O papel do professor e
da escola, como tudo, mudam historicamente. A globalização, as
falhas do sistema de educação, a linguagem, a exposição à
linguagem não escrita como hegemônica na comunicação, ao
multiculturalismo, o combate ao racismo e à homofobia, a conquista
de direitos da criança e adolescência via ECA, muitos fatores
competem para levarem à necessidade de um repensar global da
educação.
O professor não é
mais o “mensageiro da iluminação” oriundo do século XIX e nem
a escola é simples o “posto avançado da civilização” que vai
levar conhecimento aos “selvagens”. Esta postura Jesuítica é
desmontada, foi desmontada, por uma série de fatores positivos e
negativos que vão desde o negativo desmonte da escola como
protagonista da formação de seres humanos aptos à uma reflexão
critica sobre o mundo, até a positiva mudança do eixo da educação
como imposição de “luz” a “pobres ignorantes” para uma
educação de interação de linguagens e explicações diferentes do
real, a da ciência , da academia, aliada à percepção “nativa”
dos alunos e comunidade sobre o real.
Ao capitalismo, ao
sistema governamental que o serve e à hegemonia político-cultural
que controla ambos no país não interessam mudanças substanciais no
eixo de formação pela educação,basta uma educação regulamentada
pela hierarquização de conhecimento e papéis a serem executados,
uma “construção” de seres aptos aos diferentes níveis de
exigência do “mercado’. A alguns é permitido voos mais altos, a
outros basta saberem não se cortarem com facas e atravessarem as
ruas. Daí níveis diferentes de investimento financeiro ou de
programas pelo poder público e privado nas diferentes regiões dos
estados, cidades e do país na educação. Dai também a maior
preocupação com índices de aprovação do que com o resultado
prático do ensino, que é o que o “alunindio” aprendeu da
“civilização”.
A escola, que varia de
lugar pra lugar em sua aparência, é nas regiões mais pobres um
depósito de pessoas, cuja política educacional atinge em geral para
apenas tolerar sua presença e deixá-los partir quando acabar o
tempo exigido da mesma. A escola como espaço de mediação entre
família e sociedade fracassa ao fazer o aluno ao chegar ver sua face
deteriorada, no aspecto opressor, escuro,retentor, agonizante. O
abrigo da família é confrontado com o abandono da escola. É
chegar, tolerar quatro horas e meia,sair livre. É nítida a
felicidade ao sair, fora os amigos,pra quem tem, o que salva no ir à
escola?
O professor é refém
de uma formação que o torna um sacerdote mal pago e responsável
último por todo o sistema, mesmo ele sendo abandonado pelos poderes
à míngua do parco salário, péssima estrutura de apoio,nenhum
programa politico pedagógico que envolva sociedade, poderes públicos
e academia como fim de formar um eixo de transformação e melhoria
da escola. Ao professor cabe lidar como aluo mal adaptado no espaço
de mediação chamado escola, mal visto,atendido e respeitado, a ele
cabe cuidar como substituto da Família nessa creche prolongada do
aluno.
O ECA e outras
conquistas, por vezes culpadas pelo professor e direção das
escolas, impedindo o abandono pela escola, e pela sociedade, de
crianças que não fossem a moleza adaptável, levaram uma
responsabilidade ao estado que foi transferida para a ponta, pra
escola e por isso ao professor. Os alunos que antes eram jogados às
feras da rua foram corretamente abrigados pela força da lei no
aparato estatal pronto pra isso,a escola, quem o estado deveria
tornar capaz de absorvê-los, assumindo a responsabilidade pelo todo
da sociedade e não apenas pelo lado “Palatável” dela. Assumindo
a responsabilidade e aparelhando a escola para tal,com mais do que
TVs, Computadores e DVDs,mas com profissionais capazes de fornecer o
suporte psicológico, pedagógico e de segurança para que o
responsável final pelo aluno, o professor, pudesse atuar.
Este Estado, no
entanto, opta pela comoda e solene omissão, deixando a ponta no
abandono,”vendida” e tendo de lidar com suas próprias
contradições e responsabilidades e dom as do aparato estatal como
inteiro.
O professor precisa
entender seu papel de mediador “de conhecimentos”, como um
orientador para que o aluno se relacione com o real à sua volta e
juntando-o com o conhecimento vindo de fora construa sua própria e
autonomia capacidade de lidar com o todo? Claro. O professor também
precisa descer do púlpito do sacerdócio? Óbvio. A escola precisa
ser mais do que um “presídio” de jovens e crianças? Sim. A
escola precisa deixar de ser chata, como foi para os pais destas
crianças, e liar com a diferença cognitiva que a tecnologia trouxe?
Óbvio. No entanto como fazer isso se seus pés e mãos são
cortados? Se sua responsabilidade sobre as crianças e sua obrigação
de lidar como seres com direito não possui o apoio necessário,o
suporte necessário pra lidar com todos os problemas advindos dessa
mudança de postura? Como fazer isso se não há para com ambos a
formação necessária, nem nas universidades e menos ainda no
investimento do estado para a construção dela via programas de
apoio?
A mudança na educação
de hoje passa sim pela mudança do professor pela melhoria do
professor, pela melhoria da escola, mas antes de mais nada passa pela
mudança na sociedade ao redor da escola e pelo estado, que ignoram a
ponta e tratam ambos como se fossem escória. Da mesma forma a mesma
sociedade que culpa professores pelo mal da educação é aquela que
finge não vê-los quando estes após anos de estudo recebem menos
que o mais mal pago servidor, tratado suas greves apenas como
transtorno.
Esta mesma sociedade
acredita que educação é o empilhamento de livros e “conhecimento’
das escolas pagas que preferem ignorar o real à sua volta,
discuti-lo, debatê-lo, e formar gente,pessoas,formas de vida
racionais e criticas e não robôs reprodutores de preconceito e que
os servidores públicos abandonados nas escolas publicas são
“vagabundos”.
Enquanto isso a escola
como “posto avançado da civilização” falha nas duas pontas, na
privada e na pública e o anacrônico professor é massacrado,
proletarizado e destruído. O resultado e ou a barbárie com
bacharelado ou a barbárie do abandono.
Acreditem, nenhuma das
duas é bonita.
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