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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

De que me vale ser filho da Santa?

Tem dia que de noite é assim mesmo. Ainda mais em tempos onde a política sem rancor te ameaça de processo em debate político; em que a Fundação Nacional do Índio, herdeira do Serviço de Proteção ao Índio, é cúmplice, mesmo que por omissão, de assassinatos e de exploração ilegal de madeira em terras indígenas; em tempos onde um dos principais partidos de esquerda do país, ou ex-esquerda, faz acordo pra manter arquivos da ditadura que vitimou grande parte de seus quadros dirigentes ocultos nas sombras do tempo e do "pragmatismo" político mais servil; em tempos onde os "cordiais" Brasileiros acham  normal barrar Haitianos porque "vão roubar nossos empregos" e acham que gay e mulher tem de ser castrado e postos em jaulas, oprimidos, esmagados.

Nestes dias turbulentos e tenebrosos a mulher é um alvo fácil da manutenção do conservadorismo e da  opressão sem maiores culpas pelas alas conservadoras, e crescentes, da sociedade. A escalada do conservadorismo atinge primeiro onde a tradição mantém um longo arcabouço de sofismas pra justificar a supremacia do macho adulto branco, sejam eles baseados em versículos bíblicos, teorias "cientificas" ou aspectos legais de interpretação dúbia. 
Primeiro os gays, depois as mulheres e os negros, paulatinamente a política segue a trajetória avant garde do atraso traduzido em Redes cegonhas, incentivos fiscais para o aumento do capital e expansão de igrejas que pregam homofobia e criminalização do aborto e por ai vai. O fim das cotas no país do "Não somos Racistas" não é algo tão improvável, embora custe mais votos do que recuar na questão LGBTT e de gênero.

Neste momento me causa espécie ainda ver no discurso de quem se quer alternativa e resistência o louvor a uma "grande política" ou a um discurso de purificação da luta política como se a questão fosse moral e não de cunho nitidamente de disputa feroz por espaço. 

Como que uma questão política de resistência se prende na  moralidade dos atos de políticos quando o que está em jogo é a democracia e o próprio humanismo atacados cotidianamente por jornais, partidos, governos? Como tratar a questão politica como centralizada na moralidade quando, em suas ações e omissões, os governos atuam na defesa desde cadastro de grávidas que acaba por servir como arma de punição por aborto, até a violenta ação contra dependentes químicos na cracolândia em São Paulo, sem nenhuma estrutura de tratamento ou orientação e às margens de toda a ciência envolvida no estudo do tratamento a dependentes, e que assinam a nível federal medidas que permitem a internação compulsória destes? Como tratar o cerne da ação da alternativa humanista (nem é mais uma questão de Esquerda) como centrada na moralidade pública quando gays e mulheres são hostilizados por amarem, seja pelo epíteto de "putas", seja pelo estupro, agressão ou morte?

A cada dia mais vozes se ouvem louvando com justiça implacável a libertação feminina e o direito e orgulho gays, negros, indígena, mas as vozes que se erguem contra essas conquistas não falam baixo e nem são  poucas e também usam o discurso da moralidade pra desqualificar não só os políticos, mas também a própria democracia. Então focando toda a resistência política no  foco moral acaba-se pro fazer coro indireto ao paulatino desejo de destruição da democracia em prol da destruição em seguida do humanismo e  de suas conquistas que foram sangrentamente levadas a cabo juntamente com o suor dos movimentos de trabalhadores anarquistas e socialistas e não foram dados por algum pai dos povos benevolente.

A cada dia é mais presente a sola do coturno em nossos rostos e principalmente no rosto das mulheres, gays, negros e pobres que morrem e sofrem violências cotidianas, basta de alguma forma saírem do que a opressão designa como seu papel, às vezes nem isso.

A cada dia a PM é mais e mais violenta e não só onde a "direita" tucana reside em seus ninhos de poder. A cada dia uma nova atrocidade é cometida e as vozes que divulgam a luta de direitos são mais atacadas, especialmente, repito, as que lutam pelos direitos LGBTT e das mulheres.

Para parte crescente da sociedade mulheres e gays devem ser como Ângela RoRo critica em sua música "Mônica": "Morreu violentada por que quis!  Saía, falava, dançava. Podia estar quieta e ser feliz Calada, acuada, castrada".

Há uma nova classe média? sim, há, ela consome e vive melhor do que no passado, mas ela absorve e concorda em geral com os mesmos valores conservadores da velha classe média. 

E porque isso? porque abrimos mão de buscar a ampliação dos valores humanistas junto à população, optando por absorver seus votos, alcançar seus votos, dialogar sim, mas como plano de conquista de votos e não como um meio de diálogo aberto político que ousasse enfrentar o arcabouço conservador que é parte intrínseca do pensamento do todo da sociedade, preferimos ignorar isso por medo de perder os malditos votos. Chamamos a população de alienada por ignorar valores que por vezes nunca forma conversados ou mesmo identificados entre nossos "votantes". Optamos por deduzir que o caminho mais fácil era evitar o confronto "ideológico" e conquistar os governos, "Depois a gente vê o resto". Acabou que não vimos o resto e aumentamos um exército que também não tá muito afim de ver. 

A estrada para a busca de um novo mundo ficou mais longa, mais áspera, mais dura, e continuamos perdidos, perdemos o link da mudança, não sabemos que povo mora no país, não o conhecemos, não conhecemos suas experiencias que podem ser a liga p ara que os valores humanistas sejam fertilizados na terra fértil. Preferimos desprezá-los como antas conduzidas a convencê-los de nossos valores os tratamos como o que são: Seres conscientes.

Mas o que esperar de quem mal vê seu próprio machismo, racismo, elitismo e homofobia?

Diante disso precisamos resistir e avançar, precisamos resistir com força ao avanço do conservadorismo e avançar numa busca de diálogo supra partidário e sério com a população que agora atinge o acesso à internet e a bens de consumo, mas não tem ciência de seus direitos e entende por normal o que é o  mais puro preconceito e opressão, como a supremacia do macho que pode bater na mulher e que ser homossexual é ser "sem vergonha".

Diante disso é preciso abandonar o moralismo que mistura o prefeito que desvia verba com o favelado que aceita telha ou cimento em troca de seu voto. É hora de parar de moralismo e ser realmente pragmático e para além do voto, mas pelo diálogo que constrói avanços políticos reais e isso só se dá com povo na rua.
De que me vale ser filho da santa? Nestas horas é preciso ser filho da outra.



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Nada mais civilizado do que o genocídio

Pra escrever este texto primeiro pensei em discutir o Civilizado usando aspas, mas abri mão. Embora o civilizado tenha trazido junto consigo a espada de Cortéz e o poema de Cervantes, o uso de Civilizado com aspas para demonstrar a presença física, patente e incontestável da espada reduziria civilização apenas a seu melhor, faria análise cair por terra.

A discussão sobre o que é civilizado ou não é antiga, ouso dizer, sem o rigor acadêmico necessário, que desde que los Hermanos Gregos Platão e Aristóteles, ou mesmo antes, discutiram o que era ou deixava de ser humano. No século XIX o "Fla x Flu" entre Kultur e Civilización para definir o que era Cultura (Grosso modo uma discussão entre o arcabouço global de mitos, lendas, modos de fazer somado à língua,Kultur, e o aspecto mais focado nos usos e costumes aparentes e patentes era, civilización), também era  uma disputa pela demarcação do que era Civilização, ou do que era Humano.

Em todo este processo a civilização era o limes, era a fronteira entre o humano e o bárbaro, este que não sendo EU meu diferente, meu antípoda e, porque não, meu adverso, meu contrário.

Claro que do mesmo modo a definição do humano, do civilizado criou a definição de humanidade, de variedade, de cultura como um bem universal,  de direito como algo a ser ampliado e estendido universalmente. Dai nasceu desde a luta pela declaração universal dos direitos do homem até a moderna antropologia e a percepção do homem como mais do que o Europeu Branco, o civilizado.

O Civilizado criou desde o trem do progresso que segue em frente continente a continente levando sua marca ao todo como a resistência ao trem. E é neste contexto que novamente a civilização encosta na barbárie, que o limite entre ambos, tido como claro pelas trombetas ufanistas do "progresso", que proclamam em várias línguas a necessidade de "seguir  em frente", fica tão tênue como difuso. A Civilização é a mesma que defende os oprimidos e os queima, como fizeram com a criança indígena no Maranhão . Ao queimar o "bárbaro" , aquele pequeno ser isolado, os civilizados rompem com o que seria a clara diferença entre "nós" e "eles". 

A espada de Cortéz volta a nos lembrar que assim como o poema de Cervantes é parte do processo de avanço de uma cultura sobre as outras na voracidade da conquista, na demonstração que sem vigília o genocídio é parte intrínseca da civilização dos direitos do homem.  A barbárie então deixa de ser o contrário de civilização, sendo apenas seu braço armado.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Admirável ano novo

Depois de mais uma temporada de músicas natalinas, covers de John Lennon e Simone cantando "Então é natal!", finalmente chega 2012 que aos trancos, barrancos e muita chuva se inaugura com a mesma velha esperança quase tão clichê quanto a própria passagem do tempo e seu aviso da inexorável mortalidade.

Confesso que me incomodam os desejos de paz, prosperidade, saúde e outras demonstração de "humanidade bondosa" explícita, nem tanto pelo "teor" dos desejos, mas pelo que ocultam.

A "ditadura da felicidade" e do "bom mocismo" mal escondem o competitivo mundo do qual se originam, mal escondem a "obrigatoridade" da sanção social à felicidade, saúde, paz e outros penduricalhos  que os "bons moços" TEM de trazer em seu pescoço sarado.

Somos obrigados a desejar o melhor, a ter boa postura, a sermos aceitos, a rirmos, a andarmos por ai cheios de uma paz falsificada, de plástico, plenos de desejo do "melhor ao outros", mas um "melhor" que não se furta a rosnar quando o coletivo é posto acima do individual.

Do lado do "Boas Festas" encontramos e-mails que chamam nosso povo de "apático", e louva protestos londrinos e gregos, que por serem longe não "atrapalham o trânsito" e não são feitos por "vagabundos" como os do MST, MAB, Sem teto,etc.

Na Europa ou EUA os ocupadores de praças e prédios vazios são "heróis", os daqui são "monstros", criminosos. Essa atitude é prima-irmã do "Não tenho nada contras homossexuais, mas tenho nojo, tenho até amigos gays", se substituir "gay" por "preto" serve também.

"Então é natal e ano novo também", o que não significa que o tal "espírito natalino" demore muito a ser substituído por espíritos de porco.

A paz dos desejos então se transforma num desejo continuo de uma "paz de condomínio", uma "paz de playstation", que é apenas o que a música do com Rappa diz: Não é paz, é medo!

A "paz de condomínio" e a "prosperidade" podem ser traduzidas como "Não morra assaltado" e "ganhe dinheiro pra caramba", o que, convenhamos, é apenas um desejo apavorado de que a existência vire um dia algo parecido com um mundo onírico e polianesco, irreal,  o contrário do qual todos tem um profundo medo.

A vida de "plástico" é mãe dos corpos de plástico, do cotidiano de plástico, da realidade competitiva de uma juventude eterna, de uma beleza falsa, de uma "sensibilidade" artística que não faz questão de esconder que quer se parecer com uma erudição de revista Caras, cujo corte crítico é facilmente resumível em "Se é branco, é bom" ou "Se a elite aceita, então é arte".

 Então é 2012, mais um ano, mais um ciclo, mais um dia, que como todos é admirável por ser em si concreto, real, palpável, mutável. Mais um ano e mais uma temporada de uma legítima festividade, especialmente pros que não são de plástico, a comemorar um novo inicio do cotidiano. Muitos apenas pedem para que nada mude ou que algo mágico aconteça, outros pedem apenas pra não mais sofrerem. 

Prefiro pedir que o riso continue vivo e presente, sem desprezar a dor  sua importância. Vamos acordar pra uma nova semana de vida, trabalho, realidade,amor e  horror. 

Então é 2012, mais um admirável ano novo que contém pessoas assim.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O mundo tá ficando difícil de ser encarado sóbrio


O mar não tá pra peixe, o mato não tá pra cobra.

Diante da necessidade do "desenvolvimento" ontem se aprovou um Código Florestal que é pior que o votado na câmara. Perdemos essa, Esquerda, my friend!

No dia a dia do mundo Belo Monte é discutida até na padaria agora e "precisamos de energia" é o mote, e a qualquer preso, porque é "besteira essa obsessão indígena pelo espaço sagrado". A Obsessão branca e cristã pela buceta, feto e fígado sagrado é plausível, a "obsessão indígena" é coisa de bugre.

Diante disso o combate pela democratização das comunicações, pela lei de médios ainda é uma pauta,né? Não, não é. Porque além do silencio do Governo a respeito, o que é repetido pela Imprensa governista, simbolizada no movimento dos Blogueiros Progressistas, é só uma propaganda de seminários e discussões extra-oficiais a respeito, onde aparecem aqui e ali membros do Governo pra dissolver em sua baba de lagarto as velhas platitudes nunca concretizadas a respeito dessa necessidade.

Imprensa governista? Existe? sim, claro, é uma imprensa alternativa centrada nos "progressistas' e cuja única função é repelir os ataques da "PIG" que vem a ser o "Partido da Imprensa Golpista" criado pelo mesmo Paulo Henrique Amorim que apoia Belo Monte e chama de mentiroso o movimento Xingu Vivo e a CIMI quando estas se opõem a Belo Monte.

Aliás o silencio dos Blogueiros progressistas em torno de qualquer medida de recuo conservador do Governo do qual dependem é sintomático. Procurem Belo Monte, Código Florestal, Kit-Antihomofobia, PLC 122, alguma coisa dessas nos principais membros do movimento e você vai encontrar um nada absoluto.  Nem pra bater nas inverdades, putarias, canalhagens de Veja a respeito. Aliás, a Veja anda fazendo capas com as quais os "Progressistas" concordam.

Ah, esse admirável mundo novo! "Vamos mudar o país! Rumo ao progresso!" diziam há dez anos., e hoje defendem barragens cujo projeto começa na ditadura e condenadas pela maioria do mundo científico, militâncias indigenista, antropólogos, ambientalistas, ecossocialistas, o escambau! 

Outro dia muitos defenderam a ocupação da USP pela polícia porque o povo estava radical demais. ou porque usavam drogas. Índios viraram nômades e não haverá remoções e nem prejuízos a eles com a  construção da barragem. Pra manter a base parlamentar fecham acordo com Ronaldo Caiado e Kátia, Abreu  além do Blairo Maggi, e votam um Código Florestal que devia se chamar Desflorestal.

Como disse um amigo, o Governo entendeu que nada menos popular na maior parte do Brasil que defender índio e árvore. Etendeu também que defender homossexual é impopular, aborto e mais direitos pras mulheres idem.

 "Quem quer um bando de viadinhos ensinando nossos filhos a serem gays? " ou "Aborto legalizado pra que? pra essas putas darem as bucetas e poderem tirar a qualquer hora?", é assim que pensa o mundo. E o Governo entendeu, seus defensores idem. 

É preciso manter o governo, são muitos os companheiros que precisam dele.

Enquanto isso na oposição de esquerda se busca ampliar a presença neste mesmo estado e talvez começar disputar o governo para seguir este mesmo caminho e se cogita aliança com o PV, se filia egressos do PDT e PPS.

Em Vila Valqueire um morador foi assassinado pela milicia porque não pagou o Gatonet. Um deputado teve de sair do país por ameaças da mesma milicia, uma juíza foi assassinada.

O mundo tá ficando difícil de ser encarado sóbrio, mas podia ser pior, porque no Recife foi aprovada uma lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas em espaço público de 18:00 às 06:00 hs. Lá você só pode encarar o mundo sem ser sóbrio se não sair de casa.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Buscando consensos debaixo das botas

A busca de consensos e de acomodações é uma arte própria de nossa política Brasileña. A própria noção de que propostas radicais tendem a ser inúteis porque jamais serão colocadas em prática é voz corrente na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê. Uma filha dileta desta noção é a idéia de que se você "não participa do 'jogo' você jamais é eleito e nunca pode fazer  nada". E o "jogo" ai é corrupção na dura, mas com a tucanada clássica de Pindorama.

Essas noções percorrem o pensamento dos nossos amigos, irmãos, namoradas, e nas padarias de Vera Cruz se consolidam como uma idéia monolítica de política. O problema delas não é só o determinismo de que política só pode ser feita do jeito clássico desde o pré-império ou então não é política, é também incutir como radicais apenas as idéias e propostas que estão do lado gauche da vida. Ou seja, se naturaliza que "radical" é de esquerda e que passar o rodo em meio país de floresta é "normal' e "de Deus".

Então fica aquela coisa pululando nas colunas de jornais, de Blogs, em twitteres e feiciquibuis: "Politica é acomodar-se como sistema pra poder fazer alguma coisa".  Radicalismos como direitos civis pra homossexuais, legalização do aborto, abrir diálogo com etnias indígenas antes de mandá-las pra pitoresca casa do caralho em nome da construção de mais uma barragem, são impedidos de serem debatidos porque "não  passam" e "temos coisas mais importantes pra fazer pelo país e pelos pobres".

E essas "coisas mais importantes pra fazer pelo país e pelos pobres" em geral compõem radicais transformações na vida dos  pobres "reais" que são atingidos por:  barragens que os removem, assim como a seus companheiros das etnias indígenas; por uma educação que os condena, se gays e mulheres, a uma existência oprimida e por vezes cheias da deliciosa e fofa porrada diária; por estradas e estádios  das cidades sedes da Copa e Olimpíada, nos quais jamais andarão ou entrarão.

Assim se segue no baile de abandonar "radicalismos" humanistas para adotar o radical trator de um capital cujo "desenvolvimento" é em geral construído em cima de cadáveres. E vamos nos "desenvolvendo" sem saber que desenvolvimento é esse, qual o preço a respeito dele e o quão é radical este processo onde abandonamos "radicalismos" que reduziriam opressões para abraçar radicalismos que produzem tragédias no presente e no futuro. 

Tiramos pobres de suas casas e cidades parta "melhorar a vida" dos pobres que perdem suas casas e cidades, sacaram? 

Acomodamos com os ruralistas para pavimentarmos o caminho do desenvolvimento que vai "melhorar a vida" dos pobres que por vezes morrem assassinados pelos ruralistas. Abandonamos propostas "radicais" que ofenderiam a bancada da religião para que possamos avançar no desenvolvimento que vai "melhorar a vida" dos pobres cujas mulheres serão condenadas a terem filhos de estupro, por gravidez indesejada porque a fé do Brasil não permite que mulheres tenham o direito de abortarem.

Acomodamos com todo mundo, dialogamos com todo mundo para "melhorar a vida" dos pobres que são massacrados em um processo de desenvolvimento que esgota todos os avanços humanistas para manter uma máquina que não dialoga e remove, expulsa, mata e alimenta a mesma opressão do sistema que deveríamos derrubar, mas estamos ali "dialogando", porque "politica não se faz sem acomodação e mediação".




E seguimos na busca de consenso e conciliações enquanto morrem Guaranis, Lutadores, Sem Terra, mulheres e gays. Buscamos consenso enquanto se constroem Usinas para alimentar a industria do alumínio, se aprovam leis que legalizarão o desmate, se busca criar uma "bolsa-estupro" e por ai vai... 

Enquanto isso gays e antropólogos são espancados em São Paulo, a serpente pariu o ovo e estamos buscando o diálogo.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A ciência e a educação x ódio e Preconceito

Antes de mais nada devo dizer que talvez de forma heterodoxa para um socialista com cores anarquistas não acredito em nenhuma forma de solução política final e única. Não acho que o socialismo seja uma panaceia, como o liberalismo. Não existem fórmulas. Esta e minha fé final.

O Socialismo é a forma de construção política de uma ideia de solução que mais me agrada. Não acho que existe um "socialismo Científico", da mesma forma que qualquer ideologia política "científica".. Existe História, Ciência Social, Sociologia, Antropologia, Engenharia, Biologia, Medicina, todas elas ciências e feitas e acordo com uma ideologia, seja liberal ou socialista ou inca venusiana, mas nenhuma ideologia é científica. Elas não se constroem com uma estrutura epistemológica baseada em método científico, se constroem baseadas em uma pá de coisa que inclui muita ciência, tradições,desejos, pressões, seu alicerce é um viés de pensamento relacionado à cultura e que vislumbra a intervenção no real com viés x ou y. Tem ciência ai, mas não é o método cientifico que a constrói, nem conduz seus atos.

Por isso há muito preconceito em toda ideologia, muito, em toda tradição ideológica. Porque nada é menos cientifico que preconceito.  Mesmo assim no socialismo em geral os preconceitos e fobias são menos presentes o que agradeço muito em nome de um deus que acho que exista. 

Escrevo isso porque entendo que qualquer ideologia deve ter um tratamento de convencimento do outro e como qualquer convencimento deve ser construído numa relação, e como toda relação deve ter troca. Qualquer coisa cientifica acaba por parecer que é feita com um resultado dado a partir do empírico, ideologia nenhuma faz isso. Nenhuma ideologia tem um método infalível de execução em busca de um resultado x.  Nem mesmo de investigação que resulta em dado y. As ideologias permanecem legítimas e interessantes  para cada um que as tem, eu por exemplo ando cada vez mais anarquista e mais socialista a cada dia e mais cientista também.

Escrevi este post com um aparente enorme nariz de cera para dizer o que acho da ideologia que abraço e para deixar claro o que considero ou não científico, eu que me proponho a construir ciência, a investigar o real. E escrevi isso tudo baseado na ideia de como o preconceito não é científico. 

O motivo disso tudo foi entender como alguém consegue ser racista e achar que qualquer critica a racismo é: "Besteira politicamente correta". E o mais assustador é que isso ganha corpo, ganha espaço e ganha uma filosofia cujos adeptos em geral bem vestidos e alimentados pelo leite de pêra da classe média acham bacana e normal.

Sempre coça a cabeça pra mim em ver gente que leu mais que gibi do Conama vida inteira agir desta forma, gente que estudou nos melhores colégios agir desse jeito.

Após a eleição da Miss Universo Negra, a  primeira, rolou mais um jorro do mais pérfido preconceito pelas redes sociais lotadas de uma classe media cada vez mais parecida com o mais pérfido lixo humano que o fascismo criou:  um bando de pessoas cuja educação alimentou o mais mimado preconceito e ódio ao diferente possível. Qualquer ganho de visibilidade para algo que não seja esse universo monótono embranquecido, estéril, infantil e imbecil é considerado uma afronta, seja ele o empoderamento de pessoas que passaram dificuldade a vida inteira e são negros via cotas ou bolsa família ou seja a eleição de uma missa universo sem o nariz aquilino e a cara de bunda azeda que a mamãe ensinou que é beleza.

O medo de ter de conviver com um mundo que não é um grande condomínio fechado e com algo mais do que o parquinho ou o cartoon network pra ser pensado leva a uma geração feita nas coxas e colocar pra fora o mais bárbaro preconceito pelo qual as ideologias reacionárias voltam os olhos babando e cujos "cientistas" reacionários se esforçam a repetir nas universidades e escolas.

Qualquer educação que não quebre paradigmas e preconceitos é ruim, sempre, qualquer educação que não seja voltada para a construção de um ideal de humano para além das formas é deseducação e a pedagogia das escolas privadas leite com pêra a cada dia me parece ser tudo, menos a cadeira cientifica com este nome. 

A ciência da pedagogia não é vista nas escolas privada,s pois o ser humano formado por elas é o mais bárbaro dos não humanos.

Todo preconceito é anti-científico, todo, todo preconceito mantido por educação que chega ao nível superior é antes de mais nada sina de que algo anda muito podre no reino da educação. 

Qualquer ciência que mantenha no sujeito a ela exposto o mesmo tipo de preconceito que ele tinha antes de ter contato com ela é tudo, menos ciência e o orientador desse sujeito é um péssimo educador.

Um sujeito que liga lé com cré, leu, estudou e se formou e continua machista, homofóbico e racista é pro mim considerado um completo imbecil e se isso é comum nos seus, nos próximos a ele, formados na mesma universidade então o problema é de classe e de um pressuposto educacional.

Pouco há de mais bárbaro que o preconceito, pouco há de mais ofensivo e inumano.

O Socialismo , mesmo ainda possuindo entre os que lhe abraçam muitos racistas e homofóbicos, ainda mantem em seu humanismo, por vezes esquecido, um alento que permite o convencimento de quem não late de que aluta contra o preconceito é a luta pela emancipação do homem que é a luta da classe trabalhadora. ele não e uma ciência, mas conduz pela sua tradição um viés ideológico que urge ser espalhado, inclusive via educação, para que a educação deixe de ser apenas um viés de treinamento anti-científico e vire o que ela tem de melhor: Um meio de transformação do mundo pela quebra de paradigmas, preconceitos e barbarismos.

É necessário que qualquer um que entenda o quão é grave este estado de coisas onde nada passa sem ao menos uma manifestação do mais profundo ódio irracional ao diferente saia da estagnação da desilusão pra derrubar os paradigmas de ódio que a educação privada tomou pra si. E ai é preciso e necessário que a educação pública seja transformada em qualidade, pois ela ainda é o único meio possível de educação para a diversidade.

Só uma transformação pode nos tirar da trilha para o fascismo criada pelo descaso com a educação pública e pelo deixar nas mãos de cursos de treinamento de fascistas , vulgo escolas privadas,  a educação da população.

Nenhuma ideologia é científica e nenhuma ciência é isenta, mas é preciso que nossa ideologia busque fazer da educação um meio de ampliação da ciência para a derrubada do preconceito que com força, torna-se a única referencia de gerações inteiras e que todos sabemos cair no fascismo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Estranho mundo de Bob Socialista

No dia a dia político embates, debates, porradarias e dissenções são mais comuns do que se pensa. O pau quebra de manso e contradições são mais que normais, paradoxos idem.

No mesmo Agosto que desgostou militantes PSOLinos com a filiação de Paulo Pinheiro no Rio de Janeiro (Rimou!), o PT me tira da cartola uma belíssima resolução pedindo regulação da mídia e meio que pressionando o Planalto para que algo se faça. A parada ia ser mais séria, mas no conchavismo nuestro de cada dia acabou em moção. O que se propõe alternativa tomou um baile do que foi dito morto.

Isso não significa que os bolcheviques estejam chegando no PT, talvez signifique mais que o PSOL esteja se tornando um sub-PT sem máquina.Também não é de soltar fuegos em la piazza, no esperanto ítaloportunhol de cada dia, mas de recolocar na mesa o debate sobre o que é alternativa para a esquerda dentro de um quadro de burocratização galopante dos aparatos partidários.

Um post recente de Emir Sader em seu blog há uma conclamação ao PT de ocupação de um espaço à esquerda, mas o tom é de uma ocupação pela via da institucionalidade. Da mesma forma o tom dos artigos e discursos das figuras públicas do PSOL são no máximo e com esforço na mesma linha.  A média das colocações dos principais partidos da esquerda são de louvor à institucionalidade. E com o perdão antecipado que pelo aos companheiros de PSTU e PCB, por mais combativas que sejam suas ações e colocações não se colocam como alternativa real para uma ação para além da burocracia, embora em ambos esteja a benéfica crítica da opção pela institucionalidade.

Nessa ladainha a cada dia temos mais um reforço da posição da extrema direita na cabeça do povo, levando a um fenômeno da discussão com muros, ou seja, na ausência de debates, opção pela irreflexão e escolha prioritária do momento e da ação minimalista como saída, pela esquerda ou direita.

Com a  distancia cada vez maior da população, das bases e opção pela ocupação da instituição, com também interrupção da democracia interna evitando abalos em poderes constituídos intrapartidários, a esquerda se torna cada vez mais parecida com o que combate. 

Além disso a opção de quem já ocupa a institucionalidade pelo viés mais simplista de manter a relação com a população e suas bases acaba se tornando uma repetição do que já existe, com distanciamento do partido e estado da população, sem a ampliação e real empoderamento da população na determinação dos destinos do estado e partido.

Em suma, os partidos de esquerda optam pela distancia das bases e povo na determinação dos destinos de partidos e país, em um paradoxo imenso para quem se propõe defensores dos direitos do povo e da conquista de emancipação por ele. Parece que a rapaziada quer libertar o povo de um monte de coisa, mas mantendo um cabresto controlado por ela.

A opção pela instituição já torna o PT algo que pode ser tudo, menos de esquerda. O PSOL com sua política de fortalecimento eleitoral a qualquer custo caminha para o mesmo tipo de partido: Partido de esquerda burguês com o máximo de proposta de ampliação do horizonte democrático e reformas do estado burguês sem nenhuma forte ampliação do papel da população no controle deste, muito menos na derrubada do sistema.

Os demais partidos de esquerda, por mais que no discurso defendam realmente a revolução e o socialismo e a ampliação do poder da população, mantém uma relação de distancia e de burocratização sectária, com ausência de real relação de horizontalidade com a dita "massa".



Enquanto isso fora desse estranho mundo de Bob da esquerda, a relação da direita com a população se mantém firme e forte, pois sem precisar enfrentar o arcabouço de preconceitos viventes na tradição ou discutir a quebra do paradigma senhor/escravo e "Cada macaco no seu galho", nada de braçada na proximidade e intimidade que possuem com estes valores e quebram qualquer busca de alternativa de mudanças na cabecinha da patuléia.

 Aliado a isso a opção de parte da esquerda, especialmente a petista, de manter o diálogo com o povo menos na busca de alternativa e mais na busca de acomodação faz com que estas forças de "esquerda" acabem por participar dessa relação, serem parte dela e, pasmem, acreditarem nela.

E enquanto as alternativas escaceiam, nos movimentos e organizações não partidárias o discurso de reflexão é interrompido ou pelo obreirismo sectário ou pelo anti-intelectualismo. Discutir o uso de palavras é considerado "intelectualismo". Da mesma forma radicalismo é berrar, e Pensamento intelectual é repetir ad infinitum um bando de papagaios de pós-modernistas.

A crise que desponta no horizonte traz mais que pesadas nuvens pro dia a dia econômico, traz também pesadas nuvens pro horizonte político onde o ganho de força da direita e extrema-direita é cada vez maior, com o dia a dia repetindo o preconceito, o ódio, a hierarquização social ao máximo, inclusive entre gêneros e raças. 




Enquanto "Analistas" confundem crise entre Tucanos e DEM com crise da direita, ignorando a crise enorme que a esquerda passa, as forças reacionárias nadam de braçada na consciência viva da população. 

A Classe média se bobear é hoje mais conservadora que nos anos 1950 e a dita "Nova Classe Média" acaba por assumir os valores da antiga com louvor, repetindo não a postura política que em principio a elevou de patamar, mas a postura que havia antes de ódio de classe de uma classe média que acha bacana ser homofóbico.


A crise que desponta no horizonte pode ser mais que econômica e colocar mais água na fervura da perda de espaço para ideais de esquerda, e não importa se o governo Petista enfrentará com show de bola ou não, resta saber se enfrentará para além do econômico e como as demais forças dialogarão com este enfrentamento.


Os debates, dissenções, quebra-paus internos da esquerda passam ao largo de toda a problemática relação de perda de hegemonia de seus ideais na sociedade.

 Ou confundindo vitória na eleição com conquista de hegemonia ou optando pelo fortalecimento eleitoral como caminho para esta disputa, a esquerda ignora as mensagens recebidas tanto de aumento do pensamento reacionário como da crítica aos métodos tradicionais que usam os partidos numa critica interessante da forma partido em uso como acabada e patinam num mundo onde Partidos "Necessários" se tornam a cada dia mais semelhantes aos partidos de "Esquerda".

Nesse estranho mundo de Bob as alternativas parecem nítidas, mas no mundo real a ausência delas ampliam o espaço de chegada do mais puro fascismo.