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terça-feira, 21 de agosto de 2012

As distorções que as opções causam

A campanha eleitoral no Rio de Janeiro já começa a causar alguns efeitos estranhos no comportamento militante e midiático da situação.

Diante de uma explanação clara do candidato Marcelo Freixo em critica ao Minha Casa, Minha vida , onde ele critica a construção dos conjuntos habitacionais em locais sem infra-estrutura de saneamento, transporte, saúde e educação e em áreas sob o controle do crime organizado para-estatal, mais conhecido como milícias, a tropa de choque virtual governista adotou a tática do "Vai dizer isso pra quem foi beneficiado pelo programa", desviando a crítica sobre o planejamento descuidado (Pra ser bonzinho) e mal executado para o eixo do emocional "caridoso" do "Olha as pessoas que ganharam sua primeira casa", ocultando também que foram removidas de suas casas de maneira ilegal para serem enviadas para locais ermos e sob vulnerabilidade que a política de segurança do PMDB, a quem apoiam, em quase oito anos não deu conta de resolver. 

E fazem isso a partir do que Marcelo Freixo coloca na seguinte análise presente na matéria do jornal: 

                 — O programa Minha Casa, Minha Vida estimula o crime organizado. Cerca de 87% do empreendimentos estão nas partes mais afastadas da Zona Oeste, sem acesso a transportes, saneamento e emprego. São condomínios em regiões dominadas por milícias — disparou o candidato ao apresentar suas propostas de governo para o sindicato. 

Ou seja, a distorção é total e sem nenhum tipo de filtro, é orquestrada, não é ausência de entendimento, é uma busca de desqualificação do candidato porque é proibido para essas pessoas uma critica a qualquer programa do governo. E pior, quando o Candidato mantém a critica e a qualifica ainda mais saem com o adágio: "Teu partido é o que te enterra". 

Essa última observação diz muito sobre quem substitui o Partido dos Trabalhadores por um condomínio de adoração fanática da Luis Inácio Lula da silva. O partido, programas, debates, correntes internas, divergência, construção coletiva? "O Partido é o que te enterra" respondem. Baseado nisso avaliam que tudo o que é parte da construção da figura pública e é coletivo, que sai do controle autoritário é anátema, sejam parlamentares, militantes, intelectuais, qualquer coisa que crie um coro de diversidade, organizada ou não, é ameaça ao ethos e ao logos do neoPTcostalismo.

Vejam bem, os neopetistas não ligam pra apoiarem um prefeito do PMDB "por contingencia" mesmo ele sendo supostamente ligado a milicias e tendo suposta ação com grupos criminosos que pressionam moradores da Zona Oeste já agora para que nem façam campanha para adversários e muito menso votem neles, sob ameaça do clima "ficar mais sinistro" nas palavras de moradores. 

Se não ligam pra isso, imagina para o fato dos governos federal, estadual e municipal construírem condomínios sem infra estrutura mínima em locais dominados pelo crime organizado e sem nenhuma intervenção que garanta a segurança das pessoas, quanto mais sua qualidade de vida. Se a ligação com milícias é aceitável, construir em área de milícias também o é, não é verdade?

Pra completar a distorção do noticiário, culpam o PSOL de acordos com a Veja, diante de capa da mesma revista elogiando o governo que dizem popular pelas ações de fomento ao capitalismo dizendo se tratar de um benéfico (para a revista) "choque de Capitalismo" levado a cabo por aquela a quem Eike Batista corretamente chamou de "Margareth Tatcher Brasileira" e diante do fato do PSOL ainda nem ter votado pela convocação do diretor da revista e o que já havia decidido fazer. 

Ao culpar o PSOL talvez façam o serviço sujo de ocultar que o PMDB do aliado Paes é parte da tropa do acordo com a Veja que evita a convocação do diretor da revista à CPMI do Cachoeira. Além do aliado PMDB, há o aliado PDT na figura de Miro Teixeira, representante do PDT de Brizola Neto, atual ministro do trabalho, atuando como uma espécie de advogado de defesa da mídia, a quem os cínicos chamam Golpista (a tal PIG), em especial da Veja e das organizações Globo.

A tudo isso o silêncio é a resposta e a criação do PSOL como espantalho, talvez por este partido ter anualmente parlamentares eleitos como melhores do congresso, é a mágica que faz com que o véu de fanatismo do que se tornou a militância do PT seja mantido na base da mentira, do cinismo e da truculência.

Esse novo modus operandi inclusive nos leva a indícios a respeito da autoria de ataques baixos sobre Marcelo Freixo e sua defesa da legalização do aborto e da legalização da maconha , reproduzindo oque o tucanato e seus aliados conservadores religiosos fizeram com Dilma em 2010 e que, pasmem, hoje são feitos por apoiadores da chapa do PT/PMDB, outrora alvo, contra Marcelo Freixo.

As opções pela distorção, a opção pela satanização do adversário, pela construção de espantalhos baseados em mentiras e irracionalidade fanática acaba por gerar um movimento de autodestruição da imagem de quem buscava-se "iluminado salvador dos povos". 

A opção pelo caminho fanático, com tintas stalinistas, agressivo, irracional, que para "vencer" o adversário acaba por demolir qualquer limite ético, e não estou falando de moralismo lacerdista, levou aos alvos da mais suja e difamadora campanha da história, 2010, a reproduzirem métodos serristas contra um candidato que ameaça de alguma forma o domínio de parte do campo da esquerda, e quiçá ameaça a manutenção da prefeitura do Rio de Janeiro (Leia-se cargos), em mãos aliadas.

Essa mesma opção leva a massa de apoiadores irracionais a ignorarem ataques cotidianos aos direitos dos trabalhadores federais em greves, atacados pela mídia, pelo PT e pelo governo repetindo o que faziam antes os tão odiados tucanos.

Talvez por tornarem o partido um problema diante da necessidade de sacralização das lideranças e figuras públicas do PT, o governismo acéfalo irracional insuflado pela burocracia das migalhas tenha perdido a dimensão do que é a política de esquerda, do que é o coletivo e a necessidade de algum tipo de ethos que nos diferenciem do que chamamos de direita e que combatemos, ou dizemos combater. Ao esquecer isso a militância neoPTcostal se assemelha a um bando de Bolsonaros, aliado ao governo federal, alguns muito parecidos até na misoginia homofobia e racismo.

As distorções que as opções causam não ocorrem só no discurso, na tática ou na ação consciente, acaba por levar à distorções de caráter, sejam eles perceptíveis por quem assim age ou não, e a distorções de forma de pensar. Por isso vemos a opção pelas mega obras em detrimento do ser humano, pelo tratamento de índios como "Nômades", de mulheres, idosos e gays como lixo.

As distorções que as opções causam acabam por irem além de ser uma opção tática da política partidária e vira traço de caráter e este traço de caráter diz muito sobre o homicídio do PT pós-2006.

Diante destas distorções nos cabe rebatê-las com política, pois política enche praças.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O nome é Utopia, mas pode chamar de esperança.

A dimensão da utopia na política é também a dimensão da transformação.

A lógica dos tempos céticos em que vivemos, tempos forjados na destruição da razão como geradora da redenção do homem como ente controlador de seu destino para além do jugo da divindade, é a lógica da práxis, do cotidiano árduo e da conquista do direito ao controle da vida através do combate. 

A redenção não é bem vista no pós-1945. Se Deus morreu em Nietzsche, a razão saiu estropiada depois do racionalíssimo holocausto e das bombas extremamente científicas que caíram sobre o Japão. 

As duas saídas do homem, ou via pensamento mágico ou pensamento científico, aprontaram das suas e deixaram o pobre filho de Adão ao léo.

Se a fé recebia o poderoso dedo da razão ao clamar "inquisição!", teve sua revanche aos gritos de "holocausto!".

No meio deste Fla x Flu, uma humanidade atônita se entregava ao ceticismo, ao consumismo, ao hedonismo e por vezes deixava a dimensão da utopia como formadora de esperanças e de energia transformadora largada num canto qualquer de seu quarto de dramas e decepções.

A utopia no entanto, residente no plano das transformações, se debatia desesperada diante das paulatinas surras que tomava desde 1924 quando a hegemonia do pragmatismo Stalinista exilava-a em Gulags concretas ou psíquicas, auxiliando a construção de um tipo de mundo onde o resultado imediato e concreto, testado, sustentava a lógica política em detrimento da inovação e da transformação. 

Todo pensamento que buscasse um tipo de ação que rompesse com o limite do imediato, confundido propositalmente com práxis, era tratado como tolice.

Anarquistas? Nefelibatas! Trotkistas? Sonhadores histéricos!

E tantas outras denominações políticas, tantos outros grupos foram reduzidos à "irrelevância" por uma "práxis" que se colocava como "transformadora" enquanto sustentava ações de curto prazo, de resolução imediata,de pouco rompimento e muito etapismo, de pouco confronto e  muita construção de aparato que contivesse a massa partidária à mão.

Foi assim no Stalinismo e é assim agora novamente.

O Stalinismo foi além dos limites da URSS, se manteve em partidos denominados comunistas, mas também penetrou na maior experiencia de esquerda mundial do pós-1980, o PT, e hoje sustenta a lógica militar, anti-utópica, desqualificadora e rebaixadora da política, ultra-fanática e formadora de um irracionalismo clubista que beira o patético.

É nesse momento que qualquer movimento de reconstrução da dimensão utópica na política, com todas as falhas possíveis de qualquer ação plena de diversidade, é tratado por simpatizantes e militantes do "maior partido de esquerda da América Latina" que conduz o leme do governo que "mudou a história deste país" como ação da direita, mesmo quando o governo que apoiam age de forma truculenta com trabalhadores em greve repetindo os feitos do governo neo-liberal do PSDB nos idos dos anos 1990.

É nesse momento em que a ação truculenta da militância petista, das direções petistas que se afastam das bandeiras originais do partido em nome da manutenção de cargos e salários na burocracia e de simpatizantes carentes do carisma sebastianista de uma liderança forte (Seria melhor com boots do exército, mas na ausencia...) vê diante de si algum tipo de alternativa surgindo.

Diante de uma alternativa que apesar de recuperadora da dimensão do sonho e da utopia, tem respostas claras, técnicas, baseadas na busca da inovação pela ação coletiva, politicamente coletiva e embasada por especialistas das maiores universidades do país; tem ações concretas politicamente relevantes e prática parlamentar de alta densidade; tem penetração, capilaridade, na juventude e na inteligentsia; tem apoio de artistas, sindicatos e professores, diante de tudo isso o outrora "maior partido de esquerda da América Latina" age como infante e junto com sua horda de "simpatizantes" das redes sociais só consegue balbuciar o rebaixamento político.

Diante do que deveria ser um constrangimento, que é o apoio a um ex-adversário nada confiável e que tem contra si indícios do apoio nada velado ao crime organizado para-estatal (As famosas milícias), o Partido dos Trabalhadores age como uma horda ameaçada. Ao invés de debater democraticamente as dissenções internas, a direção ameaça militantes de expulsão por se recusarem ao apoio a um ex-adversário que atacou virulentamente o partido e sua máxima figura pública. 

Ao invés de buscarem reduzir o prejuízo político múltiplo de seguirem apoiando figuras "aliadas" como Maluf e Sérgio Cabral, buscam construir espantalhos que se valem de artifícios que vão da mentira à irracionalidade infantilóide.

Como não conseguem um debate de pulso sobre política de esquerda diante das trapalhadas do ministério da Educação com os profissionais federais de educação, diante da capitulação e absorção da prática da privatização que tanto condenavam, preferem incentivar uma mitologia sobre os "votos do PSOL com o PSDB/DEM", enquanto o PT age como PSDB, vota com o DEM e PSDB várias vezes (Enquanto o PSOL nenhuma ou rara vez calhou de votar) e se alia eleitoralmente a DEM e PSDB em diversos lugares, em especial em São Paulo e Rio grande do Sul.

Como não há para onde fugir diante da guinada de centro-direita do governo do PT, os coordenadores das ações virtuais e cotidianas preferem agir como incentivadores da impossibilidade de qualquer discurso ou debate que possibilite um retorno à dimensão da utopia como incentivadora da inovação.

É por isso o esforço cotidiano de satanização do PSOL e nítido apavoramento diante das denuncias de Jean Willys, que expõe as omissões (Pra dizer o mínimo) do Governo Dilma/Lula diante da questão LGBT, das ações de Chico Alencar na questão da educação e no combate à corrupção, do exímio trabalho de Ivan Valente na questão do código florestal e na educação na câmara e de Randolfe tanto no combate à corrupção quanto nos debates sobre educação no Senado.

É por isso que as candidaturas de Renato Roseno e  Marcelo Freixo, especialmente esse, leva-os ao ápice da irracionalidade cotidiana e ao ataque sistemático baseado em mentiras, em deturpações e na impossibilidade de enxergarem a própria incompetência diante da dimensão transformadora da inovação, da utopia.

Porque a utopia, ainda mais a utopia que aposta em inovações, que aposta no papo reto, que aposta na horizontalização e na busca do impossível como meio de levar o improvável ao plano da realização, como um certo partido fez em 1989, essa utopia, apavora quem se agarra no limite, no quadrado mágico da estagnação

A utopia para o burocrata é como a luz para os habitantes da caverna de Platão: cega e intimida.

Porque a utopia, caracterizada como impossibilidade pelo "realista", é na verdade a dimensão da transformação e da construção coletiva, da destituição dos "sábios" e "líderes", do destronar de reis e construção da ponte do poder nas mãos do coletivo, do todo, do horizontal.

A utopia para o socialista é a ideia de que juntos construímos qualquer coisa e não a ideia de que há um sonho a ser alcançado, porque o poeta já dizia: Um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só. Sonho que se sonha junto é realidade.

E a realidade transformada, a retirada de âncoras, o vislumbre da liberdade possível, palpável, concreta e construída por mais mãos que o costumeiro, construída pela infinitude de mãos que caracteriza a utopia, esse descontrole organizado chamado democracia radical; A realidade transformada, a ameaça de transformação, apavora o burocrata, apavora o autoritário. 

Por isso a dimensão da utopia na política é também a dimensão da ameaça e por isso por menor que esta seja ela é tratada como um dragão e combatida diuturnamente com a ânsia dos que buscam castrar o sonho para manter os muros altos pintados do cinza da imutabilidade.

Diante da ameaça da utopia a burocracia apavorada ostenta o orgulho ufanista, a estatística de "popularidade" enquanto a utopia só tem às mãos as fotos de gente nas ruas, o sorriso no rosto e a certeza de que, mesmo se perdermos, estamos no caminho certo.

O nome é Utopia, mas pode chamar de esperança.

sábado, 28 de julho de 2012

Das primaveras

Uma cidade que precisa de sua primavera.

Essa foi a  primeira frase que pensei há dias para um texto político que desse conta de uma ideia que toma forma a cada dia mais: O Rio de Janeiro é o carro-chefe da construção de um país cuja história faz o estado brasileiro ser especialmente liberal, um marco do liberalismo não em sua face utópica, mas em sua face concreta, real, de gerente do capital para o capital e cuja população é ou alimento pra máquina de produção ou anátema,barreira, e estorvo.

A historia do Rio de Janeiro se confunde com a história do Brasil por motivos óbvios, sendo uma de suas primeiras capitais e tendo sido distrito federal até a construção de Brasília em 1961, foi no Rio de Janeiro que a face do estado como gestor do capital se fez de forma clara, principalmente em suas administrações municipais, que de Pereira Passos a Eduardo Paes pouco transformaram a opção preferencial pela ausência de pobres à vista.

Se de início com Pereira Passos foi sob a alegação da "higienização" do Rio de Janeiro, considerado inóspito para os diplomatas que vinham ao distrito federal em missão oficial e temiam aqui residir, para que as doenças como a febre-amarela se findassem, hoje é para a "modernização" da cidade para recebimento de mega-eventos que "internacionalizam" a cidade como cidade-palco perfeita. Em ambos os casos a dinâmica de administração do estado para sua população é tomá-la como coadjuvante do processo de mudanças urbanísticas e sociais em que o povo em sua maioria é apenas espectador inativo, muitas vezes de seu difícil deslocamento e da remoção de sua casa para a construção de algum empreendimento imobiliário onde ele nãos erá beneficiado.

Em sua caminhada histórica de representante maior do liberalismo enquanto aparato estatal gerente do capital, o estado Brasileiro em suas três esferas fez do Rio de Janeiro o lugar onde o presidente dizia que os problemas sociais eram problema de polícia e nomeava Pereira Passos para que erguesse uma nova cidade sobre os escombros do bota abaixo e baseada nas botas de uma polícia colocada estrategicamente em um corredor polonês que impedisse a invasão da população pobre à área de residência dos ricos (assunto do qual já tratei aqui e que também pode ser visto neste artigo de Gizlene Neder) e que hoje o mesmo estado utiliza a cidade como laboratório das políticas de benefício à empreiteiras e de beneficio duvidoso à população pobre que é removida de sua casa sob alegações de área de risco para locais longínquos e sem infra-estrutura adequada de transporte, por exemplo e muitos apresentando problemas sérios. 

O Minha Casa, Minha vida não apresenta nenhuma variação digna de nota dos programas habitacionais anteriores e obedece a lógica de afastamento da população de seu local de moradia de origem.

Além disso, as UPPs acabam entrando só em sua face repressora, longe do prometido pelo poder público que insistia que haveria a ocupação social pelo estado, reeditando a opção pelo policiamento da pobreza e criação de um corredor, desta vez olímpico, de vigilância da população pobre que se por um lado se vê livre do tráfico, por outro é vigiada cotidianamente e tem sua liberdade de ir e vir, de manifestação cultural severamente reduzida pela força de ocupação do estado como se vê na proibição do funk nas áreas sob ocupação.

A população do Rio se vê assim cotidianamente e historicamente como coadjuvante na sua própria cidade, vitima de sua divisão entre as zonas habitadas pela classe mais alta, que concentra serviços e equipamentos urbanísticos e fiscalização constante da prefeitura, e as zonas habitadas pelas classe trabalhadora, onde transporte, saúde, educação, lazer são parcos, onde a fiscalização da prefeitura é ausente, onde ônibus e carros agem como querem e desejam, onde não há espaço organizado para o transito da população e onde o poder público só aparece pela via de cabos eleitorais, ou coisa pior, e onde o clientelismo é o mote da ação política.

Se na zona sul, cenário preferencial de "venda" da cidade, a limpeza urbana, o transporte público, a fiscalização da ocupação do espaço público são funcionais e rígidos, nas zonas norte e oeste a lei do mais forte é por vezes quase literal e a ação da prefeitura vai de conivente a omissa e até lixeiras nas ruas são uma honraria e uma raridade.

A própria lógica de intervenção urbana parte do princípio do embelezamento e de priorização de "melhorias" que andem lado a lado com investimentos privados no mercado imobiliário, opta-se por mega empreendimentos de construção civil e menos investimentos em transporte coletivo e público, com redução da presença de carros, opta-se sempre por benefícios ao capital antes do benefício ao cidadão e assim se constroem menos metrôs e mais "transoestes" reforçando a opção rodoviária engarrafadora, se faz mais corredores de ônibus com transporte sobre trilhos cada vez piores e mais caros.

É assim no Rio de Janeiro, mas isso é uma referência para o país e não só hoje.

A lógica de "estamos utilizando o estado para transformar a vida das pessoas" e que tem do lado anúncios de mega obras, esquece que a mudança na vida das pessoas é muito mais superficial e ligada ao consumo do que estrutural, já que as pessoas continuam morando mal, se deslocando mal nas cidades, tendo péssimo ensino (Inclusive superior nos PROUNIs e às vezes nas Universidades públicas), péssima saúde  e uma segurança pública que trata o pobre, o negro, o mulato, como criminoso de per si e a ocupação do espaço público como ofensa.

É nesta conjuntura, em que regredimos nos avanços cidadãos para sermos cada vez mais reféns da mesma velha lógica de estado liberal de Rodrigues Alves a Dilma Roussef e de Pereira Passos a Eduardo Paes, e onde a primeira ideia de primavera sob foi a liderança mítica de um Lula pré-abraço em Maluf, que temos a chance de levar a cabo um movimento que contamine a política de novo com o impeto da mudança onde a frase de Brecht em que "nada deve parecer impossível de mudar" seja muito mais que um ornamento em uma bela camisa, mas que seja um refrão de mudança na prática, no cotidiano, no dia a dia, na vida, na alma, nos olhos das pessoas.

Precisamos da primavera para sair da cidade partida rumo a um repartir da cidade entre todos os seus moradores. 

Precisamos desta primavera para retomar a cidade, ocupá-la de cidadania, de orçamento participativo, de opção preferencial pela vida e não pela civilização do automóvel, por uma saúde e uma educação debatida, definida, construída pelo todo da população.

Precisamos desta primavera para que até nossos adversários esqueçam da opção preferencial pelo voto a qualquer preço e retomem a defesa de bandeiras que não permitam a presença de Bolsonaro no parlamento.

Precisamos da primavera carioca, nós do Rio, vocês de São Paulo, todos nós do país todo.




terça-feira, 24 de julho de 2012

Se o que nos consome fosse apenas fome...

Eu queria falar sobre a cidade do Rio e a concepção de cidade construída desde 1902 quando Pereira Passos assumiu a prefeitura da cidade e de lá pra cá poucas vezes enfrentada, se é que o foi, e tem em Eduardo Paes um representante quase que puro sangue, mais ainda que seu criador, o ex-prefeito e atual candidato a vereador César Maia.

Queria escrever um texto focado inclusive na grata percepção do fato de meus candidatos Marcelo Freixo e Renato Cinco (este candidato a vereador) compartilham da ideia da concepção da cidade do Rio ter sido construida como um paraíso liberal e cuja função do poder público é garantir lucro, gerir bem a parte da cidade partida onde vivem os ricos e vender a ideia de cidade-cenário.

Queria também falar sobre muitos outros assuntos, sobre a campanha, sobre a necessidade de qualificar a campanha virtual, sobre o positivo da campanha Freixo no interior do PSOL, na própria alma da esquerda,etc. 

Mas para escrever isso eu teria de manter uma calma e uma paz interna, uma alegria que os temas exigem e que infelizmente não tenho como manter diante de ter-me descoberto subitamente como preconceituoso.

Até dois meses atrás ignorava a questão da Cissexualidade e continuo receoso sobre a a aplicabilidade da lógica que gira em torno da construção da categoria, diante de dificuldades que tenho a partir do caráter "eurocêntrico" desta "revisão" de categorias de explicação do mundo a partir da sexualidade "biológica" ou seja, pela redivisão da categorização entre homem e mulher para entre cissexuais e transsexuais.

A ideia toda parte do legítimo princípio da redução de opressão sobre uma minoria, sua defesa parte do legítimo princípio da defesa das minorias, mas as questões levantadas sobre essa súbita reorientação de discurso também contém uma carga enorme de legitimidade, porque é muito possível que no afã de "adequação" das categorias militantes se cometam erros metodológicos e até de julgamento de aliados, de membros e se ignora, pela tutelação, a necessidade concreta da militância de rua que por vezes nem tá por dentro das "novas ordens" que o mundo virtual abraça com a fome dos que precisam da nova etiqueta pra não serem chamados de brega na festa.

Não está claro pra mim se essa reorientação é válida, no sentido prático, e legítima, no sentido de ser uma demanda real, concreta, dos atingidos, e muito me incomoda a lógica de tutelar movimentos, me lembra por demais os defensores da "elevação da consciência da classe trabalhadora" de cima pra baixo à esquerda de quem entra. 

A lógica que me parece presente é a de considerar que os "ignorantes" que não compreendem que existe um universo que PRECISA ser redefinido entre Cissexuais e Transsexuais são o anátema da humanidade e não 'Tem consciência" e precisam ser iluminados. Não sei se a redefinição é precisa, necessária e cada vez menos sou simpático aos que defendem a necessidade e precisão.

Talvez estejam certos, talvez, mas meu recente caminho na academia me diz que "muita calma nessa hora" é um bom conselho, porque se o discurso já contém problemas, sua execução pode conter também e mais ainda, muitas vezes a ênfase na ignorância alheia pode afastar mais do que agregar no duro trabalho de construção da resistência ao mar de conservadorismo que abunda em  nossas plagas mundiais.

Enfim, aprendi que sou cissexista, só que este aprendizado está longe de ter percebido conscientemente um preconceito do que um sentimento de injustiça advinda da rotulação como preconceituoso de quem apenas discorda da categorização e da redefinição súbita de terminologia baseado em questões não atendem concretamente uma demanda real a seu redor. A menos a meu ver, esta questão é um assunto para profundo debate antes de virar dogma.

A questão toda, o incomodo todo, nasce do que recentemente tive contato via redes sociais sobre a questão da "transsexualidade x cissexualidade" especialmente retratados aqui no Biscate Social Clube onde escrevia e me afastei ao perceber que estava de alguma forma, e pela primeira vez, deslocado como preconceituoso e portador de uma "defesa de privilégios". E o incômodo chegou a lugares nunca antes atingidos ao ver as reações nas redes sociais a este texto em que, parece, reproduzi alguma espécie de preconceito grave contra os transsexuais.

É a primeira vez, repito, que sou acusado disso e especialmente da forma como estou sendo acusado. Nunca tive sequer de longe a ilusão de minha perfeição, mas sempre me honrei com a capacidade de superação de todo e qualquer comportamento preconceituoso com medidas conscientes de percepção clara de que sou privilegiado sim por ser homem, branco, alto, com educação superior,etc.

Em suma: onde havia dúvidas a serem sanadas se construiu um afastamento por  preservação, até porque a covardia fala muitas línguas.

A lição fica: Sempre há um flanco a ser atingido e sim, eu posso estar errado. 

Porém continuo com a pequena desconfiança acadêmica (que conquistei com um parco, porém focado, caminho) onde a inquietação investigativa é prima dileta dos ouvidos abertos, e muito me vem atiçando a curiosidade do quanto o discurso atinge o cotidiano das pessoas as quais se diz defender. 

Talvez por um empirismo exagerado prefiro não cometer açodamento antes de abraçar uma categoria explicativa, talvez por ser um historiador aplicado e não ter ainda contato com outros ramos das ciências humanas onde parece que o rigor metodológico não atinge esta necessidade.

Até que entenda como demanda do movimento feminista concreto, real, cotidiano, e da militância LGBT e Transsexual, fico de molho aguardando novas notícias a respeito da questão "Cissexual x Transsexual" e me ausento temporariamente da discussão sobre gênero,LGBT e Trans* no mundo virtual.

Enquanto isso continuo lendo, estudando, como tenho costume, e tentando aprender mais sobre o mundo, já que longe das torres de marfim é preciso ir além do blablablá tradicional, ao menos pra quem quer ir além do título e ser um cientista de verdade, concreto, real e respeitado por isso.E o mesmo vale pra quem, como eu, se pretende militante e atuar para mediar o contato entre o mundo acadêmico e o cotidiano d@s lutador@s e não acredita que isso seja possível pela via do erguer de barreiras, sejam elas terminológicas, raciais, de gênero, religião, linguagem ou de classe.

Se o o que nos consome fosse apenas fome...





quinta-feira, 19 de julho de 2012

A paz sem voz e a Trotskização de Olívio Dutra

Dois discursos vem me incomodando profundamente.

Um deles começa com "Desarme-se" outro com "Não há como governar sem maioria parlamentar". 

Nem sempre ambos são empunhados com má vontade ou desonestidade, muitas vezes são até bem intencionados, embora sirvam, ambos, frequentemente a interesses nada ingênuos.

A lógica do "desarmamento" em discursos geralmente vem acompanhados por uma ideia de que os debates são uma forma pacífica de resolver problemas e superar sistemas, machismos, racismos, homofobias e que tudo deve ser feito de acordo com a regra do  "não levar pro emocional" ou seja, de que tudo pode ser resolvido racionalmente de acordo com regras de etiqueta respeitadas nos salões, nas mesas e que tudo pode e deve ser leve o tempo todo, que tudo não pode ter a carga "negativa" da raiva, do emocional, da indignação santa, pois "somos todos amigos".

Já o argumento de "Não há como governar sem maioria parlamentar" tem uma inquietante lógica de ocultação de História e até de governos que estão hoje em movimento sem esta maioria, e realizando transformações de forma até radical. É inclusive um argumento que perambula pelas bocas "sábias" e "responsáveis" de partidos que de "combatentes dos interesses do povo" passaram a governantes e que lá "aprenderam" que não se governa com enfrentamento e com a população. 

Começou com o PMDB no pós-ditadura, teve um período de Brizola e suas alianças com José Nader e agora aterriza nos desmemoriados petistas que apoiados na cara de pau de Blogueiros Progressistas como Eduardo Guimarães e sociólogos surpreendentemente esquecidos como Emir Sader ressuscitam esta ladainha fingindo não ter existido por vinte gloriosos anos uma experiência de governar sem maioria tanto em Porto Alegre dos Governos Olívio Dutra,Tarso Genro e Raul Pont (de 1989 a 2005) quanto no Governo do Estado do Rio grande do Sul de Olívio Dutra (de 1998 a 2002). 

Claro que existe a possibilidade dos digníssimos senhores não terem, como eu, nascido naquela época, mas a lendária criação do "modo petista de governar" baseado no orçamento participativo foi uma agradável experiencia para os socialistas que viam uma alternativa de governo sem a necessária absorção do partido pela ordem. Outros exemplos podem ser tidos atualmente e lidos para os jovens blogueiro e sociólogo como o do Governo Evo e Correa, que mesmo enfrentando dificuldades governam apoiados basicamente pela população.

Claro que é mais fácil no entanto ocultar a história do que refletir e perigosamente pensar sobre os destinos de um partido que de dos Trabalhadores hoje utiliza discurso idêntico ao do Espantalho Tucano ao tratar de grevistas federais.

A justificativa Governista é incomodamente negada pela frase do próprio Olívio Dutra em 1998: "...temos a experiência de governar sem ser maioria no Legislativo. Há dez anos governamos Porto Alegre e nunca tivemos maioria no Legislativo do município.". 

Ambos os discursos a seu modo são uma chamada à acomodação, à ausência de enfrentamento com a ordem vigente e de buscas de superação de um sistema cada vez mais cruel com a população, cada vez mais excludente. Ao eliminar o componente de litígio da luta política pelo desarmamento do discurso e pela negação da busca de governar atuando como aliado da população na pressão cotidiana  na direção do parlamento, ambos os discursos apostam na controlada, regulada, educada, luta política sem povo, sem superação, que acomoda, pede um chá se senta com o patrão e o abraça sorrindo.

Outras faces destes discursos é a lógica da paz, que parece ser sem voz, e lembra medo, auxiliada pelo papo político tradicional que lista "realizações" cuja marca é a de ser um alivio aos mais pobres, sem no entanto alterar a estrutura que torna os pobres necessitados de "realizações" enquanto os ricos permanecem desigualmente sentados no trono de sua ostentação. 

A lista das realizações ostenta a inserção da população pobre no mercado consumidor, mas comodamente ignora as remoções de pobres de forma autoritária de suas casas para apartamentos longínquos que serviram para pagar dívidas de campanha com empreiteiras e que ganham o irônico nome de "Minha Casa, Minha Vida" enquanto derrubam casas e atropelam a vida de milhares de pessoas.

A lógica da paz e da busca de maioria parlamentar busca sociabilizar o debate político, suavizá-lo, enquanto rotulam candidaturas que discordam do coro de contentes como a de Roseno em Fortaleza e Freixo no Rio, nomeando-os "aventureiros" ou "Irresponsáveis", enquanto ambos atuam como representantes de todo uma série de questionamentos acadêmicos e populares ao modus governandi do melhor gerente do capital da história deste País, o PT, que na busca por mais aparatos para sua sanha prefere o abraço a Maluf do que ao povo.

Os suavizadores do discursos, cúmplices de racistas, reaças, homofóbicos, elitistas e machistas em sua sanha por uma acomodação perfeita, suave, dançarina e construída no amor ao inefável, acabam por sustentar a construção de um discurso que a cada porrada em pobre brande uma migalha de transformação que "muda a vida das pessoas" enquanto negam evidências cientificas, antropológicas, históricas para levar a cado o plano de expansão do capital a qualquer preço, com a "Responsabilidade social" do pequeno afago ocultando o trator que derruba casas, florestas e chama índios de nômades. 

Estão ambos os discursos apostando em uma política cuja superação de luta de classes é a principal apostas, só falta combinar com os russos.

Na busca da paz sem voz e do esquecimento de que é possível governar com apoio da sociedade, os discursadores do "não-conflito" acabam tão mergulhados no medo que entendem que é preferível criar espantalhos e ocultar porradarias do que enfrentar problemas, resolvê-los e tentar superar um sistema opressor onde a mudança do nome das coisas não muda a necessidade clara de uma luta constante, diária e presente para além do blablablá na Confeitaria Colombo.

Por isso enquanto o mundo explode é preciso lembrar cotidianamente de que ao sermos realistas e apostarmos no impossível não esquecemos que somos guerreiros, trabalhadores que encaramos todo dia nossa batalha, uma batalha desigual, dolorosa e que não dá pra ocultar no sorriso forçado.

Enquanto o mundo explode não podemos esquecer que temos passado, temos raiva e queremos mudar o mundo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Por que apoio a candidatura de Marcelo Freixo/Yuka?

Apoiar Marcelo Freixo/Yuka pode parecer natural, pode parecer um caminho quase que automático para quem veio do PSOL e participou dele até o último ano, mas não é.

Não é difícil apoiar Freixo, muito pelo contrário, a admiração pelo caráter do deputado, pelo caráter do Militante e pela sua participação no partido, inclusive sendo o defensor da tese da defesa da legalização do aborto no primeiro congresso do partido, confrontando a posição da então figura pública-mor Heloísa Helena, é enorme e a defesa da tese em si já o qualificava como quadro, tanto pela brilhante defesa como pela postura de respeito ao militante.

O apoio natural, no entanto, tende a ser visto como apoio acrítico e não é o caso. Freixo também comete erros crassos na sua participação no partido a meu ver, se aliando a uma linha partidária que no fim engessa o PSOL em uma estrutura estritamente parlamentar, onde as decisões de cúpula tornam-se decisões de partido. Freixo também comete erros de avaliação, a  meu ver, ao apoiar a filiação de pessoas que não qualificam o PSOL à esquerda, muito pelo contrário, por melhores parlamentares que sejam não tem um histórico de defesa das mesmas bandeiras e já ladearam, assim como Gabeira, candidaturas semi-eugenistas como a de Denise Frossard, como é o caso de Paulo Pinheiro.  Outro equivoco é a lógica de aliança com o PV, que inclusive em seus melhores quadros não é exatamente o sonho de consumo da militância do PSOL e menos ainda da militância ambientalista e ecossocialista do PSOL.

Divergências com Freixo e mesmo com o partido não são poucas, a maioria listada acima, porém o apoio, se não é natural, é quase inevitável sob o ponto de vista do contexto, da conjuntura, do papel político e do simbólico que a candidatura carrega em si.

Freixo representa a resistência a um conjunto de transformações da cidade, e do estado, do Rio de Janeiro que vão desde o avanço do crime organizado como poder paramilitar do estado (milícias) à transformação da cidade em cidade espetáculo, cidade voltada para o lucro empresarial e que reduz a ordem à opressão das camadas mais pobres, das franjas da sociedade e de trabalhadores que tiram seu sustento do comércio ambulante. A candidatura representa também as lutas omitidas, largadas, as bandeiras rasgadas pelo Partido dos Trabalhadores e metade mais um das esquerdas agrupadas no governismo como a luta LGBTT, a luta anti-racista, pelos direitos humanos, as lutas de gênero, contra a criminalização da pobreza.

É por isso também que é inacreditável o naipe dos ataques feitos ao candidato e ao entorno de sua candidatura, que vão desde a desqualificação do candidato como "inventor" de ameaças de morte até uma lógica semi-infantilóide que repete frases outrora lançadas contra o PT tal como " O PSOL vai governar só com artistas?" e acham interessante esse tipo de lógica eleitoral, lógica primada pela manutenção de uma governabilidade onde o povo removido pelo companheiro Bittar aparece no discurso, mas é esquecido depois.

É inacreditável porque são ataques emitidos por ex-companheiros, por gente que viu Erundina receber este tipo de ataque e viu ataques aos pobres feitos pelo PMDB de Moreira Franco (O mesmo de Paes e Cabral), viu remoções  e bolsa-faroeste para policiais que matavam bandidos feitas por governos tucanos, viu César Maia com suas ações repressivas a camelôs e favelas a ponto de dizer que as ruas tinham de ser lavadas com criolina para expulsar moradores de rua, viu Paes, quando era do DEM do mesmo César Maia,  meter trator em casas de pobres e hoje apoiam governador e prefeito que são da mesma linhagem política.

É inacreditável porque essas pessoas ao invés de buscar uma defesa consciente e firme de suas convicções preferem, por medo do crescimento de Freixo junto à sua base de esquerda, ir mais fundo em sua aliança com a  direita adotando o discurso desta em nome de uma governabilidade que mal esconde um profundo interesse na manutenção de máquinas que financiam atores, blogueiros, sociólogos e sei lá o que mais em sua vida cotidiana.

Esse é mais um motivo para o apoio à candidatura Freixo, porque o elemento simbólico não é aqui apenas de forma tangencial, de verniz de uma candidatura conservadora como foi na eleição de Dilma, mas  que representa também a manutenção de bandeiras de esquerda e de conquista de direitos civis, de direitos humanos e de combate à mercantilização da cidade, da criminalização da pobreza e um vento de esperança em um quadro de continuo avanço das forças conservadoras mal oculto pela retórica ufanista de governistas  que cometem o crime de ocultar derrotas sérias no campo ideológico com inclusive falsificação estatística de novas classes médias.

A candidatura Freixo/Yuka também representa o combate à economização do discurso político de tal forma que o ganho de poder de compra e emprego pelas classes C e D representam um patamar máximo de conquista pelo povo, e para o povo, e que permite que se largue de mão avanços necessários na transformação da sociedade que vá além da manutenção de geladeiras e máquinas de lavar, que permita redução de violência contra gays e mulheres, finalização de um modelo de policia cuja função é proteger menos vidas e mais propriedades e que se sustenta  numa lógica onde o spray de pimenta é  o argumento político por excelência.

A candidatura Freixo/Yuka é um vento necessário, que retoma discussões que a esquerda amontoada ao redor do e da Cara parece ter optado por esquecer esforçada que está em desviar qualquer atenção sobre  erros do governo com a retórica mais chulé que estiver a mão. 

A candidatura Freixo/Yuka é uma necessidade em uma cidade que por receber Copa e Olimpíada parece ter dado a seus governantes a carta branca pra remover, humilhar, mentir e destruir comunidades,laços, casas. É uma necessidade para toda a esquerda, inclusive a que não apoia ou é participante do PSOL, mesmo dos mais radicais, porque abre um espaço público de discussão política com um tensionamento nítido de esquerda e socialista.

É por isso que apoio a candidatura de Marcelo Freixo/Yuka.