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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Alemão ou O povo, esse entrave

Lendo a Caros Amigos de Julho , que lerdamente leio até setembro para enfim pegar a de agosto, vejo um artigo de Emir Sader criticando, com razão, a critica rasa que a extrema-esquerda faz ao governo e à opção governista. No mesmo artigo a critica que seria excelente cai no tão raso quanto triunfalismo  do apoio popular como medida de todas as coisas e que lava mais branco ocultando todas as cagadas e todas as criticas, as rasas e as que fogem do raso e são benéficas.

O importante é governar e reduzir a desigualdade e ponto, o resto foda-se. Qualquer critica que sustente uma observação de que a redução da desigualdade não é exatamente sustentada ou pior, não tem garantia de um caminhar perene e que seja acompanhada por transformações no estado que vão da educação e saúde ao cuidado com o meio ambiente e direitos humanos.

Porque to falando disso? Porque o triunfalismo por vezes inibe a crítica e na maioria das vezes na blogosfera oprimem a crítica.  Sader no artigo desqualifica todas as criticas baseado no percentual de voto e as faz tábula rasa porque existem, podem até ser maioria, criticas que ignoram as transformações que o governo petista fez, mas existem também criticas que não ignoram as transformações, mas as põe em perspectiva diante de como mantê-las e mais ainda do que não foi transformado e sofre recuos.

Esse comportamento de Sader é repetitivo, o que me faz evitar lê-lo dado o alto grau de panfletagem acrítica que o nobre professor, que com certeza é melhor professor e pesquisador do que colunista. E além de repetitivo é seguido por outros veículos concretos ou blogosféricos (Neologismo, sir!).  Essa inibição de crítica aliada ao panfletário e ao triunfalismo é prima direta da dupla ação de silenciar o apontamento dos erros do Governo e  Partido, pela direita ou pela esquerda, como o de desqualificar qualquer viés de disputa de espaço pela esquerda, seja essa esquerda de fora do PT ou de dentro do PT.

Criticou? "só pode ser PSOLista"! Sacou?

E no mesmo artigo de Sader o apoio popular é citado como arma e moeda maior que traduz o fuderozismo da opção política do homem, esse mesmo apoio popular, e método de discurso e análise, que levava o Governo federal em 2010 apoiar com o exército a ocupação do Alemão no Rio de Janeiro e defender em propaganda eleitoral a expansão das UPPs Brasil afora.

Ano passado qualquer crítica à ocupação do Alemão como era feita era tratado como Sader trata a critica ao Governo pela esquerda. Qualquer apontamento de como são as ocupações, como é o projeto político das UPPs era tratado como "irrealismo". As práticas do projeto político e policial das UPPs, um projeto de cidade também, de cerceamento do ir e vir do povo e postura de síndico para com eles com impedimento de manifestações político-culturais, invasão de privacidade, violência e por vezes alto grau de corrupção com emulação das milícias, eram ignorados em nome da libertação do "povo" em nome do fim das desigualdades, do governo de "todos",etc..

As violações que o Governo do Aliado Cabral com sua PM e o Governo Federal, com seu exército, faziam eram jogadas pra debaixo do tapete em nome da transformação que o governo "Reconhecido pelo povo" fazia no "Brasil Grande" e todo apontamento da esquerda radical, até mesmo dos que desta esquerda eram e são queridinhos pelos "Progressistas" como Marcelo Freixo, erma ignorados e silenciados para tanto apoiar o Aliado Cabral quanto pra fingir não ver cagadas que eram endossadas pelo projeto político "reconhecido pelo povo" em nome do futuro do "Pra frente Brasil".

Agora que o Exército finge estar enfrentando o tráfico pra passar o volumoso rodo de seu ancestral autoritarismo por cima da população do Alemão, que deixou de ser vítima do tráfico e virou um entrave pro projeto de doma que o aparato estatal tem para com ela, o silencio "progressista" é eloquente. 

Da mesma forma o triunfalismo Saderiano que é mais rápido no gatilho para desqualificar o que chama de "extrema-esquerda" não se transforma na ira santa necessária para a denuncia de mais um capítulo de um projeto autoritário de segurança endossado pelo poder do Governo "De todos" petista, projeto esse que é useiro e vezeiro de uma prática de censura à manifestações culturais, práticas de imposição de manifestações artísticas como mais ou menos válidas, samba pode, funk e hip hop não, vigia do direito de ir e vir, toques de recolher,etc.

Sader está certo em criticar a ausência de uma critica que olhe o real por parte da extrema-esquerda, mas falha redondamente ao não usar esta mesma crítica com relação à própria visão e a dos como ele apoiadores da opação governamental pelo "Pra Frente Brasil",os vulgos "progressistas", e falha redondamente ao tornar todas as críticas da esquerda radical como iguais ao que condena.

Outra falha corrente em Sader e nos amigos "progressistas" está na velha e boa redução do "popular" ao voto, ignorando o alem voto, o dia a dia e o que o povo é e quer, para além de reducionismos. As ocupações dos morros "salvaram" o povo de um tirano pra por outro no lugar a soldo do estado. Este tirano é pago para manter a cidade Olímpica no seu devido lugar, como o projeto de cidade de Pereira Passos que levava o pobre, que é como podre, para longe dos jardins da elite e controlado por uma polícia dura na queda e que escolhe até com que calcinha a moradora pode ou não sair. 

O povo não queria o tráfico, mas com certeza não quer a PM cagando regra ad infinitum numa implantação de uma ordem não negociada em seu quintal. E quando o exército impõe toque de recolher ele invade o direito desse povo que apoia o governo, mas não recebe de volta a mesma consideração.

O povo é muito bom para votar e dar o "reconhecimento popular" via urna que alimenta desqualificações rasas dos articulistas panfleteiros, verdadeiros Olavos de Carvalho Às avessas, mas é um entrave quando começa a resistir a mais uma ocupação militar que o desrespeita. 

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

As Novas Cidades e a Civilização do Automóvel

Nos últimos meses e dias a discussão sobre as mudanças nas cidades e seu reflexo na remoção de pobres, na destruição de patrimonio histórico e no aumento das opção pelos automóveis vem em um assustador crescendo que por acaso ganha uma espécie de clímax no atropelamento de ciclistas em Porto Alegre.

Embora não diretamente relacionados, os casos da mudança nas cidades e o atropelamento são dicas para um tipo de noção vida tão contraditória a qualquer noção de sustentabilidade, mesmo da tal sustentabilidade de propaganda de banco e  programa da Marina, que levam ao mais racional e otimista humano a achar que a vaca não só já foi pro brejo como já mandou até postal dizendo como é a brejolandia no verão tropical.

A transformação modernizadora na base do trator e o atropelamento de ciclistas são radicalizações de uma opção de modernização conservadora onde o humano, o povo, é apenas obstáculo para o avanço da máquina sem nenhuma concessão à qualquer noção de social. O indivíduo, a máquina e o progresso viram uma coisa só, uma massa de força absurdamente desigual sendo utilizada para um objetivo absurdamente injusto ou cujo esforço não compensa a não ser a uma escala mínima da sociedade.

 Pode parecer forçação de barra, mas a lógica criada a partir de anos de cultura do indivíduo na cabeça da  rapaziada, sob o epíteto de competição como competencia e dualidade Looser x Winner como meta ético-filosófica máxima leva a um sujeito a cagar solenemente para dezenas de pessoas em nome de sua vontade, necessidade ou desejo. Da mesma forma administrações país afora cagam solenemente para toda uma massa de pessoas, de direitos, leis e civilidade em nome do objetivo modernizador-construtor de criar um novo "bota-abaixo" sanitarizante nas cidades, fazendo-as imagem e semelhança do sonho de consumo da elite, com a ausencia daquele povo que não usa gucci e ocupa terrenos há dias, meses, anos ou séculos, fazendo as cidades virarem cidades shopping ou cenograficas.

 Os prefeitos e o motorista saem da mesma lógica: A utilização do poder para uma meta cujo fim é aumento da desigualdade, da injustiça e a perda de vidas, o resultado final é mais importante que seu custo.

Essa é a lógica de um mundo injusto, essa é a lógica da civilização do automóvel, essa é a lógica das novas cidades, cidades sem povo, com o povo oculto, morto, atropelado.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A guerra, as UPPs e Xanadu, o Paraíso perdido

Após o espetáculo de midia e público da ocupação do Alemão, com apoio quase incondicional de várias faixas da população, as UPPs ganharam mais que apoio, alcançaram o lugar da modernização do mito de Eldorado.

Sem querer ser chato e já sendo, a lógica da politica de segurança que culminou na mega operação do Alemão tem tantas pontas soltas que fica complicado bater bumbo e ficar feliz com o ocorrido. E não estou falando de "desvios" da corporação que se repetem há vários anos, basta lembrar de 2007, estou falando do todo da política de combate, de "guerra", apoiada numa visão da mídia que se apoia na exclusão e na criminalização como meio de angariar apoio baseado no medo.

 Não se pode reduzir o apoio populacional à ação da mídia, inclusive porque parte do apoio vem exatamente dos diretamente atingidos, os moradores das favelas, mas não se pode ignorar que o apio da classe média, que inclui os admiradores do Capitão nascimento e do body count do alheio, é fortemente ligado à visão de guerra ecoada por jornais e Tvs.

A cobertura da mídia inclusive continha "sustos" com traficantes com dinheiro construírem casas assemelhadas ao sonho de consumo da classe média, como se esse sonho, hegemonicamente estabelecido pela ideologia dominante na sociedade, onde o consumo e a posse de bens causam distinção das pessoas na sociedade, fosse restrito aos membros "legais" da sociedade capitalista e como se dinheiro e sonho só fossem permitido a quem "anda na linha" ou se grana tivesse pedigree.

Do outro lado, o lado onde a bala nem sempre é perdida, a população pobre dá um basta na manutenção de sua situação como vitima do ilegal, mesmo se ele for parceiro, e  se apoia na presença do estado, mesmo só de farda, exigindo com razão a permanência das forças de ocupação.

Este novo aspecto da coisa é que deve ser anotado e pensado, porque a população preferiu apoiar o estado que sempre lhe abandonou no medo e na carência de polícias sociais, entregue ás baratas e ao domínio dos traficantes. 

Nessa chuva de informações arrisco a dizer que o que garantiu o apoio da população da favela foi a possibilidade de um estado que chega sem ser só policial, e isso vem da política das UPPs. A possibilidade de uma polícia que respeita a população ganhou a idéia do medo duplo, do tráfico e do estado.

Esse avanço não pode ser ignorado, mas não pode ser tratado levianamente como um Xanadu moderno que a tudo resolve, porque não resolve. 

As UPPs até o momento são um brilhante caminho para a redução da criminalidade, mas por si só não garantem o estado na favela, como um todo, pela saúde, esporte, educação, cultura e respeito a cidadãos que não residem em apartamentos maneiros ou viviem uma atmosfera artificial de medo, mas o medo em si, medo da fome, da dor, do tráfico, da polícia, do desemprego e do futuro. Até hoje as UPPs instaladas tem problemas que vão desde a ausência do estado como um todo até o exagero do caráter de ocupação, quando os limites da invasão de privacidade, do direito de ir e vir e da repressão são ultrapassados por uma política de "sindico" das comunidades, politica essa oculta pela mídia, que só se interessa pelo aspecto "responsável' das lições de arte marcial, bailes de Quinze anos,etc.

A polícia pacificadora  funciona à perfeição na pacificação das regiões limítrofes às favelas, reduz o risco ao cidadão que recebe o estado em sua casa, mas não garante pleno direito às áreas ocupadas. Ao levar o mínimo a quem precisa do máximo, causa temporariamente a sensação de perfeição nas regiões ocupadas e a seu redor, mas não solucionam nem a longo prazo a ausência do estado e a marginalização das populações faveladas. É uma variação da política do bode na sala pras favelas e de salvaguarda do direito das classes médias ao ir e vir e consumir sem medo do assalto e da violência que o "descontrole" lhe dava.

O paraíso perdido retorna, mas com riscos  de ser ilusão ao se defrontar com problemas mais sérios e que podem ocorrer a curto prazo a partir de causas não resolvidas do problema: A ausencia de uma política de segurança consistente e duradoura que permita a redução da criminalidade para além do enfrentamento do varejo nas áreas de favela; A ausência de uma política de inteligencia que reduza o avanço do tráfico de drogas e armas no estado, atingindo não só a ponta do varejo, mas todo o sistema, inclusive seu financiamento; A impossibilidade momentânea de ocupação de todas as favelas do rio por UPPs, dado o problema de escala; A ausência de combate real às Milícias, outras formas de ocupação das regiões pobres pela ilegalidade; A ausência de um plano de ocupação cidadã que mude a lógica da relação entre população pobre, polícia e estado, com real formação de núcleos de integração das favelas ao asfalto, mudando a lógica histórica desta relação na cidade do Rio de Janeiro.

As UPPs são uma ótima idéia conduzia por um estado ainda refém de uma lógica de cidade que a parte em duas, que a mantém refém de uma visão onde a "segurança" é só minimizar o medo do asfalto e controlar as áreas pobres dentro de uma lógica de participação mínima e democracia limitada.

Hoje as UPPs são uma excelente forma de propaganda para a classe média "apavorada", muito mais com o que via na Tv do que com  que sofria na realidade e relaxada com novos "heróis" ocupando "aqueles lugares" que lhe davam pavor, e menos uma forma de participação ativa do Estado na vida de uma parte da população mantida sobre opressão multipla durante mais de um século.

Não é possível ignorar, é óbvio,que são um avanço, diante da lógica atávica de combate aos pobres, e redução de sua participação no dia a dia , mas não podem ser pensadas como panacéia sem que cumpram um papel de real demolição do muro que separa a cidade burguesa da cidade "quilombo".

Não podemos esquecer que  política de segurança das UPPs é a mesma que levou á necessidade do combate que custou à sociedade 45 vidas, contabilizadas até agora, pela opção do enfrentamento à possibilidade de estrangulamento financeiro e de uso da inteligencia e pelo levar até o limite a possibilidade de ataques pelas facções do tráfico a partir da redução de sue poder pelas UPPs.

Não podemos ignorar também que os ataques são cogitados pela Secretaria de segurança há meses, e tudo o que foi feito foi uma suspeita postura de espera, como se aguardando fatores que permitissem uma ação espetacular à feição de uma cobertura midiática acrítica e propagandística.

Enfim, são vários elementos a serem observados para que não criemos uma atmosfera de apoio a rambos modernos, que ignora falhas, abusos, como o de assaltos à membros da comunidade feitos por policiais, à mitos como o de eldorado e paremos de cobrar uma política de segurança ampla, segura, cidadã. Não podemos ignorar os avanços, mas não é seguro crer que a mesma política que nos deu a invasão do Alemão em 2007 se tornou uma política de segurança cidadã, séria e completamente justificada.