O excesso de felicidade me cansa, muito. A felicidade como valor supremo formatado e mecânico me cansa. A felicidade como "fofura" poliana de ver tudo pelo lado positivo me cansa.
E não, não é por um mau humor atávico ou pelo mantra de que isso "aliena", é pelo fato clássico que isso é infantil, tolo, é uma fuga deprimida do real e é a perda do real como valor, como concretude e como medida de felicidade, ela mesma, concreta, gostosa, quente, úmida e pulsante.
A felicidade ditatorial "ursinhos carinhosos, vamos sorrir eternamente" não existe. Esse mundo pônei maldito róseo,e ternamente planejado por fadas madrinhas para construir calçadas de ouro pro mundo de Oz é basófia, é blabláblá, é fantasia é conto de fadas.
Atribuir a Quintana, Caio Fernando Abreu ou Clarisse Lispector frases positivas que não são de sua autoria e que vão na contra-mão de suas obras.
Trocar versos em uma poesia de Quintana como "A vida continua indiferente" para "Só se deve morrer de puro amor!" do poema Nunca (Mario Quintana In: A Cor do Invisível, Mario Quintana - Poesia completa, Editora Nova Aguilar, p. 882) é simplesmente falsear o real, flexionar a autoria da realidade para uma outra onde qualquer adversidade se torna um impensável padrão mecânico de lidar com problemas.
Falsos Quintanas mudam a poesia e sua arte, sua construção e indicam que a realidade só pode ter o destino da felicidade absurda e utópica da história da mamãe na beira da cama.
Não se permite a derrota, não se permite a falha, o mutante, o outro, o adverso. Não se permite o aprender com o murro, o sofrimento. E tome Valium!
Tudo é obrigatoriamente terminado em dóceis e mansas versões publicitárias de uma radiante felicidade de subúrbio Americano.
E sigamos na infantil vontade de viver a vida inventada dos outros a ponto e negar ao passado sua própria vida e história e visões diferentes de felicidade dando a autores ácidos, irônicos o dom de tornarem-se Paulos coelhos póstumos.
Permitam-se a Tabacaria , por gentileza! Tirem essa fofura do caminho que eu quero passear com meu horror!
Olhem ao redor, vejam as flores, o sol, a praia, os caminhos e ruas, mas vejam o horror, vejam e aprendam a dor, a dor de dente, a humilhação, o ódio, a falha, permitam-se crianças, permitam-se!
Parem de impôr até a outrem suas ânsias e fantasias infantis! Parem de impor sue medo do concreto e do entendimento entre o horror e o belo por um medo do terror, da feiúra, do que não é róseo, binário! Permitam-se a fuga da ignorância!
Saber não é acumular, saber é enxergar e para tal é preciso olhar, sem mudar de foco, sem desenhar por sobre os muros cinzas jardins de flores que não estão lá acreditando que o muro colorido é um jardim de flores.
O muro não se torna jardim, embora seja um belo muro.
O mundo não tem redenção obrigatória, o bem nem sempre vence o mal, nem sempre sorrimos no final. A vida não é filme,você não entendeu! A vida no máximo é um filme profundamente denso, em tudo, até nos risos.
O mundo não tem redenção obrigatória, o bem nem sempre vence o mal, nem sempre sorrimos no final. A vida não é filme,você não entendeu! A vida no máximo é um filme profundamente denso, em tudo, até nos risos.
Que a felicidade de cada um tenha o direito de chorar e de não rir e de ser efusiva, ou silenciosa, ou cinza.
Ser feliz é um ato político.
O Sorriso é um ato político, não o deixem ser um sorriso impotente!
Bueno, gostei demais do texto. Concordo com quase tudo e enquanto lia, troska que ainda sou (confesso), lembrei de uma frase clássica do Trotsky que tem tudo a ver com o sentido do teu texto:
ResponderExcluir"Vejo uma a larga faixa verde de grama sob o muro, sobre ele o claro céu azul e a luz do sol por todos os lados. A vida é bela, que as gerações futuras a limpem de todo o mal, de toda opressão, de toda violência e a gozem plenamente.”
Rá!!!
O Rá é do Trotski também? :P
ResponderExcluirAdorei o texto. Disse tudo o que gostaria de dizer sobre essa mania babaca das postagenzinhas cheias de palavrinhas docinhas e sentimentos idem. Ursinhos, florezinhas e borboletas. Amorezinhos, conselhinhos eajudinhas...E o horror dos horrores: falsas atribuições a Pessoa, Quintana, Clarice, Drummond, Lincoln, Shakespeare, Bukwski... Enfim, lavei a alma, por momentos. Obrigada.
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