sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pereira Paes e a História como farsa

A história cíclica não me apetece como conceito, inclusive entendo que Marx colocava a história se repetindo como farsa  para apontar seu uso como justificativa "mítica", ou seja, usada para o cotidiano "colar" da imagem de um individuo ao líder carismático de plantão, gerando herdeiros, cópias e demais atores da farsa dramática da "repetição" do tempo. 

Há algum tempo vários candidatos a gerente Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, os antigos prefeitos da época em que política era discutida  como disputa de alternativas de poder e não do melhor administrador da máquina estatal capitalista, tentam inventar a repetição de Pereira Passos,o homem do "Bota Abaixo", aquele que "modernizou" o Rio de Janeiro  copiando Paris e inventando um cordão sanitário que iniciou a Cidade Partida analisada por Zuenir Ventura em livro Homônimo e explicada por Gizlene Neder em seu artigo Cidade, Identidade e Exclusão Social, quando uma rede de proteção foi erguida através de prédios policiais em uma linha que ia da Lapa até o Rio Comprido, definindo o espaço da Elite ( a Zona Sul do Rio dos bairros de Botafogo, Flamengo, Catete e Glória) e o Espaço da "ralé" (onde a população pobre do Rio vivia, a maior parte da Zona Norte e áreas do Centro). A Lapa era a região de Fronteira,onde o povo podia ir após trabalhar e enquanto se dirigia para suas casas para suas "saideiras".

Daquela época pra cá muitas administrações se passaram aprofundando a exclusão social, aumentando o abismo que dividia a cidade entre a Zona Urbanizada e o mundo chamado hoje de pós túnel,depois da construção do Túnel Rebouças. Os Mandatos seguidos de César Maia e da Turma do CM (Conde, Eduardo Paes, etc ) se propuseram em vários discursos ser a continuação consciente desta lógica,tendo a chance inclusive de repetir o "Bota abaixo" do Pereira Passos após a justificativa da "remoção salvadora" dos populares das Favelas atingidas pelas chuvas e da necessidade de mudanças radicais na cidade devido às olímpiadas e a Copa do Mundo de 2016 e 2014 respectivamente.

Com a tragédia das chuvas e a "modernização Olímpica" o retorno do discurso da população atrapalhar o desenvolvimento da cidade retorna como farsa,mas uma farsa proposital, políticamente ordenada e oportunamente aproveitada para que as "Otoridades" possam posar de "Dirigentes Preocupados" e "modernizadores" de uma Cidade carente de muito mais que remoção de favelas,onde o transporte público é radicalmente privatizado e de péssima qualidade,em especial nas regiões onde vive a população pobre, na favela onde o poder publico jamais pisou, a não ser equipado de fuzis, e onde o espaço público só recebe choques de ordem onde não está uma elite que tenta manter-se, também como farsa, qual nobres distantes de um populacho sempre abandonado.

Assim a história Cíclica só existe realmente quando lemos que desde Lima Barreto (Correio da Noite, Rio, 19-1-1915. (Toda Crônica, de Lima Barreto, Editora Agir)
as enchentes faz vítima uma população que só entende o poder público como aquele que chega de trator,que incendeia favelas pra remoção para lugares distantes, ou que embeleza uma cidade que só existe para o pobre como pano de fundo de sua exploração. A cada tragédia de chuvas se percebe que a única segurança pro pobre é a da morte, ou trágica ou após uma vida inteira de exploração.

A busca de remoção das favelas é um atestado de  desprezo pela vida e cultura dos que habitam as favelas, quando se sabe há muito que a urbanização dos espaços  com a criação de um eixo de segurança contra acidentes naturais e com o respeito ao espaço historicamente habitado,onde laços de parentesco e com a terra são profundos elementos de fundamentação da identidade da população que lá habita. Além disso coloca a remoção como panacéia, como se tudo e todos fossem moradores de áreas de risco e como se interesses imobiliários fortes não perambulassem por baixo dos panos e planos dos Gerentes do Rio de Janeiro. Enquanto isso as ocupações irregulares das encostas do Leblon, Gávea pelos donos da cidade e quejandos são solenemente ignoradas pelos farsantes que forçam a repetição da história, não como fato consumado,mas como drama encenado com profundos e obscuros interesses.

4 comentários:

  1. Muito bom!!
    A história que se repete é uma bela metáfora de Marx. Não passa disso. E você a utilizou do jeito que tem que ser utilizada.
    Braço!
    Sérgio

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  2. Excelente, Gilsão.

    Não seria uma boa (re)publicar o artigo do Lima Barreto também?

    abraço e sucesso pro blog!

    Victor Coelho

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