Mostrando postagens com marcador fascismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador fascismo. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O preço da invasão da USP

Reitor Rodas
A invasão do Campus da USP pelos nobres Policiais Militares recebeu apoio dos clássicos reaças e inclusive de parte da "intelectualidade" de "esquerda", notadamente ligada à Biopolítica e à  "Nova Esquerda", apoiando isso em nome de um moralismo legalóide. 

Esse legalismo esquece uma máxima humanista: "Nem tudo o que é legal é legítimo" que se não me engano um tal de Erasmo escreveu mais ou menos no período citado pelo Mário Maestri neste  belíssimo e fundamental texto. E este esquecimento vem sem notar o quão contribuem pra destruir coisas que são muito mais do que pensam suas rotundas bundas criadas a leite de pêra.

"São duas leis?"
Ai dizem coçando a barriga: "Mas nego acha que são dois mundos? duas leis?" é fio, é isso mesmo, é isso porque é preciso que assim, seja para que o conhecimento seja produzido, debatido sem que funguem em seus cangotes a ideologia passeante com o coturno costurado com o brasão imperial do momento,  para que o conhecimento tenha a liberdade de destituir reis se preciso for. 

Isso acontece na mesma semana me que descubro que nas colonias espanholas e inglesas se investia em universidades para que as lideranças pudessem "guiar a massa ignóbil" e me perguntava porque os lusos não entendiam da mesma forma que os Espanhóis e Ingleses, a necessidade das universidades. 

Qual era o projeto que impedia aqui o mesmo que nas demais colônias? Ai o "Arcaismo como projeto" me veio à cabeça.. O projeto é o Arcaísmo e é encarnado num fato simples: A Polícia militar surge no Brasil antes das Universidades.

Isso obviamente não é escrito com nenhum intuito de defender um "destino manifesto" de mediocridade  que o Brasil possui  se comparado às nobres e peleadoras nações latino-americanas e ao paudurecente Tio Sam, mas pra ressaltar  que a PM hoje surge antes mesmo do projeto de nação chamado Brasil e coma missão clara de manter na linha o  "populacho" negro, pobre e sujo e quem mais ameaçar a ordem unida do "donos das capitanias" muitas vezes ainda hereditárias. 

Agora foi o alunato da USP que resistiu ao absurdo da entrega da autonomia da universidade de mão beijada ao coturno mais próximo em nome de uma isonomia legal que universidade alguma tem de ter como mundo exterior. Resistiu? para isso existe a Polícia militar, para conter resistências.

A autonomia universitária é para os proprietários da PM, encarnados no comandante em chefe de plantão para seguir as ordens de quem o mantém no cargo chamado Governador, e para, pasmem, parte da intelectualidade que se autoproclama de esquerda, um "delírio pequeno burguês", um "privilégio absurdo" ou outro termo com alto grau de adjetivação que estiver à mão para desqualificar uma conquista que remonta a idade média e que tem em seu germe, em sue cerne e em sua função primordial a manutenção da liberdade da produção do conhecimento para que este ajude o mundo a manter a liberdade.

Em nome de uma "derrubada de muros" da Universidade para que ela "faça parte da sociedade" se constroem grilhões.  Estes grilhões terão um preço muito maior do que a fiança de mil reais que os estudantes presos de form absurda, abusiva e insana terão de pagar e quem o pagará seremos nós, todos, universitários, pequenos burgueses, pobres, pretos, brancos, todos.

As universidades surgiram antes nas colônias inglesas e espanholas do que na colonia portuguesa, que preferiu criar a Polícia Militar, talvez seja essa a resposta para a pergunta cíclica do porque o combate pela liberdade é mais enfático nos países latino americanos e na pátria do Tio Sam, se não é uma resposta é uma pista, uma valorosa pista.

PS: Esclarecendo um ponto: As universidades no Brasil só surgem na década de 1930 do século XX   conforme este artigo que cita a Universidade de São Paulo e a Universidade Nacional do Rio de Janeiro. Há fontes que no entanto consideram a UFPR a mais antiga, tendo sido fundada em 1912. No entanto a Policia militar é fundada como  Guarda Real de Polícia” em 13 de Maio de 1809 , e também são fundadas a Academia Real da Marinha (1808), Academia Real Militar (1810), Academia Médico-cirúrgica da Bahia (1808) e Academia Médico-cirúrgica do Rio de Janeiro (1809). Ou seja, a fundação da Polícia militar foi em Paralelo aos primeiros cursos universitários e antes das Universidades, tendo a polícia um desenvolvimento mais rápido e amplo que os cursos universitários que demoraram mais de um século para  se tornarem universidades.  

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Estranho mundo de Bob Socialista

No dia a dia político embates, debates, porradarias e dissenções são mais comuns do que se pensa. O pau quebra de manso e contradições são mais que normais, paradoxos idem.

No mesmo Agosto que desgostou militantes PSOLinos com a filiação de Paulo Pinheiro no Rio de Janeiro (Rimou!), o PT me tira da cartola uma belíssima resolução pedindo regulação da mídia e meio que pressionando o Planalto para que algo se faça. A parada ia ser mais séria, mas no conchavismo nuestro de cada dia acabou em moção. O que se propõe alternativa tomou um baile do que foi dito morto.

Isso não significa que os bolcheviques estejam chegando no PT, talvez signifique mais que o PSOL esteja se tornando um sub-PT sem máquina.Também não é de soltar fuegos em la piazza, no esperanto ítaloportunhol de cada dia, mas de recolocar na mesa o debate sobre o que é alternativa para a esquerda dentro de um quadro de burocratização galopante dos aparatos partidários.

Um post recente de Emir Sader em seu blog há uma conclamação ao PT de ocupação de um espaço à esquerda, mas o tom é de uma ocupação pela via da institucionalidade. Da mesma forma o tom dos artigos e discursos das figuras públicas do PSOL são no máximo e com esforço na mesma linha.  A média das colocações dos principais partidos da esquerda são de louvor à institucionalidade. E com o perdão antecipado que pelo aos companheiros de PSTU e PCB, por mais combativas que sejam suas ações e colocações não se colocam como alternativa real para uma ação para além da burocracia, embora em ambos esteja a benéfica crítica da opção pela institucionalidade.

Nessa ladainha a cada dia temos mais um reforço da posição da extrema direita na cabeça do povo, levando a um fenômeno da discussão com muros, ou seja, na ausência de debates, opção pela irreflexão e escolha prioritária do momento e da ação minimalista como saída, pela esquerda ou direita.

Com a  distancia cada vez maior da população, das bases e opção pela ocupação da instituição, com também interrupção da democracia interna evitando abalos em poderes constituídos intrapartidários, a esquerda se torna cada vez mais parecida com o que combate. 

Além disso a opção de quem já ocupa a institucionalidade pelo viés mais simplista de manter a relação com a população e suas bases acaba se tornando uma repetição do que já existe, com distanciamento do partido e estado da população, sem a ampliação e real empoderamento da população na determinação dos destinos do estado e partido.

Em suma, os partidos de esquerda optam pela distancia das bases e povo na determinação dos destinos de partidos e país, em um paradoxo imenso para quem se propõe defensores dos direitos do povo e da conquista de emancipação por ele. Parece que a rapaziada quer libertar o povo de um monte de coisa, mas mantendo um cabresto controlado por ela.

A opção pela instituição já torna o PT algo que pode ser tudo, menos de esquerda. O PSOL com sua política de fortalecimento eleitoral a qualquer custo caminha para o mesmo tipo de partido: Partido de esquerda burguês com o máximo de proposta de ampliação do horizonte democrático e reformas do estado burguês sem nenhuma forte ampliação do papel da população no controle deste, muito menos na derrubada do sistema.

Os demais partidos de esquerda, por mais que no discurso defendam realmente a revolução e o socialismo e a ampliação do poder da população, mantém uma relação de distancia e de burocratização sectária, com ausência de real relação de horizontalidade com a dita "massa".



Enquanto isso fora desse estranho mundo de Bob da esquerda, a relação da direita com a população se mantém firme e forte, pois sem precisar enfrentar o arcabouço de preconceitos viventes na tradição ou discutir a quebra do paradigma senhor/escravo e "Cada macaco no seu galho", nada de braçada na proximidade e intimidade que possuem com estes valores e quebram qualquer busca de alternativa de mudanças na cabecinha da patuléia.

 Aliado a isso a opção de parte da esquerda, especialmente a petista, de manter o diálogo com o povo menos na busca de alternativa e mais na busca de acomodação faz com que estas forças de "esquerda" acabem por participar dessa relação, serem parte dela e, pasmem, acreditarem nela.

E enquanto as alternativas escaceiam, nos movimentos e organizações não partidárias o discurso de reflexão é interrompido ou pelo obreirismo sectário ou pelo anti-intelectualismo. Discutir o uso de palavras é considerado "intelectualismo". Da mesma forma radicalismo é berrar, e Pensamento intelectual é repetir ad infinitum um bando de papagaios de pós-modernistas.

A crise que desponta no horizonte traz mais que pesadas nuvens pro dia a dia econômico, traz também pesadas nuvens pro horizonte político onde o ganho de força da direita e extrema-direita é cada vez maior, com o dia a dia repetindo o preconceito, o ódio, a hierarquização social ao máximo, inclusive entre gêneros e raças. 




Enquanto "Analistas" confundem crise entre Tucanos e DEM com crise da direita, ignorando a crise enorme que a esquerda passa, as forças reacionárias nadam de braçada na consciência viva da população. 

A Classe média se bobear é hoje mais conservadora que nos anos 1950 e a dita "Nova Classe Média" acaba por assumir os valores da antiga com louvor, repetindo não a postura política que em principio a elevou de patamar, mas a postura que havia antes de ódio de classe de uma classe média que acha bacana ser homofóbico.


A crise que desponta no horizonte pode ser mais que econômica e colocar mais água na fervura da perda de espaço para ideais de esquerda, e não importa se o governo Petista enfrentará com show de bola ou não, resta saber se enfrentará para além do econômico e como as demais forças dialogarão com este enfrentamento.


Os debates, dissenções, quebra-paus internos da esquerda passam ao largo de toda a problemática relação de perda de hegemonia de seus ideais na sociedade.

 Ou confundindo vitória na eleição com conquista de hegemonia ou optando pelo fortalecimento eleitoral como caminho para esta disputa, a esquerda ignora as mensagens recebidas tanto de aumento do pensamento reacionário como da crítica aos métodos tradicionais que usam os partidos numa critica interessante da forma partido em uso como acabada e patinam num mundo onde Partidos "Necessários" se tornam a cada dia mais semelhantes aos partidos de "Esquerda".

Nesse estranho mundo de Bob as alternativas parecem nítidas, mas no mundo real a ausência delas ampliam o espaço de chegada do mais puro fascismo.




sábado, 4 de junho de 2011

Agosto? Não, Maio!

Pra qualquer caboclo que não substitui sua inteligência pelo desejo pelo IPAD Primário ou ache que grama pode ter bom sabor se banhada com molho inglês, este mês de Maio chega a Junho detonando tudo até a última ponta.

Há uma longa lista de absurdetes rolando que poderiam muito bem povoar pesadelos da rapaziada se ela não tivesse já criado uma casca grossa, quase Cascadura ali do ladinho de Madureira. 

As garras de fora do mais profundo conservadorismo chumbrega vão desde a proibição absurda da marcha da maconha como apologia ao crime, com uma cínica ignorada na sutil ao direito à livre expressão e defesa na mudança das leis, à aprovação ao código florestal e veto ao kit anti-homofobia.

Nesse meio tempo, sem que a imprensa soubesse, morreram ao menos cinco ativistas no Norte do país, vítimas do eterno conflito por terras que nunca acabará enquanto todas as medidas para regulamentar o acesso à Terra sejam inócuas diante da manutenção do modelo da Lei de Terras de 1850. E vão morrer mais, porque tá aberta a temporada de caça. A rapaziada percebeu que tinha força no governo e  no congresso e viu que o desmate anistiado pode virar MATE anistiado pelas costas quentes provadas em rede nacional na votação do código floresta (Rimou!).

As remoções olímpicas do Paes continuam rolando soltas e nosso amado Cabral fecha o mês e inicia o Junho, que pelo jeito quer entrar na boca de parecer Agosto, com o BOPE invadindo o quartel de bombeiros que em greve por receberem o pior salário do país tomam um piau bonito com direito a tiro de fuzil.

Cabral, todos sabem ou deveriam saber, é queridinho do Governopetismo, e eu nunca vou deixar de lembrá-los disso, e tem entre seus secretários vários quadros do PT, que ao menos até o momento não se pronuncia ou cogita se pronunciar a respeito.

Cabral sempre foi truculento, sempre, nas invasões pra criação de UPPs sempre deixava um rastro incontido de violência e assaltos, na proximidades do Pan fez uma das ações mais festejadas no Alemão com o capitão trovão do BOPE deixando corpos e mais corpos, torturas e o cacete a seus pés louvados pela mídia e pelo silencio Lulista. Mas calma que tem mais, na última invasão "Patriótica" do Alemão,com exército do Governo Federal do Lula e o escambau,  as denuncias de roubo foram sumidas, não se sabe no que deram, as denuncias, várias, de truculência idem, mas tudo bem, a cidade olímpica precisava mesmo de uma faxina.

Ontem a invasão do quartel dos bombeiros foi mais uma das trapalhadas desse turminha que apronta muita confusão no seu dia a dia. Em nome da manutenção da hierarquia nego passou o rodo na bolacha e com tiro em uma manifestação por melhores salários de uma das mais vitais categorias. Cês sabiam que o poderoso Estado do Rio de Janeiro, o Estado da abertura da copa, da Olimpíada, que gasta 1 Bilhão na terceira hiper reforma do Maracanã, paga o pior salário do país aos Bombeiros? Quer até a humilde Alagoas, flagelada pelos deuses, paga mais?

Mas claro a hierarquia em primeiro lugar! A hierarquia tem o apoio da classe média, da TV, do PT, da Dilma, da mãe Dinah, do Bolsonaro,do Malafaia, do Crivela, do Sarney e é fundamental a hierarquia para legitimar a ordem. A Ordem de quem é salvo por gente mal paga é o que tem de ser mantido, e a classe média fica satisfeita vendo a cidade Maravilhosa sob proteção de gente fudida e mal paga, mas isso não importa porque o filho dela aprendeu a dirigir e tem uma gatinha linda e nossa viagem pra Europa tá combinada,né?

Só fico grilado quando a ordem, a  hierarquia justificam que gente que me salva a vida ganhe menos que um técnico de informática na iniciativa privada.Mas de novo isso não importa, porque a hierarquia pra quem não sou eu tem de ser mantida,né?

O silencio "progressista" diante de diárias manifestações de algo muito errado acontecendo no país e nas bases do que apoia é constrangedor, mas não surpreende.

Maio acaba fazendo concurso pra Agosto, Junho inicia sendo um Agosto com balas de borracha, mas tá tudo bem, vamos como bons "progressistas" avançando na direção de um abismo cada vez mais conservador, mas tudo com muita inclusão social via Bolsa Família.


sexta-feira, 13 de maio de 2011

O “humor” politicamente incorreto do CQC na internet


Imagine uma situação em que uma pessoa se encontra subjugada por outra. Bem, formas de subjugação existem muitas, então pensemos numa pessoa presa por ser considerada de “raça inferior”, acorrentada ou junto de outras vítimas num campo de concentração ou campo de trabalho. Agora pensemos no seu algoz: satisfeito com o tabalho feito e com a situação em que pode liberar seus impulsos perversos, ele ri. Sim, o riso nem sempre pode denotar uma situação agradável – pelo menos do ponto de vista da vítima. Alguém que seja agredido na Avenida Paulista pelo fato de não se encaixar nos padrões – no caso, por exemplo, um homossexual – dificilmente achará graça ao se ver apanhando no vídeo da câmera de segurança, quanto mais ao lembrar do momento em que sofreu a agressão.

Com o humor é diferente, ou pelo menos deveria ser. Pode ser puro sarcasmo, que tem a ver mais com o deboche. Pode se aproximar mais da ironia, que tecnicamente falando é algo como “dizer o contrário daquilo que se pensa”, em que essa contradição fica clara para o interlocutor e tem como motivação a crítica – que pode ser uma crítica aos valores vigentes ou a uma situação ou pessoa específica. No sentido da transgressão de valores, a ironia pode ser vista como elemento importante para que a poesia ou a literatura (de ficção) não se baste no belo, na elaboração estética, que pode ser apenas apaziguadora. Para o campo do humor, portanto, a ironia deve ser ainda mais importante. Mas o ponto principal: para ser transgressor, para provocar esse efeito distanciador (crítico), antes de mais nada o humor não pode se confundir com uma situação como as descritas no parágrafo anterior. Pois aí deixa de ser humor para ser no máximo um sarcasmo perverso. Algoz e vítima devem emergir na matéria crítica do humor, o que é diferente de ser o “humorista” o algoz ou seu porta-voz.

Um exemplo de humor transgressor que tiro de uma charge contada por um amigo (não sei a autoria): no primeiro quadro, uma senhora com aparência grã-fina (vestida elegantemente e com ar de enfado) entra no elevador social do edifício, e se depara com uma senhora negra, de expressão humilde e vestida de uniforme. Segundo quadro: a senhora grã-fina (branca) se dirige incomodada à outra e diz “Com licença, mas este elevador é o elevador so-ci-al”. Terceiro quadro: a senhora negra, sem graça, estende a mão à outra e diz “Puxa, senhora, me desculpa... Me chamo Maria de Fátima [se apresentando] e trabalho no 703...”. Ou seja, pelo fictício, que articula o verossímil (uma situação “bem real”) com a ironia, a charge nos mostra que a palavra social pode denotar tanto a comunhão como o contrário – no caso, uma rígida divisão social normalizada numa divisão funcional dos elevadores, para além da utilidade do elevador de serviço (como alguém me lembrou) para o transporte de equipamentos, latas de lixo etc. Mas esse raciocínio tecnicamente correto não elimina a agudeza da charge – e não é preciso o riso pra perceber a ironia, pois a ironia, ao ter potencializado seu ter crítico/transgressor, causa o efeito de impacto ou choque diante de valores estabelecidos e situações naturalizadas. Claro que a forma que eu interpretei a charge poderia ser contraposta a outra, sem senso de ironia (“ultra-realista”), que veria na charge a representação preconceituosa da ignorância da empregada doméstica.

Penso também que é – ou deveria ser – sempre saudável para um humorista profissional ter em conta que o humor deve conter auto-ironia, pois é esquisito um homorista pretender provocar um efeito de distanciamento crítico sobre valores, pessoas e situações quando deixa fora desse horizonte crítico a si mesmo – enquanto ser-humano também limitado e sujeito a erros. Auto-ironia parece completamente ausente quando o humor é confundido com uma espécie de cruzada contra o politicamente correto.

Claro, o politicamente correto pode muitas vezes ser tacanho quando se perde em coisas como querer abolir o uso da palavra “denegrir”, ligando-a ao racismo por conta da simples associação etimológica, desprezando o uso e o significado efetivo que tal palavra tem, que não se liga ao racismo – o que é completamente diferente de sugerir que não há racismo no mundo, incluindo o Brasil.

Mas é esse desprezo, digamos, pela contextualidade que os cruzados contra o politicamente correto vêm demonstrando. Por mais tacanho que por vezes o discurso politicamente correto possa ser, isso não elimina o fato de que a realidade que denunciam precisa ser levada a sério – não usei o exemplo de um homossexual sendo agredido na Av. Paulista por acaso.

Hoje temos a discussão no Congresso em torno da lei anti-homofobia. O que se deseja é apenas a expansão do Estado democrático de Direito que, no caso, significa que um homossexual tenha na prática os mesmos direitos que qualquer heterossexual tem, desde demonstrar afeto pelo(a) companheiro(a) numa mesa de bar até ter o direito de não ser agredido na rua por conta de sua orientação sexual (!). Mas os homofóbicos querem fazer crer que o que se deseja é a imposição de uma “ditadura homossexual” (!), como se defender os direitos de A fosse necessariamente diminuir o de B – a não ser que o que eles defendem seja mesmo o direito de alguém se colocar como algoz do outro. Isso é pelo menos o que sugerem piadas como essa: Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia... Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso não merece cadeia, merece um abraço”. Fazer piada com vítima agora é sinal de rebeldia?

A piada acima é de um dos integrantes do CQC, Rafinha Bastos. Recentemente, deparei-me com uma foto dele, na internet, com uma camisa “humorada” ridicularizando o movimento LGBT e, por conseguinte, toda a luta ampliação do Estado Democrático de Direito. Tudo em nome de quê? De uma suposta transgressão contra a ditadura do politicamente correto?

E hoje veio a novidade, o que me motivou finalmente a escrever alguma coisa sobre o assunto – depois também do impacto causado pela exposição que o programa deu ao deputado Jair Bolsonaro e a polêmica involuntária (?) decorrente da resposta de teor racista do deputado à pergunta da Preta Gil. A novidade de hoje tem um contexto: a polêmica em torno do cancelamento da construção de uma estação do metrô num bairro paulistano da alta renda devido a protestos de moradores, que não queriam o fluxo de pessoas “diferenciadas” para o local.  A piadinha de outro integrante do CQC, Danilo Gentili, pelo twitter: “Entendo os velhos de Higienópolis temerem o metrô. A última vez q chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz”. (O bairro tem muitos moradores judeus).

Seguindo o exemplo da charge do elevador, tentei pensar interpretações possíveis para essa tirada humorística (?), e só consegui pensar em duas: ou é uma explícita tirada (o termo mais adequado é esse) politicamente incorreta e, neste caso, brincando com/de nazismo, ou é uma forma cínica (o termo mais adequadao é esse) de usar a imagem de “velhinhos judeus traumatizados” para justificar nossos próprios e já não tão mais disfarçados racismo e discriminação de classe. Enfim, o que há de humor nessa tirada?

Quando houve a polêmica em torno de uma tirada irônica do mesmo Gentili – “Agora no TeleCine KingKong, um macado q depois q vai p/ a cidade e fica famoso pega 1 loira. Quem ele acha que e? Jogador de futebol?” –, interpretada como piada racista, eu me posicionei contra qualquer forma de censura ou sanção ao autor pelo fato de que o humor deve ser preservado, tanto porque quem tem que interpretar ou julgar uma piada não deve ser um censor, como também porque afinal toda sociedade precisa de certos espaços de válvula de escape, de escracho – e continuei a defender isso mesmo depois que o pseudo-humorista, diante da polêmica, fizera questão de posar de machão politicamente incorreto fazendo questão de legitimar a interpretação feita (de que a piada havia sido racista). Pois a questão é mais ampla que o direito do Gentili ser um péssimo humorista e um idiota, ela teria a ver com precedente jurídico.

O que preocupa é que tal cruzada politicamente incorreta (ou melhor, “anti-politicamente correta”) se dá num contexto de mobilização reacionária contra o movimento LGBT e explicitação, mediante especialmente à chegada da (preciosa, no saldo geral) internet, de preconceitos contra negros, pobres, nordestinos... O que parece é que essa galera “bem” humorada está mais a fim de surfar nessa onda que qualquer coisa, e fica mais “cool” posarem de ousadinhos e (pseudo-)transgressores – cabendo a moderação quando é conveniente, como no caso da resposta de Bolsonaro à Preta Gil.

Mas esse tipo de “humor” que se pretende engajado em uma causa (qual causa?) precisa ser combatido de frente, o embate é político. Como opinei aqui, deve-se questionar antes de tudo os pressupostos da cruzada desses “humoristas”. Há mesmo uma “ditadura politicamente correta” se formando no Brasil, que faria deles uns transgressores e rebeldes? Talvez o problema seja de déficit intelectual, até mesmo para entender o significado de ditadura, de opressão, de Estado de Direito... Mesmo o integrante principal do grupo, Marcelo Taz, já mandou as seguintes tuitadas: “E se o BOPE, a Polícia e as Forças Armadas, depois da operação no Rio [invasão do Complexo do Alemão], fossem limpar o Congresso Nacional?”; “Escolas de samba ressurgiram do incêndio melhores que antes. Se alguém tocar fogo no Congresso, aquilo toma jeito?”. Claro, nada tenho contra críticas à politicagem e aos problemas no Congresso, ainda que feitas da maneira mais rasa e clichê. Mas acredito que um cara tão inteligente, descolado, antenado e crítico como o Taz deve ter acesso suficiente à informação de que, na história contemporânea, ataques ao Parlamento sempre estiveram associados a regimes de força, e tais regimes de força sempre tiveram como parte de suas políticas, em graus variados, a discriminação e até mesmo o assassinato sistemático de pessoas ou grupos inteiros de pessoas tidas como incômodas para o “bem-estar” da sociedade. Quem é Bolsonaro, além de um homofóbico declarado (e não se declara racista certamente porque o racismo já é crime na letra da lei)? Um defensor da ditadura.

Então, termino transformando uma colocação acima em pergunta: é questão de déficit intelectual ou de neofascismo disfarçado de “humor”?

Victor Coelho

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O rosto reacionário de nossa cegueira: A esquerda dividida alimenta monstros

No último mês fomos bombardeados por uma enxurrada de homofobia, racismo, xenofobia, sexismo e outros hábitos reacionários menos cotados. Desde a abertura do esgoto da campanha de José Serra estamos vendo o pior de um país sair das latrinas das redações, das casas, faculdades e igrejas.

Somos vítimas de processo semelhante ao ocorrido nas cercanias do inicio do século XX, principalmente entre 1930 e 1940, e vitimas da mesma divisão entre democratas e esquerda, e entre a esquerda. As declarações de homofobia, racismo e xenofobia nas ruas, nas redes sociais da internet são semelhantes às posturas reacionárias que descambaram no fascismo. A divisão da esquerda, que prefere uma luta hegemonista e um debate raso, com inclusive um sectarismo que vai do PSTU ao PT, passando pelo PSOL e PCB, e que ignora o fato de sermos a cabeça de ponte da luta anti homofobia, anti racismo e  antifascismo, chega ao nível do imobilismo.

Enquanto estamos imóveis o mundo explode, e enquanto o mundo explode as divergências legítimas entre políticas, alianças, governos, nos reduzem a meros coadjuvantes do movimento de atropelamento de convicções e vidas que a direita utiliza, aproveitando nossa incompetência.

Nosso atropelamento com vítima pela direita não é fruto somente da ausência de avanços mais contundentes por parte do governo Lula e de seus recuos, da cooptação dos movimentos sociais pelo governo,da  desmobilizçãoa dos movimentos sociais, da incompetência da esquerda radical em ler as ruas e sair do gueto enquanto rola a briguinha pelas pequenas salas de CAs, DAs e Sindicatos. O atropelamento é filho da miopia generalizada que despreza o avanço de um tipo de reacionarismo , em especial nos mais jovens, que ignora o mínimo de humanidade em nome da imposição, se preciso com morte, de convicções racistas, homofóbicas, xenofóbicas.

Nossos inimigos por anos alimentaram nossa impotência, nos atacaram e nos encurralaram em um misto de incompetência com capitulação que hoje nos faz participantes ativos de um Ensaio Sobre a Cegueira,mais que realista, opressor e que nos ata. 

Enquanto o mundo explode estamos reféns de nossa cegueira em abandonar os limites de siglas e de consensos máximos para lutar por um mundo democrático onde nossa divergência sobre programas e ações sejam parte do movimento de avanço do todo. O inimigo usou nossa vitória de Pirro para alimentar os monstros que achávamos presos no inferno da história.Enquanto nos isolarmos na leitura parcial do real, lutaremos contra moinhos de vento, enquanto os monstros devoram nossas bengalas, e nos prendem nas prisões de nossas convicções.