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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Vai ter segundo turno.

Eu queria falar da construção da tradição da guerra aos pobres, da criminalização da pobreza, das classes perigosas, aprendizado lido no livro "Cidade Febril" de Sidney Chalhoub.

Também queria questionar o combate ao fundamentalismo religioso em busca de uma razão neo-iluminista que no fim e ao cabo é a reprodução da lógica de que tudo e todos que possuem fé são imbecis.

Também pensei em escrever sobre a permanência de proto-intelectuais num nicho de lógica, se é que podemos chamar de lógica, que manifestam seu entendimento do real como superior ao de outrem, especialmente se estes outros não são doutos,letrados, e que definem o que não é científico, entendendo-se o científico  com uma fé enrustida na neutralidade da ciência que faria inveja nos intelectuais do século XIX, como subalterno, imbecil, idiota, como se o conhecimento tradicional (ou o conhecimento mágico) não fosse ele mesmo muitas vezes tão ou mais racional e empírico quanto o pensamento e conhecimento científico. 

Também pensei em retomar a lógica do vanguardismo, da defesa de uma antevisão que parte da sociedade tem que sua percepção do real lhe garantiria uma liderança automática por sobre os demais, ou em termos mais rudes, por sobre o gado, o populacho, a choldra.

Tudo isso foi pensado para ser escrito como tema de minhas atualizações do blog, que se buscam semanais, porém foram todos, um a um descartados, não por não serem temas importantes ou se não fosse possível escrevê-los, mas porque um misto de cansaço, sensação de dever cumprido e encanto se apoderou de mim ao fim desta belíssima campanha para tentar eleger Marcelo Freixo e Renato Cinco neste pleito de Sete de Outubro de 2012.

Durante todo o tempo de campanha lidei com novas pessoas, entendi novas paixões, novas razões, novos meios de entender o cotidiano, vivi, ri, chorei, tomei chuva; panfletei superando minha aversão ao panfletar; sai de casa para além das obrigações e da diversão superando um desejo e uma preguiça de quase nunca sair do teto; monitorei redes; enlouqueci de raiva a partir de ataques rebaixados de adversário, ex-companheiros e até ex-amigos; Sofri com raiva do fogo amigo que infelizmente se torna comum na esquerda; aprendi novas leituras; aprendi novas pessoas e realcancei a utopia, mesmo tímida, de mudar o mundo.

Foram quase três meses de muito trabalho diário nas redes, algum trabalho no cotidiano das ruas, de muito papo com colegas de faculdade, de muito texto, muito debate, muito sangue doado, muito suor e muito amor doado pra uma campanha. Só não doei dinheiro porque não tenho.

Foram quase três meses após mais de seis meses afastado do PSOL por divergências internas, por uma necessidade de reformulação interna minha de repensar o político pra mim, a política, a ideologia. Foram quase três meses onde a busca pela retomada da dimensão da utopia para a cidade e o país coincidiam no mesmo movimento para a retomada desta dimensão em mim.

Uma campanha onde deixei pendurada na porta uma vaidade minha, um desejo de ser vanguarda que sempre atrapalhou e que me impedia de aprender com tanta gente que hoje faz parte dessa tanta gente que trago em mim onde quer que eu vá.

Uma campanha onde reouvi canções minhas, eternas, nossas, de coração aberto, razão aberta, de estudo aberto, onde estudei a cidade para transformá-la e pra pesquisá-la, onde vi as cidades e a luta contra a construção do projeto de secessão nela no discurso do meu partido, da candidatura majoritária, do meu candidato a vereador, em meu projeto de pesquisa e mergulhei nisso, nessas convergências, convencido que nada deve parecer natural e nada deve parecer impossível de mudar.

Esse texto é o que eu consegui fazer para agradecer a todos, ao candidato e companheiro Marcelo Freixo, ao candidato e companheiro Renato Cinco, aos candidatos e companheiros Eliomar Coelho, Mc Leonardo, Babá, Futuro e tantos outros que tão ai e estarão tentando construir o PSOL e enfrentar a barra de combater milícias, empreiteiras, tratores, oportunistas, nesse cotidiano de tanta pancada que a gente leva como trabalhadores, com os trabalhadores, com os movimentos sociais. 

Esse texto é também um agradecimento ao Leo Uchoa, à Luisa Côrtes, Pedro Souto, Raoni Tenório, Paulo Cople, Cássio Venturi, Jorge Borges, Bid Teixeira, Luciene Lacerda, Luiz guilherme Santos, Silvio Pedrosa, Gustavo Ribas e tantas outras pessoas que fui de alguma forma conhecendo e achando bom e lidando com elas da tarefa de tentar fazer das redes e das ruas um espaço nosso, de uma campanha nossa, alegre, militante, amorosa, entregue à luta. Agradeço também a todos eles por me reapresentarem uma forma de fazer política, aguerrida, brigada, mas sorridente e feliz.

A gente agradece enquanto espera e descansa depois de um dia panfletando, guardando forças para abraçar o Maracanã amanhã dia 06/10 às 11:00 hs da manhã e pra depois refazer todo esse percurso no segundo turno.

Cês sabem,né? Vai ter segundo turno!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O elitismo das Feijoadas, o rebaixamento e as Vanguardas

A lógica da tutela ao povo que permeia os ataques cotidianos a Marcelo Freixo é nítida. 

O desprezo à inteligencia alheia, especialmente à popular, abrindo fogo com o uso do mais rebaixado em política não é só manifestação de ausência de recurso de debate, é uma opção pela lógica de que o leitor a tudo engole passivamente, sem reflexão e que uma imagem é o suficiente, por valer por mil palavras, para chocar ou formar opinião.

Essa construção de paradigma do uso do rebaixamento do discurso e do uso de imagens parte do pressuposto elitista que o recurso ao argumento é um problema pois as pessoas "não entendem" e "Se cansam", por isso o recurso à fotos, montagens, frases de efeito, ad hominem, xingamentos, etc.

Essa percepção do outro como um idiota incapaz da reflexão é irmã dileta da ideia emitida por famoso jornalista da Rede Globo de que as pessoas, a maioria delas ou o dito "povo", são como o personagem Homer Simpson da série de TV "Os Simpsons", ou seja, são idiotas cuja capacidade de entendimento é limitada, vinculando escolaridade com compreensão do mundo e assim erguendo uma barreira onde uma "elite iluminada" tem de levar o "povo" pelas mãos e indicar o que é melhor para eles.

Dentro dessa tática, que é uma distorção do vanguardismo preconizado e defendido por Lênin, ampliando seu aspecto dirigista, mas optando por ignorar seu aspecto de imersão no popular, a opção por um linguajar fantástico, pelo "Fla x Flu" ideológico, pelo insuflar de estereótipos, preconceitos e até noções mentirosas sobre os adversários, satanizando-os, é similar à toda a lógica da imprensa corporativa, chamada cotidianamente de PIG (Partido da imprensa Golpista) por blogueiros e militantes  aliados ao Governo do PT e seus aliados nos estados, como o PMDB de Eduardo Paes.

Neste aspecto a tão condenada Veja tem entre seus maiores adversários seus melhores alunos.

Utilizando a lógica do rebaixamento e da aposta na ausência de entendimento dos leitores, especialmente os do povo, os Blogueiros que se dizem "progressistas, emulam Veja em um tipo de embate político que reduz o leitor a um Homer Simpson sem memória, apostando que a esquizofrenia que os move, alternando entre negação e elogios a pessoas e partidos que ora são aliados e ora adversários, não será percebida no uso, por exemplo, de uma foto de Freixo com milicianos no dia em que tomava depoimentos destes para a CPI  para rebater fotos de Eduardo Paes, em reunião com milicianos para ceder a eles via licitação a exploração econômica das Vans na cidade.

Apostam com isso que eles apontando ao leitor e à população, inclusive enviando a foto a jornais, o leitor/povo automaticamente embarca, sem refletir, sem criticar, sem avaliar.


Em sua sanha de desprezo à inteligência popular buscam satanizar adversários que tem a seu lado uma imagem consolidada de enfrentamento ao ponto de sofrer cotidianas ameaças de morte.

Chamam de "Frouxo" um adversário ameaçado de morte e elogiam a coragem de um aliado incapaz de posturas que possam ir além de repreensão em aliados como Guaraná, Pedro Paulo, Rodrigo Bethlem, ou citados na CPI das milícias ou que organizaram reunião do atual prefeito com milicianos ou que nomearam ou milicianos ou pessoas ligadas a eles para cargos comissionados na prefeitura ou no governo do Estado do Rio de Janeiro, conforme se pode ver na matéria acima linkada ou no relatório final da CPI das milícias (Experimentem buscar no documento o nome de Rodrigo Bethlem, e dos candidatos a vereador da chapa PMDB/PT). 

Apelam pro popular arquetípico, o sambista, o sujeito que vive rindo, o "alegre" e satanizam o Funk, fazendo parte do corpo de governadores e prefeitos que ampliam a pressão sobre o funk, proibindo-o via comandos das UPPs, por exemplo, e limitando seu acesso à cultura, editais inclusive. 

O Samba torna-se o popular  possível, definido pela elite, aceito pela elite, um popular mediado pela elite, e que só pode ser feito dentro dos limites da elite, dados por ela, por isso quando ele é dito como cultura  por Marcelo Freixo, o ataque é imediato, pois o Samba não é cultura para esta elite, é evento, é festa, não é uma marca do povo, já que apreendido pela elite é apenas uma festividade pitoresca e turística.

Já o funk não, o Funk agride ao bom gosto da elite e por isso ele é atacado, inclusive pelo pai do governador, como um anátema, como algo que não precisa  e nem pode ser valorizado, não é a boa cultura ou bom gosto  que agrada à elte, que determina o que é o povo.

Tentam definir o que é o popular , mas é um popular sem povo, datado num popular de redoma, numa noção de samba, de arte popular de redoma, de gosto popular de redoma, onde o "Povo" é um ser cujas pretensões e inspirações são apenas o consumo e o  acesso a qualquer presso às migalhas doadas por "iluminados", via programas do governo que de boa ideia tornam-se limitados grilhões.

Incluem via consumo e uma redução da penúria que de bem vinda não possui ampliação no que tange à construção de um projeto sustentável de manutenção da dignidade.

Gritam "Damos casa ao povo!", mas as casas são em locais sem infra-estrutura, o mais longe possível do centro de onde as pessoas foram removidas, sem saneamento, sem segurança, muitas vezes em áreas controladas por milicianos.

Gritam "O povo agora é emponderado e consome" só que mora em casas sem finalização, morando longe, sem ônibus, tendo saúde e educação péssima, sem internet, com péssima telefonia. O cara tem Tv de Plasma pra ver TV aberta apenas, e computador pra internet discada.

Gritam "O povo vai na faculdade" é e se forma de forma parca, com péssima infra-estrutura, professores mal pagos e por vezes tendo de suar para ter o diploma porque as faculdades que dão bolsa nem sempre se preocupam em regularizar seus cursos, fora que as bolsas são limitadas a cursos que no fundo são apenas treinamento para absorção no mercado, e treinamento ruim, como Engenharias de Petróleo e Gás que não são absorvidas pelas petroleiras, ou Engenharia civil que não são aprovados nas construtoras ou o direito que não passa nas provas da OAB.

Optam pelo acesso apenas, ignoram qualidade. Pois para eles ao povo que nada tinha, o qualquer coisa é ouro.

Chamam os adversários de elitistas, mas optam por mentir a combater o crime organizado para-estatal, formado por gente ligada ao estado, por ou com relação com políticos da base aliada.

 Dizem-se populares, mas optam por se omitir a enfrentar as máfias de Transporte Público, Transporte alternativo, ao criem levado a cabo pelas milícias, às criminosas OS que prestam péssimos serviços de saúde e as desvios de dinheiro em obras de construtoras aliadas do poder, e olha que nem falei das perigosas relações relativas à Siderúrgica do Atlântico, onde os "populares" destruíram a vida de pobres pescadores dando isenção para a construção  de uma companhia em nome da geração de empregos que nunca vieram, dando licença para a destruição de áreas de proteção ambiental em nome de empregos que nunca vieram e para uma empresa acusada de usar milicianos como seguranças.

Tutelam o povo, defendem um povo de fancaria, um povo arquetípico, tido como idiota, necessitado e uma liderança paternal que não reflete, não raciocina; dizem-se populares por lançarem migalhas através da inclusão pelo consumo sendo cúmplices do transporte que aprisiona metade do dia do trabalhador; Dizem-se populares, mas são cúmplices dos criminosos que matam e oprimem a população em suas áreas onde não são enfrentados pro seus aliados; Dizem-se populares, mas não produzem mudança significativa no cotidiano da educação e saúde voltada para a população pobre.

Dizem-se populares, baseados em pesquisas, mas o são?

A vanguarda do rebaixamento político é também a vanguarda da tutela de um povo criado, arquetípico, anacrônico, de um povo de fábula que vive rindo enquanto é explorado, oprimido, que mofa no transporte público ou é assassinado pela milícia tratada com leviandade por blogs e militantes que se dizem populares, mas preferem tentar destruir quem combate as milicias do que o embate político através de defesa da cidadania.

Preferem o rebaixamento ao embate por não terem política.

Preferem o rebaixamento ao embate por desprezarem o leitor, o povo e sua inteligência.

Dizem-se populares, mas são só elitistas.