Hoje ouvi de tudo um pouco, de Renato Teixeira a Joe Cocker, de Chico Buarque a Robert Johnson, manifestações de bom gosto segundo alguns, cosia chata segundo outros. Hoje escrevi, trabalhei, estudei xerox tiradas ilegalmente de livros que custam cem reais, mas me permitem tirar uma graduação tardia, mas que endossa uma carreira levada a sério e que precisa de papel.
Foi um dia especialmente cultural porque ao contrário das dificuldades da pesquisa de antes da internet, coisa que Caetanos fingem não ver, foi mais fácil do que pagar passagem pra grandes bibliotecas procurar informações na internet e verificá-las em arquivos baixados de fontes seguras. Também foi legal ver que aprendi o melhor de dois mundos, a pesquisa em livros e a da rede.
Depois vi Alphaville que baixei e senti orgulho de ver, porque o DVD tá caro e meu pai não teve grana pra ver no cinema porque só passava em cinema da zona sul e a passagem era proibitiva, fora ter de voltar pra casa tarde da noite. Talvez em Salvador o transporte e o preço dos ingressos fossem mais baratos, ou eu esteja enganado, tanto faz, mas hoje ver Alphaville é mezzo complicado pra quem não baixar e não seguir regras estapafúrdias de compartilhamento de conhecimento e arte.
Adorei ter hoje o conhecimento dos livros, das bibliotecas, as manhas de pesquisa hard e a facilidade da pesquisa soft da rede, da mesma forma ter a facilidade de baixar Ella Fitzgerald e ouvir Cry me River enquanto escrevo este texto. Não sei mesmo mensurar este valor, nem tanto pela ausência de calculadora pra medir o valor financeiro disso, mas porque não tem preço isso. Como não tem preço não ter de pagar a vida e mais dez cents por um software que separar os frames de um vídeo para fotos, fundamental pra meu trabalho, mas que é de graça e ganha com o suporte. Como não tem preço dividir o que escrevi, o que produzo sem a cobrança do conhecimento. É óbvio que não sou um franciscano, mas meu trabalho é remunerado com precisão daquilo que escrevo pra ele, o conhecimento adquirido não.
O conhecimento é meu, e prefiro distribui-lo do que esconder-me direitos de autoria que na verdade me cercam, me impedem de ser arte, me tornando apenas autor, como autor de um crime de ser criativo.
A cultura não precisa de ministério, precisa de distribuição, a distribuição abre portas e as portas dinheiro. Dinheiro paga contas, permite ouvir Ella Fitzgerald de beber uma Itaipava gelada depois de ver o jogo do Flu. É preciso ser criativo (e porque não Creative?) e entender que o mundo muda, prendê-lo causa dor, correntes quebradas e morte em vida, entende-lo normalmente causa mudanças, necessárias, úteis e fundamentais para que a sociedade, e o individuo, se entendam com o tempo e a história.
A cultura sem ministério fez as pazes com o governo quando ambos entenderam que ela permitiu que funks, raps, jongos, se gravassem, se vissem e se entendessem com o tempo. Não precisamos de emires para entendermos que agora o governo finge que não viu e passa a ser o contrário de criativo e comum, mas opressivo e determinado a excluir.
Nas minha cultura isso se chama atraso, com o perdão do romantismo.
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