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terça-feira, 21 de agosto de 2012

As distorções que as opções causam

A campanha eleitoral no Rio de Janeiro já começa a causar alguns efeitos estranhos no comportamento militante e midiático da situação.

Diante de uma explanação clara do candidato Marcelo Freixo em critica ao Minha Casa, Minha vida , onde ele critica a construção dos conjuntos habitacionais em locais sem infra-estrutura de saneamento, transporte, saúde e educação e em áreas sob o controle do crime organizado para-estatal, mais conhecido como milícias, a tropa de choque virtual governista adotou a tática do "Vai dizer isso pra quem foi beneficiado pelo programa", desviando a crítica sobre o planejamento descuidado (Pra ser bonzinho) e mal executado para o eixo do emocional "caridoso" do "Olha as pessoas que ganharam sua primeira casa", ocultando também que foram removidas de suas casas de maneira ilegal para serem enviadas para locais ermos e sob vulnerabilidade que a política de segurança do PMDB, a quem apoiam, em quase oito anos não deu conta de resolver. 

E fazem isso a partir do que Marcelo Freixo coloca na seguinte análise presente na matéria do jornal: 

                 — O programa Minha Casa, Minha Vida estimula o crime organizado. Cerca de 87% do empreendimentos estão nas partes mais afastadas da Zona Oeste, sem acesso a transportes, saneamento e emprego. São condomínios em regiões dominadas por milícias — disparou o candidato ao apresentar suas propostas de governo para o sindicato. 

Ou seja, a distorção é total e sem nenhum tipo de filtro, é orquestrada, não é ausência de entendimento, é uma busca de desqualificação do candidato porque é proibido para essas pessoas uma critica a qualquer programa do governo. E pior, quando o Candidato mantém a critica e a qualifica ainda mais saem com o adágio: "Teu partido é o que te enterra". 

Essa última observação diz muito sobre quem substitui o Partido dos Trabalhadores por um condomínio de adoração fanática da Luis Inácio Lula da silva. O partido, programas, debates, correntes internas, divergência, construção coletiva? "O Partido é o que te enterra" respondem. Baseado nisso avaliam que tudo o que é parte da construção da figura pública e é coletivo, que sai do controle autoritário é anátema, sejam parlamentares, militantes, intelectuais, qualquer coisa que crie um coro de diversidade, organizada ou não, é ameaça ao ethos e ao logos do neoPTcostalismo.

Vejam bem, os neopetistas não ligam pra apoiarem um prefeito do PMDB "por contingencia" mesmo ele sendo supostamente ligado a milicias e tendo suposta ação com grupos criminosos que pressionam moradores da Zona Oeste já agora para que nem façam campanha para adversários e muito menso votem neles, sob ameaça do clima "ficar mais sinistro" nas palavras de moradores. 

Se não ligam pra isso, imagina para o fato dos governos federal, estadual e municipal construírem condomínios sem infra estrutura mínima em locais dominados pelo crime organizado e sem nenhuma intervenção que garanta a segurança das pessoas, quanto mais sua qualidade de vida. Se a ligação com milícias é aceitável, construir em área de milícias também o é, não é verdade?

Pra completar a distorção do noticiário, culpam o PSOL de acordos com a Veja, diante de capa da mesma revista elogiando o governo que dizem popular pelas ações de fomento ao capitalismo dizendo se tratar de um benéfico (para a revista) "choque de Capitalismo" levado a cabo por aquela a quem Eike Batista corretamente chamou de "Margareth Tatcher Brasileira" e diante do fato do PSOL ainda nem ter votado pela convocação do diretor da revista e o que já havia decidido fazer. 

Ao culpar o PSOL talvez façam o serviço sujo de ocultar que o PMDB do aliado Paes é parte da tropa do acordo com a Veja que evita a convocação do diretor da revista à CPMI do Cachoeira. Além do aliado PMDB, há o aliado PDT na figura de Miro Teixeira, representante do PDT de Brizola Neto, atual ministro do trabalho, atuando como uma espécie de advogado de defesa da mídia, a quem os cínicos chamam Golpista (a tal PIG), em especial da Veja e das organizações Globo.

A tudo isso o silêncio é a resposta e a criação do PSOL como espantalho, talvez por este partido ter anualmente parlamentares eleitos como melhores do congresso, é a mágica que faz com que o véu de fanatismo do que se tornou a militância do PT seja mantido na base da mentira, do cinismo e da truculência.

Esse novo modus operandi inclusive nos leva a indícios a respeito da autoria de ataques baixos sobre Marcelo Freixo e sua defesa da legalização do aborto e da legalização da maconha , reproduzindo oque o tucanato e seus aliados conservadores religiosos fizeram com Dilma em 2010 e que, pasmem, hoje são feitos por apoiadores da chapa do PT/PMDB, outrora alvo, contra Marcelo Freixo.

As opções pela distorção, a opção pela satanização do adversário, pela construção de espantalhos baseados em mentiras e irracionalidade fanática acaba por gerar um movimento de autodestruição da imagem de quem buscava-se "iluminado salvador dos povos". 

A opção pelo caminho fanático, com tintas stalinistas, agressivo, irracional, que para "vencer" o adversário acaba por demolir qualquer limite ético, e não estou falando de moralismo lacerdista, levou aos alvos da mais suja e difamadora campanha da história, 2010, a reproduzirem métodos serristas contra um candidato que ameaça de alguma forma o domínio de parte do campo da esquerda, e quiçá ameaça a manutenção da prefeitura do Rio de Janeiro (Leia-se cargos), em mãos aliadas.

Essa mesma opção leva a massa de apoiadores irracionais a ignorarem ataques cotidianos aos direitos dos trabalhadores federais em greves, atacados pela mídia, pelo PT e pelo governo repetindo o que faziam antes os tão odiados tucanos.

Talvez por tornarem o partido um problema diante da necessidade de sacralização das lideranças e figuras públicas do PT, o governismo acéfalo irracional insuflado pela burocracia das migalhas tenha perdido a dimensão do que é a política de esquerda, do que é o coletivo e a necessidade de algum tipo de ethos que nos diferenciem do que chamamos de direita e que combatemos, ou dizemos combater. Ao esquecer isso a militância neoPTcostal se assemelha a um bando de Bolsonaros, aliado ao governo federal, alguns muito parecidos até na misoginia homofobia e racismo.

As distorções que as opções causam não ocorrem só no discurso, na tática ou na ação consciente, acaba por levar à distorções de caráter, sejam eles perceptíveis por quem assim age ou não, e a distorções de forma de pensar. Por isso vemos a opção pelas mega obras em detrimento do ser humano, pelo tratamento de índios como "Nômades", de mulheres, idosos e gays como lixo.

As distorções que as opções causam acabam por irem além de ser uma opção tática da política partidária e vira traço de caráter e este traço de caráter diz muito sobre o homicídio do PT pós-2006.

Diante destas distorções nos cabe rebatê-las com política, pois política enche praças.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O nome é Utopia, mas pode chamar de esperança.

A dimensão da utopia na política é também a dimensão da transformação.

A lógica dos tempos céticos em que vivemos, tempos forjados na destruição da razão como geradora da redenção do homem como ente controlador de seu destino para além do jugo da divindade, é a lógica da práxis, do cotidiano árduo e da conquista do direito ao controle da vida através do combate. 

A redenção não é bem vista no pós-1945. Se Deus morreu em Nietzsche, a razão saiu estropiada depois do racionalíssimo holocausto e das bombas extremamente científicas que caíram sobre o Japão. 

As duas saídas do homem, ou via pensamento mágico ou pensamento científico, aprontaram das suas e deixaram o pobre filho de Adão ao léo.

Se a fé recebia o poderoso dedo da razão ao clamar "inquisição!", teve sua revanche aos gritos de "holocausto!".

No meio deste Fla x Flu, uma humanidade atônita se entregava ao ceticismo, ao consumismo, ao hedonismo e por vezes deixava a dimensão da utopia como formadora de esperanças e de energia transformadora largada num canto qualquer de seu quarto de dramas e decepções.

A utopia no entanto, residente no plano das transformações, se debatia desesperada diante das paulatinas surras que tomava desde 1924 quando a hegemonia do pragmatismo Stalinista exilava-a em Gulags concretas ou psíquicas, auxiliando a construção de um tipo de mundo onde o resultado imediato e concreto, testado, sustentava a lógica política em detrimento da inovação e da transformação. 

Todo pensamento que buscasse um tipo de ação que rompesse com o limite do imediato, confundido propositalmente com práxis, era tratado como tolice.

Anarquistas? Nefelibatas! Trotkistas? Sonhadores histéricos!

E tantas outras denominações políticas, tantos outros grupos foram reduzidos à "irrelevância" por uma "práxis" que se colocava como "transformadora" enquanto sustentava ações de curto prazo, de resolução imediata,de pouco rompimento e muito etapismo, de pouco confronto e  muita construção de aparato que contivesse a massa partidária à mão.

Foi assim no Stalinismo e é assim agora novamente.

O Stalinismo foi além dos limites da URSS, se manteve em partidos denominados comunistas, mas também penetrou na maior experiencia de esquerda mundial do pós-1980, o PT, e hoje sustenta a lógica militar, anti-utópica, desqualificadora e rebaixadora da política, ultra-fanática e formadora de um irracionalismo clubista que beira o patético.

É nesse momento que qualquer movimento de reconstrução da dimensão utópica na política, com todas as falhas possíveis de qualquer ação plena de diversidade, é tratado por simpatizantes e militantes do "maior partido de esquerda da América Latina" que conduz o leme do governo que "mudou a história deste país" como ação da direita, mesmo quando o governo que apoiam age de forma truculenta com trabalhadores em greve repetindo os feitos do governo neo-liberal do PSDB nos idos dos anos 1990.

É nesse momento em que a ação truculenta da militância petista, das direções petistas que se afastam das bandeiras originais do partido em nome da manutenção de cargos e salários na burocracia e de simpatizantes carentes do carisma sebastianista de uma liderança forte (Seria melhor com boots do exército, mas na ausencia...) vê diante de si algum tipo de alternativa surgindo.

Diante de uma alternativa que apesar de recuperadora da dimensão do sonho e da utopia, tem respostas claras, técnicas, baseadas na busca da inovação pela ação coletiva, politicamente coletiva e embasada por especialistas das maiores universidades do país; tem ações concretas politicamente relevantes e prática parlamentar de alta densidade; tem penetração, capilaridade, na juventude e na inteligentsia; tem apoio de artistas, sindicatos e professores, diante de tudo isso o outrora "maior partido de esquerda da América Latina" age como infante e junto com sua horda de "simpatizantes" das redes sociais só consegue balbuciar o rebaixamento político.

Diante do que deveria ser um constrangimento, que é o apoio a um ex-adversário nada confiável e que tem contra si indícios do apoio nada velado ao crime organizado para-estatal (As famosas milícias), o Partido dos Trabalhadores age como uma horda ameaçada. Ao invés de debater democraticamente as dissenções internas, a direção ameaça militantes de expulsão por se recusarem ao apoio a um ex-adversário que atacou virulentamente o partido e sua máxima figura pública. 

Ao invés de buscarem reduzir o prejuízo político múltiplo de seguirem apoiando figuras "aliadas" como Maluf e Sérgio Cabral, buscam construir espantalhos que se valem de artifícios que vão da mentira à irracionalidade infantilóide.

Como não conseguem um debate de pulso sobre política de esquerda diante das trapalhadas do ministério da Educação com os profissionais federais de educação, diante da capitulação e absorção da prática da privatização que tanto condenavam, preferem incentivar uma mitologia sobre os "votos do PSOL com o PSDB/DEM", enquanto o PT age como PSDB, vota com o DEM e PSDB várias vezes (Enquanto o PSOL nenhuma ou rara vez calhou de votar) e se alia eleitoralmente a DEM e PSDB em diversos lugares, em especial em São Paulo e Rio grande do Sul.

Como não há para onde fugir diante da guinada de centro-direita do governo do PT, os coordenadores das ações virtuais e cotidianas preferem agir como incentivadores da impossibilidade de qualquer discurso ou debate que possibilite um retorno à dimensão da utopia como incentivadora da inovação.

É por isso o esforço cotidiano de satanização do PSOL e nítido apavoramento diante das denuncias de Jean Willys, que expõe as omissões (Pra dizer o mínimo) do Governo Dilma/Lula diante da questão LGBT, das ações de Chico Alencar na questão da educação e no combate à corrupção, do exímio trabalho de Ivan Valente na questão do código florestal e na educação na câmara e de Randolfe tanto no combate à corrupção quanto nos debates sobre educação no Senado.

É por isso que as candidaturas de Renato Roseno e  Marcelo Freixo, especialmente esse, leva-os ao ápice da irracionalidade cotidiana e ao ataque sistemático baseado em mentiras, em deturpações e na impossibilidade de enxergarem a própria incompetência diante da dimensão transformadora da inovação, da utopia.

Porque a utopia, ainda mais a utopia que aposta em inovações, que aposta no papo reto, que aposta na horizontalização e na busca do impossível como meio de levar o improvável ao plano da realização, como um certo partido fez em 1989, essa utopia, apavora quem se agarra no limite, no quadrado mágico da estagnação

A utopia para o burocrata é como a luz para os habitantes da caverna de Platão: cega e intimida.

Porque a utopia, caracterizada como impossibilidade pelo "realista", é na verdade a dimensão da transformação e da construção coletiva, da destituição dos "sábios" e "líderes", do destronar de reis e construção da ponte do poder nas mãos do coletivo, do todo, do horizontal.

A utopia para o socialista é a ideia de que juntos construímos qualquer coisa e não a ideia de que há um sonho a ser alcançado, porque o poeta já dizia: Um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Sonho que se sonha junto é realidade.

E a realidade transformada, a retirada de âncoras, o vislumbre da liberdade possível, palpável, concreta e construída por mais mãos que o costumeiro, construída pela infinitude de mãos que caracteriza a utopia, esse descontrole organizado chamado democracia radical; A realidade transformada, a ameaça de transformação, apavora o burocrata, apavora o autoritário. 

Por isso a dimensão da utopia na política é também a dimensão da ameaça e por isso por menor que esta seja ela é tratada como um dragão e combatida diuturnamente com a ânsia dos que buscam castrar o sonho para manter os muros altos pintados do cinza da imutabilidade.

Diante da ameaça da utopia a burocracia apavorada ostenta o orgulho ufanista, a estatística de "popularidade" enquanto a utopia só tem às mãos as fotos de gente nas ruas, o sorriso no rosto e a certeza de que, mesmo se perdermos, estamos no caminho certo.

O nome é Utopia, mas pode chamar de esperança.

sábado, 28 de julho de 2012

Das primaveras

Uma cidade que precisa de sua primavera.

Essa foi a  primeira frase que pensei há dias para um texto político que desse conta de uma ideia que toma forma a cada dia mais: O Rio de Janeiro é o carro-chefe da construção de um país cuja história faz o estado brasileiro ser especialmente liberal, um marco do liberalismo não em sua face utópica, mas em sua face concreta, real, de gerente do capital para o capital e cuja população é ou alimento pra máquina de produção ou anátema,barreira, e estorvo.

A historia do Rio de Janeiro se confunde com a história do Brasil por motivos óbvios, sendo uma de suas primeiras capitais e tendo sido distrito federal até a construção de Brasília em 1961, foi no Rio de Janeiro que a face do estado como gestor do capital se fez de forma clara, principalmente em suas administrações municipais, que de Pereira Passos a Eduardo Paes pouco transformaram a opção preferencial pela ausência de pobres à vista.

Se de início com Pereira Passos foi sob a alegação da "higienização" do Rio de Janeiro, considerado inóspito para os diplomatas que vinham ao distrito federal em missão oficial e temiam aqui residir, para que as doenças como a febre-amarela se findassem, hoje é para a "modernização" da cidade para recebimento de mega-eventos que "internacionalizam" a cidade como cidade-palco perfeita. Em ambos os casos a dinâmica de administração do estado para sua população é tomá-la como coadjuvante do processo de mudanças urbanísticas e sociais em que o povo em sua maioria é apenas espectador inativo, muitas vezes de seu difícil deslocamento e da remoção de sua casa para a construção de algum empreendimento imobiliário onde ele nãos erá beneficiado.

Em sua caminhada histórica de representante maior do liberalismo enquanto aparato estatal gerente do capital, o estado Brasileiro em suas três esferas fez do Rio de Janeiro o lugar onde o presidente dizia que os problemas sociais eram problema de polícia e nomeava Pereira Passos para que erguesse uma nova cidade sobre os escombros do bota abaixo e baseada nas botas de uma polícia colocada estrategicamente em um corredor polonês que impedisse a invasão da população pobre à área de residência dos ricos (assunto do qual já tratei aqui e que também pode ser visto neste artigo de Gizlene Neder) e que hoje o mesmo estado utiliza a cidade como laboratório das políticas de benefício à empreiteiras e de beneficio duvidoso à população pobre que é removida de sua casa sob alegações de área de risco para locais longínquos e sem infra-estrutura adequada de transporte, por exemplo e muitos apresentando problemas sérios. 

O Minha Casa, Minha vida não apresenta nenhuma variação digna de nota dos programas habitacionais anteriores e obedece a lógica de afastamento da população de seu local de moradia de origem.

Além disso, as UPPs acabam entrando só em sua face repressora, longe do prometido pelo poder público que insistia que haveria a ocupação social pelo estado, reeditando a opção pelo policiamento da pobreza e criação de um corredor, desta vez olímpico, de vigilância da população pobre que se por um lado se vê livre do tráfico, por outro é vigiada cotidianamente e tem sua liberdade de ir e vir, de manifestação cultural severamente reduzida pela força de ocupação do estado como se vê na proibição do funk nas áreas sob ocupação.

A população do Rio se vê assim cotidianamente e historicamente como coadjuvante na sua própria cidade, vitima de sua divisão entre as zonas habitadas pela classe mais alta, que concentra serviços e equipamentos urbanísticos e fiscalização constante da prefeitura, e as zonas habitadas pelas classe trabalhadora, onde transporte, saúde, educação, lazer são parcos, onde a fiscalização da prefeitura é ausente, onde ônibus e carros agem como querem e desejam, onde não há espaço organizado para o transito da população e onde o poder público só aparece pela via de cabos eleitorais, ou coisa pior, e onde o clientelismo é o mote da ação política.

Se na zona sul, cenário preferencial de "venda" da cidade, a limpeza urbana, o transporte público, a fiscalização da ocupação do espaço público são funcionais e rígidos, nas zonas norte e oeste a lei do mais forte é por vezes quase literal e a ação da prefeitura vai de conivente a omissa e até lixeiras nas ruas são uma honraria e uma raridade.

A própria lógica de intervenção urbana parte do princípio do embelezamento e de priorização de "melhorias" que andem lado a lado com investimentos privados no mercado imobiliário, opta-se por mega empreendimentos de construção civil e menos investimentos em transporte coletivo e público, com redução da presença de carros, opta-se sempre por benefícios ao capital antes do benefício ao cidadão e assim se constroem menos metrôs e mais "transoestes" reforçando a opção rodoviária engarrafadora, se faz mais corredores de ônibus com transporte sobre trilhos cada vez piores e mais caros.

É assim no Rio de Janeiro, mas isso é uma referência para o país e não só hoje.

A lógica de "estamos utilizando o estado para transformar a vida das pessoas" e que tem do lado anúncios de mega obras, esquece que a mudança na vida das pessoas é muito mais superficial e ligada ao consumo do que estrutural, já que as pessoas continuam morando mal, se deslocando mal nas cidades, tendo péssimo ensino (Inclusive superior nos PROUNIs e às vezes nas Universidades públicas), péssima saúde  e uma segurança pública que trata o pobre, o negro, o mulato, como criminoso de per si e a ocupação do espaço público como ofensa.

É nesta conjuntura, em que regredimos nos avanços cidadãos para sermos cada vez mais reféns da mesma velha lógica de estado liberal de Rodrigues Alves a Dilma Roussef e de Pereira Passos a Eduardo Paes, e onde a primeira ideia de primavera sob foi a liderança mítica de um Lula pré-abraço em Maluf, que temos a chance de levar a cabo um movimento que contamine a política de novo com o impeto da mudança onde a frase de Brecht em que "nada deve parecer impossível de mudar" seja muito mais que um ornamento em uma bela camisa, mas que seja um refrão de mudança na prática, no cotidiano, no dia a dia, na vida, na alma, nos olhos das pessoas.

Precisamos da primavera para sair da cidade partida rumo a um repartir da cidade entre todos os seus moradores. 

Precisamos desta primavera para retomar a cidade, ocupá-la de cidadania, de orçamento participativo, de opção preferencial pela vida e não pela civilização do automóvel, por uma saúde e uma educação debatida, definida, construída pelo todo da população.

Precisamos desta primavera para que até nossos adversários esqueçam da opção preferencial pelo voto a qualquer preço e retomem a defesa de bandeiras que não permitam a presença de Bolsonaro no parlamento.

Precisamos da primavera carioca, nós do Rio, vocês de São Paulo, todos nós do país todo.




quinta-feira, 19 de julho de 2012

A paz sem voz e a Trotskização de Olívio Dutra

Dois discursos vem me incomodando profundamente.

Um deles começa com "Desarme-se" outro com "Não há como governar sem maioria parlamentar". 

Nem sempre ambos são empunhados com má vontade ou desonestidade, muitas vezes são até bem intencionados, embora sirvam, ambos, frequentemente a interesses nada ingênuos.

A lógica do "desarmamento" em discursos geralmente vem acompanhados por uma ideia de que os debates são uma forma pacífica de resolver problemas e superar sistemas, machismos, racismos, homofobias e que tudo deve ser feito de acordo com a regra do  "não levar pro emocional" ou seja, de que tudo pode ser resolvido racionalmente de acordo com regras de etiqueta respeitadas nos salões, nas mesas e que tudo pode e deve ser leve o tempo todo, que tudo não pode ter a carga "negativa" da raiva, do emocional, da indignação santa, pois "somos todos amigos".

Já o argumento de "Não há como governar sem maioria parlamentar" tem uma inquietante lógica de ocultação de História e até de governos que estão hoje em movimento sem esta maioria, e realizando transformações de forma até radical. É inclusive um argumento que perambula pelas bocas "sábias" e "responsáveis" de partidos que de "combatentes dos interesses do povo" passaram a governantes e que lá "aprenderam" que não se governa com enfrentamento e com a população. 

Começou com o PMDB no pós-ditadura, teve um período de Brizola e suas alianças com José Nader e agora aterriza nos desmemoriados petistas que apoiados na cara de pau de Blogueiros Progressistas como Eduardo Guimarães e sociólogos surpreendentemente esquecidos como Emir Sader ressuscitam esta ladainha fingindo não ter existido por vinte gloriosos anos uma experiência de governar sem maioria tanto em Porto Alegre dos Governos Olívio Dutra,Tarso Genro e Raul Pont (de 1989 a 2005) quanto no Governo do Estado do Rio grande do Sul de Olívio Dutra (de 1998 a 2002). 

Claro que existe a possibilidade dos digníssimos senhores não terem, como eu, nascido naquela época, mas a lendária criação do "modo petista de governar" baseado no orçamento participativo foi uma agradável experiencia para os socialistas que viam uma alternativa de governo sem a necessária absorção do partido pela ordem. Outros exemplos podem ser tidos atualmente e lidos para os jovens blogueiro e sociólogo como o do Governo Evo e Correa, que mesmo enfrentando dificuldades governam apoiados basicamente pela população.

Claro que é mais fácil no entanto ocultar a história do que refletir e perigosamente pensar sobre os destinos de um partido que de dos Trabalhadores hoje utiliza discurso idêntico ao do Espantalho Tucano ao tratar de grevistas federais.

A justificativa Governista é incomodamente negada pela frase do próprio Olívio Dutra em 1998: "...temos a experiência de governar sem ser maioria no Legislativo. Há dez anos governamos Porto Alegre e nunca tivemos maioria no Legislativo do município.". 

Ambos os discursos a seu modo são uma chamada à acomodação, à ausência de enfrentamento com a ordem vigente e de buscas de superação de um sistema cada vez mais cruel com a população, cada vez mais excludente. Ao eliminar o componente de litígio da luta política pelo desarmamento do discurso e pela negação da busca de governar atuando como aliado da população na pressão cotidiana  na direção do parlamento, ambos os discursos apostam na controlada, regulada, educada, luta política sem povo, sem superação, que acomoda, pede um chá se senta com o patrão e o abraça sorrindo.

Outras faces destes discursos é a lógica da paz, que parece ser sem voz, e lembra medo, auxiliada pelo papo político tradicional que lista "realizações" cuja marca é a de ser um alivio aos mais pobres, sem no entanto alterar a estrutura que torna os pobres necessitados de "realizações" enquanto os ricos permanecem desigualmente sentados no trono de sua ostentação. 

A lista das realizações ostenta a inserção da população pobre no mercado consumidor, mas comodamente ignora as remoções de pobres de forma autoritária de suas casas para apartamentos longínquos que serviram para pagar dívidas de campanha com empreiteiras e que ganham o irônico nome de "Minha Casa, Minha Vida" enquanto derrubam casas e atropelam a vida de milhares de pessoas.

A lógica da paz e da busca de maioria parlamentar busca sociabilizar o debate político, suavizá-lo, enquanto rotulam candidaturas que discordam do coro de contentes como a de Roseno em Fortaleza e Freixo no Rio, nomeando-os "aventureiros" ou "Irresponsáveis", enquanto ambos atuam como representantes de todo uma série de questionamentos acadêmicos e populares ao modus governandi do melhor gerente do capital da história deste País, o PT, que na busca por mais aparatos para sua sanha prefere o abraço a Maluf do que ao povo.

Os suavizadores do discursos, cúmplices de racistas, reaças, homofóbicos, elitistas e machistas em sua sanha por uma acomodação perfeita, suave, dançarina e construída no amor ao inefável, acabam por sustentar a construção de um discurso que a cada porrada em pobre brande uma migalha de transformação que "muda a vida das pessoas" enquanto negam evidências cientificas, antropológicas, históricas para levar a cado o plano de expansão do capital a qualquer preço, com a "Responsabilidade social" do pequeno afago ocultando o trator que derruba casas, florestas e chama índios de nômades. 

Estão ambos os discursos apostando em uma política cuja superação de luta de classes é a principal apostas, só falta combinar com os russos.

Na busca da paz sem voz e do esquecimento de que é possível governar com apoio da sociedade, os discursadores do "não-conflito" acabam tão mergulhados no medo que entendem que é preferível criar espantalhos e ocultar porradarias do que enfrentar problemas, resolvê-los e tentar superar um sistema opressor onde a mudança do nome das coisas não muda a necessidade clara de uma luta constante, diária e presente para além do blablablá na Confeitaria Colombo.

Por isso enquanto o mundo explode é preciso lembrar cotidianamente de que ao sermos realistas e apostarmos no impossível não esquecemos que somos guerreiros, trabalhadores que encaramos todo dia nossa batalha, uma batalha desigual, dolorosa e que não dá pra ocultar no sorriso forçado.

Enquanto o mundo explode não podemos esquecer que temos passado, temos raiva e queremos mudar o mundo.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O Tempo da Política

A política no brasil, é notório, é definida popularmente como detentora de um tempo próprio, de um período onde é dado a ela o papel fundamental na vida das pessoas e onde a discussão política ganha um espaço privilegiado. 

Este tempo é, óbvio, o tempo das eleições, onde inclusive há a lenda do aparecimento, do avistamento, dos políticos, que são entidades disciplinadas pela periodicidade de quatro anos e pela oferenda da representatividade de do prestígio local no "fazer", também conhecido como "construir".

Os políticos são também tidos como entidades limiares, ou seja, cuja ética e moral não obedece ao padrão coletivo ou "superior" e cuja manifestação tem uma cara e um cheiro específico que relembra o lado negro da força.

Ironias à parte, essa visão é tanto uma construção de uma tradição baseada na experiencia cotidiana, empírica, pela população como resultado da redução da política ao voto e à participação nas eleições como atores, cabos eleitorais, elementos de prestigio nas comunidades pelas relações com quem "traz benefícios" para a comunidade,etc. Essa redução é uma carona que parte do aparato midiático pega na tradição da política anti-democrática tradicional no Brasil (diria que no mundo) para reduzir a participação popular ao ato de votar e inibir ações concretas de transformação via ativismo.

A ação que transforma a política em ação restrita dos políticos e afastada do cotidiano da ação popular direta é também vista na noticia das greves como privilégios, das manifestações como atrapalhadores do trânsito, de reajustes salariais como "Bônus" e não como direitos e que comparam salários como se um trabalhador melhor remunerado fosse  um "marajá nomeado" e não um trabalhador que vende sua força de trabalho em troca de salário como o gari, o guarda, o balconista, todos com direito à greve.

O tempo da política da sabedoria popular é uma análise da sazonalidade da presença do estado via poder legislativo e executivo nas comunidade, mas também é usado como referência da política como algo afastado do cotidiano e com trânsito impossível pro popular, especialmente nas grandes cidades onde a circulação do poder nas ruas é restrita.

Esse afastamento da vinculação de greves, manifestações e ativismo do que é chamado de política e que leva às pessoas  entenderem a política em espaços "de relaxamento" como uma afronta, dado que para muitos existem espaços "alheios e independentes da política", e por isso aparecem nas redes sociais, festas e praças reclamações sobre a presença de manifestantes e militantes como invasores, dado que para a maioria da população o militante não é um defensor de um ideal, mas um cabo eleitoral pago para a propaganda política e ou diretamente interessado pro razões pecuniárias ou de influência na eleição de x ou y, como s1e a política fosse apenas a apropriação do aparato do estado para fins privados.

A visão sobre a apropriação do estado pelas forças políticas em disputa não é nada contrária à realidade cotidiana, inclusive fortalecida pela ação inclusive de forças de esquerda neste aspecto, só que restringe a política à reprodução da privatização do estado pelas forças hegemônicas da política cotidiana que vive em nossa história desde sempre, mantendo a tradição monárquica que sustentou a  formação do estado nacional brasileiro. 

Este estado, formado a partir da lógica de laços sanguíneos como fundadores da tradição política nacional, foi mantida inclusive pelo estado republicano que ampliou o caráter liberal do estado brasileiro redesenhando a correlação de forças interna a ele apenas quanto à redivisão do poder no seio da oligarquia e não ampliando democraticamente o controle do poder para o todo da população. 

Caia o imperador, mas não se alterava significativamente em que mãos se assentava o poder, tampouco se alterava a lógica de tutelação da população e de identidade deste como um mero observador do cenário político. Dá pra perceber que a ideia do povo como protagonista da história ainda permanece como anátema nas colocações deste como um mero bestializado cotidiano, especialmente e infelizmente nos círculos da elite que se pretende esclarecida, lógica de bestialização que ainda considera a população como distante do esclarecimento necessário para a ação política.

A construção desta lógica é feita tanto pelo trabalho cotidiano do aparato ideológico de manutenção da dominação de uma elite por sobre a população e que constrói a história ocultando as lutas cotidianas que levaram pela pressão grevista ou pelas revoltas contra remoções à conquistas de direitos pela população ( como a CLT, a construção de movimentos sociais de resistência às remoções, partidos e sindicatos) quanto pela opção tradicional de formação da memória brasileira que preferiu a personalização da história à crítica que incluísse democraticamente todos os atores da formação do Brasil no cenário da Grande História. 

O resultado desse processo é o Tempo da Politica, ser um tempo institucional, dado externamente ao cotidiano popular e onde se entende o espaço popular de obtenção junto aos políticos  do que não conseguirão ao fim deste tempo.

À Esquerda cabe não só a ação cotidiana e o redefinir da participação política neste período e também à ampliação do circulo de ação política para além da demarcação eleitoral, mas também a redefinição de seu papel "educacional", não como um tutelador de um povo bestializado que precisa de "consciência", mas como um reprodutor do que se entende por História, como um ampliador das discussões que revelam ao povo sua tradição de lutas e que lhe permitirá a construção de sua consciência pela consciência de seu próprio passado. Esta consciência sendo não a "doação de luz", mas um retirar dos véus que a história tradicional usa para ocultar o DNA do povo na formação de um país cujo DNA é mais seu do que da elite que se apresenta como "proprietária" do Brasil, quando no máximo parasita um país formado pela força popular, pela força da cultura popular.

O Tempo da Política é o tradicional período de eleições, mas cabe nele a ampliação que só pode ser feita pelo trabalho cotidiano de quem entende este tempo como o respirar cotidiano, também chamado Vida.




sábado, 30 de junho de 2012

Lula e Dilma: Um só governo

Muitas vezes vemos no discurso da oposição de esquerda uma separação entre Lula e Dilma, como se a segunda desvirtuasse o que o primeiro construiu em seu governo. Esse discurso encontra eco na mídia tradicional que opõe ambos, como se Dilma fosse superior a Lula e também entre os apoiadores governistas da blogosfera por vezes  se vê um argumento esquizofrênico de "continuidade e ruptura", ou seja, quando é bom é continuidade, quando é ruim é ruptura, isso nos que conseguem ainda articular argumentos para além da ladainha ufanista.

Confesso que essa lógica me incomoda por uma série de motivos: Primeiro porque a política de alianças, composição de ministério e de ação do governo não teve uma formidável alteração. Aliás, teve muito pouca alteação e a práxis do período Dilma inclusive já estava sendo desenhada nos dois últimos anos de Lula, tendo sido inclusive responsabilizada pela atuação do Brasil diante da crise mundial; Segundo porque a lógica de desenvolvimento do governo Lula e do governo Dilma em sua dualidade entre avanço da intervenção do estado na economia e a implementação de programas de garantia de renda estão ai, com  os mega empreendimentos, política energética e projetos de aquecimento do mercado da construção civil (Belo Monte e  Minha casa, Minha vida, por exemplo) aliados a uma imensa injeção de dinheiro no crédito para manutenção da industria e fomento ao consumo, investimento maciço do BNDES nas empresas nacionais e na expansão para a América latina e o eixo sul-sul da economia mundial, e também com o Bolsa-Família aliado à políticas de crédito barato ao consumidor ampliando a rede de consumo enquanto garante a sobrevivência da população na miséria; Terceiro porque o eixo de desqualificação de Dilma tem um estranho viés sexista e machista, que atribui à "estupidez" e "frieza" da "homofóbica" todos os pecados que o mito Lula não cometeu, sendo que toda a estrutura de ação política e de estratégia e tática estão ali, só que sem o véu do carisma para ocultar o rabo de capeta por trás a auréola de santo.

A eleição de Dilma inclusive serviu ao PT e a Lula como forma de  dupla estratégia, por um lado permitiu a ampliação do poder de Lula sobre o partido e sua massa de apoiadores, fiéis depositários de sua "infalibilidade" ao eleger uma tecnocrata insípida a presidente do Brasil e por outro satisfez a um PT cada vez mais burocratizado e que teve vários de seus principais quadros nacionais abatidos pela crise do mensalão em pleno vôo enquanto se consagravam como alternativas viáveis a Lula quando seu segundo mandato vencesse. Além disso, permitiu uma saudável ausência de Lula quando alguns dos efeitos ocultos da crise de 2008 se manifestasse, deixando no colo da "Tecnocrata" a bomba de resolver o problema e deixando Lula como uma carta na manga caso 2014 desandasse pro PT.

Para o PT Dilma caiu do céu, mantendo sua estrutura de ocupação do estado com os cargos que alimentam a massa de sua burocracia partidária e de parte de seus apoiadores, inclusive "virtuais", e evitando expor Lula a manobras para a conquista de um terceiro mandato e ao enfrentamento de restos da crise de 2008 e seu possível desgaste. Para Lula a eleição de Dilma o elevou ao patamar da genialidade e da santidade, genialidade para até observadores externos e oposição e santidade para seus fiéis seguidores, que hoje são maioria do PT quase expurgando a esquerda socialista que ainda teima em se agarrar ao resto que a burocracia lhe permite para se alimentar.

Para os movimentos sociais e apoiadores de esquerda do governo Lula/Dilma,  Dilma também serve como o espantalho que "traiu" as bandeiras que lhes levaram a se jogar na eleição de 2010, inclusive queimando pontes com quem desconfiava que Dilma não seria tão diferente de Serra na prática, especialmente nas questões sensíveis como LGBT e de gênero, onde houve uma clara opção pela base de apoio parlamentar conservadora para derrotar o tão conservador quanto José Serra, Tucano da pior cepa.


E aí é que está o busílis, Dilma não traiu nada, porque não se pode trair algo que nunca houve. Os Governos Lula se esforçaram em conferências intermináveis que geraram diversas linhas de atuação legislativa e de intervenção na sociedade que em sua maioria foram descartadas, ignoradas e ou simplesmente estripadas no congresso com anuência e cumplicidade da base de apoio, e maioria do PT em si.

O que foi gerado durante o governo Lula em sua maioria foi deixado para o governo Dilma vetar e lidar com a truculência que lhe é cara, exatamente para não indispor o mito com as exigências da realidade. Código Florestal, Kit Anti-Homofobia, Belo Monte, politicas de gênero, estatuto da igualdade racial, tudo isso já estava desenhado para que as decisões fossem estourar  no Governo Dilma, deixando para a "Tecnocrata" a responsabilidade de executar a parte da estratégia que livrava do mito o risco de arranhar os 80% de popularidade.

Essa inclusive é uma das maiores genialidades da coisa toda, e muito sim com as digitais de Luiz Ignácio, porém não é oculto e nem difícil de ler que o que está em ação é um Governo só, um projeto de poder levado a cabo desde 1996 pela ala majoritária do PT e que conquistou o poder em 2002 exatamente por ser um projeto sólido, que pensa em todas as áreas da administração pública e tem visão estratégica, se mantém em seu movimento pendular de adulação da população e de remuneração da burguesia e não pretende barganhar sua estratégia com gritos e sussurros da esquerda desamparada.

A separação portanto do projeto em dois é um serviço que se faz ao PT e seus apoiadores de manter o digníssimo líder livre das piabas do cotidiano enquanto o projeto se mantém com um quadro duvidoso se consolidando como manager do capitalismo brasileiro (Dilma) e um pusta quadro mitológico de reserva aguardando e pagando de Harry Potter da República, um neo-Getúlio democrata (Lula).

As peripécias em torno da candidatura de Haddad a prefeito de São Paulo inclusive obedecem a mesma lógica e reforçam a tática de lançamento de um quadro obscuro com potencial de crescimento para as feras, que se não der certo e cair tem todo um arcabouço de explicações prontas para deslegitimar críticas ao bruxo, e que se pretende um reforço das habilidades mágicas do todo poderoso líder genial dos povos enquanto cria-se uma base sólida para a candidatura petista ao planalto, seja ela a reeleição de Dilma ou um novo postulado de Lula.

Se a mídia corporativa erra ao desvincular Dilma de Lula pelas qualidades que agradam ao conservadorismo, enquanto por outro lado fortalece o projeto como um todo indicando sub-repticiamente que o Mago tem visão além do alcance, a oposição de esquerda erra pois acaba por personalizar a política, dando combustível à principal tática  do PT, que é a manutenção do carisma do grande líder intacto, além de acabar por não responder a perguntas que lhe fazem os que buscam nesta oposição uma alternativa ao projeto político hegemônico.

Portanto é preciso que não caiamos na facilidade de separar o projeto e sua continuidade da análise política que incluem todos os participantes nele, e não separa o líder da seguidora, como se a "pobre mulher" fosse uma incompetente homofóbica e conservadora e seu mentor um santo.