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quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Ethos Acadêmico e a Classe Média Sofre

Existe um ethos acadêmico.

Sim existe um ethos acadêmico que permeia a esquerda, a direita, o centro e vive dentro de cada um que lá está. Não é difícil entender o porque, dado que toda a sociedade e todos os grupos sociais mantém uma cultura  própria dentro da Cultura-mor que é comum a todos e "gere" comportamentos e percepções do real, conscientes e inconscientes. Todo grupo social mantém uma  cultura que se reflete em jargões, modos de andar, gosto musical, humor e também em participação política.

O Ethos acadêmico, este corpo de formatos que acabam invadindo cada ente que participa da academia, é relacionado diretamente com a lógica científica de construção de verdades e de revelação de verdades, fenômenos, descobertas. A academia quer descobrir o real, não exatamente transformá-lo.

Além disso, existe um eixo meritocrático que hierarquiza os participantes de acordo com uma classificação de valores que inclui inclusive os títulos como eixo de definição de valor do indivíduo. Esse eixo não pega só no sujeito acostumado com essa lógica, que vive em um habitat cultural que permite não só a manutenção desse arcabouço valorativo, mas estimula sua preservação. Esse eixo também persiste e se reproduz em quem se identifica como Esquerda.

E é neste aspecto que a lógica da Esquerda tem um embate direto como Ethos assumido pelo acadêmico, que é impulsionado à transformação no mundo ideológico, mas que abraça a manutenção no âmbito de seu sistema de valores pessoal e de seu grupo.

É ai que o "revolucionário" da Rua humilha um aluno em público por este não entrar inteiramente nos critérios assumidos por ele como definidores do valor do indivíduo. O "revolucionário" da rua é conservador e mantenedor de uma hierarquia rígida no interior do grupo social onde atua, no interior de seu habitat.

É por isso que vemos professores defendendo uma práxis revolucionária em assembleias de partido, sindicato, seminários e palestras e tripudiando de um doutorando em redes sociais ou humilhando um militante que por acaso não seja versado completamente na literatura acadêmica a respeito de algum tema ou fazendo troça de defensores da revolução que por acaso não consigam definir como será o futuro (Até por não serem Mães Dinahs).

Por isso também que o Acadêmico tende a estacionar na defesa de reformas e não avançar muito na lógica revolucionária, por ter como eixo de construção de sua visão do real a dupla função de revelar, descobrir o real, com a de manter a estrutura que o constrói  e localiza no espaço social:  O mérito e a hierarquia.

Ao Ethos Acadêmico a  Revolução é tanto uma ilusão como uma afronta.

Neste aspecto vemos acadêmicos tendo crises de Classe Média Sofre por estarem ofendidos pro um povo que não obedeceu a seu comando títere e cisma em ter valores, gosto musical e fé diferente do que entende como ilustrado. É por isso que a média dos acadêmicos tende a apoiar candidatos e lógicas políticas que trabalhem com a mediação e com os limites e controles à mão, evitando rupturas, é por isso que vemos defensores de uma mudança de perspectiva etnocêntrica sobre grupos sociais ou etnias mantendo uma lógica e perspectiva etnocêntrica para com o que entende como "errado" ou "limitado".

O Ethos Acadêmico é um modo de entender o mundo que se liberta pela capacitação de observação do todo, cativa pela lógica hierarquizada, reformista e arrogante que torna acadêmicos como quase desejosos de um povo diferente do que têm, de uma lógica de comportamento SOCILA, de uma etiqueta social com punhos de renda e cuja percepção do povo foge à ciência mais reles e acaba por ser um apanhado de preconceitos misturados com rococós proto-científicos.

O Ethos acadêmico é fruto ainda da lógica burguesa de entender a sociedade, é um ethos construído não ontem, não anteontem e mantido desde o surgimento das universidades, mantido pelas revoluções burguesas e não combatido internamente pela maioria dos membros da academia.

O Ethos Acadêmico pensa o país e o mundo, mas impõe limites para a participação da construção do mundo e transformação do mundo baseados no entendimento do mérito acadêmico, da visão intelectualizada e formalizada como intelectualizada como visão dominante, ignorando em sua maioria os aspectos locais da construção do real e explicação deste. E mesmo quando não ignora as perspectivas nativas por um lado, as ignora por outro quando  o nativo não é pitoresco.

Precisamos da academia, precisamos da ciência, precisamos dos acadêmicos, pesquisadores, mas precisamos também ir além de retoques no mundo para evitar que as togas pareçam cada vez mais com mantos de nobres e menos com o macacão que se suja na terra pra construir um mundo novo.

Pensar é um ato político, mas precisa também ir além do discurso.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O preço da invasão da USP

Reitor Rodas
A invasão do Campus da USP pelos nobres Policiais Militares recebeu apoio dos clássicos reaças e inclusive de parte da "intelectualidade" de "esquerda", notadamente ligada à Biopolítica e à  "Nova Esquerda", apoiando isso em nome de um moralismo legalóide. 

Esse legalismo esquece uma máxima humanista: "Nem tudo o que é legal é legítimo" que se não me engano um tal de Erasmo escreveu mais ou menos no período citado pelo Mário Maestri neste  belíssimo e fundamental texto. E este esquecimento vem sem notar o quão contribuem pra destruir coisas que são muito mais do que pensam suas rotundas bundas criadas a leite de pêra.

"São duas leis?"
Ai dizem coçando a barriga: "Mas nego acha que são dois mundos? duas leis?" é fio, é isso mesmo, é isso porque é preciso que assim, seja para que o conhecimento seja produzido, debatido sem que funguem em seus cangotes a ideologia passeante com o coturno costurado com o brasão imperial do momento,  para que o conhecimento tenha a liberdade de destituir reis se preciso for. 

Isso acontece na mesma semana me que descubro que nas colonias espanholas e inglesas se investia em universidades para que as lideranças pudessem "guiar a massa ignóbil" e me perguntava porque os lusos não entendiam da mesma forma que os Espanhóis e Ingleses, a necessidade das universidades. 

Qual era o projeto que impedia aqui o mesmo que nas demais colônias? Ai o "Arcaismo como projeto" me veio à cabeça.. O projeto é o Arcaísmo e é encarnado num fato simples: A Polícia militar surge no Brasil antes das Universidades.

Isso obviamente não é escrito com nenhum intuito de defender um "destino manifesto" de mediocridade  que o Brasil possui  se comparado às nobres e peleadoras nações latino-americanas e ao paudurecente Tio Sam, mas pra ressaltar  que a PM hoje surge antes mesmo do projeto de nação chamado Brasil e coma missão clara de manter na linha o  "populacho" negro, pobre e sujo e quem mais ameaçar a ordem unida do "donos das capitanias" muitas vezes ainda hereditárias. 

Agora foi o alunato da USP que resistiu ao absurdo da entrega da autonomia da universidade de mão beijada ao coturno mais próximo em nome de uma isonomia legal que universidade alguma tem de ter como mundo exterior. Resistiu? para isso existe a Polícia militar, para conter resistências.

A autonomia universitária é para os proprietários da PM, encarnados no comandante em chefe de plantão para seguir as ordens de quem o mantém no cargo chamado Governador, e para, pasmem, parte da intelectualidade que se autoproclama de esquerda, um "delírio pequeno burguês", um "privilégio absurdo" ou outro termo com alto grau de adjetivação que estiver à mão para desqualificar uma conquista que remonta a idade média e que tem em seu germe, em sue cerne e em sua função primordial a manutenção da liberdade da produção do conhecimento para que este ajude o mundo a manter a liberdade.

Em nome de uma "derrubada de muros" da Universidade para que ela "faça parte da sociedade" se constroem grilhões.  Estes grilhões terão um preço muito maior do que a fiança de mil reais que os estudantes presos de form absurda, abusiva e insana terão de pagar e quem o pagará seremos nós, todos, universitários, pequenos burgueses, pobres, pretos, brancos, todos.

As universidades surgiram antes nas colônias inglesas e espanholas do que na colonia portuguesa, que preferiu criar a Polícia Militar, talvez seja essa a resposta para a pergunta cíclica do porque o combate pela liberdade é mais enfático nos países latino americanos e na pátria do Tio Sam, se não é uma resposta é uma pista, uma valorosa pista.

PS: Esclarecendo um ponto: As universidades no Brasil só surgem na década de 1930 do século XX   conforme este artigo que cita a Universidade de São Paulo e a Universidade Nacional do Rio de Janeiro. Há fontes que no entanto consideram a UFPR a mais antiga, tendo sido fundada em 1912. No entanto a Policia militar é fundada como  Guarda Real de Polícia” em 13 de Maio de 1809 , e também são fundadas a Academia Real da Marinha (1808), Academia Real Militar (1810), Academia Médico-cirúrgica da Bahia (1808) e Academia Médico-cirúrgica do Rio de Janeiro (1809). Ou seja, a fundação da Polícia militar foi em Paralelo aos primeiros cursos universitários e antes das Universidades, tendo a polícia um desenvolvimento mais rápido e amplo que os cursos universitários que demoraram mais de um século para  se tornarem universidades.