A palavra na política é algo de extrema importância. O dito nem sempre para nele, o significado do dito é por vezes mais amplo, assim como o não dito, ou o silencio como arma de eloquência. A práxis, a velha e boa prática e o pragmatismo, que não são exatamente sinônimos, também são de uma eloquência assustadora, basta para o entendimento dessa eloquência a boa e velha atenção aos detalhes que escapam do discurso e aos detalhes não ditos que corroboram com a prática.
A palavra e a ação combinadas dão ao observador a perspectiva correta sobre o que está em jogo no tenso e violento esporte da politica (Primo grosseiro do velho e violento esporte bretão). Por vezes discursos inteiros libertários escondem uma veemente defesa autoritária e hierarquizante da politica. Sob outro aspecto defesa de "novidades" e "liberdades" mal escondem o inverso. O Novo por vezes é um velho com banho de loja, e isso dentro e fora de partidos. Um dos modos mais assumidos da desqualificação é o uso de respostas que indicam que um discurso crítico aponta pro norte, quando ele aponta pro sul. Ou seja, você e critica o Bolsa-Família pela ausência de uma politica estruturada de distribuição de renda e recebe de volta a afirmação do Bolsa-Família como importante mudança cultural porque o pobre pode comer iogurte e comprar geladeira. Falta o argumentador explicar pro leitor dele que o argumento inicial ao qual ele responde nunca disse que o pobre não pode e nem deve comprar geladeira ou comer iogurte e que sua preocupação é até quando ele vai poder fazer isso dado que não existe uma política de longo prazo de manutenção do PBF, por exemplo. Confiar na tradição é um erro politico imenso, coisa que Getúlio com a CLT não cometeu.
Outra coisa interessante é a malandra vinculação da oposição de esquerda com a oposição de direita e a mídia, e por vezes isso vindo de uma galera com discernimento e sintonia fina de análise e essa vinculação não vem como crítica do udenismo à esquerda, mas como desqualificação desta como igual ao DEM, por exemplo, mesmo que dito de maneira, digamos, fluida. Se diz que o PSOL é qual o DEM parecendo não dizer.
Da mesma forma toda e qualquer crítica que divirja das panaceias modernas, e uma delas é o Fora do Eixo, se torna "velha" e "sem proposição". Acho engraçado que as críticas ao Passa Palavra sob este aspecto nunca, em momento algum, proponham algo para além da adaptação ao capitalismo de novo tipo sem nenhuma critica a ele. Ai você lê os artigos do Passa Palavra e vê lá claramente a proposição deles: Sai dessa e parte pra coisas não empresariais. A critica não vê isso e como não acho bacana desqualificar ninguém como analfabeto e com deficiência de interpretação vou na linha mais, a meu ver, correta: A oposição ai tem interesse de desqualificar uma crítica porque percebe que há resistência a um modelo de capital que é o objetivo estratégico.
Sacaram? Ai a gente volta ao assunto principal As entrelinhas e subjetividades que ligam o discurso desqualificatório das críticas ao bolsa-família, à sugestão de igualdade entre oposições e mídia e às criticas ao Passa Palavra. Tudo aponta pra um objetivo estratégico bastante claro, que é o objetivo final ser um capital menos "explorador" por exemplo. Aí temos também o dado da critica ao "anticapitalismo" que varia de veemência de acordo com o interlocutor, mas está lá. As entrelinhas também sugerem que toda e qualquer radicalidade é "emocional", é "equivocada" e "Velha". O engraçado que até um cuidado bastante recente e bem novo com a terminologia e a critica ao discurso é incluído como "velho". Ou seja, o discurso da crítica à palavra como arma da opressão e do discurso como separador, coisa pra lá de 2.0 ou pós-moderna, presente em discussões seríssimas na academia moderna como ferramenta de mudança de mentalidades, algo que ganha fôlego a partir da década de 1960, vira "velho".
Quando a gente presta atenção no discurso, nas defesas, a gente consegue entender essas entrelinhas e porque é preciso desqualificar toda crítica, mesmo que de forma elegante, para que sua defesa, por mais absurda que seja, pareça a mais correta: Porque a transformação aí é limitada, a defesa da mudança, da revolução ou até da reforma radical ai obedece limitações ditas pragmáticas bem nítidas, ou seja, a rapaziada que "revolucionar", mas sem que a banda toque dobrados mais bate-coxa, capisci?
É por isso que o novo, do PT do Biolutas ao PSOL, por vezes é tão velho. Porque o discurso da mudança por dentro, dentro dos limites da institucionalidade, das políticas "possíveis", das críticas possíveis, das conciliações inimagináveis é o mesmo. Ele parece ser o novo, mas é o coroa pançudo de sempre.
Por isso que o discurso de mudar por dentro é tão discurso e tão pouco prática, por isso que a critica à forma do discurso é tachada de velha, mas o fato do discurso sustentar politicas danosas e hierarquizantes não. É por isso que o mesmo discurso que diz que um núcleo do PT não é uma forma de endosso da prática do PT majoritário consegue fazer eco à defesa do PSOL escrever colunas com o Merval Pereira no Globo. Porque em ambos os casos nossos amigos discursantes parecem não ver o todo da política pra se contentar, por vezes apenas discursar, com os efeitos imediatos e o impacto visível de suas políticas e não em olhar os efeitos a longo prazo, em todas as esferas de sua prática.
É o discurso de militantes da esquerda do PT que diz que o PT são dois e que precisamos definir as exceções ao discurso da ala majoritária e que se pode mudar o PT por dentro, mas da mesma forma não abrme exceção em comparar o Revolutas, pro exemplo, ao discurso da HH. Ou seja, o povo consegue defender o Bônus de ser do PT e reclamar de quando recebem o ônus, mas pra gente que por acaso tem o mesmo problema relacionado a outros partidos, no caso o PSOL é tudo junto, ônus e bônus.
É o discurso de parte do PSOL da necessidade de ocupação de espaço na mídia gorda assumindo o bônus do nome publicado em jornais de grande circulação, mas fingindo não ver o ônus pro partido e militância da vinculação do discurso do PSOL ao discurso do Merval Pereira e do reacionário Instituto Millenium.
Por melhores as intenções de cada discurso a prática deles por vezes é alimentadora do inverso ao que se propõe.Enfim, os discursos e práticas entrelaçados mostram de forma absurdamente nítida os problemas internos a eles, nas linhas, nas entrelinhas e na comparação entre ambos. Um dos maiores obstáculos para a esquerda é ir além do discurso, ir além do aparente, ir na radicalidade , no sentido de ver pela raiz, e saber entender os rumos dessa maravilhosa, tensa e violenta arte da política. Para ir além do aparente é preciso ir além das palavras.
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