A lógica
de remoções pra Copa/Olimpíadas é um retrato acabado do modus
operandi que a lógica dos megaeventos traz consigo nos países
que atingem como praga. Esse modus operandi
ganha trágica ampliação quando associado a uma ideia de
propriedade, estado e pobreza enraizada na história do país chamado
Brasil.
Desde
a ideia da modernização conservadora nascente e vivente de meados
ao fim do século XIX, quando a lógica higienista galga
paulatinamente os degraus da hegemonia do pensamento da elite
brasileira e associado a isso constrói-se o conceito de classes
perigosas para caracterizar negros e pobres (Pobres em geral são/eram
negros), até a efetiva ação do higienismo na modalidade de
lançamento de pobre à distância, já imediatamente quase a
proclamação da república, a ideia da ação do poder público como
um agente garantidor da propriedade privada a qualquer preço e
efetivo removedor da “anti-higiênica” pobreza para o lugar mais
longínquo possível torna-se praxe de nosso dia a dia.
Se
no fim do século XIX e início do XX a lógica era da “purificação”
sanitária do Rio de Janeiro e de nossas capitais, depois sendo
substituída pela “modernização” da cidade, hoje a desculpa é
“a necessidade de construir estruturas para os megaeventos”.
Desde
a remoção do “cabeça de Porco” em 1892 até a remoção de
hoje (18/12/2012) da comunidade Nova Estiva em Fortaleza, passamos
por Pinheirinho, Campinho, Terreirão, Aldeia Maracanã, Providência
e tantas outras comunidades Brasil afora que cometeram o crime de
estarem na direção do trator do “Progresso”.
Vamos
lembrar que o trator do “Progresso”, feitor do desenvolvimentismo
desumano e genocida, também acampa e atua com veemência na região
de Altamira para garantir Belo Monte, em Teles Pires e Jirau, ajuda
de maneira sutil o genocídio dos Guarani-Kaiwoa pela omissão ou por
associação a fazendeiros que avançam com sua fronteira agrícola
baseada em agronegócio agrotóxico e assassino na base da bala.
Vamos
lembrar que o trator do “Progresso” também atua de forma
“quente” nos estranhos e “empreendedores” incêndios nas
favelas de São Paulo e atua nas mãos dos “arqui-inimigos”
Tucanos e Petistas com igual desenvoltura, assim como nas mãos e
carros oficiais de aliados de ambos.
O
Trator do “Progresso” avança na ferocidade dos automóveis
movidos a combustíveis fósseis que nos sufoca e derrete, apoiados
na falácia de sua exploração financiar uma educação magra,
semimorta, estuprada pela sanha tecnocrata.
O
Trator do “Progresso” passa por cima de casas hoje em Nova
Estiva, Fortaleza, mata cachorros, laços de solidariedade, laços de
vizinhança, parentesco, vidas, documentos, móveis. Esse trator é
comandado por quem se coloca como “transformador da vida dos pobres”
e baseado nisso dá carta branca a seus paus mandados (Vulgo aliados)
a conduzirem uma “modernização” sem povo, ferozmente sem povo,
desumanizada, capitalizada.
O
progresso do trator é veloz na direção do abismo, abismo esse onde
a humanidade dos que o comandam já está, e resolveu dar um passo
à frente.