janeiro não tem nenhum tipo de forma de pressão para buscar  o impedimento dos subsídios e até a suspensão da instalação de uma siderúrgica cuja relação emprego gerado/Danos sócio ambientais tem péssima relação custo-benefício para a cidade e sua população? 

Será que à prefeitura do Rio de Janeiro interessa mais se omitir diante do descalabro que foi a implementação deste câncer em forma de siderúrgica e responsável pelo aumento de 67% das emissões de carbono da Capital conforme a Fundação Osvaldo Cruz, e ainda foi subsidiada pelo Governo do Estado do rio de Janeiro cujo timoneiro é o companheiro de PMDB de Paes, o Senhor Sérgio Cabral Filho?

Será que o que mais ofende aos partidários do Governo Paes, aos partidários do Governo do PMDB, aos Petistas aliados ao PMDB é o subsídio à agricultura familiar para a merenda escolar e não o subsídio à máfia dos transportes e À empresas que ampliam os gastos com reparação ambiental e com saúde do Município?

Será que a guinada ideológica ou a salvaguarda do aparato estatal é mais importante que um norte de princípios ideológicos, éticos até, e cuja priorização é diretamente dada ao povo e suas crianças, sem intermediários?

Diante do que li, diante do que se põe à mesa pelos comentários nas redes sociais e sites de notícia  mais vale subsidiar empresários que crianças pobres para a massa de apoiadores do Governo Paes, petistas incluídos, o que diz muito sobre eles e sobre o governo.

A lógica de cidade espetáculo e capitalistizada, amplamente liberal, com um estado gerenciador de eventos a substitui o princípio ético do governo e  do estado pata a população, detentora do poder e em cujo nome o poder deve ser exercido.

Subsídios à agricultura familiar, que provavelmente são menores e mais eficientes que à máfia dos transporte ou à siderúrgica envenenadora, são tratados como "promessas" comparáveis à levar a praia à Tijuca. Já dizer que dobrará a nota do Ideb do Rio de Janeiro, sem nenhum tipo de investimento assinalado, sem nenhuma guinada do programa em atual execução (dado que o prefeito é candidato, mas não deixa de ser prefeito) é tratado como "proposta".

A lógica da defesa irracional dos governos se prende no "preço" dos alimentos para crianças, mas não "preço" (De financeiro a socio-político) de mega empreendimentos ancorados em remoções, subsídios à empresas de transporte sem nenhum compromisso com o cidadão e a empresas poluidoras, (Da TKSA às empresas do Grupo Eike Batista).

Encontro de Marcelo Freixo com educadores
As prioridades dizem muito sobre a política.

O Valor da merenda escolar é parte definidora dos valores dos grupos políticos e entender seu valor talvez seja mais importante que saber seu preço.

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