terça-feira, 12 de julho de 2011

Em busca da unidade perdida

Existe um saudosismo da unidade que percorre a esquerda, especialmente a socialista, que entende unidade como algo perdido em uma Xangri-Lá ideológica um tipo de El Dorado das idéias e organizações que não encontra eco na história.

A cada momento onde organizações racham ou se dividem, ou mesmo organizações paralelas com divergências se constituem, os arautos do caos da esquerda lançam os adágios quase atávicos: "A esquerda só se une na cadeia!" e "A unidade está sendo rompida!" . E nestas afirmações está embutida a idéia da necessidade de ocupação do mesmo espaço organizativo para que exista unidade, como se divergências fossem bestagem de egos inflamados e não por vezes elementos de fundamental importância que impede que companheiros sob o ponto de vista ideológico convivam em um mesma organização ou movimento.

Esse tipo de visão é parecido com o saudosismo do partido único, referencia quase que universal em grande parte da história da esquerda de uma unidade quase totalizante e cujos discordantes do Partido Único seriam traidores ou quinta-colunas. É muito comum que os defensores da unidade perdida sejam membros atuantes dos partidos comunistas e tenham certa simpatia por bigodes e coturnos, desde que vermelhos.

A grande questão é que com isso se esquecem da nossa velha amiga história na descrição de grandes momentos onde a atuação da esquerda foi tudo, menos filha da unidade formal, embora diretamente ligada à unidade de ação a meu ver a que importa. 

A Revolução Russa é em geral descrita como Revolução Bolchevique, mas isso oculta a participação de imensa importância dos  Socialistas Revolucionários, Anarquistas, Soldado e Camponeses que por vezes não eram alinhados aos Bolcheviques, derrotados várias vezes nos Sovietes. A unidade entre Bolcheviques (que faziam parte do Partido Social Democrata Russo junto com os Mencheviques, ou seja, eram um racha) e os demais participantes ativos da Revolução como os Socialistas Revolucionários e Anarquistas não era a propalada "unidade" organizativa, mas era a de ação, pois todos participaram ativamente da revolução e tomaram o poder. 

Ou seja, na primeira grande Revolução a unidade nunca foi a organizativa, mas de ação, a unidade que interessa.  A "obrigatoriedade" de uma unidade no mesmo espaço físico é de conteúdo autoritário e trava na organização de muitas frentes de atuação que abriguem lutadores em sua diversidade, não restringindo a ação a um único modo, método ou mesmo linha politica.

Porque um oposicionista do Governo Lula-Dilma seria representado e se sentiria parte de movimentos nitidamente ligados à defesa deste governo como a "úncia alternativa viável"? E ele não se vendo parte disso se torna menos lutadora? É essa a unidade que queremos, que coloca como sub lutador alguém que discorda da orientação de sue apoio e de sua percepção politica? E os anarquistas? Como faz? manda às favas e trata como sub-raça ideológica? E os apartidários, os artistas, os diletantes gente boa que não se vêem presos a um tipo de rigidez organizativa que torna tudo um imenso Fla x Flu? O que fazemos com eles em nome da unidade idílica? Ignoramos?

A questão da unidade nas ruas e nas lutas permite que ativistas e militantes ligados ou simpatizantes do PT se juntem a membros do PSTU, a Anarquistas, à autonomistas à membros do PSOL na luta contra as remoções no Rio de Janeiro e atuem de forma unitária no Comitê Popular da Copa e da Olimpíada. Estes membros não se sentiriam à vontade em uma mesma organização se ela fosse pró-governo. A sabedoria dos companheiros tornou o espaço um espaço de lutadores e todos contribuem para o sucesso do movimento. Em outros movimentos isso por vezes não ocorre e se torna mais fácil organizações diferentes que mantenham a ação convergente nas lutas, mas que a divergência seja representada e organizada de acordo com as demandas de cada linha de pensamento e  postura política. A legitimidade de movimentos assumidamente pró-governos é tão grande quanto aos que não são alinhados diretamente e que contemplem desde a oposição até apoiadores mais críticos do mesmo governo. Não podemos te ruma leitura política maniqueísta ou idílica que retira legitimidade de uma ou outra posição, da mesma forma a luta politica propõe atritos e alinhamentos dependendo de cada movimento da conjuntura e isso é normal e até certo ponto desejável, dado que a ausência da divergências dá um tom de paz de cemitérios no cotidiano das lutas.E nenhum cemitério é revolucionário.

Portanto a multiplicidade da esquerda precisa da divergência e da variedade para que seja viva e atue na luta diária de forma a superar o capital e transformar a realidade, essa variedade pode e deve se unir no que interessa: Nas ações de luta, nas luta diárias e não em um mesmo espaço organizativo. A busca pela hegemonia politica é parte da normalidade e do espírito de uma linha ideológica que só em Marx tem divergências entre várias corrente se por vezes divergências fundamentais, imagina se incluirmos anarquistas, autonomistas e outras correntes. 

A busca da unidade deve ser cotidiana, no levantamento das bandeiras comuns e devem ser respeitadas a divergências que impede a ocupação de espaços comuns de organização. O Saudosismo da Xangri-lá do partido único é apenas uma visão da unidade engessada.A unidade que vale, a das ruas, não cabe nos limites de partidos, casas ou camisas de força ideológicas. Como as ruas a unidade é dinâmica, múltipla e viva. Casas só a  prendem.

2 comentários:

  1. É. A esquerda tem um fetiche na acepção religiosa do termo com a unidade a qualquer custo. É como se esperássemos construir a organização perfeita e definitiva para fazer a revolução. Acredito na necessidade de organizações revolucionárias unitárias. Mas, elas não precisam se credenciar como o único espaço de atuação. Isso nem é possível.

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  2. Isso aí, e acho que o espaço de atuação é mais que as oganizações, tipo o soviet é mais que bolcheviques, socialistas revolucionários e que tais.

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