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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Aos alunos com carinho.


Hoje conversei com os alunos da turma da fessora na Escola Municipal Ablauf, os moleques pararam de fazer zona, e mesmo sabendo que talvez tenha sido um tanto conservador eles parece que curtiram, eu bati um papo dizendo basicamente o seguinte:

Negos, Cês tocam o foda-se dizendo "Estudar pra que se o Lula só tinha a quarta série?" ou o "Tiririca é analfabeto e virou deputado". Só que o Lula com sua quarta série suou sangue pra fazer SENAI, que tinha prova pra ser feita e era ruim de arrumar vaga e depois no partido e sindicato estudou a rodo leis, livros sobre política, sobre o Brasil pra conseguir convencer a galera a votar nele e fazer seu governo. Tiririca trabalhava no circo desde moleque, não tinha como estudar pra ajudar a família pra poder comer, mas estuou no circo a arte do circo e com ela se virou e conseguiu ter visibilidade.. estudar não é só ler e sentar na escola é ver o mundo e ler o mundo.

O talento de vocês é inútil sem muito esforço, muito e se não for enorme e superar todas as inúmeras barreiras com muita disciplina sem um diploma ele é inútil. Estudar não é delicioso, estudar é treino, estudar é aprender com os outros é sentar o rabo e deixar-se ser ensinado, é antes de mais nada chato, precisa de disciplina, paciência, e muita bunda na cadeira. Acreditem, eu não gosto de sala de aula, mas eu não tenho escolha, nem vocês, se todos aqui saírem da escola pouco mais de um décimo sobrevive. A Escola é inevitável e eterna.

Vocês acham que aqui é mole e podem fazer o que quiserem? ok, mas aqui ainda é o primeiro espaço que mostra procês o que é uma escola, acreditem a pior escola de ensino médio manda vocês pro cacete no primeiro vacilo, daqui em diante o mundo deixa de ser flauta.

O mundo não é belo, não é legal, não é fofo, não é lindo, alguns conseguem fazê-lo lindo, mas o mundo é duro, cruel, destruidor de gentes, a maioria mesmo com estudo terá pouco sucesso, a maioria terá de se esforçar o dobro pra ter o minimo e com diploma, sem diploma é pior.

A escola é uma das poucas saídas seguras da indigência, da humilhação, do trabalho sazonal, inseguro e que permite algum tipo de mobilidade,e fora da escola é preciso o triplo de esforço pra na maioria das vezes ter resultado pior do que quem estuda e muito.

Se a prefeitura obrigam a passarem vocês sem maior esforço, o Estado tem menos liberalidade, e se este faz o mesmo o mundo não faz.

O mundo não se importa se você ri alto no meio de uma reunião porque nãos e controlou, ele marca tua cara e te demite e você vai pra rua queimado. O mundo ignora se você quer ouvir música quando não pode ouvir música. O mundo pouco se fode se você quer sair antes do tempo. E ele não avisa antes de cortar sua cabeça. O mundo não dá muitas chances pra você se atrasar, faltar, o mundo obriga a você a ser o que você resiste a ser na escola.

É claro que o mundo é mais cruel do que deveria ser e que a escola e ele devem ser mudados, mas acreditem, não é possível mudar ambos sentados, rindo, achando que são superpoderosos individualmente e que como um Lula entre milhões conseguiu ser presidentes isso vai se repetir por mágica.

A vida pode ser menos sisuda, a vida deve ser mais lúdica, mas ela não é na maior parte das vezes e pra transformá-la em algo parecido com os sonhos é preciso antes de tudo saber manter os sonhos vivos, e isso não é possível com um variado roteiro na cabeça, inclusive de ações, e isso em geral não se consegue sem estudo.

E fora da escola se estuda e muito, até para ser ladrão, é preciso antes de tudo esquecer a mentira de que o trabalho não exige estudo, mesmo fora da escola, tudo exige estudo, concentração e aprendizado e na maioria das vezes sem nenhum tipo de auxilio ou paciência.

Não se estuda para a prefeitura e para os país, o país, o mundo, se estuda antes d e mais nada para você, com o estudo você está cuidando de si e mesmo fora do ensino formal a lição é a mesma.

Então a escola precisa sim mudar, mas ela não fará isso sozinha e nem por vocês, vocês precisam mudar a escola e antes d e mais nada entender pra que ela serve e isso exige estudo, ao menos estudar a escola.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Entre dois tipos de Barbárie


O papel do professor e da escola, como tudo, mudam historicamente. A globalização, as falhas do sistema de educação, a linguagem, a exposição à linguagem não escrita como hegemônica na comunicação, ao multiculturalismo, o combate ao racismo e à homofobia, a conquista de direitos da criança e adolescência via ECA, muitos fatores competem para levarem à necessidade de um repensar global da educação.

O professor não é mais o “mensageiro da iluminação” oriundo do século XIX e nem a escola é simples o “posto avançado da civilização” que vai levar conhecimento aos “selvagens”. Esta postura Jesuítica é desmontada, foi desmontada, por uma série de fatores positivos e negativos que vão desde o negativo desmonte da escola como protagonista da formação de seres humanos aptos à uma reflexão critica sobre o mundo, até a positiva mudança do eixo da educação como imposição de “luz” a “pobres ignorantes” para uma educação de interação de linguagens e explicações diferentes do real, a da ciência , da academia, aliada à percepção “nativa” dos alunos e comunidade sobre o real.

Ao capitalismo, ao sistema governamental que o serve e à hegemonia político-cultural que controla ambos no país não interessam mudanças substanciais no eixo de formação pela educação,basta uma educação regulamentada pela hierarquização de conhecimento e papéis a serem executados, uma “construção” de seres aptos aos diferentes níveis de exigência do “mercado’. A alguns é permitido voos mais altos, a outros basta saberem não se cortarem com facas e atravessarem as ruas. Daí níveis diferentes de investimento financeiro ou de programas pelo poder público e privado nas diferentes regiões dos estados, cidades e do país na educação. Dai também a maior preocupação com índices de aprovação do que com o resultado prático do ensino, que é o que o “alunindio” aprendeu da “civilização”.

A escola, que varia de lugar pra lugar em sua aparência, é nas regiões mais pobres um depósito de pessoas, cuja política educacional atinge em geral para apenas tolerar sua presença e deixá-los partir quando acabar o tempo exigido da mesma. A escola como espaço de mediação entre família e sociedade fracassa ao fazer o aluno ao chegar ver sua face deteriorada, no aspecto opressor, escuro,retentor, agonizante. O abrigo da família é confrontado com o abandono da escola. É chegar, tolerar quatro horas e meia,sair livre. É nítida a felicidade ao sair, fora os amigos,pra quem tem, o que salva no ir à escola?


O professor é refém de uma formação que o torna um sacerdote mal pago e responsável último por todo o sistema, mesmo ele sendo abandonado pelos poderes à míngua do parco salário, péssima estrutura de apoio,nenhum programa politico pedagógico que envolva sociedade, poderes públicos e academia como fim de formar um eixo de transformação e melhoria da escola. Ao professor cabe lidar como aluo mal adaptado no espaço de mediação chamado escola, mal visto,atendido e respeitado, a ele cabe cuidar como substituto da Família nessa creche prolongada do aluno.

O ECA e outras conquistas, por vezes culpadas pelo professor e direção das escolas, impedindo o abandono pela escola, e pela sociedade, de crianças que não fossem a moleza adaptável, levaram uma responsabilidade ao estado que foi transferida para a ponta, pra escola e por isso ao professor. Os alunos que antes eram jogados às feras da rua foram corretamente abrigados pela força da lei no aparato estatal pronto pra isso,a escola, quem o estado deveria tornar capaz de absorvê-los, assumindo a responsabilidade pelo todo da sociedade e não apenas pelo lado “Palatável” dela. Assumindo a responsabilidade e aparelhando a escola para tal,com mais do que TVs, Computadores e DVDs,mas com profissionais capazes de fornecer o suporte psicológico, pedagógico e de segurança para que o responsável final pelo aluno, o professor, pudesse atuar.

Este Estado, no entanto, opta pela comoda e solene omissão, deixando a ponta no abandono,”vendida” e tendo de lidar com suas próprias contradições e responsabilidades e dom as do aparato estatal como inteiro.

O professor precisa entender seu papel de mediador “de conhecimentos”, como um orientador para que o aluno se relacione com o real à sua volta e juntando-o com o conhecimento vindo de fora construa sua própria e autonomia capacidade de lidar com o todo? Claro. O professor também precisa descer do púlpito do sacerdócio? Óbvio. A escola precisa ser mais do que um “presídio” de jovens e crianças? Sim. A escola precisa deixar de ser chata, como foi para os pais destas crianças, e liar com a diferença cognitiva que a tecnologia trouxe? Óbvio. No entanto como fazer isso se seus pés e mãos são cortados? Se sua responsabilidade sobre as crianças e sua obrigação de lidar como seres com direito não possui o apoio necessário,o suporte necessário pra lidar com todos os problemas advindos dessa mudança de postura? Como fazer isso se não há para com ambos a formação necessária, nem nas universidades e menos ainda no investimento do estado para a construção dela via programas de apoio?

A mudança na educação de hoje passa sim pela mudança do professor pela melhoria do professor, pela melhoria da escola, mas antes de mais nada passa pela mudança na sociedade ao redor da escola e pelo estado, que ignoram a ponta e tratam ambos como se fossem escória. Da mesma forma a mesma sociedade que culpa professores pelo mal da educação é aquela que finge não vê-los quando estes após anos de estudo recebem menos que o mais mal pago servidor, tratado suas greves apenas como transtorno.

Esta mesma sociedade acredita que educação é o empilhamento de livros e “conhecimento’ das escolas pagas que preferem ignorar o real à sua volta, discuti-lo, debatê-lo, e formar gente,pessoas,formas de vida racionais e criticas e não robôs reprodutores de preconceito e que os servidores públicos abandonados nas escolas publicas são “vagabundos”.

Enquanto isso a escola como “posto avançado da civilização” falha nas duas pontas, na privada e na pública e o anacrônico professor é massacrado, proletarizado e destruído. O resultado e ou a barbárie com bacharelado ou a barbárie do abandono.

Acreditem, nenhuma das duas é bonita.