A caminha da esquerda partidária nunca foi baseada no purismo simplista que arrotam "sábios" e "ponderados' membros da blogagem "progressista" ou da imprensa corporativa (cujo comportamento e modus operandi se confundem e refletem).
A dura caminhada plena de contradições internas e externas, relações perigosas dentro ou fora do arco de alianças "puro-sangue", sempre foi marca de uma esquerda onde no passado logo após sair da cadeia abraçou o ex-algoz Getúlio em nome da resistência diante de uma direita entreguista representada pela UDN e que crescia para controlar o governo.
Também no decorrer dos anos 1990 a pressão para a ampliação do arco de alianças sobre o "radical" PT foi a marca daquela caminhada que corria em paralelo ao amainar também das lutas cotidianas e das necessidades e combates dos movimentos sociais, já imersos na correia de transmissão do projeto de eleição do primeiro operário presidente da república, que ocorreu afinal em 2002.
As contradições e a quase que universal pressão para "a ampliação das alianças" não são, portanto, novidades para a esquerda e, nem tampouco o PSOL se livraria do discurso que perseguiu o PT durante os anos 1990 e vencendo neste partido levou aos píncaros da ampliação e flexibilidade programática que foi o abraço ao Maluf em São Paulo, com resultado positivo eleitoralmente (Politicamente são outros quinhentos).
No próprio PSOL esse discurso permeou o partido no primeiro e segundo turno, com ênfase no nebuloso projeto de Macapá que incluiu até um apoio no segundo turno, com cheiro de aliança, do fatídico DEM, abraçado pelo senador Randolfe Rodrigues e seu pupilo Clécio com o ardor dos que vêem ali a saída para todos os males.
Este ardor aliancista cuja lógica aparentemente "racional" não distingue "flexibilidade" e ampliação de alianças com acordos complexos com setores representantes da ala da sociedade cuja construção do PSOL se buscava combatente, fomentou discussões que retornam ao período onde essa mesma carga de debate era aplicada para a diferenciação óbvia entre aliança com amplo arco da sociedade de acordos com partidos que representam o controle político conservador sobre o estado. Ou seja, a discussão que havia de 1990 a 2002 no PT, não morreu lá, e continua no PSOL, numa busca de amainar uma "radicalidade" que muitas vezes é tachada de sectária quando pro vezes tem o cálculo político da diferenciação em prol da ampliação da capilaridade social para além da institucionalidade.
Confundindo capilaridade política com capilaridade eleitoral o "aliancismo" se joga numa busca de "musculatura" eleitoral que se utiliza do maior número de malabarismos possíveis pra justificar arcos de alianças pra lá de ecléticos e que pouco se assemelham a uma construção horizontal de alianças com a sociedade, tendo muito mais a cara, inclusive em seus atos de formalização, das velhas e velhacas alianças entre senhores e coronéis, no acordo de cavalheiros que sustentam não uma mudança estrutural, ou mesmo um ensaio disso, nos locais onde ocorrem, mas sim apenas mudanças pontuais de controle do aparato do estado, e isso quando vão além da mudança dos chefes de governo locais.
Sob a alegação da necessidade de crescimento partidário rumo a constituir-se uma alternativa ao poder atual repetem-se os erros que conduzirem o projeto atualmente hegemônico ao poder, e com singular similaridade.
O interessante é que estes movimentos ocorrem quando em centros maiores e com uma realidade política extremamente mais complexa, projetos com um saldo organizativo político-partidário local foram muito além das fronteiras da cidade e se tornaram referências nacionais pela capacidade de ir além das fronteiras do partido e da concepção de alianças com legendas com pouca ou nenhuma proximidade ideológica como único eixo de atuação política. Esses projetos ocorreram em disputas eleitorais de profunda dureza como no Rio, Salvador e Fortaleza e com um saldo organizativo palpável, com ampliação de ocupação de espaço político à esquerda, sem sectarismo e com diálogo amplo na sociedade e profunda aliança com movimentos sociais e coma sociedade civil organizada sem nenhum tipo de discurso hermético ideológico e com um arco profundo de politização dentro dos marcos da discussão de projetos de cidade.
Esses projetos possibilitam um avanço para além do carisma individual desta ou daquela liderança e a construção de coletivos militantes que possibilitem um crescimento sólido e que penetre transversalmente na disputa política sem precisar de acordos estapafúrdios com caciquetes locais em nome de uma duvidosa vitória eleitoral com profunda desconfiança não só do partido, mas como da sociedade brasileira.
No mesmo plano de discussão a questão de Belém representa um ponto de reflexão sobre os limites de um determinado tipo de pragmatismo em busca da eleição por si mesma. Embora com menos ardor "pragmático'' que deu a Macapá o título de líder no quesito alianças sui generis, a ampliação de alianças em Belém também obedeceu uma certa flexibilidade que foi tolerável no primeiro turno e que degringolou no segundo quando a sanha pela vitória tornou o apoio do PT em aliança programática com inclusive anuência de Lula em programa de TV.
De uma campanha com a presença de parte da base de apoio ao governo federal, mas ainda dentro dos marcos de um discurso do PSOL mais macio, a campanha de Edmilson Rodrigues no segundo turno tornou-se praticamente uma anti-campanha do PSOL ao tornar-se uma campanha ratificadora de um governo ao qual o partido mantém fervorosa oposição e concordância com programas deste governo cujo partido e movimentos sociais ao qual o partido é próximo compõe profunda oposição, combate mesmo, como o "Minha Casa,Minha vida" ou a política de educação que gerou as prolongadas greves no ensino federal.
A participação de Mercadante na campanha de Edmilson representou um imenso problema pra metade mais um do partido que compuseram a liderança nas greves. A de Dilma ofereceu a quem combate a política ambiental do governo, Belo Monte, política indigenista, a dura face de verem-se desrepresentados pelo outrora candidato que em Belém era seu representante. Marta por sua vez lembrou a quem luta pela ampliação dos direitos LGBT a complicada ação da Senadora na negociação que levou ao arquivamento do PLC 122 no senado. Pra completar Lula em sue discurso auto-congratulatório pelas realizações de sue governo representou como se uma vitória simbólica do projeto que ele representa sobre a dissidência que fundou o PSOL.
O resultado disso tudo, obviamente somados a outros tantos fatores, não foi exatamente oque o partido em Belém esperava levando à derrota eleitoral e possivelmente política ao causar tantas fraturas na base de apoio partidário e nos movimentos sociais.
Neste mar de contradições, vitórias e derrotas que se ergue um PSOL que hoje possui um quadro muito mais complexo e positivo que outrora, desde sua fundação, dado que permite uma construção ampla, com participação coletiva e leitura ideológica sem ser fechada, hermética, e impossível aos não iniciados, e também inclui em debate o alcance de determinadas vitórias cuja metodologia pouco difere das dos quem abrimos fogo no combate político diário.
Além disso o excesso de independência de determinadas instâncias com relação à direção nacional, como o de figuras públicas em sua relação com a conjuntura nacional e local é um bom tema de debate, dado que tanto o Senador Randolfe sustentou as alianças sui generis em Macapá como atropelou a instância estadual do Acre ao poiar o mesmo candidato do PT que a instância local negou apoio.
A omissão de parte do diretório nacional na discussão destas questões também é uma pauta que deve ser debatida para que o PSOL não viva sequestrado como partido pelas suas lideranças ou correntes que controlem cargos dirigentes evitando que como em 2010 tenhamos ruptura pública ao ponto de sites serem furtados.
É neste mar que o PSOL hoje navega, o caminho que tomará dependerá tanto da mobilização dos navegadores quanto da conjuntura externa, das marés.
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